(republicação)
Em 08/06/2018 o Respeitável Irmão José Tito de Aguiar Júnior, Loja Filhos de Osíris, 30, GLESP, REAA, São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, formula a seguinte questão:
CORES DAS LUZES LITÚRGICAS
Venho valer-me de seus conhecimentos para a questão a seguir. Atualmente é comum que as velas dos altares (Luzes e demais Oficiais) sejam substituídas por lâmpadas.
Ocorre que, especificamente no REAA, as “cores” das lâmpadas variam a depender da Loja e, em outros casos, da Potência.
Já vi desde cor branca, a amarelada, azul, vermelha, etc.
Há alguma obrigatoriedade ritualística no REAA para o uso de colorações das lâmpadas nos graus simbólicos?
Há diferenciação de tonalidade a depender do grau em que a Loja esteja operando?
CONSIDERAÇÕES:
Penso que o que está se mencionando são as “luzes litúrgicas”, portanto no REAA∴ elas são apenas aquelas que ocupam os candelabros de três braços sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e sobre as mesas ocupadas pelos Vigilantes. Essas luzes se distribuem para cada titular em número de três e vão acesas de acordo com o grau de trabalho da Loja.
As demais lâmpadas que porventura possam aparecer acesas sobre as mesas ocupadas pelo Orador, Secretário, Chanceler e Tesoureiro, não são luzes litúrgicas, porém auxiliares e, por sua vez, não possuem nenhum significado ritualístico ou iniciático.
Entenda-se que essas luzes auxiliares não são obrigatórias para a liturgia do rito, porém se porventura elas existirem, as mesmas servem apenas e tão somente como acessórios secundários que ajudam os ocupantes das cátedras durante o ato de leitura e de escrita, Trocando em miúdos, elas servem para ajudar a enxergar melhor no ambiente, sendo as mesmas acesas pelos próprios titulares se a necessidade exigir.
Já as “luzes litúrgicas”, as mesmas se relacionam diretamente com as Luzes da Loja, também conhecidas como as Luzes Menores. Esse título é dado ao Venerável Mestre e aos Vigilantes por serem aqueles que dirigem a Loja com as suas luzes (esclarecimento). Isso, sob o aspecto iniciático, prevê que as luzes litúrgicas se acendem em número conforme o grau de trabalho da Loja. A sua finalidade é a de representar o “aclaramento”, o que em linhas gerais significa que quanto maior é o grau simbólico, maior será o número de luzes acesas. Na escalada iniciática representa o obreiro adquirindo conhecimento na ascensão dos graus.
No trato com as luzes litúrgicas, originalmente no REAA∴ não existe cerimônia específica para o seu acendimento. Como dito, no escocesismo simbólico, sem nenhuma cerimônia especial, elas são acesas na a abertura da Loja e apagadas quando do seu fechamento.
É bom que se explique que em tempos dantes, quando não existia ainda energia elétrica, a liturgia maçônica se servia apenas de velas para essas ocasiões, entretanto, com a evolução dos costumes e da ciência, paulatinamente as velas foram sendo substituídas, quase que na totalidade das Lojas, por lâmpadas elétricas naturalmente acesas – o que inclusive é muito mais recomendável para a salubridade do ambiente.
Dados esses comentos, vale então registrar que infelizmente o REAA∴, aqui no Brasil, ao longo dos tempos acabou recebendo inúmeros enxertos, o que fez com que ele tivesse boa parte da sua característica desfigurada.
Nesse sentido e no que diz respeito às luzes litúrgicas, houve tempo em que para elas não existiam candelabros adaptados com lâmpadas elétricas, assim para elas eram literalmente utilizadas velas, as quais iam acesas pelo Mestre de Cerimônias no momento determinado pelo ritual. Como oficial encarregado desse ofício, ele se munia então de uma chama auxiliar (outra vela) para realizar a sua missão. Ao final dos trabalhos esse mesmo oficial, munido de um abafador, apagava as luzes litúrgicas.
Cabe comentar que a vela auxiliar mencionada não era luz litúrgica e a sua função era apenas para facilitar o ofício do acendimento. Para ela não existia qualquer outro significado, inclusive, terminado o acendimento das demais a mesma era apagada. Assim é equivocada a ideia que ainda se faz de que a chama auxiliar é uma representação da divindade.
Foi dessa ação adequada aos tempos dantes que os “achistas” acharam que esse procedimento era uma espécie de cerimônia invocatória, ou coisas do gênero. Com isso inadvertidamente transformaram um simples ato de se acender uma vela numa cena de adoração.
Por óbvio que esse é um pensamento completamente errado quando se trata do REAA. Nele as luzes litúrgicas nada mais são que uma alegoria que mostra a luz do conhecimento em oposição às trevas da ignorância. Ademais, Maçonaria não é lugar para fazer proselitismos que envolvam crenças pessoais.
Ritualisticamente o que existe na verdade é apenas um acendimento necessário que segue a ordem de hierarquia das Luzes para a abertura da Loja. Ocorre na ordem inversa no encerramento quando elas são apagadas.
É bem verdade que ainda hoje muitas Lojas não fizeram nenhuma adaptação para transformar as luzes litúrgicas representadas por velas acesas em lâmpadas elétricas. Sendo assim muitos rituais têm orientado que, em sendo as luzes litúrgicas lâmpadas elétricas, o próprio Venerável e os Vigilantes, obedecendo à ordem descrita, as acendem e as apagam (isso prova a inexistência de reverências, pois cada titular através do interruptor procede ao acendimento). Em sendo elas ainda velas, então o Mestre de Cerimônias normalmente às acende e as apaga. A utilização do Mestre de Cerimônias nessa oportunidade é apenas para que se mantenha organizado o procedimento dentro da disciplina ritualística.
Fiz esses comentários no intuito de se separarem as coisas. A intenção é a de abstrair luzes que servem literalmente para iluminar o ambiente, ou um lugar específico sobre uma mesa, daquelas que se prestam à liturgia do rito. Assim, as luzes de ambiente ou auxiliar não possuem nenhuma coloração ou tonalidade que possa como tal caracterizá-las.
No que diz respeito às “luzes litúrgicas”, também para elas não existe nenhuma característica especial, ou mesmo algum matiz que se ligue à simbologia ou outra qualquer interpretação esotérica. Sendo elas lâmpadas, recomenda-se a coloração mais natural possível. Em sendo velas, sua tonalidade é a natural da chama.
Então objetivamente respondendo as suas questões, no simbolismo do REAA∴ não existe nada que obrigue a existência de coloração específica para as luzes. Do mesmo modo, também não existe para elas nenhuma gradação obrigatória que as diferencie conforme o grau – sejam elas as auxiliares e de ambiente ou mesmo as litúrgicas.
Concluindo, devo mencionar que meus comentários se prendem à autenticidade do REAA∴. Sei perfeitamente que no Brasil, entre as nossas Obediências, não raras vezes os rituais são contraditórios e apregoam inclusive praticas incomuns para o rito em questão. Existem rituais que tratam as luzes litúrgicas indiscriminadamente as confundindo com outras que não as nove originais que acompanham o Venerável e os Vigilantes e vão acesas em número de acordo com o grau simbólico Há ainda rituais que colocam mais luzes em torno do Altar dos Juramentos, numa flagrante cópia de costume de outros ritos (querem imitar os tocheiros do Craft). Assim, não quero aqui me arvorar contra rituais que estão legalmente em vigência, entretanto me é de direito apontar as práticas e costumes que não fazem parte do verdadeiro escocesismo.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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