A Morte de Sócrates (Jacque-Louis David/1787) |
A MORTE DE SÓCRATES
Condenado à morte pelo povo de Atenas, Sócrates, rodeado por um grupo de amigos desolados, prepara-se para beber uma taça de cicuta. Na primavera de 399 a.C., três cidadãos atenienses instauraram um processo contra o filósofo. Acusavam-no de não venerar os deuses da cidade, de introduzir inovações religiosas e de corromper os jovens de Atenas. A gravidade das acusações era de tal ordem que exigia pena capital.
Sócrates reagiu com serenidade absoluta. Apesar de, durante o julgamento, lhe ser dada a oportunidade de renunciar às suas ideias, ele preferiu manter-se fiel à busca da verdade a assumir uma conduta capaz de o tornar benquisto entre seus inquisidores. Segundo o relato de Platão, ele desafiou o júri com as seguintes palavras:
“Enquanto eu puder respirar e exercer minhas faculdades físicas e mentais, jamais deixarei de praticar a filosofia, de elucidar a verdade e de exortar todos que cruzarem meu caminho a buscá-la […] Portanto, senhores […] seja eu absolvido ou não, saibam que não alterarei minha conduta, mesmo que tenha de morrer cem vezes.”
Testemunha silenciosa da injustiça cometida, Platão está sentado ao pé da cama do mestre. A seu lado, uma pena e um rolo de pergaminho. Platão contava 29 anos quando Sócrates foi executado, mas David o retratou como um ancião circunspecto e grisalho. No corredor ao fundo, carcereiros conduzem Xantipa, a mulher de Sócrates, para fora da cela. Sete amigos apresentam graus variados de consternação. Críton, seu companheiro mais chegado, está sentado a seu lado e contempla o mestre com devoção e preocupação. Mas o filósofo, cujos torso e bíceps são de um atleta, mantém-se ereto e altivo, sem que se perceba qualquer sinal de apreensão ou arrependimento. O fato de ter sido acusado de loucura por um grande número de atenienses não abalou suas convicções.
David havia planejado pintar Sócrates no ato de beber o veneno, mas o poeta André Chenier sugeriu que o efeito dramático seria bem maior se ele fosse retratado no momento em que terminava um argumento filosófico e, ao mesmo tempo, recebia com tranquilidade a taça de cicuta que daria fim à sua vida, simbolizando, dessa forma, tanto um ato de obediência às leis de Atenas como um compromisso de fidelidade à sua missão. Estamos testemunhando os últimos momentos edificantes de um ser extraordinário.”
Trecho da obra “As Consolações da Filosofia” de Alain Botton
Esta pintura de Jacque-Louis David, e o texto descrevendo-a, retratam de maneira fiel a imagem que temos do primeiro filósofo de grande nome, e que é reverenciado até hoje, e sempre representará a filosofia e sua essência.
Sócrates podia ter fugido, mas não o fez, preferiu morrer mas deixar vivo seus ideais. Um ato raro em qualquer época.
Fonte: https://opontodentrocirculo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário