Um Respeitável Irmão pertencente a uma Loja do Grande Oriente do Brasil e do Rito Adonhiramita me apresentou a questão seguinte e cujas considerações seguem abaixo (essa resposta foi enviada ao consulente em 08/11/2018 e hoje vai publicada no Blog).
PAINEL DO GRAU 1 ADONHIRAMITA
Amado Irmão, estamos com um trabalho a apresentar aos Aprendizes e temos duas dúvidas sobre o Painel de Grau, (Aqui gentilmente cedido pelo ECMA).
1. O que significam os cinco degraus ao centro? (encontramos na literatura apenas três degraus...)
2. O porquê das colunas J/B em cores preta e vermelha? E invertidas em relação à imagem que consta no Ritual nosso (seriam fogo e fumaça?).
Caro Irmão, primeiro eu devo esclarecer que como Secretário Geral de Orientação Ritualística estou pegando o bonde andando. Assim que possível vou enviar essas questões para o novo Secretário Geral Adjunto para a sua competente avaliação. Por hora, seguem os meus simples comentários:
Não entendi porque o Painel do Aprendiz no Rito Adonhiramita inserido no ritual do GOB possui cinco degraus. Até onde conheço, no de Aprendiz são apenas três degraus. Assim, eu não poderia lhe descrever a quantidade "cinco" no grau de Aprendiz, já que o número cinco é matéria de estudo do Segundo Grau. Nesse particular o Painel com cinco degraus é contraditório levando-se em conta o Primeiro Grau. Pelo menos eu assim entendo, mas sem querer me insurgir contra rituais legalmente aprovados e em vigência.
Quanto as Colunas J.'. e B.'. e as suas posições no Ritual do GOB elas estão corretas, posto que na França, à exceção do REAA, a Coluna J.'. fica à esquerda de quem entra (norte) e a Coluna B.'. à direita de quem entra (sul). Ratifico, o ponto de vista mencionado é daquele do átrio olha para dentro do Templo.
Essa posição das Colunas Gêmeas, J.'. ao Norte e B.'. ao Sul está ligada à história da Moderna Maçonaria e se justifica porque no século XVIII a grande maioria das Lojas da incipiente Maçonaria francesa seguia a prática da Primeira Grande Loja inglesa que surgira ainda no primeiro quartel do século XVIII, em 1717.
É sabido que a primeira Grande Loja inglesa fez uma série de alterações no sistema litúrgico moderno por conta das “exposures”, isso na intenção de confundir as “revelações” que eram publicadas insistentemente na época pelos jornais londrinos (sugiro o estudo das revelações e das obrasespúrias do século XVIII).
Dentre essas “modificações”, a inversão das Colunas Gêmeas foi uma delas. B.'. então passou do norte para o sul e J.'. do sul para o norte.
Sob a égide da Primeira Grande Loja em Londres, conhecida mais tarde como a Grande Loja dos Modernos, a Maçonaria Francesa, exceto o escocesismo ali praticado, adotaria esses costumes, desconhecendo por completo o sistema dos “Antigos”. É desse preceito que o Rito Francês herdou também o nome “ou Moderno”.
Dado a esses comentários, os Ritos maçônicos franceses, quase que na sua totalidade, dentre os quais o Rito Adonhiramita, usaria as Colunas Gêmeas à moda dos modernos ingleses de 1717. É bom que se diga, entretanto, que a Maçonaria Inglesa, mais tarde e já com o advento da união dos “antigos” e dos “modernos” em 1813, retomaria o sistema antigo das Colunas, ou seja, B.'. ao Norte e J.'. ao Sul.
Isso influenciaria também um rito de origem francesa de nome REAA.'. que, por também possuir na sua história influências anglo-saxônica, consolidaria na sua liturgia B.'. ao norte e J.'. ao sul, enquanto que os demais ritos franceses permaneceriam com as Colunas invertidas em relação ao escocesismo.
No tocante à cor vermelha e a preta, matizes esses inerentes a cada uma das Colunas e que aparecem no Painel Adonhiramita do Ritual do GOB, é a meu ver mais uma colocação desnecessária, pois essa se for o caso de concepções de ocultismo, não faz sentido no deísmo francês de onde é originário esse Rito.
É bem verdade que alguns autores especularam até razões alquímicas em relação às cores, entretanto, de efeito prático mesmo, as Colunas, segundo algumas Lições Prestonianas da Maçonaria inglesa (teísta), uma Coluna corresponde a Luz (fogo) e a outra a uma espécie de nuvem, ou fumaça. Ambas aludem à alegoria de que durante a noite uma delas era a Luz que guiava Moisés e outra, a de fumaça ou nuvem, era a que o guiava durante o dia quando o patriarca bíblico conduzia o povo de Israel pelo deserto em busca da Terra Prometida. Mais tarde essas Colunas apareceriam no átrio do Templo de Jerusalém – vide Reis I e Crônicas e Paralipômenos.
Dando por concluído, não sei se isso de fato caberia como instrução para o Rito Adonhiramita, todavia essa é uma das interpretações mencionadas por muitos autores confiáveis. Já no tocante às cores e os elementos alquímicos, sugiro pesquisa mais acurada sobre essa matéria e a sua relação com esses matizes, se é que eles existem.
Concluindo, esperamos que os rituais do GOB, independente dos ritos, passem por uma séria revisão ao longo dos próximos anos, destacando que o melhor caminho para o entendimento da liturgia maçônica, antes de praticá-la, é primeiro aprender as razões pelas quais se constituíram esses mecanismos ritualísticos.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário