Ir∴ Paulo Jorge Costa
I – INTRODUÇÃO
A origem da palavra ética vem do grego "ethos", que quer dizer “o modo de ser”, ou “o caráter”. Os romanos traduziram o "ethos" grego, para latim "mos" (ou no plural "mores"), que significa costume, hábito, ou regra, de onde então vem a palavra moral. Tanto "ethos" (caráter) como "mos" (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, ou seja, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é adquirido ou conquistado pelo hábito. Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, dizem respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos na sociedade onde nascem e vivem.
Mas, afinal, o que é ética?
Ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É a ciência que tem por objeto o estudo científico e filosófico sobre os costumes ou as ações humanas, ou, em resumo, é o estudo do comportamento moral dos homens em sociedade.
A ética é um campo de estudo que busca direcionar as relações entre os seres humanos e seu modo de ser, pensar e, principalmente, de agir dentro de um determinado contexto: comportamento ético é aquele que é considerado adequado, correto e permitido por uma organização.
Uma vez estabelecidos os princípios éticos que regem os comportamentos dos membros de uma determinada organização (social, política, profissional ou outras), pode-se então, naquele contexto, saber e distinguir entre o certo e o errado (o que pode ou não pode ser feito).
Logo, questões do tipo: “O que é certo? Qual o meu dever? O que devo fazer?” pertencem exclusivamente ao aspecto causal da busca do padrão ético e devem levar às respostas: se as ações são boas, com certeza terão bons efeitos.
A vida humana é essencialmente convívio. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: O que devo fazer? Como agir em determinadas situações? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer?
Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, ações, escolhas, e comportamentos, os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado.
II - A ÉTICA NA MAÇONARIA
Mas, como é falar de ética na Maçonaria ?
A Maçonaria é uma Ordem Universal, formada por homens de todas as raças, credos e nacionalidades, acolhidos por iniciação e congregados em lojas, nas quais, por métodos ou meios racionais, auxiliados por símbolos e alegorias, se estuda e se trabalha para construção da Sociedade Humana.
A Maçonaria proclama que se deve lutar pelo princípio da equidade, dando a cada um o que for justo, de acordo com sua capacidade, obras e méritos, além de considerar o trabalho lícito e digno como dever primordial do homem.
A ética maçônica tem por fundamento os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade como máxima no relacionamento humano, a concretização ou realização dos valores do homem iniciado maçom e observância das regras morais tradicionais ou inscritas nos rituais e regulamentos maçônicos.
A Maçonaria não dispõe de um “Código de Ética” que possa constituir um compromisso de honra para os que aceitam ingressar em nossa Ordem, e todos sabem que, ao ingressar na Maçonaria, cada indivíduo traz consigo os valores do seu convívio social, suas concepções morais e éticas já elaboradas, o que pode provocar na convivência maçônica comportamentos aéticos, a exemplo das omissões, das disputas pelo poder, perseguições, malversação dos conhecimentos e da doutrina maçônica, excessos no uso da inteligência e da desinteligência e as mais variadas formas de indisciplina e inadaptabilidades às regras maçônicas, causando o enfraquecimento do sentido de unidade do corpo social.
A singularidade da ética maçônica nos permite dar um passo à frente. Preliminares do simbolismo e dos instrumentos maçônicos, as atitudes e os gestos ritualísticos estão a demonstrar o caminho a ser trilhado pelo maçom. A eles aditem-se, ainda, as Constituições Gerais da Ordem, os Landmarks, as Leis e Regulamentos específicos das Lojas. Então, aí temos quase que definidos um conjunto de regras de conduta válidas para todos os tempos e para todos os homens que adentraram pelos portais iniciáticos das cerimônias e ritualísticas maçônicas. E é a este conjunto prático-moral que se submete o maçom, sem muitas reflexões sobre ele.
O problema em sua saga ética e moral reside, basicamente, no que fazer ou em como se comportar frente a cada situação concreta do indivíduo na sociedade, se não existe um código de ética maçônico como escopo social que possa tipificar as condutas e registrar as violações às regras estabelecidas. É comum que em situação de tomada de decisão, os indivíduos se defrontem com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que julgam mais apropriadas ou mais dignas de serem cumpridas e é aí que as regras maçônicas vão para as laterais das regras sociais vigentes.
A abordagem de um assunto tão complexo exige algumas premissas, que, embora verdades incontestáveis, podem ser, muitas vezes, esquecidas, em benefício de interesses pessoais de momento.
A primeira premissa esclarece que a Maçonaria é uma fraternidade.
O substantivo fraternidade designa o parentesco de irmãos, o amor ao próximo, a harmonia, a boa amizade, a união ou convivência como de irmãos. Isso leva à conclusão de que, na organização designada genericamente como Maçonaria, definida como uma fraternidade, deve prevalecer a harmonia e reinar a união e convivência como de irmãos.
A segunda premissa afirma que a Maçonaria, como uma fraternidade, deve ser uma instituição fundamentalmente ética.
O substantivo ética designa a reflexão filosófica sobre a moralidade, ou seja, sobre as regras e códigos morais que orientam a conduta humana. Refere-se também à parte da filosofia que tem por objetivo a elaboração de um sistema de valores e o estabelecimento dos princípios normativos da conduta humana, segundo esse sistema de valores.
Sendo a Maçonaria, até pela sua definição, uma organização ética, devem ser rígidos os códigos de moral e alto o sistema de valores que orientam a conduta entre maçons.
Todos os códigos maçônicos ressaltam a importância dos valores éticos entre maçons. Isso está bem evidente em disposições inseridas em textos constitucionais, as quais, com pequenas variações de Obediência para Obediência, afirmam que, entre outros, são deveres do maçom:
"Reconhecer como Irmão todo maçom e prestar-lhe a proteção e ajuda de que necessitar, principalmente contra as injustiças de que for alvo”;
“Haver-se sempre com probidade, praticando o bem, a tolerância e a fraternidade humana".
E completam, destacando que:
"Não são permitidas polêmicas de caráter pessoal nem ataques prejudiciais à reputação de Irmãos, nem se admite o anonimato".
A ética, todavia, não fica restrita apenas às relações entre maçons, mas também às destes com as Obediências que os acolhem, principalmente nas referências a estas, ou aos seus dirigentes, em textos escritos. Isso está bem caracterizado no dispositivo legal, que admite ser direito do maçom:
"Publicar artigos, livros, ou periódicos que não violem o sigilo maçônico nem prejudiquem o bom conceito do Grande Oriente".
A Maçonaria deve ser exemplo de moral e de ética. Afinal de contas, ela afirma, em todas as suas Cartas Magnas, que:
"A Maçonaria pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade. (...) Proclama que os homens são livres e iguais em direitos e que a tolerância constitui o princípio fundamental nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um".
Nem sempre, porém, isso acontece. A Instituição maçônica, doutrinariamente, é perfeita, mas os homens são apenas perfectíveis. Procuram se aperfeiçoar, mas muitos nem sempre conseguem o seu intento, mesmo depois de muitos e muitos anos de vida templária, persistindo nas atitudes aéticas e antiéticas, que lhes enfraquecem o espírito e assolam o ideal de solidariedade, de moral e de respeito à dignidade humana.
Os ensinamentos maçônicos são fundamentalmente éticos. A Maçonaria fomenta o desenvolvimento do homem através do aperfeiçoamento moral.
Quando a Maçonaria utiliza a Bíblia como sendo o seu Livro da Lei, está implícito que os ensinamentos do Grande Arquiteto do Universo, que são extremamente éticos devem ser acatados e praticados por todos os maçons.
Nas Constituições, Estatutos e Regulamentos Maçônicos, também encontramos postulados éticos que norteiam a Atitude Maçônica.
A Maçonaria defende, por exemplo, que um maçom só pode favorecer outro maçom numa situação incontestavelmente ética. Não podemos favorecer um maçom em detrimento de outra pessoa. Ou seja, se o mérito for do outro, o direito é do outro. Só em igualdade de condições podemos favorecer um irmão.
O RGF – Regulamento Geral da Federação do Grande Oriente do Brasil estabelece, como um dos deveres da Loja:
“Empenhar-se no aperfeiçoamento dos seus Membros nas áreas de Filosofia, Simbologia, História, Legislação Maçônica, Ética e Moral e promover o congraçamento familiar maçônico”.
Em muitos outros momentos de seus rituais, nos vários graus dos estudos maçônicos, são focalizados princípios que fundamentam a Ética Maçônica: juramentos de aceitação, de obediência e de sigilo; compromissos de fidelidade, de solidariedade e de ajuda mútua; e tantos outros, todos com o mesmo escopo: a Maçonaria é uma Escola de Aperfeiçoamento Moral.
A verdade e a virtude são os dois pólos de uma única busca que caracteriza a via ética de natureza iniciática. Adicionalmente, também se pode dizer que a busca da verdade já é uma das virtudes do maçom. O caminho para a prática da virtude se inicia no rito de iniciação e se desenvolve através dos trabalhos ritualísticos em Templo. Um caminho que é gradualmente percorrido na busca do aperfeiçoamento individual, no qual os princípios éticos devem ser praticados, tanto em Loja quanto no mundo profano.
Depende da vontade de cada um praticar a virtude. Para a Maçonaria, a virtude é a disposição habitual para o bem e para o que é justo e, por isso, nela vê a prova da perfeição e o próprio ideal do maçom.
Por isso, ela nos ensina, em seus Rituais, que devemos “levantar templos à virtude e cavar masmorras ao vício”.
A Ética maçônica não reduz a noção do bem só ao maçom como indivíduo ou aos demais membros da Ordem, mas se amplia e envolve toda a humanidade. Daí podermos dizer que a maçonaria se volta, de maneira sempre progressiva, ao bem comum, ao bem concreto, atual e futuro de todos os homens, independente de quais sejam as suas culturas, países, etnias ou religiões.
A vida do maçom envolve o seu trabalho em Loja e a sua atuação no mundo profano, no qual a sua postura deve ser profundamente ética e tolerante.
III – CONCLUSÃO
Um dos maiores desafios para um maçom é honrar e representar a instituição no desempenho de suas atividades como homem, profissional, cidadão e chefe de família, pois deve ser exemplo de postura ética e moral numa sociedade excessivamente individualista e voraz, onde o TER a todo momento procura absorver o SER numa luta desigual e numa competição desenfreada, incompreensível e desumana. Uma sociedade em que valores familiares nem sempre são considerados, onde a honestidade, a honradez e a correção de conduta muitas vezes são tidas como práticas ultrapassadas.
Os maçons devem dar exemplos de moral, de ética e de virtudes. Afinal nossa sublime Instituição afirma ser educativa, filantrópica e filosófica, que tem por objetivo os aperfeiçoamentos moral, social e intelectual do Homem por meio do culto inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade.
Há bem pouco tempo, os maiores inimigos da Maçonaria eram agentes externos. Governos ditatoriais e o clero, de tempos em tempos, desferiam ataques contra nossa Instituição. E não podemos dizer que tudo isso passou, pois persistem ataques da ignorância e do preconceito, somados aí extremistas de algumas crenças, ou mesmo sem crença nenhuma, que trazem discursos inflamados de ódio contra o “Demônio”, com quem frequentemente nos relacionam. A multidão que os segue encontra, em seus templos e livrarias, uma infinidade de livros e artigos que destilam mortal veneno contra a Maçonaria. Livros esses que podem ser encontrados até mesmo nas livrarias comuns das grandes cidades.
Mas atualmente, infelizmente, os mais mortais inimigos da Maçonaria são os próprios maçons. Falo dos maçons mal selecionados, os não convictos e os despreparados, que trazem perigo constante à nossa instituição. A falta de estudo e instrução maçônica produz maçons que desconhecem a Ordem, verdadeiros profanos de avental. O desconhecimento da filosofia produz a ausência de autodisciplina, dificulta ou impede a reforma interior. Com isso, prevalecem a vaidade, o orgulho, a arrogância, a indulgência, a presunção, a preguiça. Alguns maçons se dão ao luxo de descumprir as Leis e os Regimentos Internos, sem falar no desprezo aos Rituais.
Por esta razão, espera-se que o maçom reitere seu juramento com sua presença nas reuniões maçônicas e se dedique, de corpo e alma, não somente ao estudo do simbolismo e da filosofia maçônica, mas também à prática da moral, da igualdade, da solidariedade humana e da justiça, em toda a sua plenitude.
Acreditamos que padrões éticos devem ser restabelecidos rapidamente entre os maçons para que sua influência possa frutificar. Deve-se começar a falar de ética. Deve-se voltar a estudar e recuperar o verdadeiro sentido das coisas.
Deve-se, enfim, divulgar pelos meios disponíveis, mas, sobretudo, cobrar de nossos irmãos em cargos de poder uma conduta ética que se transforme em exemplo para todos, profanos e iniciados, e trabalharmos sempre com Amor e Tolerância, e visando ao bem da Fraternidade.
Este deve ser o modo natural de agir do maçon, que deve ter nos princípios fundamentais da Ordem, os maiores princípios éticos que embasam sua conduta diária.
A cada reunião, reafirmamos que aqui estamos para cavar masmorras ao vício e levantar templos á virtude, e é isso, verdadeiramente, que chamamos de transformar a pedra bruta em pedra polida. Nesta luta não há lugar para os fracos. Qualquer que seja nossa luta interna, enfrentemos e seremos verdadeiramente construtores de um novo mundo.
Finalizo este trabalho, conclamando todos os irmãos a enfrentar com coragem os desafios cotidianos, a não esmorecer no empenho da justiça social, reconhecendo em cada pessoa a dignidade divina.
Fonte: http://goeam.com.br
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