Ir∴ João Anatalino - Mogi das Cruzes/SP
(repasse: Ir∴ Marcos A.Bergantini∴)
No dia da consagração do Tabernáculo, Aarão imolou um bode pelos pecados do povo, por que essa era uma tradição antiga que dizia que esse animal possuía características especiais que o faziam ser capaz de catalisar os influxos espirituais do povo. E desde então o bode passou a ser considerado um animal sagrado. (1)
Em muitas culturas ele é o confessor dos pecados do povo e o seu redentor. Para os antigos povos, a figura do bode sempre esteve conectado com questões místicas. Os gregos, por exemplo, o utilizavam na representação dos Mistérios Dionísicos.
Nas cerimônias egípcias de iniciação nos Mistérios de Isis e Osíris, costumava-se também lançar ao Nilo um bode, com os seguintes votos: “se algum mal paira sobre a cabeça desses que estão sendo iniciados, ou sobre a terra do Egito, que ele desapareça com essa oferta.” (2) A cerimônia dos hebreus, sacrificando um bode pelo povo, ou levando-o para o deserto e abandonando-o lá, tinha o mesmo sentido de sacrifício que levava os gregos e os egípcios a essas práticas. Pensava-se que o animal podia ser um catalisador de forças malignas e com a sua destruição, o mal seria também destruído. Com base nessa tradição, alguns povos desenvolveram o costume de “confessar para o bode” os seus pecados, por que, segundo se dizia, ele era um animal confiável, ou seja, não divulgava para ninguém os segredos do confessor.
A identificação do bode com temas luciferinos é uma inspiração da Igreja Católica, que assim fez para desacreditar e estigmatizar antigas tradições, especialmente oriundas da cultura grega, que conectavam esse animal com o Deus Pã, a deidade protetora dos pastores, que era representada por uma figura semelhante a um bode.
Para a Maçonaria o termo “bode” pode assumir vários sentidos.
Ao sacrificar, na iniciação, os vícios da vida profana e assumir o seu compromisso de maçom, o Irmão assume a condição de “bode” do sacrifício. (3)
Por outro lado, o segredo é um dos princípios da boa Maçonaria.
Daí o termo se referir, principalmente, ao indivíduo que sabe guardar segredo, isto é, àquele que mesmo torturado não fala. Essa tradição vem dos tempos da Inquisição, quando a Igreja mandava prender e torturar os praticantes das chamadas heresias.
Diziam os torturadores que tais indivíduos eram como “bodes”. Berravam mas não falavam (4).
Notas
1 - Levítico: 16: 20 a 28.
2 - CF. E. Wallis Budge, op citado, Vol I. Para os antigos egípcios, o bode também representava o signo zodíaco de Capricórnio e era o guardião do portão por onde o iniciado entrava para receber os Divinos Mistérios.
3- Os maçons são chamados de “bodes” por diversas razões. Uma delas é o caráter sagrado que esse animal assumia nos antigos rituais iniciáticos.
4- Diz-se que Napoleão Bonaparte fechou várias Lojas maçônicas em seus domínios e mandou torturar muitos irmãos para que eles denunciassem pretensos conspiradores. Segundo a tradição, os torturadores, ao reportar ao Imperador o resultado de suas torturas, disseram a ele a mesma coisa que os carrascos do Santo Ofício: “Majestade, esses maçons berram como bodes, mas não dizem um único nome”.
Fonte: JBNews - Informativo nº 193 - 08/03/2011
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