José Luiz Ribeiro de Melo
Existem fatos importantes da história do Brasil que ao longo do tempo são esquecidos e pouco, muito pouco, ou nada, acontece para ilustrar esses acontecimentos quando se deveria comemorar a cada ano, a data histórica ou o feito dos heróis.
A abolição da escravatura, último país a declarar a fim dessa prática abominável, é uma dessas datas que, nos dias atuais, não tem merecido o destaque que o ato da Princesa Isabel trouxe ao Brasil, não somente no aspecto econômico, mas, principalmente, pelo seu alcance humanitário, de respeito aos direitos humanos.
Nestas reflexões, a abordagem fica restrita ao papel desempenhado pela maçonaria como instituição, no processo abolicionista, sabendo-se de antemão que não há muitos trabalhos publicados sobre o assunto.
O que se tem claramente é a participação de maçons, principalmente porque faziam parte do governo imperial ou porque exerciam atividade como escritores e jornalistas conceituados e influentes na formação da opinião pública, e essencialmente através da ação isolada e integrada de seus membros e das Lojas Maçônicas.
Prova disso foi o apoio dos maçons à criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, concebida pelo maçom Joaquim Nabuco que, tanto quanto a Maçonaria, utilizava de códigos secretos para proteger seus componentes, isto, em meados de 1883.
Outra instituição, também de inspiração maçônica, foi a Confederação Abolicionista, indicada pelo maçom José do Patrocínio, tendo como princípio defender a abolição de forma pública, mas, também, através de ações secretas, pois “seus agentes ocultos aconselhavam a fuga das fazendas, criavam esconderijos para os escravos fugidos, despachavam outros para o Ceará, dispunham de cartas de liberdade, mandavam castigar por seus capoeiras os secretas que os queriam prender em flagrante roubo de escravos, cometiam, enfim, uma série de proezas que entusiasmava tanto o público, que os seguia com interesse, como os apóstolos, que os realizavam”.
Provas há de que as Lojas Maçônicas passaram a recomendar aos seus membros a compra de cartas de alforria de escravos, prática comum dentro da Instituição, conforme escreve o renomado autor Rizzardo da Camino:
“( ... ) não havia festividade maçônica ou evento histórico que fosse comemorado sem que um maçom não colocasse dentro do “Saco de Beneficência” uma carta de alforria de um escravo; essa prática, rara no início, foi-se repetindo com mais frequência até que nos últimos anos, consistia um motivo de grande júbilo quando eram contadas, no fim de cada coleta, o número das cartas de alforria”.
Mas, quem foram esses maçons que se empenharam em defesa dos escravos, que combateram com coragem a escravidão e se tornaram relevantes no processo da abolição? Muitos, senão a maioria, são poucos citados nos bancos escolares e desconhecidos da própria Instituição Maçônica, mas que devem merecidamente ser reconhecidos.
Somente para ilustrar, faço a menção a quatro nomes, simbolizando toda gama de irmãos maçons que colocaram suas virtudes, inteligência e trabalho na luta pela Abolição da Escravidão em nosso país:
Luiz Gonzaga Pinto da Gama, negro, poeta, escritor, jornalista e advogado, iniciado na Loja América; Antônio Bento de Souza e Castro, Juiz de Direito; Francisco Barbosa Gê Acayaba Montezuma, Visconde de Jequitinhona, negro, médico, exerceu o cargo de Grande Comendador Soberano do Supremo Conselho do Grau 33; Adolfo Bezerra de Menezes, médico, espírita, escreveu o livro “A Escravidão no Brasil” e, nele, inseriu:
“Nenhuma questão, segundo penso, reclama tão serenamente a atenção de quem se interessa pelo bem estar e futuro do paíz, como a emancipação da escravatura”.
Registre-se o Projeto de Lei da Loja América, de autoria do maçom Ruy Barbosa, encaminhado ao Grande Oriente Brasileiro, que estabelecia como princípio o combate à escravidão, nos seguintes termos:
“A Loja América apresenta à sábia consideração do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos o seguinte projeto, requerendo sua conversão em lei geral e obrigatória para toda a Maçonaria estabelecida no país.
Art. 1º. Sendo verdade inconcussa que a emancipação do elemento servil e a educação popular são hoje duas grandes ideias que agitam o espírito público e de que depende essencialmente o futuro da nação, a Maçonaria brasileira declara-se solenemente a manter e propagar esses dois princípios, não só pelos recursos intelectuais da imprensa, da tribuna e do ensino, como também por todos os meios materiais atinente a apressar a realização dessas ideias entre nós. (...)
O que se tem na memória são fragmentos da história, da história pouco difundida da presença da Maçonaria no movimento abolicionista desde muito cedo, diferentemente da Igreja Católica que somente se fez presente no final do processo, mas, que corrobora com a persistente intenção de desqualificar o trabalho maçônico e a sua participação efetiva em todos os movimentos políticos brasileiros, sempre em defesa da Liberdade.
Bibliografia
- O Contributo da Maçonaria para a Abolição da Escravatura, Márcio Antônio Silva de Pontes.
- A Maçonaria e a Abolição, Odálio Botelho.
- Considerações acerca da participação Maçônica na libertação dos escravos, Carmem Gessilda Burgert Schiavon
Fonte: https://opontodentrocirculo.com/revista-libertas/
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