(republicação)
É a lei: todo ser, antes de ver a luz, tem que
se formar, enclausurado em ambiente de recolhimento. Só depois de ver a luz é
que se inicia a sua aprendizagem e aperfeiçoamento, mercê de um processo
contínuo, até que sobrevenha a morte material. Assim uns passam pelo ovo, pelo
casulo; outros pela semente, pelo ventre materno. Assim também o Maçom, ainda
profano, antes de ser iniciado, passa pela Câmara de Reflexões, o "útero
" de sua Loja mãe.
Mergulhado na escuridão de sua
ignorância, o profano vai ali meditar sobre a sua vida, tomando como padrões
símbolos existentes naquele gabinete: o pão e a água; o enxofre, o sal e o
mercúrio; a bandeirola "Vigilância e Perseverança"; os ossos, a
caveira, a foice e a ampulheta; a sigla V.I.T.R.I.O.L.; as perguntas cujas
respostas irão compor seu testamento.
Tal simbologia fundamenta-se toda
no Hermetismo: trata-se da primeira fase da Grande Obra, a Putrefação, que não
ocorre somente no interior do Ovo Filosófico, criação que não é apenas inerente
ao homem, mas também e, principalmente, à natureza operante.
A Câmara de Reflexão, dessa
forma, faz as vezes de útero, onde se dá a maravilha da criação, imediatamente
antes da iniciação, que é o nascimento, o conhecimento da luz.
A grandiosidade da Criação
Maçônica, que ocorre nessa câmara fechada e quase totalmente escura, é análoga
à iniciação dos Essênios, identificando a união de Deus com a alma, como o
princípio de toda a vida mística.
Há também a analogia dessa câmara
com a Caverna Sagrada dos Templários, onde o ambiente tétrico e sinistro do
"Clima do Norte" somavam-se emblemas da morte. E era na dicotomia
gerada pelo Norte e o Meio-Dia que os Templários fundamentavam seu esoterismo,
incutindo nos iniciados a existência de uma outra vida: "nada se perde,
tudo se renova!".
Na Câmara de Reflexão, além dos
símbolos já citados, o profano vê projetadas contra a parede negra as
advertências de que a curiosidade não justifica a sua presença ali; de que o
sentimento de medo deve fazê-lo retroagir; de que somente a perseverança o
conduzirá das trevas para a luz.
O pão e a água são emblemas da
simplicidade que há de orientar a trajetória do recipiendário prestes a
iniciar-se. Não representam tão somente os alimentos do corpo, como também os
do espírito, porquanto o trigo moldado pela água simboliza, segundo muitas
crenças a carne do Deus sacrificado.
É o alimento indispensável ao feto em
desenvolvimento, é a mesma fonte de força que possibilitou Elias galgar o monte
Oreb, energia que, da mesma forma, possibilitará ao iniciando vencer as provas
a que será submetido é o maná que mobiliza a vontade de transpor o deserto da
ignorância.
O Enxofre, o Sal e o Mercúrio
sugerem os três princípios herméticos contidos em qualquer corpo: o Espirito; a
Sabedoria e a Ciência; a ousadia e a Vigilância, posto que o mercúrio se
materializa na figura de um galo. Este ser, itimorato por natureza, anuncia a
chegada da Luz, ao mesmo tempo que se faz sentinela e guardião contra a
influência profana.
A bandeirola, condutora das duas
palavras "Vigilância e Perseverança" , faz saber ao futuro Maçom que,
a partir daquele momento, ele deve permanecer atento e concentrar-se nos
múltiplos significados sugeridos pelos símbolos, cuja compreensão só será
conseguida através da paciência e da vontade.
Os ossos, a Caveira, a Foice e a
Ampulheta são referências a Saturno, portanto ao chumbo-metal. Simbolizam a
morte do profano transmudado para a vida espiritual a metamorfose do chumbo em
ouro; é o despojamento do antigo homem que se prepara para um novo nascimento.
O "V.I.T.R.I.O.L." que
acrescido de um "O" final significa sulfúreo, pedra ácida, pedra
oculta e vulcânica do fundo da terra, condensa a frase latina: "VISITA
INTERIORA TERRAE RECTIFICANDOQUE, INVENIES OCCUNTUM LAPIDEM (Visita o interior
da terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta).É o chamamento do eu profundo,
à alma, através do silêncio e da meditação".
Respondendo sobre as obrigações,
que deve a Deus. À Humanidade, à sua Pátria, à Família, a seus semelhantes e a
si próprio, o profano procede ao testemunho de suas intenções filosóficas,
contraindo assim uma prévia obrigação. Tal testemunho passa a ser
seu testamento, pois, sabedor de sua morte para a vida profana, o iniciado
naturalmente terá que fazer aquele juramento.
É nessa Câmara ou Caverna
terrível, solene e escura, que se passa o primeiro momento em que se desvendam
os olhos do recipiendário. Ali ele medita solitário sobre o que se vê, seu
vigia é a morte, na qual ele deve pensar; não obstante, deve também pensar na
nova vida uma vez que lhe são feitas perguntas sobre Deus, sua Nação, sua
Família, o resto dos Homens e ele próprio.
Somente depois desta experiência
maravilhosa, de vivenciar a primeira morte, o recipiendário estará pronto, para
as demais provas.
(autor desconhecido)
(*) Publicado em 30/03/2014
(*) Publicado em 30/03/2014
Excelente texto T.F.A
ResponderExcluirCompleto muito vai me ajudar em minha pesquisa de estudo
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