Ir∴ Ambrósio Peters.
Escritor, Historiador Filosofo e Livre Pensador
A Ordem dos Templários era uma ordem militar de cavalaria composta por monges guerreiros. Foi fundada em Jerusalém no ano de 1119 por dois cruzados, o cavaleiro burgúndio Hugo de Payns e o cavaleiro franco Godefroi de St. Omer, sob o nome original de Pobres Cavaleiro de Cristo e do Templo de Salomão, com o propósito de se dedicar à defesa dos peregrinos cristãos que se dirigiam à Jerusalém e outros lugares da Terra Santa.
Pouco tempo depois, mais seis cavaleiros se juntaram ao dois fundadores e o grupo se organizou sob a forma de comunidade religiosa e decidiu adotar as regras monásticas da Ordem dos Beneditinos fundada por São Bento (ou São Benedito).
Apresentaram-se ao patriarca de Jerusalém e perante ele prestaram os votos monásticos habituais de pobreza, obediência e castidade, jurando ainda solenemente defender todas as estradas públicas que levassem a Jerusalém. De início não adotaram qualquer vestimenta ou insígnia especial e cobriam-se com vestes que lhes eram oferecidas por fiéis e peregrinos.
O Rei de Jerusalém, Balduino II (1240-1261), lhes cedeu uma ala do seu palácio real, situado próximo a mesquita de Al-Aqsa, construída ao final do século VII pelo sultão Al-Wallid sobre a esplanada do monte Morihá, onde tradicionalmente estivera o antigo Templo de Jerusalém. Aquela bela mesquita, ainda hoje um conhecido lugar de orações dos muçulmanos, tem a forma de uma igreja e provavelmente por isso foi confundida pelos cruzados com o Templo de Jerusalém, pois certamente ignoravam a destruição do verdadeiro Templo pelos romanos no ano setenta da nossa era. Esse desconhecimento da história é confirmado pelo historiador Will Durant. A Enciclopédia Britânica diz que a Mesquita de Al-Aqsa era conhecida entre os peregrinos e os cruzados como o Templo de Salomão. Aí está possivelmente a origem da fantasiosa imagem do Templo de Salomão tão comum entre os Maçons.
Para tornar efetivo o serviço prestado aos peregrinos, fazia-se necessário aumentar o número dos integrantes da Ordem, um propósito difícil de conseguir entre os cruzados e os peregrinos que sempre nutriam o desejo de voltar a sua terra natal.
Isso os levou a buscá-los entre os cavaleiros itinerantes que chegavam a Jerusalém, em sua maioria excomungados, alguns em busca da salvação de suas almas e outros a procura de novas oportunidades de roubo.
Depois de doutrinados e trazidos de volta à sua fé, eram induzidos a aceitar os ideais da Ordem. Assim, regenerados perante a Igreja lhes obtinham a absolvição das excomunhões quando pronunciadas pelos bispos e vigários e os admitia oficialmente na Ordem, onde serviam inicialmente nas mais diversas tarefas.
Então, pelo esforço dos Templários, voltavam à fé todos aqueles homens da ralé, ímpios, trapaceiros, ladrões, sacrílegos, assassinos, perjuros e adúlteros que chegavam à Terra Santa. Este trabalho piedoso trouxe para a Ordem dos Templários o mais importante dos privilégios, a imunidade contra a excomunhão pronunciada por bispos e vigários, mas trouxe também a desconfiança da Igreja, pois a Ordem ainda não tinha obtido dela a aprovação oficial. Urgia pois obter a imediata sanção dos altos poderes eclesiásticos e a aprovação de seus regulamentos. À busca dessa aprovação oficial, o Grão-Mestre Hugo de Payns se dirigiu à Europa no ano de 1127, pomposamente acompanhado de um séquito de companheiros.
Afortunadamente, elé conseguiu de imediato o entusiástico apoio de São Bernardo, o poderoso abade do mosteiro de Clairvaux, que num fervoroso panegírico enalteceu esta nova e santa concepção de uma Ordem de Cavalaria, um apoio inestimável que garantiu a Hugo de Payns o sucesso de sua missão na Europa.
Em 1128, o Concilio de Treves discutiu e sancionou as novas Regras do Templo.
O original deste regulamento perdeu-se, mas diversas cópias preservadas nos permitem conhecer as suas bases fundamentais e comprovar que a Ordem se manteve até o seu infeliz final, fiel ao seu elevado espirito original de estrita disciplina, ordem e dedicação à Igreja. Da existência de regulamentos secretos e cerimônias inconfessáveis disseminada na cultura popular medieval, alegados pelo Rei Filipe (1285 - 1314) para condenar a Ordem, nunca foram encontrados sequer resquícios, apesar de extenuantes pesquisas. É hoje de entendimento geral, que estas regras secretas nunca existiram, porém essa lenda lhes foi fatal no seu dramático final.
A partir da aprovação oficial da Igreja, agradecidos, reis e peregrinos começaram a enriquecer a Ordem com dádivas financeiras e doações de castelos e terras espalhados por todos os países da Europa cristã ocidental. Entre essas doações está a do Rei Henrique 1, o qual doou à Ordem uma área de terras nos arredores de Paris onde os Templários construíram o seu quartel general para a Europa. Este edifício, conhecido como “O Templo”, serviria no futuro de prisão ao Rei Luiz XVI durante a Revolução Francesa e que dali sairia quinhentos anos depois para a guilhotina.
A história dos Templários confunde-se com a história das Cruzadas, pois enquanto estas duraram, eles lutaram ao lado dos cruzados e centenas deles morreram nos combates contra os Muçulmanos.
A 16 de maio de 1290, quando os cruzados perderam a cidade de São João D’Acre, sua ultima posição no Oriente, e o Grão-Mestre William de Beaulieu foi morto, os poucos Templários remanescentes elegeram um novo Grão-Mestre e navegaram para Chipre onde estabeleceram o seu novo centro administrativo.
Durante o século XIII, os Templários enriquecidos pelas doações e lucros do seu patrimônio, se tornaram o mais poderoso agente político-financeiro da Europa, presentes nas cortes de todos os principais países, servindo reis, rainhas, príncipes e princesas. Haviam se tornado donos de imensos domínios imobiliários que iam desde a Inglaterra até Chipre e desde a Dinamarca até Portugal. O Templo, seu quartel-fortaleza em Paris, tornou-se o centro financeiro de toda a Europa, pois a partir dele comandavam o movimento bancário. Reis e Papas utilizavam-se do Templo de Paris para guardar em segurança as suas fortunas. O seu poder militar e a sua disciplina interna davam segurança às transferencias de dinheiro entre os países, desde a Armênia até o Oeste da Europa. Tornaram-se os predecessores e também os rivais das companhias bancárias italianas.
Pesava contra eles a acusação de usura, pois o lucro financeiro era imoral e ilegal no mundo medieval cristão, embora essa tenha sido uma atividade, por assim dizer, habitual entre os cristãos e porque era ignorada por reis e aristocratas, sempre necessitados de empréstimos para cobrir seus desmandos financeiro. Diz a Enciclopédia Britânica que os Templários usavam um jogo contábil no controle dos saldos dos seus devedores hipotecários, através do qual disfarçavam seus lucros e se esquivavam da pecha de usurários.
No momento de sua supressão, tinha o Ordem dos Templários atingido o máximo do seu poder. É bem verdade, que nunca haviam chegado a um poder soberano como o dos Cavaleiros Teutônicos na Prússia ou como o dos Cavaleiros de São João da ilha de Rodes (depois de Malta), mas os privilégios e imunidades conseguidos junto aos Reis e Papas os tinham tornado tão poderosos no mundo da política e das finanças e no seio do Cristianismo, que haviam se tornado uma outra igreja dentro da própria Igreja e um outro estado dentro do próprio Estado.
O Rei de França, Filipe IV, o Belo, pretendendo concentrar em suas mãos todo o poder do seu reino, tentou por diversos modos restringir o poder da Ordem mas, pressionado por problemas políticos internos, foi obrigado a confirmar os privilégios da Ordem em janeiro de 1293, por lhe ser útil o seu apoio naquele momento.
Também teve que arrefecer sua ambição de poder, em face da oposição do Papa Bonifácio VIII (1294 / 1303), que defendia com rigor a supremacia do Papa e dos clérigos sobre o poder civil em matéria espiritual e confirmou essa sua posição em diversas bulas. Em 1301, recrudesceu a luta pelo poder entre Filipe e o Papa, o qual excomungou o Rei em 1303. Filipe mandou então prender o Papa em Agnani e o tratou com brutalidade. Neste mesmo ano, o Rei assinava com Hugues de Peraud, Visitador Geral dos Templários na França, um tratado de aliança contra o Papa.
Depois de ser solto, o Papa voltou a Roma, morrendo em seguida. A 6 de fevereiro de 1304 o Papa Benedito XI (1303 - 1304), sucessor de Bonifácio VIII, confirmou todos os privilégios dos Templários, e enquanto isso o Rei Filipe nomeava Hugo de Peraud como arrecadador oficial da renda pública da França. Pressionado por uma desastrosa campanha militar em Flandres e necessitando do apoio dos Templários, beneficiou-os abolindo todos os entraves que pudessem dificultar a aquisição de novas propriedades.No ano de 1305. Felipe, valendo-se da influência de seus legados e do suborno, fez eleger um cardeal francês, amigo seu, como Papa Clemente V. Um dos primeiros atos do novo Papa, foi a anulação de todos os decretos dos dois Papas anteriores contrários às ambições do Rei. Este Papa mudaria a residência oficial dos Papas para a cidade francesa de Avignon, no ano de 1309.
Em 1306, Felipe, para escapar de violentas desordens populares em Paris, refugiou-se no Templo, edificio-fortaleza sede dos Templários e na primavera de 1307 teve oportunidade de assistir ao ritual secreto da iniciação de um novo Templário. Esse contato mais íntimo com a Ordem, provavelmente trouxe-lhe a idéia exata de suas riquezas e também de suas fraquezas, pois parece que a partir desse momento começou a sua trama para aniquila-la e apossar-se de seus tesouros.
O seu primeiro intento para anular o poder dos Templários, foi colocar-se ao lado do projeto de fusão com a Ordem dos Hospitalários, um projeto sucessivamente aprovado pelos Papas, que almejavam uma ordem militar mais forte capaz de reconquistar a Terra Santa para o Cristianismo. Isso já havia sido proposto no Concílio de Lyon em 1274, mas sempre recebera a oposição daquelas duas Ordens.
Segundo planejava Filipe, a Ordem dos Cavaleiros de Jerusalém, resultante daquela fusão, deveria ficar sob o permanente domínio do Reino Francês, pois pretendia estabelecer que o Grão-Mestre seria sempre um príncipe da casa real francesa.
O projeto de fusão fracassara, mas os problemas financeiros cada vez mais deixavam o reino da França em perigo. Na tentativa de levantar dinheiro, o Rei Filipe usara de todos os expedientes, a até roubara e expulsara de Paris os banqueiros judeus e lombardos, uma medida desastrosa que acabaria por aviltar a moeda nacional. Fracassado o processo da fusão, o Rei começou a tramar secretamente a supressão da Ordem dos Templários, necessitando para isto apenas de uma desculpa formal para iniciar o ataque.
Uma desculpa poderia facilmente ser forjada, pois bastaria encontrar um delator venal para denunciar a Ordem por heresia e prática de atos de imoralidade nas suas cerimônias de meia-noite. Uma denúncia poderia confirmar as estranhas histórias que já há algumas décadas circulavam popularmente a respeito dessas cerimônias de iniciação.
Bastaria dar a algum desses boatos um aspecto de realidade. Por ocasião da eleição do Papa Clemente V, na primavera de 1305, um certo Esquiu de Floyram de Bezier propôs inesperadamente ao Rei Jaime I, de Aragão, a revelação dos segredos dos Templários. O piedoso rei, que conhecia de sobra os Templários, não deu ouvidos à denúncia. Esquiu voltou-se para o rei Filipe, de quem parece ter obtido a promessa de parte dos despojos, e teve melhor acolhida. O rei induziu doze espiões a procurarem filiação à ordem e entrementes procurou atrair o Papa para seus propósitos. Clemente V, não obstante dever sua tiara ao rei Filipe, não cedeu ao apelo tão prontamente quanto o Rei o desejava. O Papa limitou-se a prometer uma inquirição rigorosa para apurar os fatos. Mas toda a França estava sob a jurisdição direta da Inquisição e sendo o inquisidor-mor William de Paris, seu confessor, resolveu Filipe forçar a mão por este lado e mandou que um delator denunciasse os Templários diretamente à Inquisição. Como de praxe, nos casos de heresia, os acusados eram submetidos primeiro ao poder civil e somente depois aos poderes da Inquisição.
A 6 de junho de 1306, dando seqüência a sua promessa de rigorosa inquirição, usando o pretexto de discutir um projeto de organização de uma nova cruzada, o Papa convidou o Grão-Mestre da Ordem dos Templários, Jacques de Molay, a vir a sua presença. Imediatamente, Jacques de Molay acedeu ao honroso convite e deixou a sede de Chipre. Na primeira entrevista, o Grão-Mestre foi interrogado demoradamente sobre o comportamento e os rituais da Ordem defendendo-se de todas as acusações e a seguir foi visitar as instalações da Ordem na França.
Face às acusações de heresia denunciadas à Inquisição, o Rei Filipe já expedira a 14 de setembro de 1307, mandados de prisão contra os Templários a todas as autoridades do Reino. Jacques de Molay, tomado de surpresa, foi preso na noite de sexta-feira do dia 16 de outubro de 1307, juntamente com sessenta de seus irmãos de Paris. Haviam sido colhidos numa armadilha sem saída.
Para força-los a confessar, foram primeiro torturados pelos oficiais do Rei e depois entregues à Inquisição, para novamente serem torturados se novas confissões fossem necessárias. Somente em Paris, morreram nessa fase inicial do processo, trinta e seis daqueles Templários, devido a torturas. Tudo corria como o Rei o desejara. Foram inquiridos 138 Templários, entre 16 de outubro e 21 de novembro e 121 deles, homens idosos que haviam passado toda sua vida servindo à Ordem, confessaram ter cuspido na cruz ou perto dela, por ocasião de sua iniciação. Mas a mais dramática, foi a confissão pública do Grão-Mestre Jacques de Molay, ao admitir ter repudiado Cristo e cuspido na cruz.
Apesar de estar inteiramente voltado para os interesses do Rei Filipe, o Papa Clemente V não concordava totalmente com o procedimento independente da Inquisição francesa, pois lhe parecia que a Ordem como um todo não podia ser julgada com base no comportamento individual de alguns de seus membros.
Apesar disso e de considerar não aprovado pela alta hierarquia eclesiástica os procedimentos na França, deixou-se o Papa convencer de que a culpa poderia não ser de toda a Ordem, mas que certamente pelo menos alguns dos seus membros mais importantes eram culpados e concluiu corretamente ser da competência da Igreja o julgamento final. Os atos de Filipe lhe pareciam estar indo além dos limites do seu poder civil. Sua preocupação cresceu quando o Rei, sem o consultar, enviou cartas ao rei Jaime de Aragão, ao rei Eduardo II da Inglaterra, ao Rei Alberto da Germânia e a outros príncipes, incitando-os a imitar o seu exemplo. A 27 de outubro, o Papa Clemente enviou cartas suspendendo os poderes da inquisição na França. O que aconteceu nos meses seguintes não ficou claro, pois os documentos são confusos.
A 22 de novembro, o Papa expediu uma bula ordenando a todos os reis e príncipes que detivessem os Templários onde quer que se encontrassem. Provavelmente deu essa ordem para colocar o processo sob sua própria autoridade e impedir um avanço do poder secular. Essa Ordem papal teve o efeito de fazer cessar todos os escrúpulos e hesitações. Na Inglaterra, os Templários foram presos em janeiro de 1308, no mesmo mês na Sicflia e no mês de maio em Chipre. Em Aragão e Castela, o processo foi mais diftcil porque os Templários avisados puseram-se em defesa em seus castelos e só foram presos depois de longa resistência.
Enquanto isso, o rei Filipe entrara solenemente em Poitiers em maio e ali encontrou-se com o Papa que já se achava reunido com os cardeais. Depois de muitas confabulações chegaram a um arranjo. O rei concordou em ceder aos comissários do Papa, a solução dos destinos dos Templários e de suas propriedades; o Papa de sua parte retirou a sentença de suspensão contra o inquisidor-mor de França e ordenou que a inquisição contra os Templários fosse individual e conduzira pelos bispos diocesanos, com assessores nomeados por ele.
O Papa reservou para si a inquirição do Grão-Mestre, do grande Visitador da França e dos grandes preceptores de Chipre, da Normandia e da Aquitânia.
O Papa decidiu que a inquisição deveria ser conduzida em cada país por comissários papais especiais e que destino da Ordem como um todo, seria decidido por um concílio geral que foi convocado para outubro de 1310 em Viena.
Enquanto isso, o Papa e os cardeais organizavam a nova inquisição pública que, por problemas de definições, não funcionaria senão em abril de 1311. Tentando defender a Ordem, muitos dos Templários ao serem novamente interrogados, retrataram suas confissões anteriores.
Os comissionáreis papais, em conluio com os representantes reais, decidiram que as acusações contra a Ordem em Paris seriam usadas contra os Templários individualmente, quando fossem julgados nas suas províncias. As referidas retratações feitas em Paris, de acordo com as normas de procedimento dos comissários diocesanos, foram consideradas perjúrios e punidas com a morte por fogo. Sessenta e sete Templários pereceram desta forma, em maio de 1311.
O Papa Clemente e Filipe concordavam que caberia ao Papa a condenação ou não da Ordem dos Templários. O Concílio geral reuniu-se em outubro de 1311 e logo surgiu a dúvida sobre se os Templários poderiam ou não ser ouvidos em sua própria defesa. O Papa dissolveu a sessão para evitar complicações e quando sete Templários se ofereceram para fazer sua própria defesa, ele os mandou para a prisão. Filipe chegou a Viena no mês de março de 1312 e imediatamente sentou-se a direita do Papa que então pronunciou seu sermão contra a Ordem dos Templários, anunciando que ela tinha sido dissolvida, não pelo Concílio, mas por um consistório privado.
Em 2 de maio de 1312, ele publicou a bula que transferia os bens da Ordem dos Templários, exceto os dos reinos de Castela, Aragão, Portugal e Maiorca, para a Ordem dos Cavaleiros de São João de Rodes, a Ordem dos Hospitalários. O final desta estupenda tragédia humana viria a ocorrer em 1314. Jacques de Molay, o Grão-Mestre até esse momento, não tinha se portado de seu cargo, pois o simples medo da tortura tinha sido suficiente para fazê-lo confessar.
Sua confissão de culpa acabaria por arrancar também a confissão dos seus irmãos, acostumados que estavam a obedecer cegamente aos seus chefes militares.
Aquele infeliz homem já fora submetido a humilhações após humilhações, a retratações públicas e a repetidas confissões. Ante a comissão papal, ele foi levado à ira, protestou, usou termos ambíguos e até o final teve que repetir sua confissão, sempre mais uma vez. Nunca lhe foi concedida uma audiência solicitada com o Papa.
O Papa Clemente emitira sua decisão final contra a Ordem dos Templários, mas reservara a condenação dos 5 oficiais maiores para si próprio. Decidido o destino da Ordem, a sorte dos Templários, individualmente perdeu o interesse dos historiadores.
Jacques de Molay e Gaufrid de Charney, preceptor da Normandia, foram levados a um tablado, erguido em frente a igreja de Notre Dame de Paris a 14 de março de 1314. Ali, na presença dos legados Papais e do povo, eles foram instados a repetir suas confissões e receber sua sentença de prisão perpétua. Em vez disso, eles valeram-se da oportunidade para, ante as milhares de pessoas reunidas, mais uma vez retratar suas confissões e protestar a inocência da Ordem. O Rei Filipe o Belo, sem esperar previamente por resposta a uma consulta à Igreja para saber que destino dar aos dois templários, ordenou que fossem queimados.
Uma palavra deve ser dita sobre a importância e a queda dos Templários perante a História. A Ordem, além de ter detido o avanço do Islam, tanto no Oriente como na Espanha, havia criado um novo conceito de cavalaria ao conseguir-lhe a sanção religiosa. Depois dos Templários, as Ordens de Cavalaria assumiram grande influência em todos os campos da sociedade européia, destacadamente no campo da beneficência.
A supressão da Ordem teve três conseqüências funestas para a civilização cristã:
(1) facilitou as conquistas turcas no Mediterrâneo; (2) mostrou e confirmou o comportamento criminoso e irresponsável dos governos da França, que afinal acabaria por conduzir à Revolução Francesa; (3) trouxe a sanção oficial das altas autoridades eclesiásticas para a crença em relações pessoais ou grupais com o demônio, o que trouxe a aprovação oficial para o expediente de arrancar sob indizíveis torturas confissões de culpa dos acusados, tornando possíveis as nefandas perseguições inquisitórias que enlamearam a baixa Idade Média e que sobreviveriam até em países protestantes depois da Reforma. Continuam divididas ainda hoje as opiniões sobre a culpabilidade ou não dos Templários, face aos motivos que levaram à sua supressão. Dezenas de livros já foram escritos sobre essa matéria e mostram que a absoluta maioria de seus contemporâneos acreditava na sua inocência. Sobre as confissões dos Templários de terem cuspido na crus, há autores que apresentam a hipótese de que esse poderia ter sido um simples expediente usado nas iniciações secretas para avaliar o espírito de obediência do iniciando. Teria Filipe o Belo visto algo semelhante quando assistiu a iniciação de um Templário no Templo de Paris?
Qual a origem da idéia de ligar os Templários à maçonaria?
Evidentemente, não se pode ligar a Maçonaria Operativa aos Templários, porque ela é de dois séculos anterior aos Templários. A Maçonaria Especulativa é o fruto de um processo social que se iniciou no século XVI, portanto quase três séculos e meio após a extinção dos Templários.
Mas como foi visto, os bens imóveis dos Templários foram passados para os Hospitalários, e os Templários tinham pelo menos um Templo em Londres. Diz James Anderson em seu Novo Livro das Constituições de 1738 (pg 78), que no ano de 1500, o Grão-Mestre da Ordem de São João de Rodes (Hospitalários), reunido em Grande Loja com seus companheiros, elegeu o rei da Inglaterra Henrique VII seu Protetor, e este logo nomeou seus dois Grandes Vigilantes para a Inglaterra, isso é, este Rei considerou-se o Grão-Mestre da Inglaterra. O rei Henrique VIII que o sucedeu em 1509, logo nomeou o primeiro Grão-Mestre dos Maçons na Inglaterra. Este contato com os Hospitalários, proprietários sucessores dos bens dos Templários em Londres, pode Ter dado origem à lenda.
Um escritor francês, Pierre du Puy, bibliotecário da Biblioteca Real, publicou em 1654, uma obra afirmando que aqueles que procuravam provar a inocência dos Templários, estavam na verdade querendo desacreditar o Rei da França. Segundo o escritor Loiseleur, os editores posteriores da obra de Du Puy teriam sido Maçons que, sob pseudônimos, subtraíram parte dos antigos documentos do processo, induzindo outros para provar que a Maçonaria tinha origem nos Templários.
Ainda é comum ouvir-se Irmãos afirmarem que provavelmente os Templários remanescentes poderiam ter procurado a Maçonaria Operativa para preservar através dela os seus ideais. Certamente depois da implacável perseguição movida contra eles, tanto pela Inquisição como pelo Rei Filipe e pelas inquisições diocesanas em todo os países cristãos, pouquíssimos devem ter escapado da morte.
Provavelmente alguns deles devem ter se abrigado na Ordem dos Cavaleiros de São João de Rodes, que ficou com a maioria das propriedades dos Templários.
É oportuno também considerar, que na época da supressão da Ordem dos Templários a Maçonaria era totalmente operativa, isto é, formada por guildas de ofício, inteiramente voltadas para a defesa de seus interesses profissionais. Isto nos leva a concluir que não era um abrigo próprio para Templários, que tinham interesses totalmente diversos. Não se pode esquecer que eles eram membros de uma Ordem Religiosa, portanto seria mais crível que os seus remanescentes tivessem procurado monastérios para se abrigar e não as guildas.
Parece sem sentido a pretensão de ligar os Templários à Maçonaria.
Fonte: JBNews - Informativo nº 115 - 22/12/2010
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