MAÇONARIA - ASPECTOS HISTÓRICOS E CONSIDERAÇÕES SOBRE O FUTURO
Ir.'.Paulo Tomimatsu - SEMAC/2013
- Londrina - PR
Estamos no pleno terceiro
milênio, com as transformações de comportamentos sociais no tocante ao
relacionamento dos seres humanos entre si, entre o ser humano e a ciência,
filosofia, religião, enfim, de todas as esferas de conhecimento.
A Maçonaria tem experimentado
nos últimos tempos, uma crise de identidade entre os seus participantes, muito
provavelmente pela transformação que a sociedade de um modo geral e como ser
humano em particular, que vem ocorrendo no limiar da evolução do mundo
moderno para contemporâneo. Dentro dessa ótica, verificam-se as ideias e os
princípios do secularismo em todas as esferas da sociedade civil.
Houve um momento histórico
bastante significativo para toda a humanidade no tocante a mudança de
paradigmas. Quando a civilização humana caminhava da idade média para a
idade moderna, com a verdadeira revolução do pensamento, baseado em
humanismo, renascimento e ideais do Iluminismo. Nesse ambiente a Maçonaria
também experimentou a mudança gradual de característica operativa para a
especulativa.
Verificamos que neste inicio de
terceiro milênio, que existe um novo choque de mudança de paradigmas. É uma
transformação gradativa, como sempre ocorre dentro da historia da humanidade.
Tudo ocorre como sequencias de fatos, e que acabam por anotar ao longo da
historia, como característica de uma determinada época.
A evolução tecnológica é
evidente, com avalanches de novos conhecimentos, ora perenes, ora perpetuados,
que invadem a nossa vida e nossa mente, quase que diariamente. Mas, nem tudo
são novidades, principalmente no que diz respeito a filosofia de comportamento
e de sociedade, em que muitos conceitos e contextos são a reedição das
coisas previamente escritas ou propaladas, porém com uma nova roupagem. Mesmo
dentro da ordem Maçônica verificamos o que denominamos comumente de ciclos de
pensamentos e condutas, muitas vezes com leve sensação de "deja vu". O
conceito de secularismo é um destes conceitos, tão discutido nos dias atuais.
O secularismo é o princípio da
separação entre instituições governamentais e as instituições religiosas.
O secularismo afirma o direito de ser livre do jugo e ensinamento religioso,
bem como o direito à liberdade da imposição governamental de uma religião
sobre o povo dentro de um estado. Refere-se à visão de que as atividades
humanas e as decisões, especialmente as políticas, devem ser imparciais em
relação à influência religiosa.
O conceito de secularismo, embora
sendo discutidos nos dias de hoje, tem suas raízes intelectuais em filósofos
gregos da antiguidade, e pensadores iluministas, como Diderot, Voltaire,
Espinoza, John Locke, James Madison, Thomas Jefferson e Thomas Paine e outros.
O termo secularismo traduz um
conceito relativamente novo, e a sua forma atual é institucionalizado na
França desde 1905. O secularismo está baseado em dois pilares; a ética (a
liberdade absoluta de consciência) e o estado laico (separação entre igreja
e estado). Ele estabelece a diferença entre dois mundos distintos; o interesse
público e a convicção individual. Constitui uma regra básica da vida em uma
sociedade democrática, e exige que sejam dados aos homens, sem distinção de
classe, origem, religião, os meios de eles serem eles mesmos, livres de seus
compromissos, responsáveis por seu desenvolvimento e donos de seus próprios
destinos.
A reivindicação secular
começou a desenvolver desde quando a igreja queria impor um regime totalitário
no sentido estrito, isto é, cobrindo todos os aspectos da sociedade civil, política,
econômica, de fato, onde a religião tornou-se poder. Dos primeiros
reformadores aos filósofos do século XVIII, a ideia evoluiu, porém,
mantendo-se associada a um duplo movimento de emancipação: o do pensamento
livre gradualmente libertando das crenças obrigatórias, e os de uma sociedade
que reivindicava liberdades políticas. Na França, a aliança mais que milenar
entre "o Trono e o Altar" tornou inevitável a contestação religiosa, à
partir do momento em que se desenvolvia a contestação política. Neste estado
de espírito, os filósofos do século XVIII, inspirados pelo Iluminismo,
lideraram um duplo ataque ideológico contra as duas formas de absolutismo real
e religioso.
A moral secular repousa sobre os
princípios de tolerância e respeito mútuos pelos outros e por si mesmo. O
secularismo, neste contexto, forneceu os meios para que o homem adquirisse
lucidez e responsabilidade pelos seus pensamentos e atos. Com base nas
necessidades da vida em sociedade e a promoção da liberdade individual, ele
é essencial na construção da harmonia social e no fortalecimento da
cidadania democrática. E, tende a instaurar, além das diferenças
ideológicas, comunitárias ou nacionais, uma sociedade humana favorável ao
florescimento de todos, uma sociedade de onde serão excluídos toda a
exploração ou o condicionamento do homem pelo homem, todo o espírito de
fanatismo, de ódio ou de violência. Certamente, a tolerância é a
consequência lógica dos valores anteriores, sem o qual a harmonia social é
colocada em perigo. Mas, a tolerância só faz sentido se for recíproca, e ela
terá sempre como limites a intolerância, a rejeição ao outro, o racismo e o
totalitarismo. A ética secular leva à justiça social, com igualdade de direitos
e igualdade de oportunidades. A educação secular, as escolas, o direito à
informação, a aprendizagem da crítica são as condições dessa igualdade.
A primeira manifestação da
natureza secular de um país é a independência do Estado e de todos os
serviços públicos em relação às instituições ou as influências
religiosas.
Em um mundo caracterizado pela
mais profunda ruptura das estruturas econômicas, políticas, sociais e
culturais que eram conhecidas há séculos, o secularismo apareceu como a
resposta a esta questão fundamental. Em uma sociedade cada vez mais
multicultural, o secularismo pôde ensinar os indivíduos a aprender, a
cooperar, a encontrar um bom acordo e harmonizar suas diferenças. O
secularismo não é um conceito ultrapassado, mas, ao contrário, é uma idéia
de progresso, e múltiplos campos de aplicação abrem-se diante dele. É um
conceito que repousa sobre os princípios humanísticos forjados no curso da
história, sendo uma forte afirmação de sentido e valor a serviço da
liberdade individual, garantindo a paz civil resultando em uma moral pessoal e
uma ética social.
A Maçonaria como entendemos nos
dias atuais, desde que tornou a viga mestra, a forma especulativa da
instituição, defendeu entre as suas bandeiras, os princípios que coincidem
com os princípios do secularismo.
Maçonaria com o seu carácter
universal, cultivam o aclassismo, humanidade, os princípios da liberdade,
democracia, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual, e também
uma associação iniciática e filosófica. A Maçonaria adota princípios e
conteúdos filosóficos antigos, que foram adotados por instituições como as
"Guildas" (na Inglaterra), Compagnonnage (na França) e Steinmetzen
(na Alemanha).
Na Idade Média o ofício de
pedreiro era uma condição cobiçada para classe do povo, onde esta seria a
única classe que tinha o direito de ir e vir. E para não perder suas regalias
o segredo foi guardado com bastante zelo.
Após o declínio do Império
Romano, os nobres romanos afastaram-se das antigas cidades e levaram consigo
camponeses para proteção mútua para se proteger dos bárbaros. Dando início
ao sistema de produção baseado na contratação servil Nobre-Povo
(Feudalismo). Várias companhias se formaram: artesão, ferreiro, marceneiros,
tecelões enfim, toda a necessidade do feudo era lá produzida. A maioria das
guildas limitava-se às fronteiras do feudo. As guildas dos pedreiros
necessitavam mover-se para a construção das estradas e das novas fortificações
dos Templários. Os demais membros do povo não tinham o direito de ir e vir,
direito este que hoje temos e nos é tão cabal. Os segredos da construção
eram guardados com incomensurável zelo, visto que, se caíssem em domínio
público as regalias concedidas à categoria, cessariam.
A Igreja Católica Apostólica
Romana encontrou neste sistema o ambiente ideal para seu progresso. Tornou-se
uma importante, talvez a maior, proprietária feudal, por meio da
proliferação dos mosteiros, que reproduzem a sua estrutura. No interior dos feudos,
a igreja deteve o poder político, econômico, cultural e científico da
época.
Com o passar do tempo, nos fins
da idade média, as construções foram se tornando mais raras. O feudalismo
declinou dando lugar ao mercantilismo, e também o enfraquecimento o domínio
da igreja romana, tendo como pano de fundo uma ruptura da unidade cristã
advindas da reforma protestante.
Nesse contexto deu-se inicio na
Inglaterra a transformação gradativa da Maçonaria Operativa para Maçonaria
Especulativa, principalmente após a reconstrução da cidade após um
incêndio de grandes proporções em sua capital Londres em setembro de 1666
que contou com muitos pedreiros para reconstruir a cidade nos moldes
medievais. Para se manter, na instituição já em declínio, foram sendo aceitas
outras classes de artífices e essas pessoas formaram paulatinamente
agremiações que mantinham os costumes e tradições dos pedreiros nas suas
reuniões, no que diz respeito ao reconhecimento dos seus membros por
intermédio dos sinais característicos da agremiação.
Essas associações sobreviveram
ao tempo. Os segredos das construções não eram mais guardados a sete chaves,
eram estudados publicamente. Todavia o método de associação era interessante,
o método de reconhecimento da maçonaria operativa era muito útil para o
modelo que surgiu posteriormente. Em vez de erguer edifícios físicos,
catedrais ou estradas, o objetivo era outro, o de erguer o edifício social
ideal.
Muitos dos princípios éticos
maçônicos foram inspirados pelo judaísmo através da adoção dos
ensinamentos do Antigo Testamento. Os ritos e símbolos da maçonaria e outras
sociedades secretas recordam a reconstrução do Templo de Salomão, a estrela
de David, o selo de Salomão, os nomes dos diferentes graus, como por exemplo,
cavalheiro Kadosh ("Kadosh" em hebraico significa santo), Príncipe
de Jerusalém, Príncipe do Líbano, etc.
A luz é um importante símbolo
no judaísmo que assim foi adotado na maçonaria. Um dos grandes feriados
judaicos é o Chanukah ou Hanukkah, ou seja o Festival das Luzes, comemorando a
vitória do povo de Israel sobre aqueles que tinham feito da prática da
religião um crime punível pela morte ali pelo ano 165 a. E. V. (Os judeus
substituem o antes de Cristo e o depois de Cristo pelo antes e depois da Era
Vulgar). A Luz é um dos mais densos símbolos na maçonaria, pois representa
(para os maçons de linha inglesa) o espírito divino, a liberdade religiosa,
designando (para os maçons de linha francesa) a ilustração, o
esclarecimento, o que esclarece o espírito, a claridade intelectual. Luz, para
o maçom, não é a material, mas a do intelecto, da razão, é a meta máxima
do iniciado maçom, que, vindo das trevas do Ocidente, caminha em direção ao
Oriente, onde reina o Sol.
Outro símbolo compartilhado é o
Templo de Salomão, que figura como uma parte central na religião judaica,
não só, por ser o rei Salomão uma das maiores figuras de Israel, como o
Templo representar o zênite da religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a
figura de Salomão, à da construção do Templo, pois os maçons são,
simbolicamente considerados construtores, pedreiros, geómetras e arquitetos.
Durante séculos, os judeus
têm-se destacado nos diversos campos do conhecimento humano e o seu empenho em
melhorar suas escolas e seus centros de ensino demonstram cabalmente isto. Digno
de notar-se é que as famosas escolas talmúdicas - as yeshivas vem do verbo
lashevet, ou seja sentar-se. Deste modo para aprender é necessário sentar-se
nos bancos escolares. Assim, também, na
maçonaria, nota-se uma preocupação constante, cada vez maior, com o
desenvolvimento intelectual dos seus epígonos, no fundo, não só como um meio
de melhorar a sua escola de fraternidade e civismo como também para perpetuar
os seus ideais e permanecer como uma das mais ricas tradições do mundo
moderno.
A Igreja Católica historicamente
se opôs radicalmente à maçonaria, devido aos princípios supostamente
anticristãos, libertários e humanistas maçônicos. O primeiro documento
católico que condenava a maçonaria data de 28 de abril de 1738. Trata-se da
bula do Papa Clemente XII, denominada In Eminenti Apostolatus Specula.
Após essa primeira condenação
surgiram mais de 20 outras, sendo que o papa Leão XIII foi um dos mais
ferrenhos opositores dessa sociedade secreta e sua última condenação data de
1902, na encíclica Annum Ingressi, endereçada a todos os bispos do mundo em
que alarmava da necessidade urgente de combater a maçonaria, opondo radicalmente
esta sociedade secreta ao catolicismo.
Até 1983, a pena para católicos
que se associassem a essa sociedade era de excomunhão. Com a formulação do
novo Código de Direito Canônico que não mais condenava a Maçonaria
explicitamente, muitos pensaram que a Igreja havia aceitado a mesma, no entanto
a Congregação para Doutrina da Fé tratou de esclarecer o mal entendido e
afirmar que permanece a pena de excomunhão para quem se associa a maçonaria.
A Maçonaria Especulativa surgiu
no mesmo período da reforma protestante, embora negada pela mesma até os
dias de hoje, mesmo que a bíblia seja a regra de fé e conduta dos
protestantes. James Anderson, o autor da Constituição de Anderson, era um
pastor presbiteriano.
A divulgação dos direitos do
homem e da ideia de um governo republicano inspirou a Maçonaria no Brasil, em
particular depois da Revolução Francesa, quando os cidadãos derrubam a
monarquia absolutista secular. As ideias que fermentaram o movimento (século
XVIII) havia levado o espírito dos colonos americanos, que emigraram para a
América em busca de liberdade religiosa e política. A Maçonaria é
caracteristicamente universalista por ser uma sociedade que aceita a
afiliação de todos os cidadãos que se enquadrarem na qualificação
"livres e de bons costumes", qualquer que seja a sua raça, a sua
nacionalidade, o seu credo, a sua tendência política ou filosófica,
excetuados os adeptos do comunismo teorético porque seus princípios
filosóficos fundamentais negam ao homem o direito à liberdade individual da
autodeterminação.
Os ideais maçônicos,
notadamente nos princípios do século XVIII, foi fundamentado nos ideais do
iluminismo entre outros.
Iluminismo é um conceito que
sintetiza diversas tradições filosóficas, sociais, políticas, correntes
intelectuais e atitudes religiosas. Pode-se falar mesmo em diversos
micro-iluminismos, diferenciando especificidades temporais, regionais e de
matiz religioso, como nos casos de Iluminismo tardio, Iluminismo escocês e Iluminismo
católico.
Os iluministas admitiam que os
seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor -
mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do
engajamento político-social.
Iluministas se filiaram às Lojas
Maçônicas como um lugar seguro e intelectualmente livre e neutro, apropriado
para a discussão de suas ideias, principalmente no século XVIII quando os
ideais libertários ainda sofriam sérias restrições por parte dos governos
absolutistas na Europa continental. E por isso certamente a Maçonaria teria
contribuído para a difusão do Iluminismo e que este por sua vez também possa
ter contribuído para a difusão das lojas maçônicas.
Na maioria dos países da
América Latina, predomina a maçonaria dogmática, tão presente na Europa. No
Canadá, é bastante marginalizada e é quase inexistente, e nos Estados
Unidos, as lojas são pouco "liberais" (no estilo europeu), onde são
frequentado, na sua maioria, por residentes e visitantes.
Em alguns países, porém, os
dois movimentos existem lado a lado ou em um relacionamento amigável de
compreensão mútua (especialmente em certas regiões onde a maçonaria de
todas as tendências, tem sido particularmente perseguido), ou com relações
mais tensas.
A Maçonaria especulativa, se
denominando e tomando características como uma Ordem Universal, foi adotando
ao longo do tempo, algumas regras e princípios, que são obedecidas dentro da instituição,
independente de países, línguas e costumes. Por essas regras, foi dado o
nome de LANDMARK, e as Lojas Maçonicas regulares obedecem aos regulamentos
determinados pelo LANDMARK (As mais antigas leis que regem a Maçonaria
Universal).
A primeira vez em que se fez
menção à palavra Landmark em Maçonaria foi nos Regulamentos Gerais
compilados em 1720 por George Payne, durante o seu segundo mandato como Grão
Mestre da Grande Loja de Londres, e adotados em 1721, como lei orgânica e
terceira parte integrante das Constituições dos Maçons Livres, a conhecida
Constituição de Anderson.
Os Landmarks, que podem ser
considerados "constituição maçônica não escrita", que longe de ser uma
questão pacífica, se constituem numa das mais controvertidas demandas da
Maçonaria, e se tornou um problema de difícil solução para a Maçonaria
Especulativa atual.
Há grandes divergências entre
os estudiosos e pesquisadores maçônicos acerca das definições e
nomenclatura dos Landmarks. Existem várias e várias classificações de
Landmarks, cada uma com um número variado deles, que vai de três até
cinqüenta e quatro. Segundo Virgílio Lasca, citado por Nicola Aslan em "Landmarques e Outros Problemas Maçônicos", para a Grande Loja de Nova York
os Landmarks são apenas seis, para a Grande Loja da Virgínia são sete, para
a Grande Loja de Massachusetts são oito, para a Grande Loja de Nova Jersey
são dez, para a Grande Loja de Tennessee são quinze, para a Grande Loja de
Connecticut são dezenove, para a Grande Loja de Minnesota são vinte e seis e
para a Grande Loja de Kentucky são cinqüenta e quatro.
De uma forma geral, as
Obediências Maçônicas adotam, tácita ou explicitamente, a classificação
de vinte e cinco Landmarks compilada por Albert Galletin Mackey. Considerando-se que, segundo Albert Pike, ao elaborar a sua classificação de apenas cinco
Landmarks, até, pelo menos, o ano de 1723, a Lenda do Terceiro Grau ainda não
havia sido introduzida na Maçonaria Especulativa, o Terceiro Landmark da
compilação de Albert Mackey não pode ser reconhecido e tido como verdadeiro,
tomando-se como base o conceito de Landmark do próprio Mackey que, desse modo,
se expressou em "Masonic Jurisprudente":
Como refere Nicola Aslan a idéia
geral que se tem sobre os Landmarks, na Maçonaria, é que são usos, costumes,
leis e regulamentos universalmente reconhecidos, existentes desde tempos
antigos, fundamentais princípios da Ordem, inalteráveis e irrevogáveis, e
que não podem ser infringidos ou desviados o mais levemente que seja.
Etimologicamente, a expressão deriva da palavra inglesa landmark, composta de
land - terra, solo, terreno, e mark — limite, marco, mas na literatura
maçônica, o vocábulo tem o sentido de regra ou norma.
Apesar da confusão e da
polêmica acerca da Constituição de Anderson, é absolutamente evidente a sua
preocupação em estabelecer uma posição política para a Maçonaria, como se
pode verificar no preceito que trata da Autoridade Civil, superior e inferior,
que diz textualmente: "O maçom deve ser pessoa pacífica, submeter-se às
leis do país, onde estiver e não deve tomar parte, nem se deixar arrastar nos
motins ou conspirações deflagrados contra a paz e a prosperidade do
povo".
"Nem se mostrar rebelde à
autoridade inferior, porque a guerra, o derramamento de sangue e as perturbações
da ordem, têm sido sempre funestos para a Maçonaria".
Assim é que, na antiguidade, os
reis e príncipes se mostraram muito dispostos para com a instituição
maçônica, pela submissão e fidelidade de que os maçons deram constantes
provas no cumprimento de seus deveres de cidadão e em sua firmeza em opor sua
conduta digna a caluniosas acusações de seus adversários. Esses mesmos reis
e príncipes não se recusaram a proteger os membros da Corporação e defender
a integridade da mesma, que sempre prosperou em tempo de paz. Segundo estas
doutrinas, se algum Irmão se convertia em um perturbador da ordem pública,
ninguém devia ajudá-lo na realização de seus propostos e pelo contrario
devia ser compadecido por ser um desgraçado. Mas por este fato, e ainda que a
Confraria condenasse sua rebelião, para se evitar dar ao governo motivo de
alguma suspeita ou de descontentamento, sempre que o rebelado não pudesse ser
censurado por outro crime, não podia ser excluído da Loja, permanecendo
invioláveis suas relações com esta, bem como os direitos de que como maçom
gozava.
No entender de João César (op.
cit. p. 97), "A Constituição de Anderson, promulgada em 1723, é o marco que
assinala a transformação da Maçonaria de Operativa em Especulativa, embora já existisse, muitos anos antes,
a Maçonaria Simbólica, ou melhor, a adoção dos "Maçons Aceitos" ou "Maçons Adotados".
Não se pode deixar de levar em
consideração o contexto histórico em que as Constituições foram elaboradas
e a que tipo de interesses serviram. E importante lembrarmos que, à época,
vivia-se a "idade das Luzes", sendo natural que, depois do obscurantismo
medieval, as idéias iluministas influenciassem sobremaneira a ambiência
cultural e o pensamento. Uma das principais características da época diz
respeito à valorização e à busca da razão das coisas. Na Inglaterra do
século XVI, era evidente a luta pelo poder entre uma classe social ascendente
— a burguesia — e a nobreza. A arma principal da burguesia é o controle
econômico, que determina, em contrapartida, o controle das idéias e valores,
abrindo os horizontes do mundo, estimulando as ciências, opondo-se aos dogmas
religiosos, destruindo a objetividade medieval e criando caracteres
libertadores, novas significações, novos ares sobre o mundo "velho" e parado.
A história registra que, no
século XVI, após o rompimento com o Papado, efetivado por Henrique VIII
(fundador da Dinastia dos Tudor), e a fundação da religião anglicana por sua
filha, Elizabeth I, a Inglaterra, sob o longo reinado da soberana (1558-1 603),
conhece um período de apogeu cultural e político, transformando-se em potência
marítima e iniciando uma expansão colonialista.
De 1642 a 1649, a Inglaterra se
defronta com uma guerra civil, que culmina com a decapitação do rei Carlos I
(da Dinastia dos Stuarts), que queria governar sem parlamento. Inicia-se,
então, um período de nove anos de ditadura militar de Oliver Cromnwell, que
proclama a República. Contudo, em 1660, é restaurada a Monarquia, com o trono
sendo entregue a Carlos II. Em 1707, Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de
Gales formam a Grã-Bretanha, ou Reino Unido. Com o afastamento dos Stuart, em
1714, a Dinastia dos Hannover se instala no trono, ocupando-o até hoje. Nos
anos que se seguem, a Inglaterra consolida seu império colonial,
principalmente na Índia e América do Norte.
Bastante significativa a
circunstância de que a Inglaterra, durante o período em que esteve sob o
governo do puritano Cromwell, haver conhecido sua única Constituição
escrita: o "Instrument of Government". Também singular mostra-se o fato de os
puritanos, que deixavam a Inglaterra para livremente celebrarem seu culto em
terras do Novo Mundo, haverem redigido, ainda a bordo do "Mayflower", o
documento político que haveria de estruturar a forma de organização
constitucional das futuras colônias inglesas.
Entendemos que a fixação dos
Landmarks pela Maçonaria anglo-saxã servia, fundamentalmente, á intenção
de serem garantidos seus interesses, especialmente quanto a questões
econômicas e comerciais, e quanto ao controle sobre as Lojas que, naquele
momento histórico, começam a se multiplicar. Sem dúvida, isto afastou
bastante a Maçonaria dos seus objetivos primeiros.
Jules Boucher (A Simbólica
Maçônica, p. 217), citando Oswald Wirth, destaca que "os Landmarks são de
invenção moderna e seus partidários jamais conseguiram pôr-se de acordo
para fixá-los". "
Isso não impede — prossegue ele
— que os anglo-saxões proclamem sagrados esses limites essencialmente
flutuantes, que se ajustam de acordo com seus particularismos. Cada Grande Loja
fixa-os de acordo com seu modo de compreender a Maçonaria; a Maçonaria é
compreendida de modos muito diferentes, razão das definições
contraditórias, destrutivas da unidade dentro de uma instituição que visa a
concórdia universal".
Nicola Aslan menciona a posição
de Virgílio A. Lasca, no seu trabalho "Princípios Fundamentales de la Orden e
los verdadeiros Landmarks", de que "não existe, entre os autores, unidade de
critério para a seleção ou classificação do que eles estimam deverem ser
considerados como Landmarks ou antigos limites. Estes foram estabelecidos
recentemente, depois dos meados do século XIX, e são mais fruto da fantasia,
pois os que deles se ocuparam enumeram-nos em classificações que variam de 3
até 54".
Também não passou despercebido para
Aslan o fato de que o tema interessou basicamente, "e quase que exclusivamente
aos maçons da América do Norte". Diz mais o estudioso: "Todas essas
relações de Landmarks sofreram as mais severas críticas por parte de
escritores autorizados que os estenderam àqueles que, sob pretexto de tratar
dos antigos Landmarks da Ordem, deixaram a sua fantasia
voar. E cada qual considerando Landmark tudo aquilo que bem quis e entendeu,
originou-se desse modo uma grande perplexidade e uma confusão ainda maior".
A teoria dos antigos Landmarks da
Ordem, como já vimos, encontrou seus melhores partidários nos Estados Unidos.
Posteriormente, também a Maçonaria da América do Sul passou a
considerá-los, pelo menos até os primeiros anos do século XIX, quando se
intensificaram os movimentos de emancipação das repúblicas atuais de suas
antigas metrópoles. Tais movimentos, surgidos numa seqüência de fatos
históricos iniciados no século XVIII, a partir das revoluções americana (a
Independência dos Estados Unidos, em 1776) e francesa (1789), consagraram
inúmeros "Libertadores", entre eles Simón Bolívar, Bernardo O Higgins, José
de San Martin e Antonio José de Sucre.
A forma de organização que
comumente adotaram os participantes ativos da luta libertadora ou de
emancipação foi no princípio a da "loja", que em geral se encontrava
integrada na Franco-Maçonaria internacional, como o caso da Loja Lautaro, que
granjeou grande prestígio e poderio no Cone Sul do continente americano.
O surgimento da Grande Loja da
Inglaterra, em 1717, sob a direção de Anthony Sayer, representou um dos
melhores instrumentos com que contou aquela nação para contribuir à
expansão, para ela imprescindível, de seu mercado, artífice de seu
desenvolvimento econômico.
Dentre as diversas relações de
Landmarks, a mais adotada é a do escritor norte-americano Albert G. Mackey,
contendo uma lista de 25 itens.
Segundo os estudiosos, Mackey,
inspirando-se nas noções de história disponíveis à época, cometeu
inúmeros erros, o que reduz a sua lista de Landmarks, apenas e tão somente,
à condição de referência para uma discussão. Aliás, Nicola Aslan acentua
que Mackey, ao longo de seus escritos, censurava a incrível credulidade de
Anderson, ironizando mesmo as suas fantasias, contidas na suposta história da
Maçonaria redigida para constar das Constituições de 1723.
Se considerarmos as
manifestações dos seus mais categorizados estudiosos, os franceses não dão
nenhuma importância ao problema dos Landmarks. Boucher (op. cit.. p. 217), com
muita propriedade, afirma que "na Maçonaria francesa, a ̳Liberdade de Pensamento ̳ é um ̳landmark‘ fundamental e, paradoxalmente, um
landmark não tem limites!".
Também Marius Lepage (L‘Ordre et
les Obédiences), citado por Aslan refere a questão dos Landmarks de forma
até irônica e agressiva. "Uma única pergunta — diz Lepage — "Mostrai- me um
Landmark, um verdadeiro..." "Nunca houve, não há, nunca haverá ̳landmarks‘, salvo aqueles redigidos no dia a
dia, segundo as necessidades do momento, por um corpo administrativo
completamente desprovido de conhecimentos e de valor sobre o plano de
iniciação tradicional
Admitir-se a necessidade ou a
simples ocorrência de Landmarks, ou seja, a existência de regras ou preceitos
com características de imutabilidade, é, na verdade, dogmatizar-se certos
enunciados, incorrendo no mesmo erro cometido pela Maçonaria anglo-saxã, que
na sua época, andou na contramão da História, estabelecendo normas
pretensamente irreformáveis e perpétuas, em um momento histórico em que se
buscava a razão das coisas, um momento "iluminado.
Para aqueles que condicionam a
unidade da Maçonaria à existência e à aceitação de Landmarks, utilizamos
as afirmações de Jules Boucher - ―A unidade maçônica sonhada por alguns é
um engodo; jamais ela será realizada e nem é desejável que o seja. A
Maçonaria deve adaptar-se aos diferentes países e corresponder, em cada
país, às diferentes aspirações dos maçons. É o simbolismo maçônico bem
compreendido o único que deve formar, o cimento entre todas as Pedras, e é
por ele que a verdadeira Fraternidade pode e deve se estabelecer‖. Nas
diferentes lojas maçônicas, são observados diferentes modo de aplicação
dos seus princípios. Algumas Lojas fundamentam seus atos em filosofias, outras
em filantropias, outras em pesquisas, outras em cabalas, outras em esoterismo e
exoterismos.
No tocante à pratica do
esoterismo, que não é particular de uma loja maçônica, existem no ocidente,
atuando de forma independente de quaisquer ligações com a religião
exotérica, três correntes de ensinamento esotérico. Existem três escolas de
sabedoria no ocidente que representam sem interrupção
cada uma destas correntes, e que são:A ROSA-CRUZ, A FRANCO-MAÇONARIA e o
MARTINISMO.
A CORRENTE HERMÉTICA ou
ALQUÍMICA ou EGÍPCIA, representada pela ROSA-CRUZ, busca o Conhecimento pelo
desenvolvimento da Mente. A CORRENTE PITAGÓRICA ou TEÚRGICA ou GREGA,
representada pela FRANCO-MAÇONARIA, busca o Conhecimento pelo desenvolvimento
da Ação Teúrgica no Plano Físico. A CORRENTE CABALÍSTICA ou JUDAICA que
busca o Conhecimento através do Domínio sobre as Emoções ou sobre o Astral.
Tais escolas exercem influências recíprocas umas sobre as outras, mas a
tônica de cada uma delas se concentra em planos de ação distintos.
A Maçonaria juntamente com essas
instituições, tem adotado o caráter der ser iniciática, secreta e
filosófica. Entende-se por sociedade secreta um grupo de pessoas, que se
caracteriza por manter reuniões estritamente limitadas a seus adeptos, e
também por manter o mais absoluto sigilo a respeito das cerimónias e dos
rituais que praticam, onde se manifestam os símbolos que a caracteriza e
distingue das demais. As finalidades destas sociedades ditas
"secretas" são as mais variadas, sendo políticas, religiosas,
filosóficas e espirituais. As Ordens Iniciáticas caracterizam-se por três
manifestações: A Tradição, a Iniciação e o Sigilo.
Tradição é transmitida de
mestre a discípulo. Trata-se de um conhecimento não-racional, intuitivo,
presente em todo o ser humano, mas que deve ser despertado pela filiação
espiritual e pela Iniciação. A Iniciação assegura a
transmissão da Tradição. Ela é a um só tempo um início para aquele que
entra na Senda e um retorno à origem, ao princípio, graças ao influxo
espiritual que passa do Iniciador para o Iniciado e o transmuta num discípulo
da Luz. Este processo tem várias exigências: a presença do candidato, a transmissão
dos símbolos e de uma força espiritual durante a Iniciação e, na
continuidade, o trabalho interior do Iniciado, que tem a missão de fazer
germinar a semente que recebeu.
O Sigilo mostra-se necessário
para garantir a proteção dos ensinamentos e rituais. Visa preservar a
integridade e a eficácia dos ensinamentos, a fim de reservar o seu acesso aos
que buscam e o merecem. Assim o Sigilo é o interior oculto que o ser humano,
em busca da sua unidade, deve procurar e descobrir por si mesmo. Devido à esse
sigilo é que as ordens iniciáticas são também chamadas de "Sociedades
Secretas".
As "Sociedades
Secretas" mais populares são a Maçonaria e a Ordem dos Rosa Cruz,
porém, em cada época, em cada civilização, em distintos momentos e circunstâncias
da evolução da raça humana, existiram diversas outras Ordens Iniciáticas,
que contribuíram de alguma forma para o aperfeiçoamento do género humano.
Dentre as quais destacamos as seguintes:
• Loja do Diamante Flamígero - (
15.997.992 a.C. - Era Primeva )
• Escola da Maçonaria - (
12.622.992 a.C. - Era Lemur )
• Escola Rosacruz - ( 4.322.992
a.C - Era Atlante )
• Escola dos Lemures Redimidos -
( 2.634.992 a.C. - Era dos Últimos Lemures )
• Fraternidade dos Magos do Segredo Atlante - ( 9.117 a.C. )
• Fraternidade dos Magos do Segredo Atlante - ( 9.117 a.C. )
• Santa Fraternidade dos
Guerreiros do Norte - ( 4.992 a.C. )
• Loja do Empíreo - ( 4.692
a.C.)
• Irmãos Atlantes da Luz
Akkadiana - ( 1.192 a.C. )
• Loja dos Mirianos do Oculto
Segredo - ( Ano 77 - Início da Era vulgar )
• Escola do Grande Boddhisattwa -
( Ano 80 )
• Escola dos Gnósticos - ( Sec.
I )
• Escola de Oriente - ( Sec. VIII
)
• Cavaleiros da Roda de Fogo - (
Ano 825 - Inglaterra )
• Cadeia Rosarista das Cruzadas -
( Ano 880 )
• Cavaleiros da Távola Redonda -
Ano 900 - Inglaterra )
• Escola da Ordem Secreta - (
Sec. IX )
• Confraria dos Irmãos ao Redor
do Graal - ( Ano 1.050 )
• Priorado de Sião - ( Ano 1099
)
• Monastério Superior Tibetano
dos Segredos do Hermafrodita (yab yum) - ( Ano 1100 )
• Budismo Secreto do Grande Oceano - ( Ano 1.110 )
• Budismo Secreto do Grande Oceano - ( Ano 1.110 )
• Loja de Tifão Bafometo - ( Ano
1.325 )
• Loja Botão do Oriente e
Ocidente - ( Ano 1.545 ) • Die Indissolubilisten - ( Ano 1577 )
• Militia Crucifera Evangelica -
( Ano 1586)
• Rose-Croix Royale - ( Ano 1593
)
• Fruchtbringende Gesellschaft -
( Ano 1617 )
• Rite des Philadelphes - ( Ano
1640 )
• Fraternidade Polinésia dos
Herdeiros da Luz - ( Ano 1700 )
Desde o século XVII, na
Inglaterra, tanto a Magia quanto a Astrologia, que eram pedras angulares do
Ocultismo e haviam desempenhado, nos séculos anteriores, um importante papel
no campo da compreensão do Universo, deixaram de ser intelectualmente
aceitáveis, por força de processos históricos que culminaram no advento da
Reforma e no posterior triunfo da Filosofia Mecânica. Ciência e Magia se
dissociaram, enquanto a Astrologia tornou-se um conhecimento estagnado e
tratado como superstição.
No século XIX, a Inglaterra
encontrava-se no auge de sua expansão imperialista, projetando-se e
interagindo com os mais distantes recantos do planeta, o que tornava Londres
uma metrópole culturalmente cosmopolita, receptiva a novas idéias e
doutrinas.
Nesse cenário de efervescência
cultural que o Ocultismo apareceu como um contra-ponto ao cientificismo (que o
Positivismo consagraria como filosofia), com sua certeza no progresso da
Humanidade guiada pelo racionalismo materialista da Ciência.
O ponto de partida para o
ressurgimento do Ocultismo na Inglaterra foi a publicação de
"Magus" (1801), livro de Francis Barrett, que é basicamente uma
coletânea de escritos ocultistas medievais e renascentistas. A esse livro
seguiram-se os escritos do francês, Eliphas Lévi, e de Kenneth Mackenzie,
cuja grande aceitação em círculos intelectuais pode ser entendido como uma
reação (notadamente no final do século) ao Positivismo e ao cientificismo,
que haviam transformado o Agnosticismo em palavra de ordem, exigível a quem
pretendesse ser tido como pessoa culta e sintonizada com os valores
"superiores" de seu tempo.
É nesse cenário que a Europa
viu despontar o Kardecismo (e outras formas de Espiritismo) e que a russa
Helena Blavatsky difundiu a sua Teosofia, impregnada de Budismo tibetano e
outros matizes da religiosidade oriental. É ainda nesse cenário que a
Maçonaria multiplicou a quantidade de suas Lojas, atraindo artistas e
intelectuais, e a lenda rosacrucianista recrudesceu, atestando que, mesmo
quando confiante de resolver os problemas de sua vida na Terra, através da
Ciência, o ser humano busca respostas para questões transcendentes, que se
situam na esfera de sua vida espiritual, além do alcance científico.
É desconhecida a exata época em
que graus rosacrucianistas começaram a ser usados na Maçonaria, mas é certo
que pelo menos um grau rosacruz foi introduzido no Antigo e Aceito Rito
(escocês) da Maçonaria britânica.
Na segunda metade do século XIX,
o crescente interesse por temas rosacrucianistas levou um grupo de mestres
maçons a criarem uma sociedade, especificamente dedicada ao seu estudo. Foi a
Societas Rosicruciana in Anglia (chamada, abreviadamente, de Soc.Ros ou
S.R.I.A), fundada em 1866 por Robert Wentworth Little, com a ajuda de Kenneth Mackenzie.
Dois membros destacados dessa
Ordem (que só admitia mestres maçons em suas fileiras) viriam a ser os
principais arquitetos da Aurora Dourada:
• Dr. William Wynn Westcott,
médico legista e Juiz de Instrução do distrito noroeste de Londres, que
ingressou na SRIA em 1880 e viria a se tornar "Magus Supremus" (a
função mais elevada), em 1891. Seus biógrafos relatam que ele passou dois
anos em um retiro, em Hendon, estudando Cabala, Hermetismo e
Rosacrucianismo.
• Samuel Liddell MacGregor
Mathers, um ocultista apaixonado pela cultura celta, autor de "Kabbala
Unveiled" - na verdade uma tradução do livro de Christian Knorr von
Rosenroth.
O terceiro nome ligado à
criação da Golden Dawn é o do médico e maçom, Dr. William Robert Woodman.
A Ordem Hermética da Aurora
Dourada nasceu em 1888, reivindicando ser a verdadeira herdeira dos princípios
de Christian Rosenkreuz (pai do rosacrucianismo), e supostamente amparada na
autoridade que lhe teria sido concedida por uma antiga sociedade rosacruciana
alemã, a Die Goldene Dammerung, através de uma misteriosa adepta, chamada
"fräulein Anna Sprengel", cujo nome secreto
(iniciático) seria Sapiens Dominabitur Astris (O sábio será governado pelas
estrelas).
Segundo a história contada por
Westcott (e sustentada por Mathers), o Reverendo A. F. A. Woodford, um velho
pároco muito conhecido nos círculos maçônicos, ter-lhe-ia entregue, em agosto
de 1887, sessenta páginas de um manuscrito cifrado, cuja tinta marron
desbotada lhes conferia uma aparência de antiguidade, escritas num código
secreto inventado no Século XVI. Algumas folhas do manuscrito traziam
uma marca d‘água datada de 1809. Westcott, que conhecia bem a literatura
hermética, teria descoberto a chave para o alfabeto artificial e, ao
traduzí-lo, descobriu tratar-se de esboços fragmentários de uma série de
cinco rituais e a estrutura hierárquica básica de uma organização
iniciática. Em meio ao manuscrito, havia também uma carta de fräulein Anna
Sprengel, conferindo-lhe um posto elevado na Die Goldene Dammerung e
autorizando-o a instalar uma sucursal da Ordem alemã, na Inglaterra. Pouco
tempo depois, Westcott passaria a receber várias cartas de um secretário de
Anna Sprengel, que se assinava Frater In Utroque Fidelis, fornecendo
orientações adicionais para a abertura da primeira Loja (ou Templo) da Aurora
Dourada inglesa, o Templo de Ísis-Urânia, cuja Carta de Autorização,
assinada pela própria Anna, chegou por volta de março de 1888 Finalmente, uma
carta, datada de 23 de agosto de 1890 e assinada por Frater Ex Uno Disce Omnes,
anunciava a morte de fräulein Sprengel, e informava que Westcott não mais
receberia qualquer outra comunicação da Alemanha.
A verdade é que toda essa
história não passava de um embuste, conforme ficaria convenientemente
demonstrado na obra de Ellic Howe, Descobriu-se, por exemplo, que a carta de
autorização do primeiro templo fora forjada pela Srta. Mina Bergson (irmã do
filósofo Henri Bergson), que viria a se casar com Mathers, em junho de 1890.
A descoberta da fraude foi um dos
fatores que contribuíram para a ruína da Golden Dawn.
Para se ter idéia do caminho
místico que um membro da Aurora Dourada devia percorrer, é importante saber
que toda sociedade oculta possui um conjunto de metas (ou ideais) representado
por uma simbologia, e que o processo de domínio dessa simbologia é demarcado
por uma série de graus, tendo cada um seu próprio Ritual.
O aspirante a membro da Aurora
Dourada era admitido na condição de Neófito, na qual permanecia por algum
tempo, recebendo ensinamentos básicos e sendo avaliado pelas autoridades da
Ordem. Uma vez aceito, ele ingressava no Primeiro Grau, iniciando sua jornada
de aprendizagem.
Em fins de 1891, mais de oitenta
pessoas haviam ingressado no templo Ísis-Urânia de Londres, entre elas
quarenta e duas mulheres. A Aurora Dourada, que era, essencialmente, uma
criação de Westcott, desabrochava mornamente, seguindo uma existência quase
monótona. Tendo Mathers, Westcott e Woodman (que morreria em dezembro daquele
ano) como professores, eles seguiam um currículo elementar que incluía o
estudo de assuntos como a Árvore da Vida cabalística, com seus Sephiroth e
vinte e dois caminhos, Simbolismo Alquímico, Astrologia, Geomancia, e o
Simbolismo dos vinte e dois trunfos do Tarot. Mas isso tudo não passava de um
jardim de infância para candidatos ao Ocultismo.
A situação se modificou
radicalmente no início de 1892, quando Mathers efetuou uma reorganização de
longo alcance e conseguiu, em grande parte, suplantar Westcott, na condução
da Ordem. Nessa época, ele apresentou um impressionante ritual, para o
primeiro dos graus da Segunda Ordem, e concedera à Segunda Ordem um status
inteiramente novo. Agora, ela passava a ser a Ordo Rosæ Rubeæ et Aureæ Crucis
(abreviada para R. R. et A. C.), tendo Mathers como seu único Chefe, e
dirigida de Paris, onde ele se instalou, definitivamente, na primavera de 1892,
enquanto Westcott se contentava em agir como Chefe Adepto, em Londres.
Daí em diante, a admissão à
nova Segunda Ordem seria feita por meio de provas e de convites. A R.R. et A.C.
era altamente secreta, não se permitindo aos membros da Ordem Exterior saber
da sua existência, quem a ela pertencia, nem os endereços de suas sedes. E
enquanto o currículo da Ordem Exterior era simplesmente teórico, os membros
da Segunda Ordem recebiam instrução sobre a teoria e prática do cerimonial
ou ritual mágico.
Além de elaborar o ritual,
Mathers produziu um fantástico currículo para uma série de oito provas
destinadas ao 5°. Quem passasse nesse teste podia afirmar que recebera uma instrução básica completa em
quase todos os aspectos da tradição ocultista ocidental. A esse respeito, a
Segunda Ordem representava o equivalente de uma universidade hermética. E era
única.
Entre a primavera de 1892 e o
final de 1896, a Ordem Hermética da Aurora Dourada viveu seus dias de glória.
Não deixa de ser paradoxal que o
principal responsável pela brilho da Aurora Dourada, tenha sido, também, o
principal agente de sua ruína. Mathers era um homem extremamente talentoso,
mas era também muito autoritário, e esse aspecto de sua personalidade viria a
motivar conflitos com outros membros. No tempo em que Westcott ainda era o
principal dirigente da Ordem, o clima interno foi mais ameno. Mas quando
Mathers assumiu, de fato, o comando, os choque de personalidade não tardaram a
se evidenciar. Instalado em Paris, ele exigia absoluta submissão das lojas
inglesas à sua autoridade, conduta que logo gerou reações.
O primeiro conflito sério foi
com a empresária de teatro, Annie Horniman, filha de um rico importador de
chá, amiga íntima da esposa de Mathers, Moina Bergson, e benfeitora
financeira do casal. A relação entre os dois deteriorou-se progressivamente
e, quando Annie suspendeu a ajuda financeira, Mathers a expulsou da Ordem.
O golpe seguinte na estabilidade
da Golden Dawn ocorreu em março de 1897, quando as autoridades legais souberam
da ligação de Westcott com uma Ordem ocultista. Com seu cargo de Juiz de
Instrução ameaçado, Westcott, que era um administrador capaz e
entusiástico, afastou-se da Ordem que fundara.
A essa altura, o lugar deixado
por Annie Borniman fora ocupado pela atriz Florence Farr, que também viria a
se rebelar contra a atitude ditatorial de Mathers. Este, por seu turno,
suspeitando que ela conspirava para trazer Westcott de volta ao comando da Ordem,
revelou a fraude das cartas de Fräulein Sprengel, dando a entender que fora
obrigado, por Westcott, a guardar segredo. A revelação caiu como uma bomba no
seio da Aurora Dourada, abalando sua credibilidade e provocando o afastamento
de vários membros.
Para completar o quadro de
ruína, Aleister Crowley - um homem de grande saber ocultista, mas de
reputação duvidosa - ingressara na Ordem e, com menos de um ano de
filiação, pleiteara sua admissão ao Círculo Interno. Tendo seu pleito
rejeitado, Crowley aproximou-se de Mathers e, conquistando sua confiança,
conseguiu que ele o iniciasse à Segunda Ordem, em Paris. Essa iniciação não
foi reconhecida em Londres, e pela primeira vez Mathers se viu diante de uma
revolta total. A disputa atingiu o auge no inicio de abril de 1900 quando
Crowley, depois de uma longa conferência com Mathers, retornou a Londres com
plenos poderes para agir como seu Enviado Extraordinário. Vestido com um traje
completo de montanhês escocês e uma máscara preta, ele tentou tomar posse do
templo onde se encontrava a cripta (local em que processava o ritual de
iniciação à Ordo Rosæ Rubeæ et Aureæ Crucis).
O plano Mathers-Crowley foi
frustrado, em grande parte pela vigilância de W. B. Yeats e de um punhado de
membros, que assumiram o controle da situação. A comédia terminou com os
membros londrinos expulsando Mathers e Crowley, e também alguns outros de
lealdade duvidosa. Yeats logo assumiu o comando e fez o melhor que pôde para
manter a paz durante um ano, mas acabou desistindo e renunciando a qualquer
ligação muito ativa com a Golden Dawn, em fevereiro de 1901.
A Ordem original começou a
fragmentar-se, com alguns membros se desligando e fundando suas próprias
sociedades ocultistas. No início de 1903, um grupo liderado por A. E. Waite
assumiu o comando e imprimiu à Aurora Dourada uma nova direção, tornando-a
menos mágica e mais mística.
Essa mudança foi o golpe de misericórdia na
Ordem criada por Westcott e Mathers.
Atualmente, algumas
organizações ocultistas alegam ser a continuidade da Golden Dawn. Mas nenhuma
delas conseguiu restaurar o brilho desse que foi o mais impressionante fruto da
árvore rosacrucianista na Europa.
Como antiga organização
fraternal do mundo, a Maçonaria baseia-se em princípios de honestidade,
bondade e justiça, cujos valores atemporais, que são tão relevantes para o
mundo de hoje quanto provavelmente foram nos idos de séculos XVIII, quando
foram estabelecidos como sistema obediencial e com regras universais.
Esses ideais foram mantidos ao
longo da história da Maçonaria e, provavelmente continuem a fazê-lo,
enquanto a organização prosperar. Mas, é importante notar que, enquanto
mantém estes ideais centrais, a Maçonaria no século XXI tornou-se uma fusão
do antigo e do novo, de tradição e inovação.
Em 856 d.C., se tem notícia da
fundação de Lojas Maçônicas na Inglaterra e na França, com fundamentos
ideológicos e morais, e que representou o desenvolvimento da Maçonaria
filosófica, e foi dessa fonte que dimanou a Maçonaria Moderna.
Em 926 d.C., a Grande Loja de
York foi a primeira que se organizou, obedecendo aos intuitos gerais da
Maçonaria. A ela se filiaram muitos escritores ingleses, soberanos e
príncipes, que por isso pagaram grande tributo.
As corporações construtoras que
podemos considerar maçônicas, passaram a gozar de grandes privilégios por
parte dos poderes então dominantes na Gália e na Grã-Bretanha. Os próprios
papas, então, as protegiam abertamente, reconhecendo suas imunidades, com cujo
procedimento visavam não só a recompensar como estimular a construção de
igrejas e monastérios. Passa, então, a Maçonaria, a exercer grande
influência, não só em sua parte material, pelas construções de edifícios,
como, em sua ação velada, representada em seus Símbolos, em sua campanha
libertadora que foi a sua principal preocupação, desde as origens mais
remotas.
Retomadas as tradições
libertadoras, que sempre foram a razão de ser da Ordem, assistimos ao seu
primeiro conflito na cena moderna, contra os abusos da religião dita da
maioria.
O clero alia-se aos francos,
conspirando contra a população gaulesa. Valendo-se da bajulação, viam-se os
bispos e outros clérigos recebendo os despojos das conquistas de bárbaros,
materializando-se cada vez mais a religião, fugindo cotidianamente das
tradições da humildade do Excelso Fundador do Cristianismo. Na luta contra os
arianos, o que Ihes interessava não era a defesa da Divindade de Cristo, e sim
o patrimônio material, os valiosos despojos dos ricos arianos. Daí começava
a Igreja Romana a adquirir, cada vez mais, esse apego aos bens terrenos, que a
tornaria, séculos afora, a aliada natural de todos os poderosos, em prejuízo
dos fracos e deserdados e dos sentimentos de justiça e liberdade.
Enquanto a Nação é submetida,
e os pobres vassalos dos francos são reduzidos à servidão, os padres tomam
lugar saliente com os conquistadores, no sistema governamental que ambicionava
as vantagens resultantes da riqueza, mas que não se fundava no poder real e
durável. Os padres assentam seu domínio na propriedade territorial, para
tanto empregando, muitas vezes, a violência e obtendo favores dos reis
francos, de cujos espíritos incultos alcançavam donativos, em paga das
promessas do paraíso celestial e outras munificências espirituais. Tão
grande era a porção dos bens da Nação sob seu domínio, que Chilperic II
exclamava: Esses e outros processos semelhantes se estenderam mais tarde à
Inglaterra, aos teutões e a outros povos, de sorte que a religião triunfante
se tornou rico mercado que a nova Roma sugava à vontade. Onde os reis não
haviam aderido monges e padres lhe obtinham esposas da nova fé, donde começa
a aliança que ainda hoje perdura entre a Igreja e a mulher. Na Inglaterra, a
princípio submetida à fé cristã, aonde o entusiasmo dos reis chegou ao
ponto de considerar feliz o dia que tinham de fundar um convento, sim, na
Inglaterra, tão forte era a preponderância sacerdotal, e tão estranhamente
minada do sentimento ortodoxo estava a política, que já não era possível
manter a harmonia entre os poderes temporais e espirituais. Arrastados pela
opinião pública, que via claro o perigo que ameaçava derruir todas as
liberdades e poderes, os reis tiveram de repudiar a tutela indébita de Roma,
limitando-se, apenas, a respeitar a religião, o que aliás não bastava aos
desígnios ambiciosos do clero. Logo Roma se declara em guerra aberta contra a
Inglaterra, e procura restabelecer a perpetuidade do imposto do dinheiro de
São Pedro, que os reis tinham procurado abolir.
Foi em tais circunstâncias que
as sociedades maçônicas se organizaram sob forma durável, de modo que
influenciassem diretamente o conjunto dos fenômenos sociais. Foi então
travada por muitos anos uma luta surda e terrível entre o clero e a
Maçonaria, em virtude de aquele haver postergado seus deveres essenciais. O
ódio do clero contra a Ordem foi aumentando gradativamente.
Transforma-se o púlpito, onde
só se ouvem catilinárias tremendas, excomunhões e maldições contra a
Instituição. A ação maçônica, porém, limitava-se a advertir as
populações sobre seus direitos e deveres, rebatendo a
exploração clerical, que desejava avassalar e dominar o mundo, usurpando-lhe
o ouro e o poder.
O Clero, feroz como sempre,
denunciou, à Corte da Normandia a Maçonaria. A Corte, alarmada, organizou uma
expedição contra os Maçons. Os espiões cumpriam sua missão degradante,
indicando local e hora onde se reuniam os Obreiros da Ordem e todos foram
presos de surpresa.
O ódio que se vinha acumulando
explodiu com extrema violência. Foram os Maçons punidos e, sem qualquer
julgamento, expostos à sanha feroz do clero. E sob a opressão permaneceram
por longo tempo, na inércia, a associação maçônica e o povo escravizados
pelo clero.
A Inglaterra foi alvo de várias
invasões, até que subiu ao trono Eduardo, cujo primeiro ato foi prestigiar a
instituição. Sabemos também que o mesmo fez o conquistador Guilherme, como
prova de que em todas as lutas contra a dominação estrangeira na Inglaterra,
a Maçonaria não cruzou os braços. Esteve sempre no posto, em cumprimento de
patriótico dever. Depois, a Instituição firmou-se na Escócia de onde se
irradiou para todos os países em que sua ação libertadora se fazia mister.
A esse tempo se formava em
Jerusalém uma sociedade denominada de Ordem do Templo ou Templários, como
vulgarmente são conhecidos na História os seus membros. Fundada em 1118
(A.D.). A fé religiosa, tão ardente nessa época, chegando mesmo às raias do
fanatismo, e a glória que esses cavaleiros adquiriam nos seus renhidos
combates contra os muçulmanos, despertavam desmedidas ambições entre os
jovens nobres da época, e as famílias mais insígnes disputavam entre si a
honra de ter representantes em tão ilustre corporação.
Os Templários, cuja origem assim
se explica, adotaram certas tradições que, evidentemente, se reproduziram na
Maçonaria espalhadas em diversas partes da Europa, e com a qual conservaram
vários outros pontos de contato. Seus ideais, em muitos aspectos assemelhavam-
se aos dos Maçons.
Para a recepção de um
templário, o que sempre ocorria à noite, exigia-se ativa vigilância e
rigoroso julgamento. Os deveres religiosos dos templários eram revestidos de
muita severidade, consistindo em assistir ao ofício divino pela manhã e à
noite, fazer determinadas abstinências em quatro dias da semana, jejuar,
adorar solenemente a cruz três vezes ao ano, ouvir missa, dar esmolas três
vezes por semana e, finalmente, receber a comunhão três vezes por ano. Seu
estandarte, branco e negro, tinha por legenda, as palavras da Bíblia:
"Não a nós, Senhor, mas ao Teu Nome damos glória".
A Ordem tomou, em pouco tempo,
extensão prodigiosa. Em 1292, tiveram de retirar-se da Terra Santa, perdendo
finalmente a última batalha.
Jacques De Molay, que havia
sucedido como Grão-Mestre, ao monge Gaudeni, foi chamado à França por
Felipe, o Belo, em 1304, e lá se apresentou acompanhado de 60 cavaleiros
templários. Foram todos encarcerados. Instituído processo, por ordem desse
mesmo rei, foi ele conduzido com revoltante parcialidade, tomando a tortura o
lugar da forma jurídica, quando pretendiam obter confissões comprometedoras.
Muitos presos, vencidos pelo sofrimento sucumbiram. Jacques De Molay, ante a
leitura da sentença que o condenava e a três outros chefes da Ordem, à
reclusão perpétua, disse: É bem justo que em dia tão terrível e nos
últimos momentos de minha vida, descubra eu toda a iniquidade da mentira e
faça triunfar a verdade. Declaro, assim, em face do céu e da terra, e o
confesso ainda que seja para a minha vergonha eterna, que cometi o maior crime
ao declarar aquilo que convinha aos que mal imputam à nossa Ordem; mas atesto,
e a verdade assim me obriga, que ela está inocente. Se fiz declarações
contrárias, foi para suspender as dores excessivas das torturas e para
predispor de outro modo os que nos faziam sofrer. Sei dos suplícios infligidos
a todos os cavaleiros que têm tido a coragem de afirmar a verdade; mas o
espantoso espetáculo que se me apresenta não é capaz de me fazer confirmar
uma primeira mentira, com segunda; a tal condição, renuncio, de todo o meu
coração, o direito à vida.
Em face dessa atitude do
Grão-Mestre e dos seus companheiros, aumentou a cólera de Felipe, o Belo,
tendo convocado um conselho, que durou apenas alguns minutos, imediatamente os
condenou, inapelavelmente, a serem queimados vivos. Foi levantada a fogueira em
uma ilha do Sena, suportando, as vítimas do rei, corajosamente, o suplício,
com impressionante altivez.
Conta-se que Jacques De Molay,
antes de exalar o último suspiro, aprazou o papa e o rei a comparecerem diante
de Deus: o primeiro, para os próximos quarenta dias, e o rei Felipe, para
antes de expirar o ano. Cumpriu-se o singular vaticínio, pois, relata-nos a
História, o papa morreu 27 dias após e o rei tendo as vísceras rasgadas por
um leão, pereceu em 22 de novembro daquele mesmo ano.
O monarca francês se apossou dos
despojos dos templários, como o fizera antes com os dos judeus. Foi então que se deu a
extinção da Ordem, embora aparente, porquanto o Grão-Mestre Jacques, antes
de morrer, nomeara sucessor. Muitos remanescentes dos templários continuaram a
sua obra, embora não abertamente.
Embora não tivessem as mesmas
atividades anteriores, os sucessores de Jacques De Molay agiam mais
filosoficamente, e a própria Maçonaria lhes deu todo o apoio. A História
desses bravos cavaleiros nada mais foi que um capítulo da história
filosófica da Maçonaria.
Do século 14 ao século 18 a
Maçonaria foi-se espalhando por diversas regiões; Itália, Alemanha, Suíça,
Rússia, Escócia, Inglaterra, França etc. Sua atuação sempre era em defesa
das liberdades de pensamento e de consciência, razão por que jamais deixou de
lutar contra o clero e governos despóticos.
Em 1725, simples artigo de jornal
sobre a Maçonaria foi pretexto, em Amsterdã, para forte perseguição aos
Obreiros da paz.
Tal publicação espantou os
Estados Gerais da Holanda, e logo se proibiram as reuniões das Lojas por um
édito formal do Governo. Mas isto não foi senão o prelúdio da grande luta
soprada das trevas, vinda dos bastidores de Roma, cujos resíduos ainda hoje
subsistem entre o clero romano e a instituição maçônica. A perseguição
generalizou-se, ao mesmo tempo em que os Maçons, em Florença, reunidos, a
despeito de um édito do grão-duque, eram perseguidos pelos padres, e feitos
prisioneiros em nome de um inquisidor, enviado especialmente pelo papa.
Os rituais maçônicos são repletos de alegorias e símbolos, extraídos de variadas fontes de sabedorias antigas, que tomam forma como praticas ortodoxicas ou heterodoxicas.
A ORTODOXIA E A HETERODOXIA não
aparecem apenas, por causa dos conteúdos das iconografias do Românico e do
Gótico, no projeto dos templos, as formas e os volumes, sua construção e
seus possíveis conteúdos. Surgem também como consequência das opiniões
contrárias de historiadores e especialistas. Esses diferentes pontos de vista
são obrigatórios em um trabalho cuja pretensão é oferecer, precisamente,
visões distintas e inclusive opostas.. Para a maioria de acadêmicos,
estudiosos da História da Arte e pesquisadores em geral, os conhecimentos que
os grêmios medievais possuíam correspondiam simplesmente ao domínio de seus
ofícios ou profissão e pouco mais. A simbologia e o possível esoterismo de
rituais e cerimônias a eles atribuídos não são mais do que conjecturas,
hipóteses sem fundamento ou inclusive fantasias que foram surgindo com o
tempo, principalmente por causa dos autores Românicos e, sobretudo, da
Franco-Maçonaria, que tem buscado neles argumentos para embasar sua
antiguidade e autenticidade.
Na opinião do academicismo e da
ortodoxia, os membros de tais irmandades foram, e até certo ponto ainda são,
vítimas ou, se preferir, protagonistas de um mito romântico. Segundo essa
linha de estudo, o termo medieval franco-maçom significa construtor ou
pedreiro que trabalha com a chamada "pedra franca", ou seja, aquela
que se podia talhar com facilidade e que não possuía falha alguma. Tal termo
não apresentava relação alguma com a adaptação surgida séculos mais tarde
de certas propriedades ou atributos "maçônicos" de determinados
cerimoniais de uma suposta sociedade secreta.
Um dos germes que provocaram que
tais grêmios se vissem rodeados por uma auréola de secretismo, de
conhecimentos fora do comum que diziam procedentes de tempos remotos, surge em
pleno Renascimento do século XV, quando se chegava a afirmar que o mestre
construtor era, na realidade, um sábio que traçava seus planos segundo
princípios e teorias reconhecidas, cujas bases eram transmitidas ao
construtor, que era quem, na realidade, realizava o trabalho.
A verdade é que o mestre
pedreiro estava na base da obra e colaborava com suas próprias mãos na
realização da construção.
O desconhecimento dos primeiros
tempos, por falta de documentos de suas vidas e dos trabalhos, tem gerado a
ideia de que se tratava de seres anônimos e isso fazia parte do ideário de
cada grêmio. Esse anonimato pode ser facilmente atribuído ao fato de que a maioria
das obras precisava de uma década ou até mesmo de várias gerações para ser
concluída e, por isso, dificilmente poderia ser a obra de um único mestre
construtor. Apesar de tudo, os construtores medievais não eram pessoas
anônimas.
Os mestres pedreiros aparecem em
documentos dos séculos XII a XVI, e, apesar de às vezes serem desconexos,
são variados e boa parte deles é procedente do fim da Idade Média.
Precisamente, foram os próprios construtores que fizeram constar informação
pessoal, contas de gastos, contratação de obreiros e uma gama de dados que
nos permitiu conhecer ou no mínimo ter uma ideia bastante precisa de suas
funções e posição social. Devemos ter em mente que a realização de uma
catedral, por exemplo, precisava de uma administração complexa que durava
muitos anos e devia contar também com um intrincado sistema técnico e
criativo.
Se o universo do símbolo é
extremamente complexo e precisa de um estudo mais aprofundado, logo
comprovaremos como muitos dos signos, que tiveram um significado concreto desde
o princípio, com o tempo perderam a sua essência, convertendo-se na atualidade
em uma simples imagem decorativa, cujo significado se perdeu na lembrança e
deixou de transmitir sua mensagem. Outros mudaram o sentido de sua
interpretação e foram deturpados intencionalmente por causa de interesses de
toda índole, principalmente religiosos. A inversão do significado dos
símbolos vem sendo efetuada há muitos séculos. O estudioso ou um simples
interessado no assunto pode encontrar um signo ou uma imagem com significados
contrapostos como, por exemplo, uma das mais conhecidas e representadas, a do
cavaleiro matando o dragão. O conceito generalizado do espectro é que
simboliza as virtudes destruindo as paixões e os pecados do homem. Essa é a
ideia que tem a imensa maioria dos mortais. No entanto, existem pequenos grupos
esotéricos, ocultistas ou iniciáticos que consideram que as verdades sempre
são falseadas sem importar a cor de quem ostenta o poder.
Para tais grupos, essas
representações são as da intolerância, do pensamento único e de todos
aqueles que não permitem a existência do livre pensador. Para eles, como
muitas outras imagens, a do cavaleiro matando o dragão é a expressão viva do
poder estabelecido que não permite que o conhecimento e a sabedoria alcancem
os seres humanos para lhes mostrar o caminho capaz de transformá-los em seres
livres.
O cavaleiro de armadura
reluzente, cujos reflexos são a imagem da luz, do celestial ou do divino, põe
fim à matéria que se arrasta no mundano com seus desejos, paixões e pecados.
Se invertermos tal interpretação, veremos que tal cavaleiro não é outra
coisa senão o poder do sistema, disfarçado com o traje de luz, como de
hábito, convertendo-se em farol e guia, indicando o caminho que o homem deve
seguir para que cumpra seus desejos de controle, fazendo com que desapareça na
mais completa ignorância. Assim como a serpente ou o dragão, fontes e
símbolos de conhecimento são destruídos. Na realidade, trata-se de uma
imagem contrainiciática. Alguém disse há séculos: "A verdade os fará
livres", e isso é algo muito claro para o poder estabelecido.
Este parágrafo foi simplesmente
uma pequena amostra da extraordinária complexidade do universo do símbolo e
de suas múltiplas interpretações. Entretanto, o mais interessante disso tudo
é que tal multiplicidade de significados apresenta uma coerência suficiente
para ser válida em todos os casos. Os mestres construtores deixaram em sua
iconografia suficientes elementos simbólicos para que se possam efetuar
análises, deduções e interpretações de todos os tipos. Sua riqueza,
variedade e expressividade se apresentam de tal forma que poderíamos passar
longos anos em sua observação e conseguiríamos apenas, caso a sorte
estivesse do nosso lado, desentranhar e compreender uma mínima parte.
Considerando essa ortodoxia e
heterodoxia das imagens dos templos, poderemos comprovar, se nossa observação
for meticulosa, que existem algumas que gesticulam, possuem movimento e parecem
estar transmitindo algo concreto. Uma figura com um livro aberto entre as mãos
pode aparecer mais adiante em nossa jornada com o livro fechado. A ortodoxia
irá nos propor que o significado se trata
de uma insigne personagem local, um santo ou inclusive a figura de um monge
lendo os Evangelhos. No entanto, a heterodoxia intuirá que tal personagem
está "lendo" o Livro da Vida, o conteúdo das imagens representadas
e, assim que aprender a lição ou a mensagem, fechará o livro, sinal de que o
conhecimento que tal iconografia continha já foi adquirido e a importância da
mensagem exige que seu receptor respeite seu teor secreto.
Essa figura com o livro nas mãos
às vezes é substituída por dois rostos, como pode ser observado no friso do
portal de Santa Maria de Narzana, no Principado de Astúrias. Um deles se
apresenta com os olhos abertos, o outro com os olhos fechados. Ambos os rostos
aparecem no início e no final de uma série iconográfica. Se efetuamos sua
"leitura" a partir do rosto com os olhos abertos, estará nos
indicando que devemos seguir um a um os signos representados até chegar
finalmente no rosto daquele que os mantém fechados. Isso significa que nossa
chegada deverá ser feita com nossos olhos bem abertos, para que possamos
assimilar a mensagem que, uma vez aprendida, será pessoal e intransferível e
deverá ser interiorizada, ação representada pelo rosto com os olhos
fechados.
Em contrapartida, se nossa
observação é feita no sentido contrário, os rostos nos oferecerão outro
significado. Teremos chegado ignorantes, com os olhos fechados a outras
realidades. Depois de sua "leitura" e de sua compreensão, não
permaneceremos mais cegos, tendo em vista que, a partir daquele instante,
estaremos em posse de algumas verdades que nos abrirão os olhos para sempre.
O estilo Românico é
provavelmente o que possui maior riqueza iconográfica animal. No capítulo
correspondente, tentaremos penetrar em seu mundo interessante e no de seus
significados. Embora as figuras zoomorfas também não consigam escapar dessa
ortodoxia e heterodoxia. A visão de uma ave se lançando sobre sua presa, para
citar um exemplo, é aparentemente uma cena de falcoaria, uma sequência de
caça ou simplesmente uma cena de sobrevivência. No entanto, mais além existe
um significado oculto e, em consequência, um ensinamento. O espírito celestial
e volátil (a ave) captura a presa (a matéria) para poder se manifestar e
dar-lhe vida. Como vemos, de novo, ambos os conceitos têm validade, segundo o
estado de consciência e nível de compreensão do observador.
A compreensão dos símbolos é
feita por uma leitura interior, pessoal e profunda da realidade como resultado
da identificação entre o sujeito que conhece e o objeto reconhecido. O
símbolo e sua mensagem têm sua razão de ser no instante em que o indivíduo
se relaciona com este e se torna, por assim dizer, o centro desse universo de
chaves, conceitos e conhecimentos. Há seres que recebem impressões e
emoções diante de determinadas imagens e outros que, diante delas, permanecem
indiferentes. Cada qual percebe de acordo com a sua Natureza, seu estado
emocional e seus níveis de consciência. Alguns enxergam apenas o aparente,
outros olham e veem que nada é o que parece. Esse é o poder do símbolo, em
que a ortodoxia e a heterodoxia andam de mãos dadas, e tudo ocorre segundo o
cristal através do qual se olha. Dessa forma, a maçonaria utilizando de
simbologia das mais diversas, ora compreensíveis, ora contraditórias, tem
difundido ao longo dos tempos, a ideia de complexidade da mente humana e
também a necessidade da sua compreensão para manter o convívio pacifico
entre os homens.
Um dos conceitos que predominam,
principalmente entre os maçons jovens é de que a noção de Maçonaria como
uma "sociedade secreta" já está inadequada. A Maçonaria não pode ser para
sempre associada à síndrome da sociedade secreta. Ela não é uma sociedade
secreta, ainda que em caso de perseguição tenha tendido a ser discreta. Mas,
uma sociedade saudável promoverá maior abertura e compreensão para todos.
Não é salutar a Maçonaria se esconder, pois entendemos que não existem mais
segredos do ofício a defender.
Ser um maçom na sociedade
pluralista de hoje é muito diferente da que em relação ao início do século
XVIII, quando a Maçonaria foi organizada pela primeira vez. A Maçonaria nos
dias atuais deveria estar se movendo, a fim de demonstrar seu verdadeiro papel
e relevância na sociedade contemporânea, dissipando mitos, desafiar
equívocos comuns e demonstrar sua verdadeira abertura, demonstrando os
aspectos da transição já em andamento.
Há uma necessidade atemporal e
universal de as pessoas estabelecerem um sentido de grupamentos afins, isto é,
sentirem-se enraizadas em uma comunidade de outros. Na hierarquia influente de Abraham
Maslow das necessidades humanas, nossas exigências de contato social vêm
depois somente das necessidades fisiológicas (ar, alimento, água e sono) e de
segurança. Sem o vínculo social, de acordo com seu modelo, um sentimento de
estima pessoal e o que ele chama de "auto realização" – atingir nosso pleno
potencial – são impossíveis. Desde o tempo do estudo de Maslow, pertencer a
um grupo e a centralidade que isso desempenha em nossas vidas representa uma
grande parte da psicologia social. Roy Baumeister e Mark Leary, por exemplo,
destacam que "A necessidade de pertença social, de nos vermos como socialmente
conectados é uma motivação básica do ser humano." Eles continuam observando
que "um senso de conectividade social prevê resultados favoráveis... a
percepção da disponibilidade de apoio social melhora a saúde física e
mental." Gregory Walton e Geoffrey Cohen assumem uma linha semelhante,
examinando as maneiras em que um forte senso de identidade de grupo melhora o
desempenho e o bem-estar em uma variedade de contextos. Muitos outros neste
campo têm discorrido com mais detalhes sobre as maneiras em que os laços
sociais são estabelecidos e as consequências negativas que surgem da
alienação social ou simples solidão. A conclusão é de que "O homem é um
animal social" embora pareça soar um tanto banal, mas é a verdade.
Como muitos outros aspectos
fundamentais da condição humana, é provável que a nossa necessidade de
afiliação social esteja implantada em nossos cérebros – não temos de
aprender a partir do zero a buscar um sentido de pertença, nós o fazemos
naturalmente. Conforme Mary Ainsworth e muitos outros pesquisadores destacam,
essa propensão inata para o estabelecimento de laços sociais teve benefícios
distintos para a sobrevivência e reprodução, por exemplo, a partilha de
alimentos, parceiros em potencial, ajuda e cuidado com a prole, proteção
contra rivais e uma maior eficácia na caça.
Na Maçonaria o potencial para
forte filiação e amizades duradouras é uma das principais atrações que
todos os maçons identificam. Tal vínculo, contudo, é uma questão totalmente
masculina, encapsulada no conceito de amor fraternal. Na sociedade
contemporânea, onde instituições de gênero único desapareceram amplamente,
o fato de que a adesão à loja é restrita a homens, e que aqueles vínculos
maçônicos têm a ver somente com "irmãos", pode parecer anacrônico. "Vínculo masculino", no entanto, tem suas raízes em um período anterior da
evolução humana, ou seja o período Paleolítico Superior ou Idade da Pedra
Tardia, cerca de quarenta mil a cem mil anos atrás.
A Idade da Pedra Tardia foi a era
das tribos de caçadores-coletores e durante este período a maior parte dos
processos formativos que moldaram as formas em que nossos cérebros evoluíram
e nossos comportamentos consequentes eram evidentes. Este período, anterior ao
desenvolvimento da agricultura, é muitas vezes referido como aquele de "comportamento moderno", pois vemos nele
provas para o desenvolvimento de padrões de comportamento que são
surpreendentemente semelhantes aos de hoje. Podemos pensar que somos agora
muito diferentes do que éramos quando sobrevivíamos e prosperávamos através
de caça e coleta, mas, na verdade, evoluímos muito pouco como uma espécie
desde aqueles tempos. O papel das mulheres (principalmente), como coletores de
frutas silvestres, nozes, etc., e dos homens (principalmente) como caçadores
de proteína animal, lançou as bases para a separação de papel dos gêneros
que ainda molda nossas vidas. Os homens tornaram-se caçadores por causa de sua
(pequena) vantagem fisiológica sobre as mulheres em termos de força física e
velocidade de corrida. Através da seleção natural, essas diferenças foram
reforçadas e refletidas nas formas em que as comunidades Idade da Pedra Tardia
se organizaram. É este legado de longa data de vínculo masculino, argumentam
Tiger e outros, que sobrevive em tempos modernos, de várias formas.
Isso não quer dizer que
vínculos entre mulheres eram e são menos fortes. Fraternidades masculinas
são espelhadas por irmandades femininas de todos os tipos – desde o Instituto
das Mulheres até redes sociais femininas menos formais.
Existe um consenso generalizado
de que existe uma forte necessidade de pertencer a algum lugar ou pessoas
definíveis. Para alguns, um sentido de identidade era motivado, sobretudo pelo
sentimento de pertença à família, enquanto que para outros, e a maioria,
eram suas redes sociais de amigos que eram mais dominantes neste contexto. O
conceito de amigos fundamentais é aquele com o qual muitos de nós estamos
familiarizados, e que certamente fez coro com muitos dos maçons com
quem falamos. Amigos íntimos, ao que parece, são aquelas relações especiais
que são seguras o suficiente para não exigir contato diário. Eles são
construídos sobre uma base de experiências comuns, valores compartilhados e
circunstâncias. Encontrar-se com amigos íntimos foi descrito por membros dos
grupos focais como semelhante a "voltar para casa".
Mas, quando vemos atentamente o
desenvolvimento do ritual maçônico, principalmente quanto a interpretação
dos símbolos e alegorias, vemos a dualidade presente constantemente, no
sentido de demonstração de paradoxos constantes na vida humana.
Temos que compreender que a essência
do ser humano enquanto no convívio em loja, se resume em energia, que pode ser
individual ou coletivo na forma de egregora maçônica.
Tudo o que sabíamos, ou
pensávamos que sabíamos sobre a natureza da matéria e energia no final do
século XIX acabou sendo contestado. Descobriu-se que a mecânica newtoniana
era inadequada para a compreensão de muitos fenômenos físicos,
particularmente os fenômenos da radiação de corpo negro, efeito
fotoelétrico e espectros de linha óptica.
Esses fenômenos foram
investigados pelos Srs. Max Planck, Albert Einstein e Niels Bohr,
respectivamente e levaram ao desenvolvimento do modelo orbital do átomo de
Bohr. Enquanto o modelo de Bohr explicasse com sucesso os três fenômenos
físicos principais que não eram anteriormente explicáveis pelas equações
clássicas de Newton, permaneceram ainda outros fenômenos que iludiram o
conhecimento científico. Daí, o referido trabalho de Heisenberg e
Schroedinger, que resultou em uma versão totalmente nova e muito melhor do que
hoje chamamos mecânica quântica.
Uma mudança tão surpreendente
em nossa compreensão científica do universo ocorreu muitas vezes antes,
conforme demonstrado pelo trabalho de Galileu Galilei. A humanidade resistiu a
verdade então, e provavelmente sempre será lenta ao reconhecer qualquer
verdade que contradiga a convenção.
A teoria quântica indica que
fótons são, simultaneamente, onda e partícula; que Quanta simultaneamente
existe em todos os estados possíveis do ser e se resolvem em um único estado
físico apenas diante da observação, medição ou interação. Qualquer
tentativa de visualizar Quanta em uma maneira significativa torna-se nublado
pelo paradoxo de seu comportamento desconcertante. Por exemplo, no experimento
de dupla fenda, os físicos descobriram que se eles colocassem um fóton (bit
quântico) detector em uma fenda, eles obtinham uma medição. No entanto, se
eles, em seguida, inserissem um outro detector na segunda fenda, nenhuma
medição aparecia. Se eles, em seguida, alterassem a configuração para medir
primeiro a segunda fenda, eles não obtinham qualquer medição na primeira
fenda. A experiência de "grande universo" isso não faz muito sentido; no
entanto no universo quântico, isto é o que de fato acontece.
Teóricos quânticos nos dizem
que uma vez que dois Quanta tornam-se "emaranhados" (conectados) eles
permanecem ligados independentemente de quão distantes estejam. Por exemplo,
suponhamos que temos dois bits quânticos emaranhados, e colocamos um no polo
norte da terra e outro no polo do Sul da terra. Se medirmos o comportamento do
bit no Polo Norte, o bit no Polo Sul torna-se imensurável e vice versa. Para a
humanidade o conhecimento que estamos ganhando do fenômeno quântico terá
enorme impacto sobre nosso entendimento de coisas tais como a forma como o
cérebro funciona, como a vida pode ter evoluído na terra, e até mesmo a
criação do universo.
A teoria quântica também
fornece percepção surpreendente sobre o colapso de Quanta em matéria e
energia. Por colapso entende-se à transformação de Quanta de uma condição
de infinitos estados possíveis do ser em um estado específico entre todas
essas possibilidades, e que é desencadeado por interação. Uma vez que os
Quanta são convertidos de uma situação de potencial em um estado de ser
físico por interação, que realiza a interação? É o GADU, ou é o homem?
Se é o homem, como essa interação ocorre? Através de oração consciente?
Através de ritual? Talvez o papel histórico de cientistas como líderes na
Maçonaria e a importância da ciência para a Maçonaria reflita uma
compreensão da relação estreita entre os reinos físico e quântico.
Curiosamente, artigos discutindo a teoria quântica tais como a previsibilidade
de Heisenberg em eventos quânticos e o princípio complementaridade de Bohr
começaram a aparecer em revistas maçônicas já em 1988. Embora nem todos os
paradoxos possam ser atribuídos aos
fenômenos quânticos, pode-se facilmente argumentar que muito do paradoxo no
mundo físico e no mundo espiritual realmente pode ter uma conexão quântica.
O Irmão Victor Popow na oficina
Maçônica de Primavera de 2003 na Loja The Delta em Kananaskas, Alberta,
apresentou uma interessante paráfrase de um antigo paradoxo:
"Só uma coisa é certa – que
nada é certo; se esta afirmação é verdadeira, ela também é falsa". A
humanidade compreendeu a muito tempo o paradoxo e alguns fenômenos de nível
quânticos e incorporou extensivamente essa compreensão em sua literatura,
arte, religiões e tradições culturais. Na literatura, "A tempestade" de
Shakespeare representa o paradoxo que existe entre natureza e a sociedade no
caráter de Caliban. O infeliz Caliban, metade homem e metade peixe realmente
é nenhum dos dois e ainda assim é ambos; uma aparente impossibilidade.
O Irmão Robert Louis Stevenson
em seu romance ―Doutor Jekyll e Mr. Hyde‖ retrata a natureza paradoxal da
humanidade através de sua personagem principal, que manifesta tanto a
personalidade do bem quanto do mal. Na verdade, a existência do bem e do mal
no mundo é um dos temas mais comuns na literatura e da arte em geral. Na
ópera maçônica, ―A flauta de mágica‖, Papageno acompanha Tamino na câmara
de reflexão e é colocado lá para ser testado. Papageno falha nestes testes
miseravelmente, mas apesar disso é surpreendentemente recompensado numa prova
de um paradoxo óbvio.
Ao longo da história da
religião, existem deidades em uma infinidade de culturas a quem se atribui a
qualidade paradoxal de ser deus e homem – perfeitamente divino e ao mesmo tempo
perfeitamente humano. Exemplos que vêm à mente incluem Osíris, Mitra e,
naturalmente, Cristo. Na cultura judaico-cristã, o caráter paradoxal está
presente sob a forma do temível Deus do Antigo Testamento, que se torna o
amantíssimo, complacente Deus no Novo Testamento. Pode-se ate mesmo alegar que
paradoxo expresso nos diferentes VLS da humanidade servem como mecanismos
propositais para a percepção teológica (e infelizmente para conflito
teológico).
O filósofo Zenão de Eleia (c.
490 a.C.) é identificado em Parmênides de Platão como tendo listado 40
"paradoxos da pluralidade" para mostrar que o pluralismo ontológico (uma
crença em múltiplas existências, em vez de uma única existência) leva a
conclusões ilógicas. Aristóteles atribui dois paradoxos adicionais a Zenão e
contribuiu, ele mesmo, com muitos outros para a listagem original de 40.
Teofrasto, sucessor de Aristóteles, escreveu três rolos de papiro, sobre o paradoxo do mentiroso, e o filósofo estoico Chrysippus escreveu seis. Há referências ainda mais antigas do reconhecimento do paradoxo pela humanidade. Pitágoras (c. 1788 a.C.) encontrou o paradoxo durante sua busca pelo denominador comum.
Teofrasto, sucessor de Aristóteles, escreveu três rolos de papiro, sobre o paradoxo do mentiroso, e o filósofo estoico Chrysippus escreveu seis. Há referências ainda mais antigas do reconhecimento do paradoxo pela humanidade. Pitágoras (c. 1788 a.C.) encontrou o paradoxo durante sua busca pelo denominador comum.
O paradoxo, então, é uma
condição bastante reconhecida e algo com que a humanidade, tanto antiga
quanto moderna, dedicou mais do que pouco de tempo lutando.
Enquanto maçons, a própria
história e a natureza da loja são paradoxais. Afinal somos uma ciência
especulativa, fundada sobre arte operativa; nós exibimos tanto um aspecto
esotérico embora nossos ritos, sinais e símbolos e um aspecto exotérico
através de nossos projetos comunitários. Também é um pouco paradoxal que a
Maçonaria, com sua abundância de ritual místico e alegórico florescesse no
período do Iluminismo quando a razão era a força dominante na ciência e na
sociedade. A natureza paradoxal da Maçonaria no que se refere à tradição
Hermética tem sido uma fonte de interesse de autores e pesquisadores
maçônicos. Os Srs. Albert Gallatin Mackey, H. L. Haywood em sua Enciclopédia
de Maçonaria destacam que a Maçonaria representa um paradoxo como uma ordem
de origem ortodoxa, mas que foi obrigada a se reunir em segredo, com meios
encobertos de identificação e portas vigiadas, ou como afirmou o Ir. ́. Tom
Driver, autor de "Ritos Libertadores"..."O Ritual está em contradição com a
sociedade, enquanto ao mesmo tempo é uma parte dela."
Exemplos de nossa familiaridade
com o conceito de paradoxo quântico proliferam no ritual maçônico e
especialmente no simbolismo do Craft. Um exemplo encontra-se em nosso ritual de
iniciação de loja azul, em que o candidato é questionado sobre seu calçado
e vestuário durante sua iniciação. O leitor recordará sem dúvida que a
resposta esperada é paradoxal, embora perfeitamente verdadeira. A repetição
desse paradoxo (com modificação apropriada) durante todos os três graus deve
alertar o candidato sobre a presença do paradoxo em nossa alegoria e simbolismo e ainda mais
alerta-lo para uma verdade subjacente encontrada (escondido) no paradoxo à
medida que o ritual e as palestras subsequentes evoluem.
Em seu comentário sobre uma
pintura de Alessandro Botticelli mostrando os dois Santos João juntos, o Ir.´. Stuart Gregory salienta que no simbolismo maçônico (i. e. O Ponto dentro
de um círculo) experimentamos o paradoxo em nossa perspectiva destes dois
santos padroeiros maçônicos.
"Do ponto de vista maçônico nos
é dado o dualismo equilibrado de João Batista em um lado e João Evangelista
do outro. Representados juntos, desta forma eles representam o equilíbrio da
fé apaixonada com um conhecimento esclarecido de fé. Fortes individualmente,
juntos eles significam um foco controlado em zelo e o conhecimento."
"Um exemplo extremamente
pertinente de uma conexão entre fenômenos quânticos e simbolismo maçônico
pode ser encontrado nos dois pilares (J B) significando a dualidade ou
polaridade como duas forças em toda a criação. Mais paradoxo é encontrado
representado pela Águia de duas cabeças no Rito Escocês para o que se afirma:
"Em geral, seu significado
simbólico no Rito Escocês é o da dualidade contida em, ou resolvida na
unidade. Assim, entre muitas outras coisas, ela nos lembra que o homem, sendo
apenas um ser, é composto de corpo e espírito; que ele é ao mesmo tempo temporário
e eterno; que tanto o bem quanto o mal existem no mundo e que devemos sempre
fomentar o bem enquanto nos opomos ao mal. Ela também nos lembra que o
conhecimento vem do estudo e do conhecimento; que temos obrigações tanto para
nós mesmos e quanto para os outros, e que tanto a fé quanto a razão são
necessárias."
O que nos diz a presença do
paradoxo em nosso ritual e simbolismo? Acredita-se que uma resposta a esta
pergunta é que ela nos comunica a complexidade do universo em que a humanidade
existe, um universo que está além da capacidade de nossos sentidos e nossas
mentes de perceber ou compreender diretamente em termos "racionais". Por
"racional", quero dizer em termos de nossa experiência adquirida pela
observação direta em nosso próprio mundo limitado. O paradoxo presente no
simbolismo e ritual do Craft é proposital e se destina a ser instrucional em
um nível além da racionalidade, e para nos ensinar que a nossa incapacidade
de racionalizar o paradoxo não significa que paradoxo não represente a
verdade. Em última análise, aceitação do paradoxo como verdade é
necessária para e talvez seja essência da fé.
O FUTURO DA MAÇONARIA
Vimos que a Maçonaria tem, em
sua raiz, os preceitos morais e modos de conduta que estão longe de estar em
desacordo com a sociedade em geral. Poucos questionariam a ênfase da
organização na comunhão, filiação e o desejo dos maçons individuais de
ser "as melhores pessoas que puderem ser" – um desejo que muitas vezes se
manifesta através do trabalho voluntário que muitos empreendem, apoiando os
membros menos favorecidos de suas comunidades.
Interações sociais de rotina, a
forma como abordamos as pessoas, a maneira pela qual expressamos deferência e
conduta e apresentamos as nossas personagens são, em todas as sociedades
humanas, altamente ritualizadas.
Os rituais maçônicos são,
talvez, mais elaborados do que experimentamos na vida social e familiar
cotidiana. Eles assumem a forma de peças teatrais de um só ato – cada um dos
quais se refere alegoricamente a preceitos morais e formas de comportamento em
relação aos outros. Eles são, num sentido muito real, parecidos com
parábolas – histórias amplamente fictícias que destacam questões
importantes, tais como a necessidade de perdão ou de usar o dinheiro
sabiamente.
Questiona se então, o futuro da
Maçonaria, e o que mais ela poderia fazer para finalmente eliminar os mitos
que têm persistido por tanto tempo, e garantir que a sua relevância na
sociedade contemporânea seja mais facilmente reconhecida e entendida. Algumas
respostas a essas indagações surgiram após alguns questionamentos a maçons.
Uma área de consenso ficou
evidente que destacou um novo capítulo de abertura e transparência que estava
sendo defendido nos níveis mais altos da organização. Houve uma forte
evidência de que este espírito de abertura estava se filtrando até os
maçons "̳comuns" por todo o país, que estão cada vez
mais felizes em declarar sua adesão quando sentem que fazer isso é relevante.
Ressaltaram que estavam igualmente motivados para introduzir as comunidades
locais em suas lojas e desempenhar um papel mais amplo em seus bairros.
A Maçonaria precisa se abrir
para a comunidade, ser mais transparente sobre as razões de nossa existência.
Precisamos aceitar que existem certas coisas que alguns podem considerar
peculiares ou diferentes sobre os maçons. A chave é conscientizar as pessoas
de que trazemos o bem para a sociedade, precisamos destacar as coisas que
estão acontecendo na Maçonaria hoje, e todas as coisas boas que fazemos para
a sociedade e toda a ajuda que oferecemos às comunidades locais. Tais
sentimentos foram enfatizados por vários maçons, mas com reservas sobre uma
mudança excessiva e rápida demais.
Este comentário foi muito
típico:
“Acho que devemos ser um pouco
mais abertos e tentar levar as pessoas a entender o que fazemos e, talvez,
incentivar alguns a ingressar. Há algumas pessoas boas lá fora... alguns
deles dariam bons e alegres maçons. Isso é algo que eu acho que poderíamos
visar no futuro. Fora isso, estou razoavelmente feliz com do jeito que está.”
Houve alguma preocupação com a
perda de carácter distintivo da Maçonaria à medida que a organização se
"moderniza" e, em particular, a necessidade de preservar os seus rituais e
tradições únicos: isso dá uma sensação de eternidade a ela. É algo que é
um pouco mais substancial do que algumas das modas e modismos que você vê por
aí.
Um dos pontos fortes da
Maçonaria é a manutenção de suas tradições e o fato de que isso não muda
rápido demais.
Este fato proporcionou alguns
tipos de respostas;
"Fiquei encantado com a [nome da loja], sua história e seu ritual. Ela tem uma história extremamente rica."
"Eu não gostaria de mudar o ritual".
"Eu acho que há mérito definitivo em reter alguma da mística."
Houve um consenso igualmente
forte em relação à retenção dos princípios fundamentais da Maçonaria, a
fim de preservar o seu carácter distintivo:
À medida que consideramos o
futuro mais amplo da Maçonaria, talvez seja útil dar uma olhada de volta ao
início do século XVIII, quando principiava era a Idade da Razão – uma época
em que as superstições da Idade Média estavam sendo substituídas por formas
mais racionais de discussão e debate e consideração dos dogmas religiosos.
Foi também um momento de rápido progresso nas ciências naturais. O campo da
astrologia, por exemplo, foi sendo gradualmente substituído pelo da astronomia
– uma abordagem genuinamente científica para entender o funcionamento do
cosmos que ia muito além dos dogmas religiosos e seculares. Isaac Newton,
considerado por muitos como um maçom, ainda estava vivo e seu influente
Principia Mathematica estava em grande circulação. O novo espírito de
investigação científica em breve seria evidente nos trabalhos de importantes
estudiosos como Henry Cavendish e Michael Faraday. Movimentos similares se
afastando do "̳pensamento da velha
escola" eram evidentes na filosofia que se tornou quase um sinônimo de
pensamento "científico"‖ na época do Iluminismo em meados do século XVIII.
Central para esta escola eram as noções de liberdade, democracia e, acima de
tudo, razão que se mantinham como desafios às interpretações literais da
bíblia e noções como o "direito divino dos reis". Noções de verdadeira
moralidade estavam agora, talvez pela primeira vez, abertas ao debate genuíno.
Hoje, é claro, tomamos como
certeza a ciência e o racionalismo em uma nova era de inovação tecnológica
e desenvolvimento sem precedentes. No século XVIII, entretanto, a turbulência
que acompanhou a nova ordem, após a Guerra Civil Inglesa de meados do século
XVII, e num momento em que o Reino Unido tinha apenas uma década de idade, era
sentido mais fortemente. A Maçonaria "moderna" em que os '̳Antigos‘ que haviam inicialmente rejeitado
sua autoridade iriam logo ser integrados, oferecendo o que alguns historiadores
veem como um "refúgio seguro" para os livre pensadores.
O historiador chileno e
israelense da Maçonaria Leon Zeldis diz:
"A loja maçônica era um
refúgio de paz e tranquilidade em um momento de incerteza política, quando a
memória da guerra religiosa estava fresca na memória de todos os homens,
quando as primeiras descobertas e invenções estavam transformando a economia
e abrindo novas perspectivas de progresso, quando
a esperança de que a racionalidade e o humanismo baniriam do coração dos
homens os males do fanatismo e da intolerância.”
Esses sentimentos têm clara – e
talvez até maior – ressonância nos dias de hoje. Infelizmente, exemplos de
"fanatismo e intolerância" estão à nossa volta, na forma de atos extremistas
e sectários de violência em todo o mundo, destacados com muita frequência
pelos meios de comunicação internacionais. Eventos também em grande parte no
Oriente Médio nos lembram diariamente da fragilidade das ordens políticas
baseadas em dogma e elitismo, ao invés de noções de democracia, liberdade e
razão. Transformações em nossa própria ordem econômica – algumas
positivas, outras bastante desastrosas – são ainda mais diretamente sentidas.
Tudo isso pode nos levar de volta ao papel e a relevância da Maçonaria no
contexto moderno.
A alegria da Maçonaria é que os
membros vêm de todas as raças, religiões e todos os níveis socioeconômicos
da sociedade. Assim, na verdade você ter um mix completo de pessoas sentadas
lado a lado em harmonia e igualdade. O nível de conflito hoje em um mundo em
rápida mutação está claro, e só podemos esperar que a crise atual leve a
uma nova ordem mundial, mais estável e mais pacífica.
Tais sentimentos soam bem com os
do Centro Roosevelt para o estudo da Sociedade Civil e Maçonaria nos Estados
Unidos:
"Na ausência de nobres objetivos
públicos, líderes respeitados, e a competição respeitosa de ideias, existe
a preocupação de uma sociedade civil em rápida erosão ou pelo menos uma
sociedade civil e esfera pública em mutação que precisam ser mais bem
compreendidas‖. Olhando para o passado como um guia útil para explicar o
presente, o Centro destaque que:
"A Maçonaria estava lá, nas
origens da moderna sociedade civil, muitas vezes como a única organização
onde poderia haver discussão livre, sem medo de censura e controle
autoritário‖. O Centro Roosevelt vai mais longe, sugerindo que a Maçonaria
pode ser uma força para o bem no contexto do desenvolvimento social,
insistindo que ela pode ajudar a conduzir a discussão e o debate -, bem como
escutar – com a participação de tantas outras ao redor do mundo. E prossegue,
para concluir:
"A preocupação tradicional da
Maçonaria com a filosofia comparativa e o pensamento, a tolerância de outras
pessoas, filantropia e boa vontade, têm uma contribuição a dar no que se tornou
um diálogo global, da mesma forma em que deu importantes contribuições no
século XVIII. Ao mesmo tempo, a Maçonaria tem muito a aprender em envolver
mais a sociedade civil como o fez tão bem na época do Iluminismo,
aproveitando e fazendo avançar ideias sobre a cultura impressa e o fluxo livre
e aberto de informações".
O contínuo compromisso da
organização com a abertura e a transparência, uma área em que há
evidências de progressos significativos, é tão fundamental para a sua contínua
relevância e valor no século XXI como o era no século XVIII.
É, naturalmente, possível que
se tornar um maçom aumente a conscientização das pessoas em necessidade e
incentive um papel mais ativo na comunidade, como muitos maçons relataram. Em nível
coletivo e não individual, a Maçonaria dá contribuições muito
consideráveis para a beneficência, com os maçons salientando que todo o
dinheiro arrecadado vem diretamente de seus próprios bolsos, ao invés de
coletas de rua ou qualquer outro tipo de captação de recursos externos. Do
dinheiro arrecadado pela Grande Beneficência dos Maçons, cerca de metade é
doada para causas não maçônicas, em nível local, nacional e internacional.
A relevância e o impacto de tal atividade beneficente contínua precisam ser
visto no contexto da iniciativa ―Big Society‖ atual que está sendo tentada
pelo governo de coalizão. Independentemente de posição política aqui, é
claro que isso resultará em uma diminuição da contribuição do Estado em muitas
áreas da vida das pessoas, e um foco correspondente crescente na prestação
de serviços por organizações do terceiro setor e através de os cidadãos
serem obrigados a prestar assistência uns aos outros.
Essa transformação já está
sendo sentida. O senso de "dever" de um indivíduo ou vontade de doar tempo ou
dinheiro para ajudar as pessoas menos favorecidas não é, contudo, algo que
pode ter aplicada a engenharia social ou ser conseguido através da
manipulação política ou legislação. É algo que emerge naturalmente
através de fortes laços sociais ou familiares com pessoas de mentalidade afim
que compartilham códigos morais comuns. É neste sentido que a Maçonaria e as
suas raízes históricas na benevolência humanista e a rejeição da
intolerância, sem dúvida a tornam mais
relevante hoje, em tempos de incertezas econômicas e sociais, do que jamais
foi.
O que atrai os maçons para a
Maçonaria varia enormemente, como vimos anteriormente neste relatório. Alguns
são atraídos pelas amizades que eles fazem e o sentimento de pertencimento
que ela infunde; outros pelo !empurrãozinho! que a Maçonaria oferece para
viver uma vida mais altruísta.
Outros, ainda, serão atraídos pelos rituais
da maçonaria.
Muito parecido com os próprios
rituais, no entanto, a Maçonaria pode merecer um olhar mais atento para se
compreender e aprecia-la mais plenamente, e sua relevância e papel atual.
Se a Maçonaria é capaz de
concluir com sucesso a sua ̳'revolução
silenciosa‘, enquanto ao mesmo tempo garante que suas características centrais
sejam mantidas para preservar o "espírito" verdadeiro da Maçonaria, então o
seu futuro pode muito bem ser assegurado.
REFERENCIAS
1. Ivan Domingues; A filosofia no
3º milênio: o problema do niilismo absoluto e do sujeito- demiurgo; I N T E R
A Ç Õ E S; Vol. 5 — Nº 9 — pp. 27-48, JAN/JUN 2000
2. Escolas Iniciáticas;
http://www.espiritualismo.info/contato.html, acesso 2013
3. Maçonaria e judaísmo;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ma%C3%A7onaria; acesso 2013
4. J. Filardo; O Futuro da
Maçonaria na Inglaterra; The Social Issues Research Centre; 2012
(tradução)
5. Xavier Musquera; as chaves e
simbologia na Maçonaria – ocultismo medieval- os segredos
dos mestres construtores; Ed.
Masdras, 2010, São Paulo, pp 33
6. J. Filardo; O Paradoxo em
Ciência, Vida e Maçonaria; William Steve Burkle KT, 32° Scioto
Lodge n o 6, Chillicothe, Ohio;
http://bibliot3ca.wordpress.com/o-paradoxo-em-ciencia-vida-
e-maconaria/
7. Jorge Buarque Lira; As Vigas
Mestras da Maçonaria; Ed. Trolha, 4a edição, 2012, Londrina,
pp 47-57
8. Rosa Cruz;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa-Cruz_(desambigua%C3%A7%C3%A3o);
acesso 2013
9. Xavier Pasquini; Secularismo,
uma bandeira da Maçonaria Tradução José Antonio de Souza
Filardo; (edição original:
Novembro de 2001); http://bibliot3ca.wordpress.com/secularismo-
laicidade-laicismo-uma-bandeira-da-maconaria/; acesso 2013
*
Trabalho do Ir.’. Paulo Tomimatsu apresentado no SEMAC/2013 Seminário Maçônico de Aprendizes e Companheiros realizado dia 19 de outubro de 2013 na Loja Regeneração 3ª em Londrina (Todos os trabalhos apresentados naquele Seminário, estão sendo divulgados no JB News)
Fonte: JBNews – Informativo nr. 1.156
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