ABERTURA DO LIVRO DA LEI: QUEM DEVE ABRIR
(republicação)
Em 10.05.2014 o Respeitável Irmão Cláudio Rodrigues, membro da Loja Harmonia, 26, REAA, GLMMG, Ex-Venerável, Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, apresenta a questão seguinte: voclarodrix@yahoo.com.br
Mano Pedro Juk. Em primeiro o registro da minha satisfação de percebê-lo, através do Informativo JB NEWS, a sua recuperação de saúde pelas entusiásticas matérias, nele, publicadas. Feliz do Irmão que o acompanha no quadro Perguntas e Respostas; como se aprende! Em segundo que gostaria que você, com a sua didática, desse a seguinte aula: a quem compete - realmente/exclusivamente - nas aberturas dos Trabalhos, ser convocado pelo Venerável da Loja, para a leitura/abertura do Livro da Lei, dando prosseguimento ao início dos Trabalhos, em Loja. Em terceiro, digo eu, que é minha intenção, repassar essa sua aula e sapiente esclarecimento, para o meu novo Venerável de minha Loja, já que, silente, tenho observado o irregular procedimento desse Ato.
Antes da questão propriamente dita, cabe aqui uma consideração importante, até porque a presença do Livro da Lei na Maçonaria não abrange um costume único, como o de abri-lo em local específico, a prática da leitura específica de um texto, ou mesmo o de não abri-lo, senão expô-lo no lugar determinado pelo costume.
A Sublime Instituição, embora não se aplique a ela a distinção de uma Ordem religiosa e não mantenha nenhuma discriminação religiosa, exprimem em suas práticas muitos resquícios do teísmo especulativo, geralmente mencionados nas associações precursoras da Maçonaria de Ofício (Mestre Comancinos, os Beneditinos, as Confrarias Leigas, as Guildas, etc.).
É sabido pelo domínio acadêmico da História que essas associações floresceram e prosperaram na Igreja medieval, ou mesmo à sombra dela, o que lhe traduz o caráter teísta (embora de modo tênue) imposto à Moderna Maçonaria.
Considerando esse costume teísta, uma das práticas relativas a ele, é a própria presença sobre local específico, por exemplo: Altar dos Juramentos, da bíblia como Livro da Lei, ou das Sagradas Escrituras conforme o costume exarado pela prática do Rito - embora se admita também a presença de outros Livros considerados sagrados para outras religiões (o Corão, o Zend Avesta, etc.); no caso do judaísmo o livro sagrado é a Torá que engloba os cinco primeiros livros bíblicos (Pentateuco).
Em Maçonaria a exigência da presença da Bíblia em lugar específico partiu da Grande Loja Unida da Inglaterra desde 1.813 (união dos Antigos e dos Modernos) que acabaria por preconizar a presença obrigatória do Livro Sagrado, geralmente sem ser necessária a sua abertura em locais definidos.
Já na vertente francesa, outros Ritos viriam a preconizar a abertura do Livro da Lei - alguns em local apropriado de acordo com o grau de trabalho da Oficina. No caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, filho espiritual da França, embora nascido em berço deísta, manteve-se fiel, apenas em alguns aspectos, ao teísmo haurido dos Stuarts (jacobitas, católicos), o que faria exigir na sua liturgia e ritualística, embora de doutrina deísta, a presença, abertura e leitura de trecho específico (versículos) da bíblia.
No Rito em questão o costume nos seus primórdios (o mesmo somente teria seu primeiro ritual simbólico em 1.804) o Livro da Lei era colocado sobre o Altar ocupado pelo Venerável e posteriormente seria criado um pequeno tamborete como extensão do Altar que seria colocado na sua frente e denominado como Altar dos Juramentos, costume esse que permanece até os dias atuais, destacando-se o seu tradicional lugar no Oriente da Loja, diferente, por exemplo, do que se processa nas Lojas Azuis norte-americanas que praticam o Craft americano, por nós aqui conhecidos como Rito de York que tradicionalmente nessa prática mantem o Altar dos Juramentos no centro do Ocidente da Sala da Loja, diferente do simbolismo do Rito Escocês.
Resumindo: no Craft americano (Rito de York) o Altar dos Juramentos, por conseguinte também o Livro da Lei ficam no centro do Ocidente, enquanto no puro escocesismo os ditos permanecem no Oriente.
Como o costume tradicional do Rito prevê a abertura do Livro e a respectiva leitura de um trecho, o encarregado pelo procedimento, haurido dos antigos costumes (o Rito Escocês traz em seu título a expressão “Antigo”), o Ex-Venerável, preferencialmente o mais recente, é o verdadeiro encarregado da abertura e leitura inerente a esse procedimento.
Como no verdadeiro escocesismo que é originário da França, não existe Instalação, é mesmo o Ex-Venerável que procede a esse dever de ofício.
Com a profusão das Lojas através da Moderna Maçonaria (Especulativa) a partir principalmente do século XVIII nem sempre as mesmas possuíam em seus quadros número significativo de integrantes e em especial de Ex-Veneráveis, admitia-se então naquela oportunidade que o Orador, no caso do Rito Escocês, preenchesse essa obrigação na falta do integrante de direito.
Essa atitude precária mais tarde viria confundir muitos desatentos e pseudoritualistas que enxertaram em muitos rituais essa atribuição definitiva ao Orador, fato que não condiz com a realidade histórica.
Assim, ratificando o exposto, quem genuinamente abre o Livro da Lei no REAA∴ e dá os outros prosseguimentos do ato é um Ex-Venerável, preferencialmente o mais recente. Se na ocasião não estiverem prestes Ex-Veneráveis, admite-se de modo precário, o procedimento pelo Orador.
Obviamente, existem rituais legalmente aprovados e em vigência no Brasil que exaram a prática da abertura apenas pelo Orador. Como ritual em vigência é Lei, mesmo na contramão da História, primeiro há que se cumprir o que está escrito até que um dia quem sabe as Luzes ingressem pelas três janelas do Painel e processem a salutar correção esperada.
Outro aspecto que eu gostaria de salientar na mesma oportunidade em que finalizo esse arrazoado, é que eu não usei o título “Past Master” para o Rito Escocês, por entender que o mesmo se aplicaria melhor nos costumes inglês e americano.
Como o Rito Escocês é filho espiritual da França o título correto seria mais bem aplicado como o de Ex-Venerável, isso obviamente para não entrar no campo da Instalação do Mestre, outro costume verdadeiramente inexistente no puro escocesismo, além do próprio Salmo 133, questionável como trecho correto de leitura no escocesismo.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.427 Florianópolis(SC) segunda-feira, 11 de agosto de 2014.
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