(republicação)
Questão apresentada pelo Respeitável Irmão Robson L. A. Lemos, Mestre Maçom da Loja Caminho das Oliveiras, 3964, GOB, Oriente de Alpinópolis, Estado de Minas Gerais.
robsonllemos@ig.com.br
Gostaria de merecer a atenção do Irmão Pedro Juk quanto à dúvida levantada pelo Irmão Ari, abaixo descrita. Frequentemente trocamos e-mails em nossa Oficina, sobre assuntos maçônicos, sendo que nesse específico também dei minha opinião (entendimento abaixo).
Na Sessão passada ocupei o cargo de 1° Diácono e pela primeira vez, desde 19 outubro 2009, observei um pedido do Venerável Mestre para transmitir algo (não sabia do conteúdo) através de um bilhete, ou seja, um objeto.
Como regra de ritualística, não devemos fazer nenhum sinal portando qualquer objeto e o fiz assim até que entregasse o pedido do Venerável Mestre. ao Irmão 1° Vigilante. Mas assim que entreguei o objeto (bilhete) que portava, imediatamente fiz o sinal do grau para o Irmão 1° Vig. e voltei para o Oriente, fazendo o sinal do grau para o Delta depois de subir os degraus, até chegar ao lugar de ofício como ad oc.
Como estava ali para transmitir as ordens ao Irmão 1° Vigilante às Dignidades e Oficiais, acho que o sinal dirigido ao Irmão 1° Vigilante foi correto, mas se fosse às Dignidades e Oficiais, no Oriente, não necessitaria, pois, a circulação é livre e sem sinais.
Outros materiais que circulam em Loja devem ser dirigidos ao Mestre de Cerimonias, que os entregará , sempre sem o Bastão. Correto ou não, meus queridos Irmãos?
Quanto ao sinal de Ordem feito pelo 2º Diacácono, tenho o seguinte entendimento:
- Quando da transmissão da Palavra (fechamento da loja), deverá ser feito o sinal de Ordem do Grau pelos Diáconos aos Vigilantes, seguido da pena correspondente (conforme nosso ritual/2009).
Caso o Venerável Mestre solicite ao Irmão 2º Diácono entregar algum objeto ele deverá realizar o giro ritualístico previsto, sem o sinal de Ordem, indo ao Irmão endereçado, somente se reverenciando ao delta no meridiano do templo (até aqui tudo Ok, como no ritual).
No caso descrito não vejo a necessidade do 2º Diácono fazer o sinal ao Irmão 1º Vigilante, caso contrário esse Irmão deveria se levantar e também retribuir a saudação maçônica (como na transmissão da palavra).
Quando se espera, em pé e parado, o retorno de alguma informação ao Venerável Mestres; aí sim se esperaria com o sinal de Ordem em frente ao Irmão 1º Vigilante.
No caso, com a loja aberta, ao retornar ao Oriente está previsto o giro com o sinal de Ordem e a pena do Grau, conforme o RGF. Ir. Robson.
CONSIDERAÇÕES:
Vamos por partes. Embora possa até parecer devido à dialética ritualística, os Diáconos são apenas mensageiros para a transmissão da Palavra Sagrada e não mensageiros do Venerável ou Vigilante para transmitirem recados e outras coisas do gênero.
Essa obrigação é dever de ofício do Mestre de Cerimônias. Nesse sentido há uma explicação que vou tentar resumir. Ocorre que o cargo de Diácono teve origem nos antigos “oficiais de chão” da Maçonaria operativa que levavam ordens nos canteiros das construções do passado, normalmente aos zeladores “wardens”, hoje os atuais Vigilantes.
Uma das suas obrigações era a de auxiliar na aprumada, esquadrejamento e nivelamento da obra em execução, tanto para iniciar os trabalhos, como para o encerramento das suas diversas etapas.
Assim os antigos Vigilantes procediam e comunicavam através desses Oficiais de Chão (hoje Diáconos) que os trabalhos estavam aptos para serem iniciados, bem como corretos para as diversas conclusões das etapas no sentido de pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos. É daí que aparece o termo “justo e perfeito”.
Como atualmente vivemos a Moderna Maçonaria de maneira especulativa, essas tradições são revividas simbolicamente na transmissão de uma palavra que, se estiver certa no canteiro simbólico, os trabalhos são iniciados, ou encerrados.
Assim os Diáconos representam essa alegoria entre as Luzes (Esquadro, Nível e Prumo – esquadrejamento, nivelamento e aprumada) na transmissão da Palavra que, se transmitida de modo correto, tudo estará Justo e Perfeito, tanto para se iniciarem os trabalhos quanto para se encerrarem os mesmos.
Ocorre que esses Oficiais de Chão são característicos na Maçonaria Inglesa, embora o Rito Escocês Antigo e Aceito que é de vertente francesa, assim adote o procedimento.
Isso se deve a razão de suas raízes estarem firmadas no conceito “antigo” que supre a tradição anglo-saxônica do Rito. Nos Trabalhos Ingleses (lá não se fala em rito) os Diáconos tem função mais específica, já que na vertente inglesa, não se faz uso de Mestre de Cerimônias, embora por lá exista um Diretor de Cerimonial que não atua no formato do Mestre de Cerimônias por nós tão conhecido no Rito.
Como o Rito Escocês Antigo e Aceito não nascera com graus simbólicos - esses só apareceriam com o primeiro ritual datado de 1.804 da França - cuja ritualística fora decalcada nos “antigos de York” trazidos por maçons egressos dos Estados Unidos da América do Norte que praticam até hoje o chamado Rito de York (americano) e decalcado na Segunda Grande Loja de 1.751 na Inglaterra autodenominada por Laurence Dermott de “Antigos” em oposição aos “Modernos” de 1.717.
Por assim ser o Rito Escocês, embora de origem francesa, não tardaria a acrescentar na sua ritualística muitos costumes ingleses (como é o caso do Segundo Vigilante ao Meio Dia), bem como adaptando uma transmissão de palavra para reviver o costume dos antigos canteiros medievais.
Nesse sentido é que os Diáconos no Rito em questão revivem esse desempenho. Com isso também permaneceu a dialética que, no modo francês, ficaria obsoleta, mas enraizada no Rito pelas antigas tradições.
Como os Ritos de origem francesa geralmente fazem uso de alguns cargos desconhecidos na Inglaterra - como são o caso do Mestre de Cerimônias, Experto e Terrível - na França estes têm funções específicas, o que geralmente na Inglaterra são cumpridos pelos Diáconos. Daí a permanência da dialética, porém em termos de obrigação de ofício, cada qual tem a sua própria missão.
Portanto, no Rito Escocês, a função de transmitir recados, levar documentos, conduzir a Ata para assinaturas, abrir o Painel do Grau, revestir insígnias, fazer circular o Saco de Propostas e Informações, etc., é do Mestre de Cerimônias que, dentre essas e outras, também conduz Irmãos na Loja.
Assim e ratificando, no Rito Escocês Antigo e Aceito, os Diáconos, embora tenha permanecido a dialética inglesa, têm verdadeiramente como ofício apenas a Transmissão da Palavra Sagrada e nunca como condutores de recados.
Outros aspectos da questão – Sinais e Saudação.
Não está mais previsto no GOB⸫ a saudação ao Delta. Assim ela é feita apenas ao Venerável quando da entrada e saída do Oriente e às Luzes da Loja (Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes) quando do ingresso pela Marcha do Grau, ou se porventura esteja especificado no Ritual em vigência.
Nesse sentido e pela igualdade de ações no ato, carece-se ficar atento para não confundir um procedimento com saudação pelo Sinal. Saudar pelo Sinal é compor o mesmo em se estando à Ordem (corpo ereto e os pés em esquadria unidos pelos calcanhares).
Assim um obreiro que estiver saudando alguém o faz compondo o Sinal Penal e imediatamente em seguida executa a pena simbólica. Dependendo do caso, volta à Ordem, caso contrário prossegue para o seu destino.
Agora existe uma regra consuetudinária nos ritos de origem francesa e particularmente no Rito Escocês que é a de que todo o obreiro que estiver em pé e parado em Loja aberta ficará à Ordem, isto é e repetindo: corpo ereto, pés em esquadria e a composição do Sinal Penal de acordo com o Grau de trabalho.
Assim, antes de se deslocar, ou tomar assento, se for o caso, o obreiro desfaz o Sinal pela pena simbólica.
Note que o procedimento é igual, todavia o objetivo é diferente. Vamos citar, por exemplo, o Mestre de Cerimônias ao conduzir a ata para as devidas assinaturas. Ele a conduz até o destino e enquanto aguarda a assinatura, se posiciona à Ordem. Cumprido o objetivo, ele desfaz o Sinal na forma de costume, apanha o livro atas e se dirige ao outro destino.
Obviamente que o Mestre de Cerimônias não está saudando ninguém. Ele está apenas cumprindo a regra de que parado e em pé, posiciona-se à Ordem. Também aquele que estiver recebendo o livro ata não precisa se levantar e nem fazer qualquer saudação.
Como essas existem tantas outras situações cujo caso é apenas o de se cumprir o protocolo ritualístico. Isso não fica apenas na obrigação de um Oficial circulante. Por exemplo, no caso de um usuário da Palavra. Esse após ser autorizado, se posiciona à Ordem e sem desfazer o Sinal se dirige primeiramente às Luzes da Loja (isso não é saudação, porém um cumprimento protocolar) e posteriormente de maneira generalizada aos demais presentes (meus Irmãos). Ato seguido faz o seu pronunciamento e ao terminar desfaz o Sinal pela pena simbólica e toma assento novamente.
Esse procedimento está muito longe de ser uma saudação, senão um cumprimento da praxe ritualística de um Rito. Exercitando o pensamento, encontraremos tantas outras situações que se encaixam nesse breve arrazoado.
Ainda em relação ao Sinal, encontramos a questão de que aquele que estiver empunhando, ou segurando um objeto de trabalho não faz Sinal. Aqui também o caso merece atenção. Não se faz Sinal com o instrumento, isto é, não se usa o instrumento de trabalho para com ele fazer o Sinal.
Assim, o Mestre de Cerimônias não faz o Sinal Gutural passando o bastão no pescoço, por exemplo. Nem o Cobridor passaria a espada. Assim como o Venerável o malhete e o Hospitaleiro a bolsa.
Para isso existem regras de se estar a rigor da Ordem com o instrumento o que não significa fazer Sinal com o objeto.
Tomando-se a regra que os objetos são sempre empunhados com a mão direita e o Sinal Penal também é sempre executado com a mão direita, é que existe a norma de não se usar o instrumento para com ele fazer Sinal.
Da obrigatoriedade de se segurar o instrumento com a mão direita, excetuam-se a Espada Flamejante (mão esquerda no momento da consagração) e das bolsas de Propostas e de Beneficência que de maneira especial são seguras pelas duas mãos na altura da cintura pelo lado do quadril esquerdo.
Assim, se um Oficial estiver portando a espada embainhada (Expertos e Cobridores) ele faz normalmente o Sinal com a mão, o que significa que o Oficial não está usando o instrumento de ofício para com ele executar o Sinal.
Ainda complementando, no caso do Mestre de Cerimônias na condução de objetos, não o bastão, esse deve usar o bom senso. Sendo possível estes devem estar seguros pela mão esquerda para que na eventualidade dele precisar compor o Sinal tenha a sua mão direita livre. Isso se aplica inclusive para o Segundo Grau, onde o importante é a mão direita que executa a pena cordial. A esquerda nesse caso, pode ser perfeitamente dispensada já que ela estará ocupada pelo ofício da condução de objeto(s).
Como a questão é de bom senso, sempre que possível e a cena não possa parecer ridícula, o ideal mesmo é que o Mestre de Cerimônias transporte objetos ocupando as duas mãos, desde que esse mistér não seja um minúsculo bilhete. Enfim, sempre está disponível um bolso para o caso.
Perdoe pela prolixidade do texto, porém entendo que explicações sem um embasamento, tendem mais a aumentar as dúvidas do que saná-las. Também não sou daqueles que simplesmente dizem: “pode”, “pode sim”, “não é assim”, “faça assim”, etc. Até porque não faço uso desse palavreado nos meus textos, em respeito, sobretudo pela fraternidade que nos une e pela observação da boa educação.
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: JBNews n. 810, 14/11/2012
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