José Castellani
Os três graus simbólicos, Aprendiz, Companheiro e Mestre, comuns a todos os ritos maçônicos, representam a essência total de toda a doutrina moral da Maçonaria.
Na primitiva Franco-Maçonaria, formada pelas organizações de ofício, só existiam os Aprendizes; e os mestres-de- obras eram escolhidos entre os mais experientes Aprendizes. O grau de Companheiro seria criado já nos primórdios da Maçonaria dos Aceitos - também chamada, impropriamente, de Especulativa - no século XVII; e essa era a situação, quando da fundação, a 24 de junho de 1717, da Premier Grand Lodge, de Londres, a primeira do sistema ocidencial. O grau de Mestre seria criado em 1725, mas só introduzido em 1738, pela Grande Loja Londrina. A partir daí, iria concretizar-se a totalidade da doutrina moral e da mística da instituição maçônica.
Os três graus simbólicos, síntese do universo maçônico, mostram a evolução racional da espécie humana, ou seja: intuição (Aprendiz), análise (Companheiro) e síntese (Mestre). O Aprendiz, ainda inexperiente, embora guiado pelos Mestres, realiza o seu trabalho de forma praticamente empírica, através da intuição, apenas, representando o alvorecer das civilizações, dominadas pelo empirismo; o Companheiro, já tendo um método de trabalho analítico e ordenado, simboliza uma mais avançada fase da evolução da mente humana, enquanto o Mestre, juntando, através da síntese, tudo o que está disperso, para a conclusão final da obra, representa o caminho derradeiro da mente, na busca da perfeição.
Simbolicamente, nesses três graus, os maçons dedicam-se à construção do templo de Jerusalém, símbolo das obras perfeitas dedicadas a Deus, de acordo com a concepção da Ordem dos Templários, criada em 1118 e regida pelos estatutos idealizados por São Bernardo. A construção do templo, no caso, representa a construção moral e ética do iniciado. Para a concretização desse simbolismo, a Maçonaria criou a lenda do terceiro grau, de forte cunho moral, segundo a qual havia um arquiteto, Hiram Abif ("Hiram, meu pai"), que fora enviado ao rei Salomão por Hiram, rei da cidade fenícia de Tiro, para ser o mestre das obras do templo; isso, evidentemente, é pura lenda, pois, Hiram Abif era, simplesmente, um entalhador de metais. Diz, também, a lenda que Hiram dividia os seus obreiros, de acordo com suas aptidões, em graus --- Aprendiz, Companheiro e Mestre --- dando-lhes a oportunidade de progredir, pelo seu trabalho. Embora isso, também, seja lenda, pois não havia Maçonaria na época da construção do Templo de Jerusalém e nem graus de Companheiro e Mestre (embora alguns ingênuos acreditem nisso), mostra duas lições morais: a cada um, segundo as suas aptidões, e a cada um, segundo os seus méritos. Hiram, a personificação da Sabedoria, acabaria sendo morto pela personificação de vícios degradantes, a inveja, a cobiça e a ignorância, representadas em três Companheiros, que, sem os méritos, procuravam ser Mestres, a qualquer custo (o que também é apenas lenda, e não realidade).
Esses traços gerais da lenda - cujo desenvolvimento e cujas minúcias são reservadas aos iniciados no terceiro grau - mostram que o maçom, ao atingir o grau de Mestre, já deve possuir a plenitude do conhecimento iniciático, moral, social e metafísico, necessário e pertinente aos objetivos da Ordem maçônica, restando-lhe, então, o trabalho constante, na busca da perfeição nunca atingida, mas sempre perseguida, pois ela é o estímulo perene na vida do ser humano.
Terá, então, o Mestre a humildade de se prostrar perante os grandes mistérios da vida e os insondáveis escaninhos da Natureza, despojando-se de todas as vaidades, incluindo-se, entre elas, a busca desvairada dos galardões, símbolos da fatuidade, e a busca da ascensão a qualquer custo, numa escala que quase nunca reflete um conhecimento apreciável e um desejável mérito pessoal. Deverá, então, o Mestre lembrar-se, sempre, de que a verdadeira beleza é a interior, mesmo que o exterior não seja coruscante e não brilhe em faíscas de ouro e prata, pois o maçom, o verdadeiro maçom, integral, é um Mestre por suas qualidades mentais e espirituais, e não por sua posição na escala, ou por seus vistosos paramentos. O “hábito não faz o monge”, diz a velha sabedoria popular, e se pode até acrescentar que um muar ajaezado de ouro nunca poderá ser confundido com um corcel de alta linhagem.
Na Loja Simbólica, verdadeira e única essência da Maçonaria universal, o iniciado percorre um longo caminho, desde as trevas do Ocidente até à luz do Oriente, tendo o seu lugar de acordo com as suas aptidões e a sua ascensão de acordo com os seus méritos. Sua ascensão não deverá, nunca, ser devida a favores pessoais, a apadrinhamentos, a rapapés e bajulações, ou ao poder corruptor dos metais, expedientes, esses, tão comuns na sociedade, em geral, mas excluídos dos templos da verdadeira Maçonaria, desde os seus primórdios, nos velhos tempos em que só existiam Aprendizes e Companheiros, que usavam um simples avental de couro, símbolo humilde do trabalho, sem as riquezas flamejantes de uma nababesca farrambamba.
Acham muitos maçons desavisados que os graus simbólicos são secundários e representam um mero apêndice da maçonaria, uma etapa primária e elementar, um trampolim para grandes escaladas, quando, na realidade, é basilar e relevante sua importância, a ponto de eles constituírem, segundo consenso, a "pura Maçonaria" pois, como alicerces de toda a estrutura maçônica universal, nada mais existiria de maçônico sem eles, restando apenas as honorificências, de que o mundo não-maçônico é tão prenhe.
Do livro "Liturgia e Ritualística do Grau de Mestre Maçom" - Editora A Gazeta Maçônica - 1987
Fonte: Fonte: Revista Arte Real nº 10
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