Ir∴ Luiz Felipe Tavares
Loja Luz do Planalto nr. 76,
São Bento do Sul-SC,
Verdade e virtudes
O que buscamos de fato em nossa vida?
A maioria com certeza dirá que busca a felicidade.
Porém o que seria a felicidade senão a comemoração do próprio ato de existir. Ser feliz é fruir o fluir, amplo e desimpedido, da existência.
Existir é ser refletido no espelho da existência.
Se acreditamos em um ser superior que nos criou, entendemos que este ser é espaço absoluto de possibilidades e dele herdamos todo o potencial que um dia em nós irá florescer.
Possuímos então, dentro de nós mesmos, os instrumentos de navegação necessários ao bom navegar neste mar infinito de realizações.
A felicidade seria portanto a arte do bom navegar, ou seja do movimento pleno e eficiente, utilizando-se das velas viabilizadoras com que fomos presenteados pelo nosso supremo criador.
Compartilhamos com ele de todo potencial, e é justamente através do ato de compartilhar e apenas se compartilharmos que poderemos acessar espaços cada vez mais densos de existência.
A cada passo nos aproximamos de uma visão mais nítida do objetivo a ser alcançado.
Sabemos que existe um espaço absoluto em que devemos existir.
Sabemos que refletimos em nós como espelhos as possibilidades de fluir este espaço, e também sabemos que para acessar patamares mais amplos deste espaço pleno temos que exercer o ato de compartilhar.
Refletir em nós o próximo para que possamos ser refletidos no espelho infinito da criação.
Ao interagirmos com nosso semelhante criamos elos. Como espelhos que se refletem mutuamente a criar reflexo infinito, um espaço novo de existência. Com ele podemos acessar caminhos novos ao nosso ato de existir.
Ninguém de fato existe por si. A grande verdade é que nosso existir é um ato de coexistir. Um coexistir sinérgico que é a chave para abrirmos o caminho para a felicidade.
Falamos em verdade, mas o que é de fato a verdade se não a percepção nítida do real. E o que seria o real em essência se não o próprio sentido.
Sentido é em última análise aquilo que se é compartilhado de forma a criar elementos comuns entre dois ou mais seres. Existir é ser refletido e é refletir.
O sentido pleno que nos aguarda só será alcançado se compartilharmos o sentido que albergamos. Assim aumentamos gradativamente nossa superfície de reflexão, para que um dia possamos espelhar em nós o todo.
Devemos refletir em nós nosso semelhante para podemos ser refletidos pelo criador.
Somos então de fato espelhos vivos e existimos através das imagens que refletimos. Quanto mais compartilharmos com nosso semelhante, mais nítido ficará nosso espelho e mais rica ficará a imagem da própria existência que refletiremos em nosso imo.
Somos espelhos cuja alegria é refletir em nós o sentido pleno da criação.
A verdade reflete o real. Somos então portadores da verdade. Porém portar a verdade é aprender cada vez mais a desembaçar e remover a sujeira de nosso vidro, para que nosso espelho possa cada vez mais brilhar a luz que procede do criador; esta mesma luz que nos faz existir.
Qual a razão de um espelho se não houvesse a luz? Sim a luz é a razão de tudo e se não somos a origem da luz pelo menos podemos ser, em verdade, um com a luz ao refleti-la e albergá-la em nossa tela de existir.
Somos uma tela de reflexão e devemos como portadores ativos da luz nos desprender de tudo que nos impeça de compartilhar.
Falamos das velas que nos permitem o bom movimento de existir, o bom navegar. Falemos então das qualidades do bom refletir. Refletir é o bom movimento de existir. Refletir de forma ativa e continuada, sendo um com a luz.
Devemos refletir o real; a luz do real. Devemos ser portadores da verdade. Porém portar a verdade é ser espelho ou vidro translúcido.
Somos o que refletimos; somos o que compartilhamos. No universo a existência só se dá pelo compartilhar. Pelo sentido imanente que cada um comporta e que pode em comunhão ser compartilhado, dando ao sentido sua autenticidade.
O portador da verdade não pode ter vaidade, pois que a vaidade turva o espelho. Somos em essência apenas se deixarmos de ser as personas fragmentadas que pensamos ser. Somos apenas se pudermos refletir.
A verdade procede do criador e não nos pertence. Cabe a nós a leveza do invisível refletir.
O portador da verdade tem que ser leve e desimpedido das impurezas, para que permita através de si e em si a fluidez da luz. A luz do sentido que a tudo conecta em coerência.
O portador da verdade não poderá possuir nada, pois que deve ser cristalino. Deve ser sutil como o próprio criador, que é sentido cristalino e que permite a luz do existir.
O portador da verdade deve ser um com ela e apenas lhe cabe desaparecer ativamente nela.
A verdade é o refletir nítido do real e o real é luz de sentido a refletir.
Somos quais gotas espelhadas a se juntar e poder refletir ainda mais amplamente o criador.
Tudo no universo só existe pela possibilidade de compartilhar. Tudo troca e tudo interage. Tudo só existe pela possibilidade imanente do sentido da comunhão.
Sentido é luz que faz a tudo brilhar em existência.
Para sermos portadores do sentido e nele existir temos que deixar de ser opacos. Temos que deixar de lado o véu do personalismo e apenas brilhar a luz do criador.
Cada qualidade, cada virtude que existe é meio de nos tornarmos mais cristalinos. As qualidades são de fato apenas pela simples razão de nos permitir compartilhar. Tolerância, bondade, paciência, justiça e tantas outras tornam nossos vidros mais cristalinos e aumentam a superfície de reflexão de nosso espelho.
Deixar de ser seres opacos, nos tornarmos eternamente irmanados, ou espelhando uns aos outros na luz do criador.
Quanto maior o fluir de nosso movimento compartilhado maior sinergia terá nosso estado se ser, e maior nossa pureza em refletir a luz que vem da imanência.
O fluir pleno nos faz um com o todo.
Fonte: JBNews - Informativo nº 229 - 14.04.2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário