AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO SÍMBOLO
Oswald Wirth
A característica própria do símbolo é permanecer indefinidamente sugestivo: cada um vê nele aquilo que o seu poder visual lhe permite perceber. Se há falta de penetração nada de profundo é percebido.
O símbolo é muito mais do que um simples signo: leva para além da significação, tem a ver com a interpretação e esta com uma certa predisposição. Está carregado de afectividade e de dinamismo. Ele não apenas representa, de certa maneira, ao mesmo tempo que esconde; mas realiza, de certa maneira também, ao mesmo tempo que desfaz. Joga com estruturas mentais. Por isso é comparado com esquemas afectivos, funcionais, motores, para mostrar bem que mobiliza de alguma forma a totalidade do psiquismo (...)
Não quer dizer que a imagem simbólica não desencadeie nenhuma actividade intelectual.
Permanece, no entanto, como o centro em volta do qual gravita todo o psiquismo que ela põe em movimento.
Quando uma roda num boné indica um funcionário dos caminhos de ferro, trata-se apenas de um signo; quando é posta em relação com o sol, com os ciclos cósmicos, com os encadeamentos do destino, com as casas do Zodíaco, com o mito do eterno retorno, trata-se de uma coisa completamente diferente, toma valor de símbolo.
Todavia, afastando-se da significação convencional, abre a porta à interpretação subjectiva. Com o signo, permanecemos num caminho contínuo e seguro: o símbolo supõe uma ruptura de plano, uma descontinuidade, uma passagem a outra ordem; introduz numa ordem nova, com múltiplas dimensões (...)
R. de Becker resumiu bem os diferentes aspectos do símbolo: "O símbolo pode ser comparado a um cristal que restitui de forma diferente a luz consoante a face que a recebe. Podemos também dizer que é um ser vivo, uma parcela do nosso ser em movimento e em transformação. De tal forma que ao contemplá-lo, ao tomá-lo como objecto de meditação, contemplamos também a própria trajectória que nos preparamos para seguir, apreendemos a direcção do movimento no qual o ser é transportado".
A dimensão da verticalidade
Reabilitar o valor do símbolo nunca será professar um subjectivismo estético ou dogmático. Não se trata, de modo nenhum, de eliminar da obra de arte os elementos intelectuais e as qualidades de expressão directa, nem tão-pouco de privar os dogmas e a revelação das suas bases históricas. O símbolo permanece na história, não suprime a realidade, não abole o signo. Junta-lhes uma dimensão, o relevo, a verticalidade; estabelece, a partir do facto, do objecto, do signo, relações extra-racionais, imaginativas, entre os níveis de existência e entre os mundos cósmico, humano, divino. Para usar as palavras de Hugo von Hofmannstal, "afasta o que está próximo, aproxima o que está distante, de modo que o sentimento possa apreender ambos".
O símbolo como "categoria transcendente da altura, do supra-terrestre, do infinito, revela-se ao homem total, tanto à sua inteligência como à sua alma. O simbolismo é um dado imediato da consciência total, afirma Mircea Eliade, isto é, do homem que se descobre como tal, do homem que toma consciência da sua posição no universo; estas descobertas primordiais estão ligadas de forma tão orgânica ao seu drama que o mesmo simbolismo determina tanto a actividade do seu subconsciente como as mais nobres expressões da vida espiritual".»
J. Chevalier e A. Gheerbrant, Dictionnaire des symboles, vol. I, Introdução, p. XVIII-XXV.
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