Pedro Juk
Em que pese muitos autores considerarem apenas João, o Batista como patrono da Maçonaria, essa afirmativa merece contestação.
Cabe mencionar que os períodos solsticiais sempre estiveram presentes nas comemorações dos nossos antecessores – as associações de pedreiros da Idade Média, ou a Franco-maçonaria.
Desse modo, e sob o aspecto prático, historicamente as datas solsticiais
eram comemoradas pelos nossos antepassados porque elas também serviam para marcar etapas das construções góticas.
Em Maçonaria, sempre com referência ao hemisfério Norte, o verão, em 21 de junho, tido como a plenitude da Luz, era o marco das atividades em sua plenitude nas oficinas de trabalho. A prevalência da Luz sobre as trevas se caracterizava na alegoria dos dias longos e noites mais curtas. Isso se correlacionava com a patente atividade do ofício.
Já o inverno, marcava o final do ciclo de trabalho. Concluíam-se as etapas nesse período porque as agruras do inverno no setentrião não eram próprias para o trabalho. As noites longas e os dias curtos indicavam um período impróprio para o trabalho. Os obreiros eram então pagos e despedidos para o merecido descanso até que as atividades fossem retomadas novamente na primavera.
Com a Terra viúva do Sol, era época de revisão dos planos da obra e também para admissão de novos membros no Ofício. Desse modo no inverno, em 21 de dezembro, a Franco-maçonaria comemorava a certeza de que a partir daquela data, o Sol iria começar o seu retorno do Sul para o Norte. A boa nova era a volta da Luz, cuja qual, após o inverno, na primavera reviveria a Natureza – em termos práticos, uma nova etapa se iniciaria.
Bem sabido é que a Franco-maçonaria floresceu e cresceu sob a proteção da Igreja. Comum a isso, os ancestrais da Franco-maçonaria, é bom que se diga, eram construtores advindos das Associações Monásticas e posteriormente, pela expansão do domínio eclesiástico, das Confrarias Leigas e das Guildas dos Construtores. Assim, muitas características religiosas acabariam temperando os costumes da Arte real. Nesse particular, as festas solsticiais acabariam se confundindo com festas patronais, geralmente comemoradas em Lojas de Mesa num ágape fraternal e em homenagem a João, o Batista, se no verão e a João, o Evangelista, se no inverno. Graças a esses antigos costumes é que as Lojas maçônicas ficariam conhecidas como as Lojas de São João.
Nesse particular, cabe destacar que os Joões patronais, são aqueles cujas datas comemorativas estão próximas às datas solsticiais. Assim, João, o Batista, aquele que anteviu a Luz é comemorado no dia 24 de junho, isto é, em pleno verão no hemisfério Norte. Por sua vez, João, o Evangelista, aquele que pregou a Luz é comemorado no dia 27 de dezembro, isto é, na plenitude do inverno no hemisfério Norte. Existe aqui uma sensível relação como o Natal – Natalis Invicti Solis.
Reitera-se assim, que a comemoração desses santos patronais é algo muito antigo na Maçonaria. Nesse contexto, as Lojas de São João correspondem ao Batista e ao Evangelista, já que os dois solstícios são partes integrantes da cultura e da liturgia maçônica de há muito – vide o significado das Colunas Solsticiais, conhecidas como B∴ e J∴.
Além das conotações místicas e iniciáticas, João - o Evangelista, tal como o Batista, assume um destacado simbolismo no contexto doutrinário maçônico, sendo comum na Moderna Maçonaria comemorarem-se as duas datas, a de verão em 24 de junho relacionada a João - o Batista e a de inverno no dia 27 de dezembro concernente a João - o Evangelista.
As comemorações pertinentes a João, o Evangelista podem ser encontradas no contextual histórico da Ordem. Exemplos disso, dentre outros, poder-se ia citar o ocorrido em meados do século XVI num episódio pertinente ao declínio das Corporações de Ofício, quando em 1558 a rainha Isabel, ao assumir o trono da Inglaterra renovava uma ordenação que proibia qualquer assembleia ilegal. Em dezembro de 1561, tendo os franco-maçons ingleses anunciado a realização de uma convenção em York, durante as festividades a São João, o Evangelista, a rainha ordenou a dissolução da assembleia, decretando a prisão de todos os presentes. Segundo historiadores, essa ordem só não se confirmou porque o Lord Thomas de Sackville, adepto da Maçonaria, demoveu a rainha do seu intento (in Maçonaria – Origem Histórica). Outro exemplo que se pode citar foi o ocorrido no século XVIII na França, mais precisamente em 27 de dezembro de 1766 quando das comemorações da festa da Ordem em homenagem a São João, o Evangelista. Nessa oportunidade, pela fragmentação da Grande Loja devido aos prepostos que assumiam autoritariamente cargos delegados pelo Grão-Mestre, Conde de Clermont, um extraordinário tumulto aconteceu proporcionado por membros excluídos devido a rixas internas. Nesse lamentável episódio foi necessária a intervenção policial para que a ordem fosse restabelecida. A consequência disso foi a de que as reuniões maçônicas na França acabariam por ser proibidas. Essas atividades somente seriam restabelecidas em 1771 (in A Maçonaria Moderna – José Castellani).
Nos dois exemplos logo acima apresentados, em que pese o seu argumento histórico, chamo a atenção para as datas comemorativas pertinentes à data de 27 de dezembro, dia de João, o Evangelista. Nesse sentido assegura-se também a presença do Evangelista no conteúdo histórico patronal da Sublime Instituição. Em síntese chama-se a atenção para a utilização dos dois santos padroeiros, sempre aqueles relativos aos solstícios.
A despeito do que aqui foi mencionado, cabe salientar que o arcabouço doutrinário da Maçonaria como um todo traz esses dois personagens relativizados às Colunas B∴ e J∴. Essas Colunas, dentre outros significados, de modo amplo trazem, no encadeamento alegórico da Ordem, uma relação solar e determinam os ciclos solsticiais.
Embora a Maçonaria não possa ser tomada como uma religião, é inegável, contudo, que por influência da Igreja muitas concepções maçônicas acabariam temperadas por um ideário religioso. Isso explica a presença dos santos Joões relacionados às portas solsticiais da alegoria maçônica.
Assim, em se tratando de Maçonaria, cabem apenas e tão somente os personagens que se relacionam com o ápice do verão e do inverno no hemisfério Norte da Terra. Hoje, especialmente no dia 27 de dezembro, João - o Evangelista, ou aquele correspondente à Coluna J∴
Concluindo, é bom lembrar que um dos símbolos mais antigos da Maçonaria é aquele constituído pelo círculo entre as paralelas tangenciais. Significa que o Sol não ultrapassa os trópicos. Junto à porta dos deuses está a figura de João, o Evangelista, um dos quais empresta o seu nome às Lojas de São João.
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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