CONJECTURAS DE UM MAÇOM IDOSO
Acadêmico Márcio dos Santos Gomes
Cadeira Nº 2
Patrono: Cláudio Manuel da Costa
Não sejamos velhos tolos. Sejamos sábios idosos. Para tanto, temos que ser humildes. (M.S. Cortella)
Irremediavelmente chegamos a um momento da vida maçônica em que a deficiência da força e do vigor da juventude colhe suas consequências. O nosso trabalho já não é requisitado e as contribuições até então realizadas deixam de ser reconhecidas. Temos uma leve desconfiança de que, após anos de entrega, no nosso entorno as coisas começam a ficar diferentes.
Muitas das vezes, olhamos para os lados e não vemos mais aqueles diletos irmãos que valorizavam a nossa companhia e conosco se empenharam na senda maçônica e, hoje, repousam merecidamente no Oriente Eterno.
Novos irmãos, novas energias, disputa por ocupar espaços, firulas políticas, competições. Os valores, os fundamentos, continuam os mesmos, mas revestidos de novas roupagens e com leituras mais “atualizadas”, que nos fazem sentir que nossas habilidades estão caindo em desuso. Quem sabe não é hora de partirmos para outras atividades? Nesse admirável mundo novo, não é bom ficarmos onde não há mais espaço para enfrentar embates, contribuir com sugestões, nem mesmo para ser ouvido. Ainda tem muita vida lá fora! E vida não digital!
Não resta dúvida de que a idade costuma comprometer capacidades cognitivas como a memória e a rapidez de aprendizagem, que podem ser compensadas por outros atributos, hoje as conhecidas habilidades transversais (soft skills), como experiência, conhecimento, espírito de liderança, colaboração, capacidade de gestão, de comunicação (oral refinada e escrita de primeira) e empatia. Costumamos ser um pouco mais lentos ao lidar com telas, dispositivos eletrônicos e as redes sociais tão naturais na geração digital e o novo normal que ai está.Para nós, estar conectado tem outro sentido. Trabalhar seguro nas nuvens, também! Ser controlado por um algoritmo, assustador! Encenar um olhar fresh sobre os “problemas”, meu Deus! Linkedin?? vade-retro!
Não se pode avaliar competências e capacidade pelos aniversários acumulados. Isso é tendencioso e discriminatório. Sejamos jovens ou velhos, os critérios de avaliação são outros. Vivências podem viabilizar soluções e contornar riscos. É preciso que fique bem claro: idoso é aquele que tem muitos anos e velho aquele que acha que sabe tudo, que já está pronto. A Maçonaria nos ensina a vencer os preconceitos, que no caso vertente se consuma na rejeição a estereótipos, cabendo-nos propugnar por avaliações inteligentes, criteriosas e imparciais.
Nada de dramas, lamúrias ou rabugice, mesmo quando dizem que somos idosos vaidosos, que é uma rima rica e deixa-nos como aquele emoji da carinha pensativa do WhatsApp. Será verdade? Uma coisa é certa, às vezes falamos muito, mas temos convicção de que tempo de Ordem não põe mesa, a travessia sim, e ainda temos muito a lapidar. A nossa régua é individual. O importante é que a vivência nos permite reconhecer e valorizar nossos acertos, as marcas que deixamos, o nosso legado, e a aprendizagem decorrente dos erros cometidos. O prazer é olhar para trás e contemplar o caminho seguro que edificamos para a sustentabilidade da Ordem.
E esse amadurecimento nos enseja a vislumbrar que agora é o momento de colher o que plantamos junto aos nossos familiares e amigos, aqueles a quem tornamos felizes durante nossa caminhada. E precisamos ter clareza de propósitos para encarar esse novo estágio dessa experiência material do espírito. O futuro talvez não seja mesmo onde pensamos que estamos.
Ah, antes que caia no esquecimento! Quem for curioso que pesquise no Google “A Fábula do Cachorro Velho”. A narrativa encerra um grande aprendizado: “não mexa com cachorro velho... idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga. Sabedoria só vem com idade e experiência”. Enfim, continua valendo o ditado: os incomodados que se........ E, sendo esta uma reflexão fictícia, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
“Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida; para o sábio, é a época da colheita” (Talmude)
Fonte: Revista Libertas nº 17
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