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terça-feira, 2 de julho de 2019

LÁPIS AMIGO E ENCANTADO

LÁPIS AMIGO E ENCANTADO*

Observo os meus netos Paulo Henrique e Vinicius, fazendo suas tarefas escolares. Usam um instrumento que as crianças aprendem a escrever e artistas criam obras primas. A tecnologia, em avançadíssimo e acelerado ritmo de aperfeiçoamento, não consegue e jamais conseguirá prescindir desse companheiro de milhões de pessoas, sem o qual ninguém será alfabetizado.

Toda língua tem história que se confunde com seu povo. No português nossas palavras vêm de várias fontes. Da fonte primária e básica que é o latim falado.

O latim escrito era usado pela Igreja Católica e intelectuais, nascendo palavras eruditas como fascículo, miraculoso, lácteo e outras. Há também no português várias palavras de origem gótica, como albergue, trégua, bando. De origem árabe, alface, faquir, tripa, xadrez e outras.

Em consequência do domínio espanhol sobre Portugal, herdamos alambrado, granizo, neblina, tablado, vislumbrar. Já no Brasil, recebemos influência dos negros que foram trazidos como escravos, nas palavras acarajé, vatapá, candomblé. Dos índios, principalmente nomes dos acidentes geográficos e das cidades. Dos europeus e asiáticos, como italianos, espanhóis e japoneses, a influência em nossa língua é muito forte. Do francês palavras como chique, croqui, tricô, menu, omelete, purê, sutiã.

Atualmente, sofremos uma grande influência de termos norte americanos, como basquete, vôlei, boxe, uísque, cartoon, filme e outras que conservam em nossa língua a ortografia inglesa, como marketing, software, overnight, holding e lobby. Em tempos de globalização, nossa língua continua aberta e recebendo novos vocábulos.

Não estou divagando, apenas um sintético histórico da origem das palavras, para chegar naquele instrumento que vejo nas mãos dos meus netos e está nas mãos de todas as crianças do mundo, o LÁPIS.

A palavra lápis, em latim, de acordo com sua função na frase significa pedra, pedra tumular e no século XVI, provavelmente do italiano, o português absorveu com sentido especial de grafite, variedade de carbono cristalizado para escrever. Hoje, designa um bastão, geralmente de madeira e cilíndrico que envolve a grafite.

Meu lápis, querido e saudoso, de quem guardo recordações do meu primeiro dia de aula no grupo escolar José Ludovico de Almeida, em minha terra natal, Itauçú, estado de Goiás. Minha primeira e carinhosa professora me ensinava a controlar este instrumento tão simples, que considero muito poderoso, marca na vida de cada um o desejo em se comunicar.

Tão forte é, que é capaz de tirar da folha em branco, letras, palavras e frases inteiras. Para cada pessoa, a história do lápis é a do próprio aprendizado. Mas ele tem também a sua história que reflete o desenvolvimento de toda humanidade.

Lápis arcaicos foram usados na pré-história em pinturas feitas em rochas. Gregos e romanos, na antiguidade, usaram artefatos semelhantes ao lápis. No século XII surgiram na Europa instrumentos parecidos com o nosso lápis atual.

No século XVI, com a descoberta de uma mina de grafite na Inglaterra, aconteceu a virada dessa história. O químico Carl Wilhelm Scheele comprovou que o grafite poderia ser usado como instrumento de escrita.

Os primeiros lápis eram feitos com pedaços de grafite enrolados em cordas ou pele de animais. Na sequência, o grafite passou a ser encaixado em pequenas ripas de madeira. Em 1851, Lothar von Faber introduziu a forma de lápis em madeira válida até hoje, na indústria mundial de instrumentos de escrita. Mas somente no ano de 1898 é que surge o nome Faber-Castell.

Em 1905, o conde Alexander Faber-Castell, lança o lápis Castell 9000, no mercado ainda hoje. Em 1929, a fábrica de lápis é assumida por John von Faber e em 1948, a ascensão mundial com as primeiras lapiseiras para desenho, principalmente para desenho técnico. Atualmente, a empresa com grande reputação usa toda a madeira utilizada na confecção de seus lápis de áreas de reflorestamento no Brasil, plantadas em espaços desmatados e recuperados pela empresa, que é a maior unidade do grupo. Em 2007, os lápis Faber-Castell, passaram a se chamar Ecolápis.

O lápis mais antigo do mundo foi encontrado em meio às colunas do sótão de uma casa construída no século XVII, onde ficou por 3 séculos. É feito de dois pedaços de madeira de tília, colados com uma barra de grafite entre elas, apresentando sinais de uso que atestam sua idade e está cuidadosamente preservado pelo acervo Faber-Castell, localizado na Alemanha.

Há cinco qualidades no lápis, que se você conseguir mantê-las será sempre uma pessoa em paz com o mundo. A primeira, você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma mão que guia seus passos; a segunda, de vez em quando precisa parar o que está escrevendo e usar o apontador. Saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor. A terceira qualidade, o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que está errado.

A quarta qualidade importante no lápis não é a madeira ou sua forma interior, mas o grafite que está dentro. Cuide daquilo que acontece dentro de você. Finalmente, o lápis sempre deixa uma marca. Saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços. Procure ser consciente de cada ação.

Madre Teresa de Calcutá, identificando a verdadeira importância do lápis, uniu o instrumento à sua missão, afirmando: “Sou apenas um lápis nas mãos de Deus, e é Ele quem me escreve”.

*Artigo do Grão Mestre Barbosa Nunes publicado no Jornal Diário da Manhã dia 08 de setembro de 2012.

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