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terça-feira, 21 de setembro de 2021

O GADU E A MAÇONARIA

O GADU E A MAÇONARIA
Ir∴ Antonio Rocha Fadista

A entrada para a Ordem Maçônica de pessoas que não eram obreiros da construção, a partir do séc. XVII, deflagrou o processo de transformação da Maçonaria Operativa em Especulativa. Este processo viria desaguar na criação da Grande Loja de Londres, a primeira do sistema obediencial. Até à promulgação da Constituição de 1723 a Maçonaria tinha sido essencialmente religiosa, influenciada pela Igreja Católica, à sombra e sob a proteção da qual ela vivera durante a histórica e muitas vezes centenária construção das grandes catedrais góticas da Idade Média.

A Constituição de 1723 confirmou a necessidade da crença num ser criador do Universo e numa vida posterior à morte física. A partir de então, o maçom não pode ser um “libertino irreligioso nem um ateu estúpido” mas adquiriu o direito de adorar o Deus de sua escolha, e não mais, exclusivamente, o Deus cristão.

Daí a dissidência e consequente criação da Grande Loja dos Antigos, que acusava a Grande Loja de Londres – dos Modernos – de permitir excessiva liberdade religiosa aos seus membros. Felizmente, a Maçonaria inglesa selou a paz com a união de 1813 e com edição dos seus rituais em 1815, nos quais prevaleceram – e prevalecem até hoje – a liberdade de crença de cada um dos seus membros.

Deste modo, a História de nossa Instituição pode ser dividida em três períodos bem característicos. Mais precisamente, dois períodos, sendo o segundo subdividido em dois ouros períodos.

O primeiro período foi o Operativo, e o segundo é o Especulativo. Por sua vez, o período Especulativo se divide em antes e depois de 1877.

Como já dito, no período Operativo o conceito de Deus era Trinitário, e até Mariano. Todos os documentos da época, os assim chamados Old Charges – Antigos Deveres – registram esta influência: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É o conceito da Igreja Católica.

O grande problema, que marcaria a fundação da Grande Loja dos Antigos começou exatamente pela liberdade de crença inserta na Constituição de 1723, que também passou a usar oficialmente o termo Grande Arquiteto do Universo.

Esta expressão não consta de nenhuma das Old Charges, mas era muito empregada pela Igreja, onde pode ser encontrada, por exemplo, nas catedrais medievais, também com a variante Grande Arquiteto da Igreja, além de ilustrações de bíblias do séc. XIV e seguintes.

Na mente de Anderson, de Desaguilliers e dos demais vinte e cinco legisladores de 1723, o G.A.D.U. é o conhecido Deus bíblico. Na primeira parte desta Constituição é dito que “Adão, nosso primeiro Pai, criado à imagem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo…”. Toda esta primeira parte da Constituição de 1723 está impregnada do Antigo Testamento.

O exame do espírito e da letra desta Constituição, mostra que a Maçonaria Obediencial nasceu teísta. Esta concepção tem sido confirmada inúmeras vezes pelas Grandes Lojas Mãe do Mundo – Inglaterra, Irlanda e Escócia.

A interpretação deísta, que se acentua depois de 1815, atinge o auge em 1877, com a eliminação pelo Grande Oriente de França, do art. 1º de sua Constituição, artigo este que exigia a crença em Deus e na imortalidade da alma, e com o posterior “expurgo”, de todos os rituais, da expressão G.A.D.U. e de todas as orações.

Com esta atitude, o GOF e demais Potências que o seguem, o provocam o grande cisma da maçonaria, a chamada “Summa Divisio”. A partir deste ponto a Maçonaria se divide em duas partes, após o rompimento de relações com as Grandes Lojas Mães – inglesa, irlandesa e escocesa – e com todas as demais que a elas aderem, relações estas que permanecem rompidas até hoje.

O pretexto para a eliminação da exigência da crença em Deus era a defesa da Absoluta Liberdade de Pensamento. Na realidade, foi fruto de infiltrações em Lojas, do espírito anti-clerical, anti-religioso e por fim, antiteísta dos iluminados da Baviera, dos filadelfoss, dos carbonários, em suma, de irreligiosos e ateus. Grupos minoritários, mas ativos, que conseguiram dividir a Instituição em duas correntes distintas, em duas Maçonarias.

Uma Regular, Ortodoxa e Tradicional, que tem espírito religioso (porque não aceita os irreligiosos) e é apolítica. Outra, Irregular, heterodoxa, que é irreligiosa e política.

A união das duas Grandes Lojas inglesas, com a reforma dos seus rituais em 1815, evitou que se interpretasse deísticamente o 2º parágrafo do 1º artigo da Constituição de Anderson, como o fez o Grande Oriente de França. Este Grande Oriente não aceitou a reforma de 1815 e se apegou à Constituição de 1723, ignorando, no entanto, o 1º parágrafo do seu 1º artigo, que fala do estúpido ateu e do libertino irreligioso. Transcrevemos abaixo os textos pertinentes da Constituição de Anderson de 1723 e da mesma Constituição reformada em 1815.

Texto de 1723: – Posto que nos tempos antigos os maçons tivessem a obrigação de seguir a religião do próprio país ou nação, qualquer que ela fosse, presentemente julgou-se mais conveniente obrigá-los a praticar a religião em que todos os homens estão de acordo, deixando-lhes plena liberdade às convicções particulares…

Texto de 1815: – De todos os homens, (o Maçom) deve ser o que melhor compreende que Deus enxerga de maneira diferente do homem; pois o homem vê a aparência externa ao passo que Deus vê o coração… Seja qual for a religião de um homem ou sua forma de adorar, ele não será excluído da Ordem se acreditar no glorioso Arquiteto do Céu e da Terra e praticar os sagrados deveres da moral…

Por conseguinte, o texto da reforma de 1815 deixa claro que já não se trata da ampla tolerância proclamada por Anderson. O perigo do deísmo se conjurou por um teísmo pessoal.

O objetivo principal desta mudança era evitar a formação de movimentos laicistas que pudessem levar, como de fato acabaram levando, à ruptura de 1877 pelo Grande Oriente de França.

Daí se concluir que a reforma de 1815 foi a salvação da Maçonaria Regular. Foi a partir deste momento que começou o afastamento do Grande Oriente de França, que culminaria em 1877 com a eliminação da exigência da crença no G.A.D.U. 

O Grande Oriente de França tentou, diversas vezes, a reconciliação com as Grande Loja Unida da Inglaterra e suas aderentes, sem nenhum sucesso até hoje.

Já o Grande Oriente da Itália (Palazzo Giustiniani), que abandonou em 1972 os conceitos adotados em 1877, foi reconhecido como Potência Regular pela UGLE.

Fonte: http://www.brasilmacom.com.br

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