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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 2 de junho de 2022

TRÊS PONTOS

TRÊS PONTOS
(republicação)

Em 01/09/2017 o Respeitável Irmão Elton dos Santos Gregory, Loja Solus, 196, Grande Loja do Estado do Rio Grande do Sul, sem mencionar o nome do Rito e Oriente, Estado do Rio Grande do Sul, formula a seguinte questão:

Em conversa com um Aprendiz também da Grande Loja, mas integrante da Loja Obreiros de Israel, ficamos na dúvida do significado do quadrado com os três pontos em seu interior, que é colocado no Livro do Chanceler, quando apomos nosso ne varietur.

Se possível esclarecer-nos, ficamos muito gratos.

CONSIDERAÇÕES:

O que eu não entendi bem é esse “quadrado com três pontos”. O que me intriga é o “quadrado”. Deixando o “quadrado” de lado, vamos às considerações relativas aos “três pontos”.

Na realidade os três pontos em forma de um delta (um ápice voltado para cima) é uma forma de abreviatura maçônica e, ao mesmo tempo, também uma forma de identificação que alguns maçons usam colocando-os logo após a sua assinatura.

Embora muito usado entre os maçons especulativos, esse costume não é unânime na Maçonaria Universal, sendo mais comum o seu uso na Maçonaria de vertente latina – é o caso da brasileira. 

A vertente maçônica que usa a tripontuação triangular como abreviação, tem a mesma como um modo de indicar onde uma palavra sofreu apócope (foi cortada).

Na verdade a tripontuação triangular como abreviação atualmente acabou perdendo a sua originalidade e se tornou até certo ponto banal pelo seu excesso de uso em muitos textos que envolvem concepções sobre Maçonaria.

Historicamente esse tipo de abreviatura foi estabelecido em tempos passados com a intenção de se prevenir contra os cowans bisbilhoteiros, cujo método servia exclusivamente para elaborar escritos compreensíveis apenas àqueles que verdadeiramente compreendiam a “Arte”. 

Esse sistema de abreviação, na intenção de dificultar a sua compreensão, era também usado em se invertendo às vezes a disposição das sílabas das palavras em apócope, cujos três pontos lhe eram colocados na forma de um delta ou mesmo distribuídos na horizontal (em forma de reticência).

Vale a pena mencionar que a Maçonaria anglo-saxônica comumente usa como abreviação a monopontuação em lugar da tripontuação triangular, porém com bastante critério, utilizando-se desse método apenas por necessidade premente. 

Já na França, segundo Alec Mellor nos informa in Dictionaire de La Franc-Maçonnerie et des Franc-Maçons, Paris, 1978, essa prática é abusivamente usada, o que deu inclusive origem à expressão pejorativa “Irmãos três pontos” aos Francomaçons. 

José Castellani, mencionando o mesmo Alec Mellor (autor reconhecidamente fidedigno em todo o mundo maçônico) nos informa: “no século XVIII, quando foi introduzida a tripontuação, em documentos franceses, eles, algumas vezes, eram dispostos em linha horizontal (...) e até em outras posições, já que não havia padronização”. 

Mais tarde, entretanto, o costume de tripontuação em forma de um delta (triângulo) viria se firmar na Maçonaria francesa.

No Brasil, e mesmo na América espanhola, esse costume de abreviação tripontual triangular acompanharia o costume da Maçonaria francesa, já que naquela época, a França, não só na Maçonaria, ditava a moda em quase todo o mundo.

Os três pontos como abreviação, em princípio eram usados apenas para indicar onde havia sido feito o corte nas palavras - na apócope. 

Somente a posteriori é que os “três pontos” seriam também colocados após a assinatura visando identificar um maçom, cujo costume é comum entre nós até os dias de hoje – é o caso da tripontuação que acompanha o “ne varietur” no Livro de Presença na Loja.

Como abreviatura, é comum também no Livro de Presenças a tripontuação triangular que identifica o grau simbólico do maçom. Exemplo A⸫M⸫, C⸫M⸫ e M⸫M⸫, reservando-se também ao título distintivo dado ao Mestre Maçom Instalado como M⸫I⸫.

Salvo as apócopes como meio sigiloso de escrita maçônica, é certo que nunca houve entre os antigos maçons a preocupação de se identificar como tal (colocar três pontos após a assinatura), já que naquela época isso só poderia lhes trazer dissabores, sobretudo após a publicação da bula papal In eminenti apostolatus specula, de Clemente XII de abril de 1738, ao contrário da atualidade onde vemos muitos maçons brasileiros que exageradamente andam enfeitados com penduricalhos maçônicos, só faltando mesmo sobre eles um letreiro em néon anunciando: “eu sou maçom”.

Há que se destacar ainda que além das abreviaturas para ocultar escritos maçônicos em épocas de perseguições, era costume entre os maçons o uso de um nome simbólico no intuito de ocultar o seu verdadeiro nome. Essa prática, entretanto caiu em desuso à medida que a liberdade individual e coletiva ia sendo assegurada, só sendo mantida atualmente em alguns círculos maçônicos a exemplo do Rito Adonhiramita.

Assim, genuinamente, a tripontuação, originária da vertente francesa de Maçonaria, surgiu no século XVIII com a finalidade de dificultar a compreensão do texto aos não maçons que porventura viessem ter acesso a documentos maçônicos. 

A técnica dessa abreviação consiste em indicar por três pontos, geralmente em forma de um delta, a supressão de um fonema ou sílaba de uma palavra que, em Maçonaria de vertente francesa, ocorre geralmente após uma consoante e dobrando a letra inicial em caso de plural, a despeito que em alguns títulos, a apócope possa ocorrer igualmente logo após a sua primeira, ou primeiras letras, se for o caso. Exemplo A G⸫ D⸫ G⸫ D⸫ U⸫.

Como explicado, a tripontuação não é original quando se tratar de identificar a assinatura de um maçom, entretanto esse já é considerado costume consuetudinário e largamente usado por maçons praticantes de Maçonaria de vertente latina (conquanto isso seja facilmente imitado por muitos profanos).

Em síntese, no que diz respeito às abreviações na Maçonaria para tornar textos compreensíveis somente aos maçons, existem inúmeras técnicas que não ficam restritas apenas a apócopes por unipontuação ou tripontuação. Muitas práticas nesse particular seguem, às vezes, os costumes e a linguagem genuína de uma região onde é praticada a Maçonaria – essa é uma observação importante e deve ser efetivamente considerada.

Concluindo, é oportuno mencionar que na atualidade esses costumes somente são mantidos para preservar a sua tradição. Não faz sentido na atualidade o abuso desordenado dessa prática como muitas vezes alguns o cometem. É fantasia também e não existe nenhum compromisso com a originalidade maçônica o que alguns autores dissertam em ilações tenebrosas dando significados ocultos e místicos à tripontuação. Isso é pura invenção. Os três pontos verdadeiramente só indicam, por primeiro, onde uma palavra foi cortada e, em segundo, sugerem a identificação de um elemento como pertencente à Maçonaria. Portanto, não existe para essa tripontuação triangular nenhum significado místico, oculto ou esotérico.

E.T. – Os vocábulos “unipontuação” e “tripontuação” são neologismos utilizados especificamente nesse texto na intenção de identificar dois substantivos no contexto das considerações.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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