A ESSÊNCIA DO ESTUDO DA GEOMETRIA
José, E∴, A∴M∴
R∴L∴ Bispo Alves Martins (Oriente de Viseu) - G∴L∴L∴P∴G∴L∴R∴P∴
Excelentíssimo Venerável Mestre
Excelentíssimo Past-Venerável
Queridos irmãos, em todos os graus e qualidades,
Construir templos implica saber medir as dimensões do espaço e do tempo. Os primitivos construtures-livres ou francos elaboraram bases operativas das quais a moderna franco-maçonaria especulativa conserva hoje a memória e o uso simbólico.
Duas peças fundamentais dessa Arte Real, que se mantêm centrais nos dias de hoje, são o esquadro e o compasso, colocados sobre o volume da lei sagrada, sempre que este está aberto na ara maçónica. Mas, o que medem hoje, em sessões de trabalho especulativas, estes instrumentos operativos?
Ao esquadro, que se considera fixo e ligado à matéria, atribui-se-lhe um carácter passivo, enquanto que ao compasso, instrumento móvel que se considera como símbolo do espírito, se lhe atribui um carácter activo. Em sessão de Loja, o compasso e o esquadro são colocados sobre o altar de três formas diferentes:
No primeiro grau, o de aprendiz, o esquadro fica por cima do compasso aberto a 45 graus, simbolizando que a matéria se sobrepõe e domina o espírito;
No segundo grau, o de companheiro, o esquadro é entrecruzado com o compasso, agora aberto a 60 graus, simbolizando o equilíbrio atingido entre a matéria e o espírito;
Finalmente, no terceiro grau, o de mestre, o esquadro é colocado debaixo do compasso, aberto a 90 graus, simbolizando que o espírito passou a dominar e a transcender a matéria.
Sem dúvida, na actual maçonaria especulativa, o esquadro e o compasso são os instrumentos com que cada livre-construtor de templos se mede a si mesmo, avalia a acção do seu espírito sobre a matéria do seu corpo e da sociedade exterior, quantifica o grau da sua própria libertação, a sua independência em relação às condicionantes do mundo profano.
Porém, a leitura deste simbolismo deve ser ainda mais aprofundada.
Observando-se atentamente a sobreposição e entrecruzamento do esquadro e do compasso, sobressai de imediato a forma da Estrela Flamejante, pentagrama de profundo simbolismo iniciático desde a mais remota Antiguidade. Esta figura alude aos cinco sentidos do Homem e às forças subtis da Natureza. No seu interior, inscreve-se o G , simbolizando o Grande Geómetra ou Grande Arquitecto do Universo.
Onde poderemos chegar com esta comparação? À compreensão de que a Geometria, na verdadeira tradição dos livres construtores de templos, não pode ser considerada uma disciplina como as outras, nem sequer distinta delas, mas sim como o sistema de referência fundamental, o sistema a partir do qual se efectuam todos os percursos intelectuais, morais e espirituais.
No mundo estático da Idade média, a fé implicava confiança absoluta em relação às hierarquias, com a emblemática solidez da afirmação selada pelo magister dixit. Só o pedreiros-livres, estudiosos da Geometria, constituíam uma excepção em relação ao imobilismo do dogmatismo reinante. Um geómetra, quando se inclina perante a palavra do mestre não o faz por ela proceder dele, mas sim por ela ter sido demonstrada. A relação mestre-aluno não assenta nem na confiança nem na submissão, é sim determinada pelo próprio exercício da transmissão de um conhecimento. O mestre diz ao seu aprendiz: «eis o que eu afirmo, eis como eu provo o que afirmo, e tu só o saberás depois de o teres verificado por ti próprio, com os teus instrumentos, o esquadro e o compasso».
De outro modo, não teriam sido erigidos ao longo dos séculos os edifícios majestosos dos templos, cuja perenidade testemunha a correcção das bases operativas usadas na sua construção.
Assim, é pela Geometria e pelo aprofundar do seu estudo que se introduz o espírito de pesquisa e se instala na consciência um modo de actuar que subverte o dogma da fé e conduz ao racionalismo. Reconheçamos que o mesmo pensamento que se desenvolveu a fim de estabelecer os planos dos templos e das catedrais preparou a supremacia da razão.
Partindo desta filosofia operativa dos primitivos construtures-livres, embora trilhando uma via atribulada e cheia de avanços e retrocessos, a moderna maçonaria especulativa amadureceu a ideia de que um homem pode ser digno de estima sem partilhar a mesma religião do seu irmão. Numa perspectiva dinâmica do mundo que se contrapõe ao imobilismo dogmático, o maçom, sem renunciar à sua própria fé, toma em consideração todas as ideologias e instala na sua consciência a ideia da tolerância, isto é, a ideia segundo a qual nenhum discurso tem o monopólio do verdadeiro, do bom e do belo, e que cada coisa é o estado transitório de uma perpétua metamorfose.
Pelo esquadro e pelo compasso, pelo estudo da Geometria, o maçom aprende que o espírito é o estado etéreo da matéria e que esta é o estado sólido do espírito, que as propriedades se diferenciam, mas não a natureza, que a movimentação social se torna fluída e as fronteiras entre as castas pouco nítidas e que a tradição se torna criativa porque cada um faz surgir sentimentos novos dos mesmos textos, caindo os muros que separam os homens.
É por isso que a via iniciática da Maçonaria se mostra capaz de voltar a unir Fé e Razão, Matéria e Espirito, Acção e Meditação e de recriar o homem total que retorna à Unidade Primordial, fazendo desaparecer os guetos e transformando todos os homens em irmãos.
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