PALAVRAS SAGRADAS E DE PASSE
Acervo do Xico Trolha
Na fraseologia peculiar à Instituição Maçônica subentende-se por “Palavras Sagradas” nomes ou expressões que identificam a qualidade indizível dos Maçons, e servem para diferenciar entre os Maçons os Graus de cada um deles.
Esse qualificativo de “Palavras Sagradas” encontra seus fundamentos no caráter definitivo que as mesmas possuem apesar da diferença de línguas, em todos os países do mundo.
No mundo da antiguidade, a denominação “palavra sagrada” era entendida como a designação que as religiões davam a um bolo oferecido ao sol e à lua, havidos como duas divindades em todos os credos orientais. Já era, portanto, desde então, a “palavra sagrada” um emblema de comunhão nos ideais e um sinal de aliança num compromisso formal e permanente.
A simples enunciação de uma “palavra sagrada” comprova imediatamente, em qualquer setor, o Grau de que está investido o Maçom que a pronuncie.
A guisa de confirmação, em alguns Ritos, as “Palavras Sagradas” requerem a enunciação de outras concomitantes, chamadas “Palavras de Passe”.
Constituindo as “Palavras Sagradas” e as de “passe” verdadeiras senhas dos Iniciados, comprobatórias da legitimidade e dos direitos que adquiriram, deverão ser mantidas pelos mesmos, de cor.
Nas visitações às Lojas, os visitantes serão obrigados a dá-Ias desde que solicitadas, sem nenhuma oposição ou inconformação.
No primeiro Grau Escocês não há Palavra de Passe. Nesse Rito, o Aprendiz está presumidamente submetido a experiências: ele é observado em seu mérito pessoal. Isto não acontece, entretanto, no Rito Moderno *¹, que exige do Recipiendário, logo nos primeiros minutos da Iniciação para depois continuar exigindo durante sua vida templária, prova de certos conhecimentos filosóficos. Atendida essa exigência, comunicam-lhe a seguir, uma palavra de “passe”. As duas “Palavras Sagradas” empregadas nos dois primeiros Graus deste Rito são as mesmas do Escocês, porém invertidas: a do 1º Grau do Rito Escocês é a do 2º Grau no Rito Moderno, e vice-versa.
As “Palavras Sagradas e de Passe” são declaradas quando a Loja estiver trabalhando, aos Irmãos Expertos e Cobridor.
As “Palavras Sagradas” dos Aprendizes nos dois Ritos, são nomes próprios de personagens bíblicos, descendentes dos troncos de duas famílias de renome ao tempo do Rei Davi. A dos Aprendizes do Escocismo perpetua um personagem, cuja genealogia dera os maiores valores intelectuais e os melhores filósofos que o mundo conheceu naquela época. É o nome de um homem que não teve a sabedoria de Salomão, mas portava a virtude de um Buda; não teve o poder sobre ninguém, mas predominou sobre seu coração; não construiu um templo de pedra, mas edificou um castelo de moral, dando-o por tabernáculo ao Amor sem borbulhagens malsãs, à consciência sem interesse eferente e à caridade discreta, singela e humilde. Seus exemplos de lealdade ao seu espírito passaram à posteridade e os Maçons os conservaram plasmados na Palavra Sagrada dos Aprendizes. Em hebraico, a “Palavra Sagrada” se compõe das três letras:
BET-EI-ZAINE. BET significa “casa”; EI traduz-se por “olho” e ZAINE indica “alma”.
Casa é o mundo objetivo, a habitação que existe nesse mundo.
Olho é a visão do mundo interior e exterior ao mesmo tempo.
Alma é a essência de ligação entre os dois mundos. A primeira letra citada existe em todas as línguas, exceto na Etíope e Armênia. Tem, pois, caráter quase universal. Sua forma gráfica dá a significação da matéria e o espírito entrosados no infinito demonstrado pela linha reta. A segunda letra dá a idéia do emblema do universo ou do caos primitivo, Símbolo do Aprendiz.
A terceira, no alfabeto latino, de onde o português, com seu aspecto de duas retas horizontais paralelas e uma vertical caindo do alto para baixo, mostra a união e a influência, ou melhor, a orientação dos desígnios do homem oriunda do céu, ou, em outras palavras, uma aliança do céu com a terra.
À primeira vista será a “Palavra Sagrada” o símbolo do Verbo Eterno. Outrossim, é um dos misteriosos modos de reconhecimento dos Maçons, traduzindo seus ideais e compromissos com o credo maçônico.
Tal como um sacramento, ela credencia o Iniciado por toda a vida. Ativo ou inativo, irregular ou não, suspenso ou coberto, o que a conhece no cérebro ou no coração, por pior que se torne, não perderá nunca esse selo indestrutível da “Palavra Sagrada” recebida após o ato da Iniciação. É a identificação de fraternidade.
A Maçonaria, que sempre procurou se manter fiel em sua liturgia na conservação da história do mundo e das civilizações, enxergou naqueles personagens, cujas vidas foram semeadas dos mais frisantes exemplos de virtudes e de solidariedade humana, um motivo para fixá-los no entender dos seus filiados. Dessa maneira resolveu adotar os seus nomes como as “Palavras Sagradas” dos Graus-chaves da Iniciação.
Não obstante a suma importância de que se cercam as “Palavras Sagradas” e as de “Passe”, a Maçonaria considera de maior valor ainda a palavra semestral, dada pelo Soberano Grão-Mestre e por ele substituída de seis em seis meses. O conhecimento desta palavra atesta, em cheio, a atividade do Maçom e o pleno gozo de todos os direitos.
A origem do seu uso data de 28 de outubro de 1773, dia da instalação de Felipe de Orleans - Duque de Chartres - como Grão-Mestre do Oriente de França, que a instituiu. O único Maçom, sem exceção alguma, autorizado para dar essa palavra a outros que não a conheçam é o Venerável de uma Oficina. Isto porque nessa palavra se concretiza toda a pujança da Maçonaria. Dada a sua transitoriedade e as cautelas observadas por todos os Maçons, torna-se impossível de ser conhecida pelos Profanos. A “Palavra de Ordem” é uma terceira, eventualmente adotada por certo período de tempo, quando as circunstâncias imprevistas e imperativas o exigirem.
Enfeixados como ficaram nas “Palavras Sagradas, de Passe e Semestral”, os segredos capitais da Ordem, nunca será demais repetir-se não ser permitida a divulgação das mesmas no mundo profano.
Todo Maçom que se descurar no cumprimento deste dever, deverá ser considerado como perjuro ignóbil. Consequentemente deve ser submetido a um processo regular e condenado a ser banido da comunhão dos outros Iniciados.
Conhecer a palavra sagrada do Grau de Aprendiz corresponde a dizer: “Eu sou Maçom”, transmiti-la a qualquer Irmão em Loja, equivale a afirmar: “As portas desta casa estão abertas para mim” e soletrá-la ao ouvido dos Expertos ou Cobridor, significa garantir: “Eu já conheci a verdadeira luz”. É ela, pois, o poderoso talismã de união permanente, de amizade indissolúvel, de confiança absoluta, de solidariedade imperturbável e de realização evidente do ideal de todos os Maçons.
Na “Palavra de Passe” se firma a garantia dos direitos de evolução dos Iniciados. Do ponto de vista esotérico ou iniciático, designa o conhecimento que transpõe as colunas da Beleza e da Força, comandadas pelos Vigilantes. Aquela expressão “em mim está a força” que intui a “Palavra Sagrada” do 2º Grau traduz o fruto da revelação que ela tende clarear aos que têm assento na coluna do Norte, transcendente do Grande Arquiteto do Universo. Todos os Maçons, ao prestarem seus solenes compromissos, ouvem a mesma advertência de sempre: manter o mais profundo segredo acerca de tudo quanto veja ou descubra dentro das Lojas.
A revelação de qualquer Palavra Secreta da Maçonaria implica na violação formal de tais compromissos e no desacato àquela advertência. Será tomada como uma traição implícita de consciência e uma quebra insofismável de dignidade, censuráveis por todos os motivos.
As “Palavras Sagradas” da Maçonaria devem ser entendidas na feição de verdadeiros gritos de guerra a tudo quanto possa escravizar a consciência humana. Bradam, realmente, contra a mentira, a fraude, o fanatismo, a opressão e os procedimentos arrogantes. São alegorias que se ajustam aos acordes do hino extasiante da liberdade, pontificando a igualdade como elemento efetuoso na defesa dos princípios ultra-elevados da fraternidade. Nos arraiais maçônicos ficou consagrada, sob a inspiração de uma só bandeira, a tradição em que se mantêm empenhados os Iniciados, no combate à ignorância e ao erro, concorrendo para que algum dia, com a mercê do Grande Arquiteto do Universo, se reimplantem no seio da sociedade humana, os princípios da solidariedade, da igualdade e da liberdade.
Nada importa, portanto, que alguns elementos desertem das fileiras maçônicas, desfalecidos nos braços da indiferença. Estes eventos não deverão influir no ânimo dos demais. Que cada Maçom ativo contente-se em agir por si, responder pela sua atuação pessoal e compenetrar-se da sua própria responsabilidade.
Um único quadro de obrigações há de ocupar-lhe a mente: trabalhar de bom grado pelo progresso da humanidade e cumprir o dever de um homem aprimorado e pertinaz no decoro da sua personalidade.
Nisso, tão somente nisso, resume-se e ensinança cotidiana das idéias que infundem as “Palavras Sagradas e de Passe”.
Sob os auspícios do Grande Árbitro das Cousas, os Maçons cem por cento propõem-se a mourejar *² com todo denodo, nessa obra monumental que visa à confraternização dos povos.
Tendo presente na tela de seus pensamentos a Imagem Augusta do Soberano Criador, deverão zelar pela guarda inconcussa dessas palavras: elas constituem a maior herança que a Ordem obteve dos antigos sacerdotes, para reparti-la com a maior liberalidade entre os seus filiados.
A todos quantos souberem retribuir, à altura, a essa prova de confiança máscula que a Maçonaria confiou às suas possibilidades de ação quando lhes concedeu o almejado título de homens livres e de bons costumes, caberá render à Instituição o tributo da sua gratidão imorredoura.
E, perpetuando nos seus anais as memórias inesquecíveis de tais filiados tão fiéis aos seus postulados, a Ordem, como faltosa da evolução dos seus filiados, terá praticado o mais eloqüente ato de justiça.
FONTE:
PRADO, Luiz. Palavras sagradas e de passe. Inst.. Ao Pé das Colunas. Varginha: Souza Marques, 1969. Capo 26, p. 120-123.
Ajustes feitos por: MM João Iraçu, Gr. 11º
*¹
Constituição da Grande Loja Maçônica do Distrito Federal
Art. 3º A Grande Loja Maçônica do Distrito Federal admite como legítimos o Rito Escocês Antigo e Aceito, o de York, o de Schröeder e outros que venham a ser por ela reconhecidos.
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