MISERÁVEL MESTRE (*)
Tô falando....não param de me perseguir! Estão sempre contra a minha pessoa. E ainda se dizem irmãos.
O negócio é que a Loja estava um marasmo. "Tava um saco". Aliás, por falar nisso, sempre preferi AMASSARMARIA à Maçonaria, vocês sabem. Só tem um negócio lá Que atrai: O PODER!
Foi aí que resolvi: quero ser Venerável! Comecei a conversar com os caras, mas eles me vieram com um papo de que era cedo, que eu não tinha sido secretário...
Função subalterna, trabalha mais do que fala.
Mas tudo tem seu jeito. Os dias passaram, bati papo com uns e outros, fui enrolando.
Fiz um leilãozinho de cargos. Pouco trabalho e muita pose.
As Vigilâncias vão para dois alérgicos ao trabalho. Nada de preparar instruções.
Se elas já estão escritas, quem quiser que leia, bolas.
Oratória vai para um caso patológico de exibicionismo que precisa de platéia
- vai ter sempre! E por ai continuei... Quanto àquelas condições de elegibilidade, atropelei todas.
Pra freqüência, atestado médico comprovando Mal de Escroque.
Nada como uns livrinhos misticistas. Dou uma cheirada neles e viajo no esoterês...
Bons costumes? Não tem problema, eles ainda não me conhecem direito...
Capacidade administrativa? Bah, administração é coisa para jogar em cima do secretário. Meu negócio é bater malhete e usar paramento. O resto, eu leio e só assino.
Mas tem uma turminha que se acha dona da Loja só porque não falta, arruma e desarruma o Templo, chega cedo, comparece no Tronco ou na obra de amor e outras besteiras dessas. Eles resolveram lançar um candidato deles.
Mesmo que ele não tenha chance, não custa pichar um pouco.
Como dizia meu guru, "da Calúnia sempre fica alguma coisa..." Fui armando nos bastidores, fazendo cabeças com minha grande capacidade de persuasão... Vocês sabem, ele é muito jovem, não presta para mandar...
Comprei presentinhos, fiz longos discursos e botei algumas notas no Tronco (pô, que desperdício).
Prometi, bajulei e menti. Beijei criancinhas, abracei sogras, fui a batizado e enterro. Enfim, tornei-me o candidato ideal.
O outro boboca, coitado, nem fez Campanha. Apresentou um tal plano de trabalho que fazia jus ao nome, só falava de trabalho. Argh! Ninguém deve ter gostado.
Chegou o grande dia da eleição, eu lá tranqüilo, já até pensando na reeleição. Aliás, preciso até ver quantas vezes é permitido, de repente, dá até para mudar o regulamento...
Por falar nisso, será que venerável é como comprar toca-fitas: instalação é de graça? Não importa. Se não for, ponho na conta da Loja, junto com as dos paramentos, que já mandei fazer, bordados a ouro. Enfim, o grande momento.
Começa a apuração. À Unanimidade, estão dizendo. É a glória. Eu mereço...
O que...? Ganhou o outro? Não, absurdo!
É roubo! E o meu voto e os compars..., quero dizer, correligionários?
Heim...?
Não tínhamos freqüência?
Vocês não me merecem. Vou fundar uma outra Loja, para ser Venerável. Vocês ainda vão ver a VIGARICE & PICARETAGEM em funcionamento ainda este ano.
Quero meu Quit Placet! O quê? Tem de pagar?
Deixa pra lá então!
TFA
Ir.·. Millôr Fernandes
(*) Recebi este texto de um Ir∴
Como está assinado por "Ir.: Millor Fernandes", pesquisei na internet se realmente ele é Ir∴ mas não obtive resposta. O texto, cheio de sarcasmo, é típico dele, mas não posso assegurar sua autenticidade. No entanto, dá para refletir....
Texto de Adriano Alves Marreiros escrito para ser publicado na Revista Engenho e Arte na Maçonaria. Millôr não era Maçom.
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