JEFTÉ: 1. Juiz em Israel. Após a morte de Abimelec, os filhos de Israel caíram
no erro novamente, voltando à idolatria. Não confiando mais no Deus que os havia escolhido, foram vítimas de novos ataques, novas pilhagens, raptos, assassinatos, incêndios criminosos, estupros, e, finalmente, guerra aberta, que lhes foi infligida pelos filisteus e amonitas, ambos inimigos implacáveis. Era chegada à hora de um novo defensor para salvar o povo da extinção. E, como sempre, ele apareceu. Havia entre eles um homem, cujo nome era Jefté, a quem os velhos da tribo de Gad pediram que assumisse a chefia e reinasse sobre eles, salvando-os do perigo. Jefté olhou fixamente para a delegação de anciões como que duvidando dos seus próprios sentidos. Estavam eles, de fato, pedindo-lhe que se tornasse o seu governante provisório, realmente seu ditador, até que o inimigo fosse rechaçado. Pedindo a ele, filho de uma prostituta. A ele, que, durante toda a sua vida haviam sido desprezado e repudiado, como filho ilegítimo, como a escória dos homens? A ele, que foram expulso da casa de seu pai devido ao escândalo de seu nascimento, ele que fugiu para Tob e tornou-se uma espécie de chefe de bandoleiros. (Jz. 11,1-3).
– Vem, Jefté, e seja nosso chefe – o povo insistiu, pois conhecia sua reputação de homem sábio e corajoso.
– Antes, vós me odiastes – replicou ele – e agora me procurais, em vossa desgraça? E, encarando-os fria, mas argutamente, prosseguiu:
- Se o Senhor entregar o inimigo, vós me elegereis vosso chefe? – Sim – juraram os anciões – e que Deus seja nossa testemunha.
Jefté não perdeu tempo e começou a organizar o exército israelita, preparando-os para uma batalha que derrotaria, implacavelmente, o inimigo. Na sua ânsia pela vitória, Jefté fez um voto insensato. Prometeu ao Senhor Deus, se ganhasse a batalha, ofereceria em holocausto a primeira pessoa, fosse quem fosse, que o viesse saudar, após o seu regresso da conquista. A vitória foi dele. (Jz. 11,39). Os amonitas mostravam-se impotentes para enfrentá-lo; os seus soldados caíam como trigo diante do golpe dos ceifeiros. Vinte cidades foram tomadas e a potência militar amonita destruída. E Jefté, exultando cada gota de sangue e cantando triunfo, retornou à sua casa, em Masfa. A mancha de sua origem desapareceu com a glória e a vitória. Mas, esperai! Quem está saindo da porta de sua casa e vindo ao seu encontro? Uma moça com tímpanos e danças: sua filha, sua única filha, pulando e cantando para celebrar a vitória do pai. Era uma adolescente cheia de alegria juvenil e de amor exagerado pelo pai. O seu rosto brilhava de júbilo, quando ela empertigada aproximava-se dele, numa pantomima dançante de felicitações, toda lépida e feliz, inclinando muito a cabeça para um lado e retinindo os pratos metálicos acima do peito, enquanto corria em direção ao pai, oferecendo-lhe uma recepção jovial e ritmada. E viu o horror nos olhos do pai.
- Ai de mim, minha filha! Gemeu ele, rasgando suas vestes. – Sinto-me prostrado de tristeza, pois prometi ao Senhor oferecer-lhe em holocausto a primeira pessoa que me viesse saudar, saindo da minha casa!
A jovem guardou um silêncio durante longo tempo. Pensava na notícia da sua condenação. Mas, quando falou, por fim, era como Jefté, e não ela fosse a criança.
- Faze de mim o que prometeste a Deus, pois que ele Te concedeu a vitória sobre nossos inimigos. - Oh, se eu pudesse morrer em teu lugar! Chorou Jefté.
O destino terrível da filha de Jefté não é o único, embora assim o pareça. Há tantas tragédias semelhantes todos os dias; sofrimento, separação e morte caindo sobre os inocentes! Homens e mulheres choram, como a filha de Jefté poderia ter chorado e lamentado.
- Por que isto me devia acontecer? O que fiz eu para merecê-lo? Mas é uma lição divina que os humildes, aqueles que como essa moça, podem aceitar o pior e ainda acreditar na bondade e misericórdia do Senhor, herdarão a terra. Não é fácil acreditar nesse preceito sem o dom da fé - mas é a verdade. A obscura filha de Jefté (a Bíblia Cristã não lhe dá um nome, mas o Talmude judaico a chama de Sheila) não esperou nem lastimou o seu destino como o fez o seu muito espiritual pai. Em sua mente, ela já estava preparada para morrer. Pediu ao pai, apenas, que lhe concedesse dois meses mais de vida, com o que ele concordou. Ao menos, assim, a teria ao seu lado, durante aqueles dois meses, pensou Jefté, mas pensou mal, porque a moça unindo-se a algumas companheiras de sua idade internou-se nos montes. E ali, durante dois meses, oraram e meditaram nos mistérios da vida e da morte. Calma e linda a donzela condenada voltou então para o seu pai, que teve de cumprir o voto, embora a sua própria vida se lhe tornasse vazia, em conseqüência de tudo isto.
Assim Jefté matou a espada a própria filha. Mas o exemplo de Jefté O exemplo de obediência até a morte, dessa moça, foi uma lição inesquecível para o povo de Israel. também foi inesquecível, já que o general cometeu um erro moral, trágico e terrível. Primeiro, porque nunca deveria ter feito tal voto e segundo, tendo-o feito nunca deveria tê-lo cumprido. Em comemoração a essa tragédia, as donzelas israelitas instituíram o costume de tirar quatro dias de cada ano para lamentar o trespasse de alma tão brilhante.
2. Quando Jefté precisou de reforços para combater os amonitas, solicitou-o junto aos efrainitas, que lhe foi negado. Quando de sua vitória, os efrainitas atravessaram o Jordão para participarem dos despojos da guerra contra os amonitas. Jefté tentou por todos os meios a apaziguá-los e convencê-los de que não era justo o seu intento, não foi possível. Dando-lhes combate os derrotou. Para tornar decisiva a vitória, precavendo-se contra futuras agressões, Jefté enviou destacamentos para guardar as passagens do Jordão, por onde os insurretos deveriam forçosamente fugir para o seu país. Deu ordens severas para que fosse executado qualquer fugitivo que por aí passasse e se confessasse efrainitas. Aqueles que negassem ou usassem de subterfúgios seriam obrigados a pronunciar a palavra Schibolet, que significa uma espiga. Os efrainitas, por defeito vocal, próprio do seu dialeto, não pronunciaram Schibolet, mas Sibolet. Deste modo, a ligeira diferença de pronúncia descobriria a nacionalidade. Dizem as Escrituras que morreram, nas margens do rio Jordão, 42.000 efrainitas, numa batalha fratricida, já que, tanto os gleaditas, como os efrainitas eram tribos irmãs.
Do Ir∴ João Ivo Girardi (Blumenau)
Verbete extraído do seu Vade –Mecum “Do Meio-Dia-à Meia-Noite”
Fonte: JBNews - Informativo nº 243 - 28.04.2011
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