LUZES LITÚRGICAS
(republicação)
Em 06/12/2015 o Respeitável Irmão Nilson Alves Garcia, Loja Estrela da Serrinha, REAA, GOB, Oriente de Goiânia, Estado de Goiás, solicita esclarecimento para o que segue:
nilson@higintel.com.br
Por solicitação de um Irmão eu solicito informações sobre o acendimento das Luzes litúrgicas nas respectivas sessões do REAA.
As Luzes litúrgicas no Rito Escocês Antigo e Aceito, aquelas situadas sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e sobre as mesas dos Vigilantes, são compatíveis em número, quando acesas, com o respectivo Grau Simbólico de trabalho da Loja.
A função da quantidade dessas Luzes quando acesas corresponde, dentre outros, ao grau de evolução no aprimoramento do Obreiro – mais luz, igual a mais esclarecimento – daí o aumento da quantidade dessas Luzes acesas conforme o Grau de trabalho da Loja e o aumento de salário.
O termo “Luzes da Loja” dado como título distintivo para os cargos do Venerável e dos Vigilantes está diretamente associado com essas Luzes litúrgicas, já que o Venerável e os seus auxiliares imediatos são os dirigentes (a Loja é dirigida por três Luzes), bem como os fatores humanos representativos e simbólicos na Moderna Maçonaria da matéria do esclarecimento representada pela Luz – um deles no nascente, outro no ocaso e outro ainda ao meio-dia. Assim, os lugares das Luzes da Loja no Templo coincidem com os três candelabros de três braços onde se colocam as Luzes litúrgicas.
Essas Luzes em princípio eram compostas por velas de cera de abelha (menos poluentes no ambiente fechado), ou mesmo as velas tradicionais de parafina. Atualmente está previsto à escolha das Lojas que assim considerarem a colocação de pequenas lâmpadas elétricas para representar as chamas da vela.
No que concerne ao ato de acender essas Luzes, em se tratando do simbolismo do REAA, não existe nenhuma cerimônia específica para essa prática. Elas são simplesmente acesas quando necessárias e nenhuma delas representa por nenhum ato ou ginástica de memória, qualquer elemento de culto, veneração ou afixo religioso.
À bem da verdade, no que concerne à pureza do Rito Escocês, de acordo com a evolução dos seus rituais desde o Século XIX na França, o ofício de acender essas Luzes sempre foi do Mestre Arquiteto e Decorador, cujo simples ato de acender essas Luzes era feito, desde então, antes do próprio início da Sessão sem nenhuma cerimônia exclusiva para o ato – o Arquiteto simplesmente acendia as chamas das velas.
Infelizmente, e nesse aspecto muito particularmente no Brasil, criou-se equivocadamente uma cultura místico-religiosa para o acendimento dessas Luzes no próprio Rito Escocês. Tudo em nome de uma prática de outro Rito nele enxertada.
Devido à falta de método e o péssimo costume que alguns “luminares” fizeram, e ainda fazem, ao “achar” que ritual antigo e ultrapassado é sinônimo de tradição, bem como creem que tudo é igual na liturgia maçônica, acabaram misturando determinados procedimentos do cerimonial de acendimento das Luzes que é tradicional no Rito Adonhiramita no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Esse equívoco, embora já extirpado em grande parte dos rituais escoceses brasileiros, desafortunadamente ainda persiste em rituais de algumas Obediências que, provavelmente por pressão dos “entendidos e dos que acham bonito”, ainda teimam em mencionar práticas incompatíveis com a doutrina simbólica escocesa – seria o caso dessa tal cerimônia de acendimento de Luzes que, vira e mexe e, como uma carcaça de dinossauro (fácil de exterminar, porém difícil de esconder), tem vindo a lume em discussões e escritos anacrônicos sobre esse tema.
Devo ratificar que esse cerimonial de acendimento até existe na Maçonaria, porém não no Rito Escocês especificamente, lembrando que a Sublime Instituição, conforme a sua vertente e origem cultural é composta por Ritos que em muitas práticas se diferem uns dos outros. Tenho sempre dito: a questão é a verdadeira doutrina do Rito e não o que se acha bonito, ou mesmo uma demanda de credo religioso em particular.
Cabe uma importante observação: aqui não vai nenhuma crítica ao Rito Adonhiramita por nele possuir a cerimônia de acendimento das Luzes. A crítica é ao enxerto dessa prática em outro Rito que originalmente não a possui.
No que concerne aos Rituais do REAA no Grande Oriente do Brasil em vigência, nenhum deles preveem qualquer cerimônia de acendimento das Luzes litúrgicas.
Embora neles ainda não esteja tradicionalmente prevista essa função para o Arquiteto desde antes do início dos trabalhos, pelo menos também neles não existe nenhuma prática litúrgica para esses acendimentos. O que há e que não pode ser confundido com “cerimonial de acendimento” é a ordenação explicativa contida nos rituais de que em sendo as luzes do candelabro lâmpadas elétricas, o próprio Venerável e os Vigilantes, obedecendo à resolução ritualística, acendem as Luzes, todavia em sendo as ditas velas, o Mestre de Cerimônias, obedecendo à mesma ordem ritualística acende as mesmas. Esse mesmo ofício se dá também por ocasião do momento em que se apagam essas Luzes no encerramento dos trabalhos.
Assim, por mais que alguns queiram e se esforcem em enxergar um cerimonial de acendimento no Rito em questão nessa oportunidade, é óbvio que nele o mencionado não existe.
No que concerne ao ofício do Mestre de Cerimônias - em sendo as Luzes velas - de acender as respectivas chamas nessa oportunidade, o ato é apenas uma questão de ordenamento e praticidade de procedimento, evitando com isso que o Venerável Mestre e os Vigilantes fiquem a procurar fósforos, isqueiros ou outros artifícios que produzam chamas para o acendimento dessas Luzes. Assim, o ritual menciona o ofício para o Mestre de Cerimônias (em sendo elas velas) no intuito de padronizar o procedimento sem qualquer cerimonial ou reverência no cumprimento dessa missão. Isso nada tem a ver com cerimonial de acendimento de Luzes – é apenas uma questão de praticidade.
É desse costume de se deixar a cargo do Mestre de Cerimônias a missão de acender as chamas das velas durante a sessão que surgiu a colocação de uma pequena vela que ficava geralmente ardente para auxiliar na condução da chama facilitando ao Oficial a executar sua obrigação sem que com isso ficasse procurando fósforos ou similares a cada parada para executar o respectivo acendimento.
Infelizmente desse costume os “inventores” não tardariam a “achar” uma função mística para a pequena vela auxiliar solitária, dando para a mesma um rótulo sagrado que contribuía ainda mais para o enxerto de uma fictícia cerimônia. Chegaram ao absurdo de compararem a chama auxiliar com a própria Divindade! E que ela não poderia ser apagada por representar a presença do Arquiteto Criador! Santa imaginação...
Dando por concluída essa arguição, ratifico que em se tratando do Rito Escocês Antigo e Aceito, não existe qualquer cerimônia para acendimento de Luzes, inclusive acho oportuno salientar que no Rito em questão também não existem aquelas velas acesas e equivocadamente colocadas próximas ao Livro da Lei no Altar dos Juramentos conforme se apresentam em alguns rituais.
P.S. – Fontes para pesquisa sobre o tema; indico bibliografias citadas em algumas obras de Theobaldo Varolli Filho, José Castellani e Francisco de Assis Carvalho (Xico Trolha) assim como rituais franceses do GOF, GLF e GLNF a partir do século XIX. Vide também obras do autor Alec Mellor e Rene Charlier.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.896 – Florianópolis – quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Excelente trabalho irmão Nisso estimado e valoroso irmão.
ResponderExcluirManoel Salustiano.
T.F.A.