Em 11.07.2022 o Respeitável Irmão que se identifica apenas como Samuel, Loja Tabernáculo, 3418, REAA, GOB-SP, Oriente de São Paulo, Capital, apresenta a seguinte questão:
CERTIFICAÇÃO PELOS VIGILANTES.
Uma dúvida sobre a abertura dos trabalhos no REAA. Na parte onde há a verificação se todos os presentes são maçons, vejo que nos graus 2 e 3 os Irmãos de ambas as Colunas se viram para o Oriente, de modo a não saber como o irmão de trás está posicionado, e os Vigilantes conferem um a um (quando não ocupam cargos). Mas no 1º Grau não há uma explicação sobre se os Irmãos das Colunas ficam de frente para onde já estão posicionados ou se viram-se para o oriente. Qual seria a posição dos irmãos na hora da conferência pelo 1º Vigilante?
CONSIDERAÇÕES:
É uma questão de prudência em relação aos outros dois graus subsequentes.
No tocante ao REAA, conforme o ritual no 1º Grau, o 1º Vigilante faz a verificação de forma coletiva no Ocidente. Vale destacar que por questão iniciática no Oriente, por ser o lugar da Luz, não existe telhamento.
Por se caracterizar como a primeira etapa do aprendizado, durante essa passagem litúrgica ainda não há exame individual, bastando que cada um do seu lugar se apresente ao Vigilante ficando à Ordem. Por não existir nessa ocasião reconhecimento individual é que no 1º Grau não há necessidade de que todos os Irmãos do Ocidente se voltem para o Oriente. O examinador, nesse caso, é apenas o 1º Vigilante que, do seu lugar, no extremo do Ocidente faz a verificação visual.
Iniciaticamente isso implica que o Aprendiz, ainda em início de jornada, representando a infância - do homem e da humanidade – sem discernimento suficiente, não tem liberdade para se deslocar livremente pelo Ocidente da Loja – não está habilitado profissionalmente para trabalhar no Sul. Graças a isso é que o Aprendiz não tem Pal∴ de Pas∴.
Isso pode ser melhor compreendido em se fazendo, ainda que forma sintética, uma abordagem histórica sobre as nossas origens.
Desse modo, nos tempos da Maçonaria Operativa (nossos ancestrais desde o período medieval) não existiam graus especulativos, todavia eram classes profissionais, das quais somente a classe dos Aprendizes Admitidos e a dos Companheiros de Ofício.
Na época dos nossos antepassados a Loja (oficina, corporação de ofício profissional) era dirigida por um Companheiro dos mais experimentados.
Ele geralmente era escolhido pela sua habilidade profissional, bem como pelo seu senso de liderança e organização, pesando também, às vezes, até a sua condição econômico-social.
A esse Companheiro designava-se o título de Mestre da Obra, não da Loja, a despeito de que ele era na verdade um Companheiro Maçom escolhido entre os demais de uma mesma corporação profissional. Não existia na época o grau especulativo de Mestre Maçom, portanto a Loja (canteiro de obras), como visto, era constituída por Aprendizes e Companheiros, somente.
Vale lembrar que no período operativo, ou do ofício, as Lojas eram criadas com o fim único de construir uma determinada catedral, igreja, mosteiro, abadia, dentre outros. Geralmente se reuniam nos adros das igrejas e mais tarde também em tabernas e hospedarias.
No período medieval era uma corporação de ofício contratada para construir para a Igreja Católica (clero). Essas guildas de construtores privilegiados a partir do século XIII ficariam conhecidas como Franco-maçonaria.
Assim, na época dos nossos ancestrais os Aprendizes geralmente permaneciam reclusos ao canteiro de obras (sigilo profissional) e não tinham ainda permissão para se locomover à procura de trabalho. Por ser um negócio altamente lucrativo, os planos da obra eram cuidadosamente guardados e eram de fato verdadeiros segredos conservados pelas corporações.
O caráter de liberdade para o maçom aprendiz (protegido pelo Mestre da Obra) somente ocorreria após a sua ascensão profissional e também depois do pagamento pela carta que lhe autorizava, como maçom, agora livre, a viajar em busca de novos contratos de trabalho – era mesmo um negócio profissional.
Os maçons livres eram, em linhas gerais, os Companheiros do Ofício que, habilitados na forma de costume, recebiam também sinais e uma palavra de passe para “pedir passagem” pelas diversas corporações que atuavam naquela época em cantarias construindo catedrais e similares, principalmente no Norte da França e Alemanha, assim como na Irlanda, Escócia e Inglaterra.
Após o declínio da Franco-maçonaria e o florescimento da Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, por volta do século XVII, a Moderna Maçonaria (primeiro quartel do século XVIII), por intermédio de alguns dos seus ritos, revive no simbolismo através de suas práticas ritualísticas essas velhas tradições.
Por exemplo, no caso do REAA e as verificações pelos Vigilantes, essa lembrança é revivida no segundo dever de um Vigilante quando das providências tomadas para se abrir uma Loja.
Assim, em Loja de 1º Grau, onde o Aprendiz iniciaticamente representa a infância e por isso simbolicamente possui restrição de mobilidade, para se identificar com tal à distância para 1º Vigilante, o faz do seu lugar e apenas pelo seu respectivo sinal, enquanto que nas Lojas de Companheiro e Mestre, devido a prudência ser maior nesses graus, as suas verificações, no Ocidente, ocorrem de modo individual por cada Vigilante na sua coluna.
Nesse contexto vale a pena lembrar que o grau especulativo de Mestre Maçom, em termos históricos é o mais recente, e é natural da Moderna Maçonaria, portanto do século XVIII. Nasceu oficialmente de um desdobramento do Grau de Companheiro em 1725 e fora universalmente oficializado na Inglaterra em 1738.
Por fim, essa é uma síntese das origens e do porquê dessas diferenças litúrgicas entre o grau de Aprendiz e o de Companheiro e Mestre Maçom nas verificações pelos Vigilantes.
Dependendo dos rincões terrenos em que nasceram os ritos maçônicos, é possível dizer que qualquer passagem ritualística originalmente construída, tem para si uma base histórica, iniciática e até mesmo cultural. Sob a óptica da razão e da originalidade, desprezando-se os enxertos e as invencionices, com certeza para tudo há uma explicação em Maçonaria.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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