Ir∴ Bruno Oliveira
Um homem deve amar o seu pai, mas se libertar de suas expectativas e críticas para que possa ser um homem livre.
Imagine que seu pai está morto ou lembre-se de quando ele morreu. Há sentimentos de alívio associados à morte dele? Agora que ele está morto, alguma parte de você se sente feliz por não ter que preencher suas expectativas ou ouvir as suas críticas? Você teria vivido a sua vida de forma diferente se você nunca tivesse que agradar o seu pai? Se você nunca tivesse que ter provado a ele o seu valor? Se você nunca tivesse se sentido sobrecarregado pelo seu olhar crítico? Pelos próximos três dias, faça pelo menos uma atividade que você reprimiu ou suprimiu em função da influência do seu pai. Desta forma, pratique ser livre de suas expectativas sutis, que hoje podem residir dentro de você mesmo. Pratique ser livre desse jeito, uma vez por dia, durante três dias, mesmo que você se sinta medroso, limitado, não merecedor ou sobrecarregado pelas expectativas de seu pai.
De imediato, em uma de nossas reflexivas conversas, o Ir. Rodrigo Menezes, lembrou que essa lição lhe remetia de imediato a lição transmitida no grau de Mestre. Esse insight de fato já nos gera certo incômodo, se transmitimos a ideia do ocorrido com o Arquiteto Mestre de Salomão para uma figura paterna real de nosso cotidiano. Mas como tudo que nos tira de nossa zona de conforto, essa lição há de nos levar além.
Acostumados a uma simples encenação e reflexão, quando bem executado o ritual, temos aqui uma sugestão de prática concreta. A morte, vista como o findar de uma existência, pode nos levar a descobertas sobre nossas próprias capacidades, o chamado “ato e potência” o vir a ser da filosofia descrito na filosofia de Aristóteles, Aristóteles determina uma exceção a esta regra, através de uma lógica precisa. A única coisa que é apenas em ato, sem que exista transformação e sem que ao menos precise dela é o BEM, encontramos aqui também uma analogia para o famoso jargão “ de bons costumes”.
Este ato (O BEM) não é nada em potência, nem é a realização e potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo e não é antecedente de coisa alguma. O escritor e filosofo, Pires (2017) analisa de forma direta que desse conceito, Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus, em que o determinava como um “ato puro”.
Uma estátua é ato quando está realmente esculpida, e não quando está em um bloco de mármore. Assim, este bloco de mármore poderá se tornar uma linda estátua, ou em piso para um templo ou lápides para a memória de alguém que não mais está em nosso meio. Este é mais um dos exemplos aristotélicos. Concluímos assim que ATO e POTÊNCIA não são entes, mas são dois princípios opostos do mesmo ente.
O que tanto se quer dizer é que uma matéria só poderá se transformar em outra mediante uma movimentação impulsionada por uma energia (potência). O esgotamento dessa potência transformará a matéria em ato. Desse modo, é que se consente que o movimento de transformação só há na eminência substancial de uma potência, esta não existindo, estará a “coisa” manifestada apenas em ato.
Trabalhando na lógica de Aquino, pode-se entender que se o BEM é ato e não tem Potência, quer dizer que o BEM surgiu de si mesmo, por isso a sua genialidade. E se este BEM vem de Deus, consequentemente, Deus é um Ser que existe por si só, sem depender de outra coisa ou energia para viver. É o começo de tudo e tudo nele mesmo. Em Deus não há potência; Ele é ato perfeito, puro, motor imóvel[1] .
A Maçonaria sem a prática é uma arte morta, a reflexão sem ação efetiva em nossas vidas oriunda das lições transmitidas perde o sentido.
E não há a necessidade dos irmãos esperarem o Grau de Mestre, ou os sobrinhos DeMolays o grau de DeMolay ou lição alguma para refletir na lição aqui discutida, já que a própria iniciação, é um ato de morte para a antiga vida e renascimento para a nova, ai está o cerne das ordens iniciáticas e o que as diferencia das demais.
Esse viver com a morte do pai engloba um significado, o de se libertar não de um laço familiar, mas de paradigmas que por vezes nos limitam em exercer nossa liberdade de explorar nossos atos e potencias. A mitologia grega alem de nos entreter, tenta nos dizer algo sobre isso quando Zeus se liberta de Chronos, seu pai e se torna senhor do Olimpo. Talvez esse lição seja a quem mais nos diferencie dos profanos, não pela ausência da dor de uma morte, mas pela forma como somos ensinados a lidar com a mesma desde de nossa iniciação, em alguns graus e ritos de forma mais velada em outros mais explícito.
Que possamos viver de modo a honrar a memória daqueles que já foram e a preparar a chegada daqueles que nos sucederão.
Referências:
[1] Geocities (site) ato-e-potencia-aristotelico/10066
The Way of a Superior Manda – David Deida
Fonte: http://ritoserituais.com.br
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