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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 5 de julho de 2021

USO DO BALANDRAU

USO DO BALANDRAU
(republicação)

Em 27/04/2017 o Respeitável Irmão Hercule Spoladore, Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil, COMAB, Oriente de Londrina, Estado do Paraná pede considerações a respeito do uso do balandrau pela Maçonaria devido aos comentários abaixo:

COMENTÁRIOS:

Do Irmão Hercule Spoladore para o Irmão Rui Jung Neto: Jung,

Balandrau segundo o Castellani, não é usado na Europa. Ele, trata-se de imitação dos balandraus usados pelas Irmandades Católicas no Brasil no fim do século XIX. Na Maçonaria foi invenção de brasileiro.

Mas também ele cita em outro local que os Collegia Construtorum que acompanhavam as legiões romanas, reconstituindo tudo o que elas destruíam, usavam uma túnica preta mais curta que o balandrau atual.

“Grande quebra galho”, muito usado atualmente no REAA. De fato, ele não é próprio da Maçonaria, mas fica fácil para um Irmão, especialmente quando chega atrasado em casa e tem que sair correndo para a Loja.

Nos Ritos de Schroeder e Trabalho de Emulação, não é permitido. Mas por uma questão de boa vizinhança as Lojas do Emulação e do Schroeder recebem Irmãos do REAA como visitantes tolerando o tal de balandrau. Mas não toleram que seus seguidores usem o balandrau. Pelo menos a indumentária destes Ritos assim exigem os rituais que sejam a caráter, própria de cada rito. Salvo melhor juízo, é o que eu tinha a dizer.

Do Irmão Francisco a respeito da menção do Irmão Hercule:

Já visitei uma Loja Maçônica em Berlin (Rito Escocês) maioria dos Irmãos presentes estavam usando balandrau igual ao que usamos nas nossas lojas básicas (inclusive na sala de passos perdidos havia um local com vários balandraus a disposição dos interessados). Para entrar na loja não pediram nada, apenas fui apresentado pelo guia turístico que era nosso irmão, depois da reunião nos deram a maior atenção, oferecem um jantar em uma taberna (inclusive para esposas).

O Irmão Hercule então faz o seguinte comentário a respeito do pronunciamento do Irmão Francisco:

É agora não sei mais nada. Fiquei perdido. Castellani dizia que Balandrau é invenção de brasileiro (teria exportado o produto para a conservadora Alemanha?). Mas sei que o traje no Emulação e no Schröder é à caráter, de acordo com o Rito não admitem balandrau. Quanto a essa Loja que você visitou. Tem o nome dela? A Potência? Ela pode não ser do Rito Schröder e nem do Emulação, evidentemente. Vai ver que a praga do REAA espalhou para todo o mundo. Mas se você viu Balandrau na Alemanha, então ele não existe só no Brasil como sempre pensei.

Talvez merecesse um estudo mais acurado. Para mim é total surpresa saber que na Alemanha tem balandrau. Na Convenção de Lausanne não se tratou disso.

Estou enviando copia desta conversa para o Jung e para o Juk. Quem sabe eles esclarecem alguma coisa.

COMENTOS ELABORADOS POR PEDRO JUK

A questão do uso do balandrau na Maçonaria tem causado, em não raras vezes, muitas discussões, sobretudo no que diz respeito à regularidade do seu uso.

O balandrau menciona, dentre outros, ser uma antiga vestimenta de capuz e mangas largas, abotoado na frente às vezes usados por membros de confrarias e geralmente por comunidades religiosas. Na Moderna Maçonaria, provavelmente por influência das antigas Associações Monásticas medievais (uma das ancestrais da Ordem), ele tem tido o seu uso permitido em alguns ritos maçônicos, geralmente nas sessões econômicas (ordinárias), porém como veste talar (até os tornozelos) e de cor negra.

Segundo Steinbrenner in História da Maçonaria, amplamente mencionado por José Castellani em algumas de suas obras, o balandrau tem origem entre construtores à época do Imperador romano Numa Pompílio (século VI a. C.) [1] e os Collegia Fabrorum, cujos componentes eram os Collegiati e formavam a primeira associação de ofício organizada que se tem notícia e que acompanhavam as legiões de soldados romanos pela Europa com a finalidade de reconstruir o que fosse destruído nos conflitos deflagrados pelas conquistas de novas regiões.

No intuito de diferenciar os construtores dos legionários, os Collegiati usavam uma túnica escura, o que seria também adotado mais tarde pelas Associações Monásticas, Confrarias Leigas e por fim pelas associações de ofício operativas dos francos-maçons medievais, as quais tinham como característica particular a liberdade concebida pela Igreja para viajar de um lugar para o outro. Durante esses deslocamentos, os construtores tinham o hábito de vestir um balandrau negro, geralmente com capuz.

Como a Moderna Maçonaria é herdeira dessas confrarias medievais, o costume do uso do balandrau é nela perfeitamente justificado, a despeito de que ele não seja permitido em determinadas ocasiões da atualidade, a exemplo das sessões denominadas “magnas” onde nelas se exige geralmente o uso do terno preto ou escuro.

De fato, alguns ritos maçônicos a exemplo do York e do Schröder têm o hábito conservacionista de não permitir o uso do balandrau, salvo em casos excepcionais e relativos a visitantes que não pertençam a esses ritos.

Comentários à parte é discutível a obrigatoriedade do uso de trajes como o terno preto (paletó, calça e colete), ou a parelha preta (paletó e calça) acompanhados de camisa branca e gravata preta na Maçonaria, até porque isso mais tem uma forte dose de influência clerical – o traje como sinal de respeito - do que um pretenso simbolismo que possa envolver uma vestimenta.

Há que se levar em conta também, que o traje masculino vem sofrendo variações através dos tempos e de acordo com os costumes dos povos, assim é temerário se querer estereotipar um traje único para a Maçonaria.

As roupas do século XVIII, época em que floresceu a Moderna Maçonaria, eram bem diferentes das atuais, além do que muitos povos usam ainda suas roupas típicas; os militares maçons, não raras vezes nas sessões das Lojas, usam os seus uniformes. Então nos parece um pouco contraditório se que se estabeleça um traje padrão universal para a Maçonaria com base apenas na cultura ocidental contemporânea como é o caso do terno preto.

No que diz respeito ao verdadeiro traje maçônico e sua universalidade, indiscutivelmente ele é o avental, já que é regra indispensável seu uso pelos maçons nas sessões maçônicas, a despeito, obviamente, de que por baixo do avental o maçom esteja trajando roupa decente e apropriada para a sessão, coisa que, sem qualquer dúvida, o balandrau supre perfeitamente esse objetivo. Nesse sentido, afirmar que o balandrau não é traje maçônico parece ser irrelevante já que o verdadeiro traje maçônico é o avental e que, por debaixo dele, o balandrau, desde que preto e talar, poderia perfeitamente ser vestido.

Destaque-se que a adoção do uso do balandrau nas sessões maçônicas, em muitos países, é até mesmo desconhecida, ou raramente é mencionado, já que cada país geralmente adota o traje que lhe é tradicional por uso e costume ou mesmo que se adeque ao conforto relativo às condições de temperatura. Em muitos países que costumeiramente a temperatura é elevada os maçons se reúnem trajando camisas de mangas curtas. Os árabes, por exemplo, usam albornozes e na Escócia é comum o uso do kilt (saia escocesa). Já os ingleses costumeiramente usam ternos pretos, etc. Obviamente que sobre a vestidura, em Loja o maçom estará sempre vestindo o seu avental.

Apenas a título de ilustração, me recordo que quando das minhas andanças maçônicas pelo Brasil, me deparei com inúmeras fotografias antigas relativas aos obreiros e suas respectivas Lojas. Eu sempre chamei atenção nessas oportunidades para uma particularidade que envolvia o traje usado pelos Irmãos do passado, além do avental. A grande quantidade dessas fotos trazia irmãos trajados para as sessões sem estarem necessariamente usando terno preto e nem balandrau, mais sim paletós, pulôveres, calças e camisas de diversos matizes, o que mostra que um traje específico não era regra na Maçonaria brasileira, salvo o uso do avental.

Retomando o raciocínio em relação ao uso do balandrau, eu não teria como afirmar que o seu uso seja uma invenção brasileira, até porque sua origem advém nos nossos ancestrais construtores na distante Europa antiga e medieval.

Entendo que, além da tradição que envolve o balandrau nos meios maçônicos, existe ainda o aspecto da sua praticidade e conforto como vestimenta, portanto é possível que ele não seja um traje restrito ao Brasil, salvo a proibição do seu uso se o rito não o permitir.

No Brasil, o terno preto é oriundo de costume clerical e muito conhecido como o traje de missa. Essa tendência inclusive viria influenciar muitos dos costumes maçônicos brasileiros ao ponto de atualmente nalgumas Obediências o adotarem como uso obrigatório para as suas sessões maçônicas.

Quanto ao balandrau e a origem do seu uso especificamente no Brasil eu não saberia de momento informar, senão que talvez pela sua origem europeia, tenha ele tenha chegado também por aqui junto com os próprios costumes maçônicos.

No que diz respeito ao seu uso na Alemanha, eu penso que seja possível, mesmo que contrário ao que determina o Rito Schröder, já que pode ser plausível o seu uso por outro rito praticado em solo germânico, ou ainda, seguindo a tendência progressista que acompanha a Maçonaria.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

3 comentários:

  1. meu irmão... o balandrau era instrumento de trabalho dos carbonarios (guilda de artesão q trabalhavam com a madeira), que teve muita influência na frança, por isso os ritos de origem francesas tem o costume de usar o balandrau. Aprofundar a pesquisa irmão.

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  2. Meu otimo seu comentario... poderia me passar teu contato.. meu emeil dottoluz@hotmail.com fico no aguardo.. um TFA

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  3. Excelentes explicações. ficou ainda subjetivo quanto as vestimentas por baixo do balandrau. muito se comenta que há irmãos vindo de calça jeans, até mesmo de tenis e até descalço quando o balandrau não chega aos tornozelos gostaria de mais informações sobre estes pontos.

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