A ABÓBADA CELESTE NA MAÇONARIA
Helio P. Leite
“O mestre todo-poderoso, ao exibir os princípios da ciência na estrutura do Universo, convidou o homem ao estudo e á emulação. É como se ele houvesse dito aos habitantes deste globo, a que chamamos nosso: fiz o mundo para que nele o homem vivesse feliz, admirasse o firmamento estrelado, aprendesse a ciência dos astros. Ele agora pode prover o seu próprio conforto e aprender, com a minha munificência, a ser generoso como o próximo.” ( Thomas Paine ).
Devemos situar, primeiramente a Estrutura Geométrica do Templo. Assim, a linha do equador representa o eixo da Loja dividindo-a em duas partes. Temos, ainda, a linha do trópico do Trópico do Câncer, que atravessa todo o Templo, em Linha reta paralela por cima da Coluna B; e outra linha, a do trópico de Capricórnio, também em linha paralela por cima da Coluna J. Temos ainda a linha do meridiano da loja que vai do Norte ao Sul, no centro do Ocidente do Templo.
A Astrologia era, na Antiguidade, considerada a chave de todas as ciências humanas e naturais. O termo Astrologia deriva das palavras gregas “áster”, astro, e “logos” palavra, razão e cômputo. Suas origens e desenvolvimento no passado distante não são conhecidas. Ela se confunde com as origens da civilização. Mas, seguramente, foram as necessidades de ordem prática, como a de marcar o tempo e reconhecer a ordem geral dos movimentos celestes para poder prevê-los, que fez com que em todos os povos da Antiguidade pudessem encontrar esses conhecimentos. É preciso observar que todos os sistemas primitivos do Universo eram ao mesmo tempo astrológicos e astronômicos. A observação do céu tinha como objetivo a interpretação.
A Astrologia floresceu no Egito e na Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates), onde habitavam os sumérios, acádios e caldeus; e o fato insofismável que para estes povos o Sol, a Lua e os planetas eram deuses que tinham influência sobre a vida na terra.
As provas mais antigas da existência da Astrologia são os fragmentos do relicário de um templo egípcio de 4.000 a.C., descoberto pela expedição do arqueólogo francês Frank Goddio, em 1999, e as tábuas de argila descobertas no séc. 19, em escavações nas cidades de Nínive e Nippur. Que já mostram a Astrologia bastante desenvolvida. O conhecimento dos movimentos do Sol e da Luz levou á confecção dos primeiros calendários, ao planejamento de plantios e colheitas e à previsão do tempo.
No Egito faraônico, a crença era no destino inelutável. Contava-se que ao lado de Maat e de Ísis havia as Hathor, sete sacerdotisas que, na presença de um deus escriba, anunciavam ao recém-nascido o seu destino, mas este anúncio só era feito para os privilegiados, reis ou sacerdotes. O conhecimento astrológico era ensinado apenas nos templos. Os sacerdotes especialistas, inicialmente encarregados de medir o tempo, tornavam-se depois astrólogos do Estado.
Entretanto, foi a escrita cuneiforme dos povos da Mesopotâmia e a conservação dos documentos mais diversos de fatos de todos os tipos, inclusive os que se relacionavam ao céu, que possibilitou a comprovação do desenvolvimento da extraordinária tradição de observação desses povos.
Registravam, mês a mês, ano a ano e século a século, tudo o que observavam e sabiam. As fases da Lua e a evolução do Sol, através das constelações, também identificaram o movimento dos cinco planetas visíveis a olho nu (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) através do Zodíaco e determinaram seus períodos de revolução com exatidão.
Na Babilônia, já aparecem os simbolismos utilizados pela Astrologia até hoje.. O deus lunar Sin reinava sobre a vegetação, os meses, os anos, os dias e o destino dos homens. O deus solar Shamash era o senhor da vida e da justiça; ishtar, deusa do amor, correspondia a Vênus. Júpiter era o criador Marduk, deus protetor da Babilônia. Seu filho e companheiro, Nabu, foi identificado como Mercurio; o que segura o estilete das tabuinhas do destino, o deus das ciências. Marte era Nergal, deus dos infernos e das armas, arauto da infelicidade, com seu inquietante brilho vermelho.
Saturno, cuja evolução lenta foi notada, era assimilado a um velho Sol fatigador, Ninib, o estável astro da justiça e da ordem.
Elias Ashmole (23/5/1617-18/5/1692) foi um antiquário, político, oficial de armas, estudante de astrologia e alguimia britânico. Ilustra o transcurso da visão mundial pré-científica no século 17; enquanto ele se imergia em estudos alquímicos, mágicos e astrológicos, sendo consultado em perguntas astrológicas por Charles II e sua corte. Foi membro-fundador da Royal Society, um Estabelecimento Superior para promover o Ensino de Experimentos Físico-matemáticos, além de um isto de homem renascentista e filósofo hermético.
Quando criou o Rito Escocês Antigo, colocou no céu da Loja 36 astros. Esses corpos celestes, cuidadosamente escolhidos entre mais de 5 mil outros, obedecem a uma disposição geométrica exata e são os regentes dos cargos e graus dos Irmãos em Loja.
O SOL: A Luz Maior do céu e da Loja, representando o Venerável Mestre, colocado no Oriente e no eixo da Loja. Para os gregos, representava o deus Hélios percorrendo o céu numa carruagem de fogo puxada por quatro cavalos(estações do ano);
A LUA: Selene rege o 1º Vigilante. Era filha de Hyperion e de Teia e irmã de Hélios. Mais tarde identificada como Ártemis pelos gregos e Diana pelos romanos, também percorria o céu numa carruagem, mais de prata.
MERCÚRIO: Símbolo da astúcia, protetor dos viajantes e dos comerciantes, identificado com o Hermes dos gregos, era filho de Maia e Zeus (Jupiter), de que recebeu o encargo de mensageiro dos deuses. Tinha um par de sapatos alados e um capacete também alado. Carregava um bastão com duas serpentes enroladas (caduceu), símbolo da paz (harmonia de forças opostas). É o mentor e mais rápido dos planetas. É também o mais próximo do Sol, e por isso representa o 1º Diácono.
VÊNUS: É o segundo planeta mais perto da terra. Para os gregos era Afrodite, a deusa da Beleza e do Amor. Surge sempre próxima á Lua e é o astro regente do 2º Diácono. Conhecido ainda hoje como”Estrela Vesper”, a primeira a aparecer no céu. Vênus era o “mensageiro do dia”, anunciando a hora de começar e de encerrar o período de trabalho.
JÚPITER: Era Zeus para os gregos. O maior planeta do Sistema Solar, era o Deus Supremo do Universo, pais dos outros deuses e dos homens.
Júpiter é o guardião do direito, o defensor do Estado, protetor das fronteiras e do matrimônio. Seu atributo é o raio, temido por todos os deuses e mortais. Júpiter é o astro-regente do Past-Master e por isso fica no Oriente, à esquerda do Sol.
SATURNO: É o sexto planeta e o segundo em tamanho. Possui três anéis na altura do equador e 15 satélites, dos quais só nove eram conhecidos na época em que os Rituais foram escritos. Saturno é Cronos para os gregos, senhor do Tempo e da Eternidade, Pai de Zeus, por ele destronado.
Na Loja, Saturno é representado com seus três anéis e nove satélites, exatamente sobre o Centro Geométrico do quadrado do Ocidente. Saturno rege a CADEIA DE UNIÃO. Os seus três anéis representam os nove cargos sefiróticos ( Venerável, Orador, Secretário, Tesoureiro, Chanceler, 1º e 2º Vigilantes, Mestre de Cerimônias e Guarda do Templo ).
STELLA PITAGORIS: A Estrela Virtual ou Estrela Flamejante, colocada sobre o altar do 2º Vigilante, representa o iniciado que consegue integrar-se ao Universo. O homem-deus, Cristo, Buda ou mesmo Hércules, o iluminado que transcende a condição humana. É o astro regente do 2ºVigilante.
As Estrelas Reais
ACTURUS: Estrela Alfa da Constelação de Bootis, que em grego quer dizer “guardião de animais, zagal”. Por sua posição junto á Ursa Maior, é conhecida como a “guardiã do Urso”. Corresponde ao cargo de Orador, o guardião do Oriente. Sua posição no céu do Templo é exatamente em cima da grade do Oriente.
ALDEBARÃ: Estrela Alfa da Constelação de Touro, a qual pertencem as Plêiades e as Hyades. O nome Aldebarã significa em árabe, “o sequaz” ou “o adepto”, por causa da sua posição próxima às Plêiades e às Hyades. Na abóbada maçônica, rege o cargo de Tesoureiro.
FORMALHAUT: Alfa Piscis Austrinis, em latim significa Peixe do Sul, e aqui uma correlação com a coluna Zodiacal de Peixes. Formalhaut é uma palavra árabe que significa “a boca do peixe azul”, o que se aplica ao cargo do Chanceler.
REGULUS: Alfa Leonis é a estrela mais brilhante da Constelação de Leão. Repousa quase exatamente sobre a Eclíptica e é assim representada em Loja. Na Astrologia, Regulus sempre manteve posição de comando. Ela dirigia todos os trabalhos do Paraíso. Foi Copérnico quem a batizou com o nome de Regulus, que significa “regente”. Corresponde ao cargo de Mestre de Cerimônias, o mordomo ou regente dos trabalhos da Loja, cuja jóia é também uma régua.
ANTARES: Alfa Scorppii – Estrela vermelha super gigante. Durante séculos, a maior estrela conhecida. As vezes, confundida com Marte. Com efeito, Antares, em grego significa “ o rival de Marte “. Tanto Antares como Marte (Ares) são vermelhos e ocasionalmente aparecem próximos.
Antares é o astro regente do Guarda do Templo.
SPICA: Alfa Virginis (em latim “a espiga”) é a estrela regente do cargo de Secretário. Além de estar nitidamente associada à coluna da Beleza, feminina, a Spica guarda ainda relação com a palavra de passe do companheiro. Por outro lado, os primitivos instrumentos de escrita usados pelos gregos e romanos não eram penas mas canetas feitas com caules ocos de vegetais chamados de ‘spicula”. Curiosamente, Spica não é considerada uma “estrela real”, isso porque o cargo de Secretario não é eletivo, mas cargo de confiança do Venerável Mestre.
As Constelações
Na abóbada da Loja aparecem quatro grupos de estrelas pertencentes a quatro constelações:
ÓRION: Constelação equatorial, é facilmente identificada por sua configuração geral de um retângulo formado por três estrelas brilhantes com uma linha de três estrelas cruzando o centro que formam o “cinto de Órion” e são popularmente conhecidas com “as três marias” ou os “Três Reis Magos”.
Maçonicamente, Orion pode ser associado ao avental com as três estrelas do cinto representando a abeta, e as quatro representando o retângulo do avental. No teto do Templo, só são representadas as três estrelas porque representam a idade do aprendiz que ainda não tem o domínio do espírito sobre a matéria. A respeito da imagem do avental, mais uma coincidência: na tradição árabe mais antiga, Órion era chamado de “A ovelha de cinto branco” e o avental do aprendiz é feito de pele branca de carneiro com um cinto. As três estrelas de Órion são regentes dos aprendizes.
Maçonicamente, Orion pode ser associado ao avental com as três estrelas do cinto representando a abeta, e as quatro representando o retângulo do avental. No teto do Templo, só são representadas as três estrelas porque representam a idade do aprendiz que ainda não tem o domínio do espírito sobre a matéria. A respeito da imagem do avental, mais uma coincidência: na tradição árabe mais antiga, Órion era chamado de “A ovelha de cinto branco” e o avental do aprendiz é feito de pele branca de carneiro com um cinto. As três estrelas de Órion são regentes dos aprendizes.
HÍADAS OU HYADES: São um notável grupo de cinco estrelas formando a ponta de uma flecha na Constelação de Touro. As Híadas são as estrelas regentes dos Companheiros. O próprio grupo de estrelas tem a forma da marcha de Companheiro e talvez a tenha inspirado.
PLÊIADES: É outro grupo de estrelas da mesma Constelação de Touro. São também conhecidas como “as sete irmãs”. Elas regem os Mestres Maçons, a Plêiade de homens justos.
URSA MAIOR: “O Grande Urso” é considerado a Constelação mais antiga. No teto da Loja, são representadas as suas setes estrelas mais importantes que formam a “charrua”. A última estrela da cauda da Ursa Maior a Alkaid, também conhecida como Benetnasch; ambos os nomes fazem parte da frase arábica “Qaid AL Banat ad Nash”, que significa “A chefe das filhas do ataúde maior”. Este nome provém da concepção árabe mais antiga que representava a Ursa Maior como um caixão e três carpideiras. Essa interpretação interessa à Maçonaria, pois a representação egípcia coincidia com a árabe de um sarcófago (de Osíris) e sua viúva (Isis) e filhos (os filhos da viúva) em procissão fúnebre. A Constelação da Ursa Maior e a regente do Past-Masters, pois as quatro estrelas da cauda formam o chamado “arco real”, atributo dos Mestres Instalados.
Assim contamos 35 astros existentes na abóbada maçônica. Faltaum para completar os 36. O último astro não está dentro do Templo. É o planeta Marte, para os gregos Áres. Marte é o deus da guerra e, como tal, não poderia figurar entre aqueles que buscam a paz e a harmonia. Por isso, Elias Ashmole desterrou-o para o Átrio, o reino profano dos tumultos e das lutas e deu-lhe a incumbência de “cobrir o Templo”, sendo o astro do Cobridor. Do lado de dentro da porta foi colocado Antares, o rival de Marte, para garantir a fronteira entre o mundo profano e o iniciático.
Cabe destacar que este trabalho foi baseado no estudo elaborado pelo Ilustre irmão Carlos Alberto Inácio Alexandre, Mestre Instalado da Loja MMDC há décadas passadas.
Os Rituais dos Graus Simbólicos apenas fazem algumas (poucas) citações a respeito do assunto, o que gera dúvida e crítica, pois devemos saber de que tudo que há dentro do Templo tem uma razão de ser e simbolismo próprio.
Também existem outras interpretações, variando de rito para rito e da opiniões dos irmãos que se dedicam ao estudo de nossa Sublime Ordem.
Por exemplo, em Maçonaria e Astrologia, o ilustre irmão José Castellani associa os cargos em Loja aos sete planetas esotéricos: Venerável mestre a Júpiter, Orador a Mercúrio; 1º Vigilante a Marte; 2º Vigilante a Vênus; Secretário a Lua; Tesoureiro a Saturno; e Mestre de Cerimônias a Mercúrio
Excelente trabalho. Muito esclarecedor
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