TRONO OU SÓLIO?
(republicação)
Consulta que faz a Digníssima
Loja Regeneração 3ª sobre o texto apócrifo recebido via correio eletrônico
abaixo descrito – Grande Oriente do Paraná – Oriente de Londrina, Estado do
Paraná.
O texto apócrifo recebido:
“O Venerável assenta-se no Trono
ou no SÓLIO? Se você respondeu no Trono, acertou; no Sólio, também acertou. Mas
se respondeu no Trono que está no Sólio cometeu uma enorme redundância; o mesmo
que, subir para cima e descer para baixo. Certamente foi lhe instruído que, o
Primeiro Diácono fica abaixo do sólio, e o sólio é onde fica a cadeira do
Venerável, do Past-Venerável e da maior autoridade maçônica presente. Devo
abrir um parêntese para explicar que esta informação é passada principalmente
no Rito Escocês, mas há alguns ritos que não fazem menção do sólio e às vezes,
nem dos diáconos e da divisão entre ocidente e oriente. O uso do palavra SÓLIO,
como mobiliário de uma Loja Maçônica é corretíssimo, pois quer disser “assento
do Rei”, “Trono” se levarmos em consideração que fazemos analogia entre a Loja
Maçônica e o Templo de Salomão, nada mais plausível que chamemos a cadeira do
Venerável Mestre de Trono de Salomão ou se quiserem Sólio de Salomão. Eu,
particularmente, prefiro a palavra Sólio, Trono, dá-nos idéia de Realeza, Poder
Temporal, Luxo, já, Sólio está mais ligado aos aspectos espirituais. Palavra de
origem latina que designa assento elevado, por metonímia: poder ou autoridade
real. O mais famoso dos sólios é o sólio estelífero que enfeita o teto de
nossas Lojas e talvez o mais poderoso seja o Sólio Pontifício que é a Cadeira
de São Pedro (não se usa o termo Trono de São Pedro). Tendo a oportunidade de
ir ao Vaticano, visite a Igreja de São Pedro. Conte os degraus que elevam o
Sólio Pontifício, de onde o Papa celebra as missas, irá encontrar 7 degraus.
Não são 4 mais 3, são 7 degraus diretos, mesmo assim lembram alguma coisa! Fico
à pensar, em quanta Força é necessária para um homem alcançar o sólio, não
força bruta, mas, Força de Vontade, Determinação. É possível que usará a Força
do Bom Propósito. Dotado dessa força, cabe estão o Trabalho. Um trabalho social
e moral, onde o enquadramento do indivíduo, resultará num ganho para a
sociedade, para o tanto ele deverá recorrer a Ciência para transpor um nível e
favorecer a disposição da alma para a pratica
do Bem, que é realmente a Virtude. Virtuoso alcançará um grau de Pureza, pois
somente os puros, podem ser um foco de Luz, e fazer prevalecer a Verdade em
nossa Sublime Ordem. Apenas como curiosidade: O Trono de Salomão era grande,
todo em marfim finamente trabalhado e coberto de ouro puríssimo, o espaldar do
trono ao alto era redondo; de ambos os lados tinha braços junto ao assento, e
dois leões junto aos braços. Também havia doze leões um em cada extremidade
lateral dos degraus. Nunca houve um trono tão bonito em nenhum outro reino. O
Trono ficava sobre um estrado de seis degraus (Liv. dos Reis). O objetivo deste
pequeno artigo é aguçar a curiosidade dos Irmãos, aos estudos. Qual a sua
resposta para essa pergunta: - Se o Sólio de Salomão ficava no alto de 6
degraus, por que o do Venerável fica no alto de 7 degrau? Faça uma pesquisa e
quando ela estiver pronta, leve para sua Loja enriquecendo seu Quarto de Hora
de Estudos. Lembre-se independente do Grau ou de Cargos somos responsáveis pela
qualidade das Sessões Maçônicas”.
RESPOSTA:
01 – Realmente, trono e sólio
como substantivos são a mesma coisa. Não vejo qualquer razão para o escritor
apócrifo do texto fazer tanto alarde, salvo uma pretensa preparação de terreno
para expor certas ilações no mínimo tendenciosas e esdrúxulas.
02 – “O uso da palavra SÓLIO,
como mobiliário de uma Loja Maçônica é corretíssimo, pois quer disser “assento
do Rei”, “Trono” se levarmos em consideração que fazemos analogia entre a Loja
Maçônica e o Templo de Salomão, nada mais plausível que chamemos a cadeira do
Venerável Mestre de Trono de Salomão ou se quiserem Sólio de Salomão.” -
Primeiro o Templo não era do Salomão, mas de Jerusalém. Salomão deveria
possuir um palácio. Segundo, uma Loja maçônica não pode ser considerada como
arquétipo do Templo de Jerusalém.
Na exposição lendária são tomadas
dele partes como alegoria moral, além de conceitos doutrinários que constituem
um teatro moldado na fábula da construção e destruição do Templo conexo à
Palavra perdida, todavia isso é mera conjectura e não fatos comprovados pela
história acadêmica. A lenda do Terceiro Grau foi constituída com a finalidade
de despertar lições de moral e sociologia, estando muito longe de se imaginar
maçons construindo o Templo, muito menos sentados em certos “Tronos”.
Essa “estória” de Trono, Cadeira,
Sólio de Salomão pautada ao assento do Venerável é mera filigrana e copiada de arcaicas
considerações inglesas do passado (Harry Carr já se referia a isso quando
citava alguns trechos das Lições Prestonianas).
A alusão está na presumida
sabedoria do Rei, entretanto querer comparar o Venerável Mestre, ou o Mestre da
Loja e o seu assento com o Rei Salomão e seu trono é querer subjugar a
inteligência dos outros.
Melhor mesmo seria comparar o
sólio ao lugar da Sabedoria daquele que dirige um canteiro que constrói
especulativamente um novo Homem para que seja ele parte integrante de uma
sociedade justa e fraterna.
03 – “O mais famoso dos sólios é
o sólio estelífero que enfeita o teto de nossas Lojas e talvez o mais poderoso
seja o Sólio Pontifício que é a Cadeira de São Pedro (não se usa o termo Trono
de São Pedro)”. – Sólio estelífero. Essa, pelo tamanho da bobagem, dispensa
qualquer comentário.
Agora, quanto ao sólio poderoso
do Vaticano (Cadeira de São Pedro), pergunta-se: O que tem a Maçonaria a ver
com isso? Ou será que o nosso articulista está querendo comparar a Basílica com
uma Loja Maçônica tendo São Pedro como Venerável? Essa também é de cansar a
inteligência.
04 – “Conte os degraus que elevam
o Sólio Pontifício, de onde o Papa celebra as missas, irá encontrar 7 degraus.
Não são 4 mais 3, são 7 degraus diretos, mesmo assim lembram alguma coisa!” - O
que lembram eu não sei, todavia gostaria de esclarecer ao nosso articulista, já
que ele menciona o Rito Escocês Antigo e Aceito e tenta relacionar os degraus
da Loja ao Sólio Pontifício, que uma verdadeira Loja escocesa, além de ser de
cor encarnada se sobe ao Oriente por apenas um degrau e não quatro, enquanto que
ao Sólio se faz por três degraus.
Agora, quererem se somar degraus
além da conta para se chegar a sete é mero exercício de imaginação. É bem
verdade que existem muitos rituais ditos escoceses espalhados pelo Brasil que
preceituam erradamente o acesso ao Oriente por quatro degraus.
Esclarecendo: Em linhas gerais
nas Lojas escocesas sobe-se ao Oriente por um degrau, ao Sólio por três, à mesa
do Primeiro Vigilante por dois e a do Segundo Vigilante por apenas um degrau.
Se o nosso articulista quiser,
fazendo uma ginástica imaginativa (isso me parece notório) ele até chega com o
resultado da soma aos “sete degraus”, porém, daí ao Sólio Pontifício é de
pulular os miolos.
05 – “O Trono de Salomão era
grande, todo em marfim finamente trabalhado e coberto de ouro puríssimo, o
espaldar do trono ao alto era redondo; de ambos os lados tinha braços junto ao
assento, e dois leões junto aos braços. Também havia doze leões um em cada
extremidade lateral dos degraus. Nunca houve um trono tão bonito em nenhum
outro reino. O Trono ficava sobre um estrado de seis degraus (Liv. dos Reis)”.
Primeiro é preciso esclarecer que
as citações bíblicas são muitas vezes figuradas e até mesmo exageradas, já que
o intuito era o de dar majestade e esplendor ao fato, entretanto, não pode ser
tomada ao pé da letra como conclusão acadêmica da história.
Segundo, os seis degraus; Espero
que isso não tenha nenhum caráter sugestivo por parte do autor da lauda acima
transcrita no sentido de comparar o Sólio ocupado pelo Venerável ao luxuoso Trono
do Rei que segundo a Bíblia ficava sobre um estrado de seis degraus!!!
06 – “Se o Sólio de Salomão
ficava no alto de 6 degraus, por que o do Venerável fica no alto de 7 degraus?
Faça uma pesquisa e quando ela estiver pronta, leve para sua Loja enriquecendo
seu Quarto de Hora de Estudos”.
O duro mesmo é enriquecer o
quarto de hora de estudos com essa baboseira toda. Mais uma vez querer se
estabelecer um paralelo entre o Sólio da Loja e o Trono carece de muita
imaginação.
É bom lembrar ao articulista proponente
que o Trono não é do Venerável, é da Loja, já que seu cargo é transitório e ao
seu final ele não leva a cadeira para casa.
Da mesma forma, se com muito
esforço se quiser comparar uma Loja Maçônica que nada mais é do que um canteiro
especulativo de obras, com o Templo de Jerusalém, é bom lembrar que no Santo
dos Santos, recinto maior em importância religiosa no tabernáculo,
tradicionalmente só entrava o Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) uma vez por ano no
dia da Expiação (Rosh Ashna - literalmente cabeça do ano) para ter com “IAVE”
(nome impronunciável de “Deus” na tradição hebraica – Aquele que É, que Foi e
que Será).
Essa data está relacionada ao
início do ano civil hebraico no mês de Tishrei, ponto de Libra, equinócio ou
início do outono no hemisfério Norte.
Não consta que o Rei tivesse um
Trono no Santo dos Santos, todavia seria mais plausível no seu palácio.
07 - “Lembre-se independente do
Grau ou de Cargos somos responsáveis pela qualidade das Sessões Maçônicas”.
Muito bem lembrado, porém difícil
é se ter responsabilidade ao se auferir induções dessa natureza para se
preencher um tempo de estudo.
Já que o assunto é o Templo, bem
melhor seria pesquisar as suas tradições no arcabouço doutrinário maçônico e a
sua relação com as corporações de ofício do passado medieval; Quando surgiu o
primeiro Templo Maçônico e a sua disposição topográfica relacionada ao
Parlamento Britânico; A influência da igreja na Maçonaria; As Associações
Monásticas e as Confrarias Leigas; O período Operativo e o Especulativo; O
Século das Luzes e a Maçonaria na França; A Moderna Maçonaria; As origens do
escocesismo, etc., isso só para ficar no campo da História.
Salvo se o articulista proponente
possua documentação primária confiável concernente à pesquisa sobre o tema, não
vejo nessa proposta nada com capacidade de enriquecer os nossos conhecimentos.
Opa!!! Agora me ocorreu uma
dúvida! Cheguei a sete considerações! Seriam elas sete ou seis? Preciso
pesquisar!!!
Desculpe a brincadeira, mas ninguém
é de ferro. Tento exercitar a virtude da tolerância, todavia não consigo ser
indulgente. O sério historiador sabe quanto custa pesquisar. Juntar velhos
documentos, cheirar poeira nos arquivos, passar madrugadas tentando compor um
mosaico histórico com fragmentos, antigas constituições, etc.
Isso para não se falar das
sonegações de informação e outras coisas mais. De repente, aparecem certos
“luminares” que “acham”, supõe e escrevem verdadeiras “abobrinhas” e as
espalham aos quatro ventos. Desabafando, devo dizer que infelizmente bons
pesquisadores compromissados com a verdade ainda são poucos, enquanto que
inventores imaginosos se propagam com ervas daninhas.
É bem verdade que a evolução da
ciência nos trouxe o correio eletrônico, comumente conhecido como “E-mails”. Se
esse é um avanço inquestionável, ao mesmo tempo também é um repositório de
certas... (prefiro não escrever).
Vou encerrar parafraseando o
saudoso Irmão e amigo Castellani – “Se só existe no Brasil e não é jabuticaba,
ou é besteira ou é privilégio de alguns”.
T.F.A.
PEDRO JUK -
jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr.
405 Florianópolis (SC) 10 de outubro de 2011
simplesmente aborei... , simples assim!
ResponderExcluirÓtimo trabalho, riquíssimo aprendizado parabenizo o valoroso ir:.que me proporcionou essa alegria de poder melhorar minha oratória em Loja.T:.F:.A:.
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