Ir∴ Clodoaldo Alves Correa Batista (L∴ 376)
Or∴ de Carapicuiba
Expressar os sentimentos de minha iniciação em palavras é um sem a menor dúvida ou receio de afirmar, um enorme desafio a capacidade de síntese, pois os etéreos momentos vividos não raras vezes se apresentam nas lembranças invocando por súplica o poder da tutela da compreensão criteriosa e sensata. Evitar o lirismo desequilibrado é de dificuldade singular, pois a presença do desconhecido, da curiosidade, do poder de assimilar, da capacidade do questionamento construtivo, dos receios, dos mistérios, das incertezas e certezas, se propagam em primeira impressão com pérfida força que ousa dilapidar os alicerces da razão e da emoção. A priori, confesso que os momentos de estudo íntimo durante meu trânsito entre os jazigos do campo-santo não me agradaram, pois duas perdas recentes ainda alimentam uma ferida lancinante e devido esse sombrio e áspero alimento, tenho uma ferida crescente, onde a cicatrização me parece cada vez mais improvável, irrealizável, mesmo com o máximo esforço.
Diante do cenário posto, os sentimentos de impotência e dor sucumbiram ao forte desejo de aprumar um crescimento espiritual sólido, combativo e armado para guerrear as adversidades que se fariam; e agora sei, estarão presentes. Me recordei com exaltação de um ditado indígena Cherokee que afirma:
"No momento de seu nascimento, você chorou e muitas pessoas sorriram. Viva para que no momento de sua morte, muitas pessoas chorem e você sorria"
Vestir esse manto de sabedoria espontânea, talvez, para muitos pareça ousadia destemperada, não para mim!, vou lutar por essa dimensão e isso fortaleceu meu propósito de buscar o acolhimento de pessoas com a mesma ou com semelhança ímpar de direção. Munido do propósito exposto, a agonia da espera se transformou em fulgor que invadiu cada sentido corpóreo e desarmou as defesas e críticas que o desconhecido trazia em sua companhia.
Recebi e absorvi sem critérios draconianos, a informação de que tudo; sem espaço para qualquer exceção, por mais justos que seus fundamentos queiram demonstrar, que daquele momento em diante o sentimento da confiança é a estrada a ser percorrida; e isso amparou as convicções que havia chegado em minutos atrás e fortaleceu meus propósitos com uma envergadura que me atrevo a adjetivar como irresistível. A venda nos olhos para seguir rumo ao desconhecido é desconfortante, já que de todos os sentidos, sem atribuir ou quantificar maior ou menor importância para cada um deles que por moldagem Divina se completam, a privação da visão é a que causa a maior angústia e desconfiança, pois escurece, leva as "trevas" o alcance da razão e da emoção. O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos (Pitágoras).
Busquei instintivamente aguçar com intensidade descomunal os demais sentidos, muito para suprir a privação que me era imposta e percebi que estava fisicamente me aprofundando, descendo para algum lugar, mas mentalmente e espiritualmente estava com uma força até então desconhecida por mim mesmo. Colocado em um local de dimensões ínfimas, estava surpreendentemente tranquilo, porem atento e curioso. Evocativo na escuridão para compreender o que os demais sentidos me apresentavam, tive a certeza de que a lição dos pensadores se fazia oportuna - "Homem conhece-te a ti mesmo"
Assim, a compreensão pelos sentidos do corpo me pareceu muito singela e ilusória para aquele momento, pois já defendiam os filósofos que são susceptíveis aos erros e falhas na interpretação dos fenômenos. Um raciocínio lógico leva você de A a B. A imaginação te leva a qualquer lugar que você quiser. (Albert Einstein).
Busquei a compreensão pelo portal das ideias e das imaginações, tentando assimilar cada segundo; e com isso formar uma opinião embasada na emoção, sem descartar, contudo, a segurança da razão. O equilíbrio para mim era importante no processo de entendimento e sentia uma inefável necessidade de ir além, mesmo diante de fatos insólitos a minha existência até então. Tive a impressão de que esses fatos me remetiam a uma nova etapa de conhecimento e aprimoramento, ou seja, caminhava para outro plano da realização humana. Nesse momento senti que deveria deixar todos os vícios e erros enterrados naquele local, o ignóbil ali deveria ficar.
Estaria preparado e apto para tanto? Se buscava o aprimoramento, espiritual, moral e intelectual, não poderia me dar ao luxo do benefício da dúvida, lembrei das vezes que fraquejei e questionei internamente a existência de algo superior, Divino - pois a dor servia de escudo à capacidade de acreditar, de ter fé. Perdi meu pai a pouco tempo, muito cedo, de forma inesperada, nos meus braços se foi, foi meu exemplo, meu espelho e muito de minha força, porque tinha que passar por essa prova? A resposta não tardou, obrigado Senhor!, o silêncio destrutivo de minha alma se desfez no momento em que ouvi minha filha me chamar de pai pela primeira vez e entendi que tudo é um ciclo necessário.
Para que esse ciclo seja possível é primordial que acreditemos na existência de uma força concreta que impulsione, oriente e determine nossas condutas. Não me cabia outra atitude, senão a penitência e me ajoelhar suplicando o perdão pela descrença injusta e momentânea. Esqueça os tempos de aflição, mas nunca esqueça o que eles lhe ensinaram. (Herbert Spencer Gasser). Peço licença para usar como minhas a inspiração do poeta: Pai: "Tenho certeza que vou te encontrar, não sei o dia, a hora, mais sei o lugar, sei que você está bem, mesmo assim, isso não me impede de chorar"
Tudo do mais simples ao mais complexo passou pela reflexão necessária e solidificou minha, agora compreensível, intenção de renascimento, objetivando o caminho do convívio justo e fraterno para com os demais. Platão, define esse caminho e o denomina de “Bem”. Este seria o princípio supremo estabelecido. Nessa direção, merece destaque parte dos ensinamentos do M∴M∴ Carlos Alberto Carvalho Pires, sobre o sistema platônico das ideias pelo qual me debrucei com olhar excessivamente crítico e a comunhão pelas ideias foi o resultado. O sistema platônico: "Se forma de acordo com uma hierarquia perfeita, com ordem e organização, ficando as “idéias inferiores” abaixo das “superiores”. Temos assim o surgimento de uma pirâmide virtual cujo ápice é formado pela ideia elementar, unitária ou essencial: o Bem. Este não seria condicionado por nada mais, pois tem autonomia e potência absoluta, e se constitui no fundamento que torna todas as outras ideias cognoscíveis à mente humana. Ele não se equipara à substância (a matéria da qual são extraídas as coisas) nem à essência (as formas ou ideias elementares), pois está acima de tudo isso, transcendendo a estes planos de forma inequívoca e eterna."
Após todo esse turbilhão, eis que as vendas me são retiradas e diante de mim um testamento deveria ser respondido; e assim foi feito com sinceridade, até mesmo sobrepondo o entendimento pleno que a atonia abraçava, devido as emoções do momento em pele, mais já sem a malícia, o ardiloso e a influência negativa do meio.
As inscrições retratadas nas paredes negras em forma de questionamentos, bem como minhas respostas íntimas em relação à elas, deixaram límpidas e calmas as águas que me conduziam ao caminho esperado. O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos. (Pitágoras)
Os objetos ali presentes ecoaram a voz que veio da emoção e que foi ouvida pela razão no perfeito equilíbrio, ou seja, o momento é de renascimento, de evolução. Talvez a conclusão espelhe, reflita o conflito entre o que se deixou para trás e o que se busca a frente, por meio de um único caminho possível, o estudo incansável; e com isso venha sofrer mutações pela sabedoria do tempo e pela aquisição de novos conhecimentos. A Câm∴ de Ref∴, que se firma no elemento terra, é nesse momento um marco de renascimento para um novo caminho. E que esse caminho, desejo sem medo ou cautela das possíveis consequências, não seja o mais fácil ou o mais difícil, mas sim o correto. Existem pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos, outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas. (desconhecido)
Deslocado para outro local, já novamente privado da visão, sob o comando de uma voz que se ofereceu como guia, o mesmo me solicitou a exposição do lado esquerdo do peito, para os poetas a "janela da alma", bem como de meu braço; minha perna e pé do lado direito. Despido, conforme narrado e com os bens materiais por exigência confiscados, conclui que iria adentrar em outro local, cuja dimensão não se limitava ao espaço físico, mais sim ao infinito do que se acredita e do que se busca, sem prejuízo dos mistérios que ousarei de espírito aberto buscar entender. O peito e o braço esquerdo descobertos me fizeram de imediato concluir que deveria me dedicar de forma incondicional, seja pelo espírito (coração), ou pela força física (trabalho/braço).
Confesso que a perna e pé direto descobertos não me deram noção de significado em primeiro momento, mas em posterior reflexão e estudo, senti que o respeito ao local sagrado é a medida que se impõe.
O aço da ponta da espada em meu peito, seguido dos avisos que ouvia aos brados, ecoou fortemente para me deixar claro a seriedade do viria acontecer e de que somente deveria continuar se a minha convicção não encontrasse a menor possibilidade de abalos, principalmente pela dúvida. Afirmo, NÃO!, não sofri nem a mais ínfima das aflições pungentes; ou suplícios; ou incertezas, o caminho estava traçado e com força exorbitante estava preparado para as viagens que me anunciavam, pois creio que a evolução do ser humano é um caminho árduo que percebemos com maior ou menor clareza, mas não podemos nos curvar a vontade e a pressão da covardia, devemos estar com as nobres companhias da coragem e da fé, assim como o magistério de Davi diante do gigante Golias.
“Só uma coisa torna um sonho impossível: o medo de fracassar.” (Desconhecido)
Obstáculos, dificuldades e contrariedades devem ser respeitados e com planejamento superados, mais jamais, reitera-se jamais, podem dar gênese a intenção de desistir. Recebo a orientação para que atento escutasse uma Oração antes das provações que iria me submeter por minha livre escolha. As sagradas letras atingiram com precisão inigualável meu espírito, pois exigiram sua presença através do sentido da audição e sem a influência da visão, a magnitude é avassaladora. A invocação final de proteção para os perigos que viriam não me assustaram, apenas reforçaram o meu poder de crer. Ato contínuo, me foram apresentados três obrigações que me comprometi a honrá-las com todas as forças e armas, sem possibilidade de fraqueza por qualquer motivo conhecido ou que venha a se apresentar.
Fortalecido pela oração que a pouco tinha vivenciado, bem como seguro de que as obrigações impostas serão eternamente respeitadas, não tive receio de prestar um juramento de honra, pois desde o início estava convicto do que buscava. A informação de que o juramento seria prestado diante de uma "Taça Sagrada", me levou mentalmente, sem obstáculos, a imagem do cálice com vinho/sangue na Santa Ceia. Nesse momento refleti e me questionei, se a Maçonaria não é uma religião como me ofertam uma "Taça Sagrada"? A resposta não demorou a surgir em meu espírito, devia deixar todas as influências do mundo profano e me concentrar na capacidade de absorver e compreender o que se passava. Isso não significa que devo aniquilar as crenças que havia construído para o conforto espiritual, mais sim, solidificou a compreensão de que deveria deixar os tortuosos caminhos e com retidão iniciar nova caminhada.
Com a Taça Sagrada em mãos prestei o juramento de honra com tranquilidade na alma, pois estava seguro dos meus propósitos. A bebida doce confortou e aumentou ainda mais o horizonte da imaginação, do "Bem" defendido por Platão, contudo, o amargor do segundo momento, bem como as consequências dessa sensação, me levaram a entender que a segurança que sentia estava se transformando em pretensão infundada e desmedida. Não tive medo de comprometer o juramento que havia proferido, também as obrigações assumidas estavam seguras, para mim os fatos serviram como alerta derradeiro de que devo me submeter a contínua e incansável busca do conhecimento, do aprimoramento, da evolução e jamais me acomodar ou ter a pretensão de ter conquistado o pleno conhecimento, a perfeição. Essa pretensão seria uma doce ilusão que resultaria em um amargor que pode estrangular o processo de evolução.
“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito.” (Aristóteles)
A lição do M∴M∴ Honório S. Menezes sobre o ponto é excepcional, e compartilho com o suporte de sua excelência: "Como iniciados devemos buscar a harmonia, o acordo harmônico com a vida. Se torna indispensável uma penosa aprendizagem da Arte de Viver, esta é a Arte que praticam os Iniciados. A vida é sua escola, onde não pode ser admitido aquele que não está decidido a beber do cálice da amargura. Tal é a exigência da Maçonaria".
Conduzido para primeira viagem, esta se concretizou em obstáculos de superação física e mental, pois a força do elemento ar se apresentava em suas diversas faces, o que me levava a concluir que muitos dos caminhos para a busca da intenção de perfeição sofreriam ataques dos mais diversos tipos, sob os mais variados argumentos, buscando atingir o equilíbrio e a harmonia, maculando e causando a erosão. A concentração me levou a lembrar das palavras dos IIr∴, quando da minha busca nas portas do campo - sagrado, tudo deve se pautar pela confiança e munido dessa ordem, o tom doce e acolhedor da voz do meu guia, resultou na tranquilidade necessária para a superação e compreensão do que ocorria. Não iria de forma alguma me ajoelhar as manhas e tentações, aos excessos, as paixões e aos prazeres desmedidos, bem como nenhum argumento seria capaz de me fazer desistir. O equilíbrio novamente exigia sua presença.
Em igual escala de importância, a primeira viagem me fez crer que tudo que havia passado na Câm∴ de Ref∴, estava se completando, pois os hábitos negativos e tendenciosos estavam enterrados e o esforço para a superação dos obstáculos era mais leve sem estes males. “Não há progresso sem mudança. E quem não consegue mudar a si mesmo, acaba não mudando coisa alguma.” (George Bernard Shaw)
A segunda viagem me chamou a atenção o som do atrito pelo encontro dos aços, não testemunhava mais o feroz rugido dos ventos e suas facetas, presumi que os obstáculos impostos estavam superados, o que estaria por vir? Conclui naquele momento que as armas se anunciavam para demonstrar sua força proporcional e por reflexo que não podemos nos acomodar com a superação de alguns obstáculos, temos que empenhar constate vigília e lutar, persistir para a contínua evolução. Atento aos dizeres que me eram dirigidos, me ofereceram o elemento água, onde sentido escorrer pelas mãos, tive a certeza da purificação para uma nova vida espiritual e por consequência nova vida mental e filosófica, o que me fez retornar a conclusão primária do renascimento. Essa purificação também me fez ter certeza de estar limpo e que jamais poderia manchar a confiança em mim depositada e muito menos ferir o meu próprio sentir.
A terceira viagem se apresentou sem as tormentas das precedentes, onde as violações e fatores externos não mais acaloravam os sentidos que ainda se encontravam aguçados pela privação da visão. A energia do elemento fogo, foi imposta ao tato, o que me levou a princípio não decifrar o que acontecia. É difícil não vincular o fogo e o calor, a dor, a agressão, a violência humana ou até mesmo a natural, mas sob a ótica espiritual abre-se um prisma especial em perfeita e constante expansão. O fogo é a chama do espírito e de forma fatal purificará todos os possíveis erros, males, ilusões e vícios que porventura ainda relutem em estar presentes. É a chama que se alimenta do oxigênio necessário para a sobrevivência incólume da busca de algo maior.
“Se seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois eles estão no lugar certo; agora construa os alicerces.” (Desconhecido)
Findas as viagens, a chancela gerada pelo calor em meu peito, reforçou o compromisso firmado de lutar para o crescimento, para o bem de todos, sem quaisquer
privilégios. A incapacidade e a impotência para ajudar os que necessitam, foi sem dúvida o meu momento de maior fraqueza, sendo confortado pelas sábias lições de que a qualidade moral é a base que me levará ao crescimento e tal condição é que será reconhecida e valorada por todos os irmãos. Podemos julgar o caráter de um homem por como ele trata aqueles que não podem fazer nada por ele. Ainda privado da visão, da luz e de joelhos, posição que em primeiro momento pode transparecer uma condição de submissão, mas é latente que se trata de condição de devoção, minha mão direita sobre estava o L∴ da L∴, peço máximas desculpas por não poder narrar os sentimentos desse contato, pois se apresentam além de qualquer explicação passível de compreensão alheia, é um momento único, individual.
Em minha mão esquerda o Comp∴ firmado em meu peito, onde tive a pretensiosa certeza de que o maior ângulo possível deve ser perseguido para que se construa o maior raio do círculo do amor e da justiça. Perante os IIr∴ reunidos em loja; e na presença do G∴A∴D∴U∴, prestei meu juramento solene com firmeza insuperável, já que estava protegido pela convicção de que fazia a coisa certa. Me recordo com precisão de qualidade única e jamais me esquecerei das palavras que me alertavam de que havia prestado um juramento solene e que daquele momento em diante estaria sempre ligado à Ordem. Meus IIr∴, por oportuno, renovo minhas intenções e vos digo: Estarei sempre ao vossos lados para todas e quaisquer necessidades que se apresentem; serei a força que vos auxiliarão para superar os obstáculos; serei o ombro acolhedor para os momentos de pranto; serei o escudo de defesa para as agressões injustas; e serei a espada para atacar as tentações que possam lhes atormentar o sono. Estarei aos vossos lados para que o irrealizável, a quimera, sejam apenas palavras em muitos contextos sinônimas, mais jamais serão uma condição. Eu o juro!
Finalmente sou digno de receber a luz, a angústia iniciada com a privação do sentido da visão já há tempos não me cobria, pois superei cada momento com a crença no império da confiança, compreendi que o aviso não foi para causar temor, mais sim, para tranquilizar a alma e prepará-la para receber o inenarrável. A Luz que em primeiro momento causa incômodo, pois acabara destruir a escuridão, logo se transformou, pois é o contato do sentido privado pela primeira vez com a verdade. As espadas para mim apontadas me fizeram concluir de forma inequívoca que estava me transformado e essa transformação seria pautada pelas minhas atitudes e obrigações, sendo estes preceitos assegurados por todos os IIr∴. Havia optado por um caminho sem volta que não me permite erros ou deslizes, de extremas responsabilidades. Mas esse caminho também me levará a aniquilar o entendimento, que agora se apresenta frágil, de que a busca da perfeição era uma utopia.
O crescimento espiritual sempre encontrará duas medidas, a da dor: que como mencionei de início, me açoita pelas perdas recentes; e pelo amor; que por essência sublime e divina nos irradia. Temos que aprender ingerir a quantidade exata de cada uma delas, pois o desequilíbrio certamente irá resultar na embriaguez devastadora. A vida faz exigências, IIr∴, peço auxílio para que possa cumpri-las, sei que essas exigências muita vezes ao nosso sentir são tormentos pessoais, são desproporcionais, são ilegítimos e talvez com requintes de tirania. O suplício, a aflição e desespero devem ser superados com firmeza, pois se nos foram destinados; não foi ao acaso.
Em vista do exposto e com os fundamentos presentes, sob a invocação da valiosa e imprescindível proteção do G∴A∴D∴U∴, recebi meu avental de A∴M∴, e dois pares de luvas brancas. O primeiro símbolo do trabalho, da dedicação, me fez lembrar a origem das faixas pretas dos Mestres das Artes Marciais, onde as faixas nada mais eram do que cintos/cordas de algodão naturalmente brancos que eram utilizados com o propósito único de segurar as calças durante o seu trabalho e quando passavam seus ensinamentos aos discípulos. Com o passar dos anos e de muitos esforços e aprendizados, se escureciam até ficaram pretos pela sujeira que era resultado da mistura do suor com a terra; e do sangue das lutas vencidas. Isso me remete ao labor e a vontade insaciável de aprender, certamente, como nas artes marciais, que desenvolveram um crescimento espiritual e filosófico para o processo de "escurecimento" das faixas. O avental de A∴M∴ me elevará ao aprimoramento em todas as dimensões e direções.
Os pares de luvas se apresentam como objetos de retidão, devemos trabalhar muito, mas não podemos aceitar que para a busca de um objetivo, se faça de tudo, sem se preocupar com os objetivos dos demais. O trabalho bem executado, trará a alegria do dever cumprido. Curvo-me novamente e oportunamente, por estudo e pesquisa, a inspiração do M∴M∴ Honório S. Menezes: "Em todos os tempos, a Iniciação foi privilégio dos valentes, dos heróis dispostos a sofrer, dos homens com energia que não pouparam seus esforços. É a glorificação do esforço criador do sábio que chegou à plena compreensão da vida, a tal ponto que, ao viver para trabalhar, consegue romper as correntes do presidiário condenado a trabalhar para viver. Diz o adágio: Trabalho equivale à Liberdade, e ainda seria melhor dizer que nos libertamos da escravidão através de nosso amor ao trabalho. É, portanto, questão de desejar o trabalho, de buscar o esforço fecundo sem temor ao sofrimento que possa acompanhar sua realização. Então a vida será, para nós, amena, confortadora e bela".
A regularidade registrada pela Carta Constitutiva e o Abraço Fraternal que pela primeira vez me era confiado, foi a confirmação de que estava entre IIr∴ que trabalham em união, em harmonia e que se submetem a regramentos não só divinos, mas também humanos. Orientado pude adentrar ao T∴, com o necessário respeito a forma que me foi passada, sendo proclamado por três vezes como A∴M∴, a felicidade exigiu sua presença, mas trouxe consigo a justa exigência da responsabilidade, sendo esta, reforçada e fortalecida pelas palavras do Ir∴ Orad∴, palavras essas que daquele momento em diante tenho como preceito moral.
Ao retornar ao Mundo Profano ficou clara a metamorfose moral e espiritual, as visões, as emoções, os conceitos e as conclusões encontraram outra linguagem, outra roupagem, que não está ao alcance dos que sobrevivem em capítulos de penumbra em um mundo repleto de vícios, maldades, individualismos, e ignorância. Tal sentimento me levou para uma reflexão em profundo silêncio, se isoladamente minha iniciação pode me trazer esse aproveitamento humano, confesso que estou curioso e pronto para novas realizações, e posso concluir meus queridos IIr∴, a minha iniciação me transformou em algo novo que não consigo ainda precisar ou dimensionar, mas tenho certeza que é algo fantástico, surpreendente e perpétuo. Peço a mais elevadas e sinceras desculpas se pelo pouco conhecimento, tenha me equivocado em certas conclusões, onde somente o tempo me dirá, mais estas não foram técnicas ou precipitadas, foram conclusões da alma, espontâneas e que com novos conhecimentos irão se fortalecer ou humildemente cederão seu lugar.
Fonte: Revista A Acácia
Nenhum comentário:
Postar um comentário