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terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A DOUTRINA MAÇÔNICA E A ÉTICA DO OBREIRO

A DOUTRINA MAÇÔNICA E A ÉTICA DO OBREIRO
Ir∴ Leon Grinbery

O processo formativo do maçom encaminha-o, desde o primeiro grau, a uma coerência entre pensamento, palavra e ação. Guia-o a alcançar afirmativamente a unidade da vida em todos os campos: uma única resposta, uma única responsabilidade, um único compromisso. Ajusta-o a uma única tabela de valores, evitando a multiplicidade de "morais". Não há uma ética para o Templo e outra para o mercado.

O fundamento doutrinário maçônico é gnóstico, porque no homem interior habita a Verdade. Por isso a instituição Maçônica propicia a busca e realização do homem interior, em todo homem e em todos os homens.

Ortega y Grasset disse: "Eu sou eu e minha circunstância", mas também o profeta Natan disse ao Rei David: "Tu és o homem. De ti depende o destino da humanidade".

Focalizar especificamente o homem é contemplá-lo como um lento processo (produto) evolutivo de um princípio de consciência. Princípio de consciência ou “substância primordial" que se manifestou como matéria inerte na primeira etapa. Logo surgiu o fenômeno da vida, aparecendo nas formas vegetativas e instintivas do reino vegetal e animal.

No reino animal (coincidindo talvez com a linha do pensamento de Telhard de Chardin) foi ocorrendo o processo de aparecimento e formação do sistema nervoso central, culminando na configuração do cérebro humano. Cérebro este que possibilitou, ao nível da mente humana, a faculdade da reflexão e da consciência de se fazer auto-consciente.

Todo este breve relato, em síntese, é expressão do movimento natural da consciência humana rumo a uma expansão e liberdade. A experiência central do mundo moderno é a busca da liberdade.

Claramente, ao sair da Idade Média, vislumbrou-se que o homem buscou a liberdade, para dar forma ao seu próprio destino como pessoa humana. Para muitos, a procura e o encontro dessa liberdade (qualquer que seja a acepção tomada, e ainda melhor: o conjunto de todas) é um fim em si próprio. Erich Fromm, na sua clássica obra O medo da liberdade diferenciou o conceito de liberdade de e de liberdade para.

Para outros, a liberdade não é um fim em si própria: é um meio para se atingir um fim superior ou mais "transcendente".

E este fim não poderá ser outro que o da Vida. Vida plena e real, com um autêntico sentido integrado. Viver é outorgar tira sentido à existência.

Acreditemos ou não, sejamos ou não conscientes, nós, os homens, somos os únicos gestores e realizadores da História, através da nossa concepção da vida.

A dialética do porvir humano de todos os tempos aparenta surgir de duas concepções divergentes: a materialista e a idealista. Concepções que se manifestam na luta ou no defrontar do que poderíamos chamar: poder político e poder espiritual. A verdade da realidade vital contra os interesses criados. Verdades absolutas contra Verdades relativas, acomodadas. Liberdade individual contra autoritarismo limitante. Liberdade versus dogmatismo.

O primeiro intento ocidental de unir ambas as concepções, ou seja, os dois poderes, foi o dos pensadores gregos. Entre eles, Platão, no seu livro A República, tratou de espiritualizar a realidade, de onde surgiu a utopia de que os governantes deveriam ser filósofos, homens do espírito. Atenas ordena a Sócrates beber cicuta. Fracasso do espírito ante o poder político.

Mas o espírito, segundo Martin Buber, é o encontro entre o homem e o transcendente. Daí ser necessária inevitavelmente a integração. As idéias têm valor contanto e enquanto se transformem em vida palpável, concreta. Não é possível permutar a vida pelo espírito, a idéia abstrata. Nem emancipar o transcendente o espiritual, da vida cotidiana.

Espírito sem compromisso do dever é um dos sintomas da nossa atualidade, e também a sua contraparte: o materialismo desconhece a essência da vida. O material e o vital devem se fundir para que o espírito seja vida.

Responsabilidade, base da ética.

Ser significa ser totalmente. Sermos nós mesmos, assumir. É nos comprometermos com cada hora de nossos dias, é sermos um homem em plenitude. Reiteramos: viver é dar sentido à vida. Cada momento da existência põe à prova o homem. Assumirá ele a responsabilidade de responder com todo seu ser à invocação do momento? É livre. Pode escolher e decidir. Nesta eleição ele joga o sentido de sua existência. E ao eleger para si mesmo, estará elegendo para a humanidade.

A responsabilidade é a única insofismável base de toda ética. É precisamente a responsabilidade que possibilita o exercício da ética e a pratica da moral.

O que é conflitante? O que cria a crise do homem e no homem? A cisão da existência em tabelas valorativas distintas. Pode ser que individualmente estabeleçamos a nossa própria escala de valores, nossa própria mensuração com prioridades diferentes. O importante é o ajustamento da nossa conduta à nossa tabela valorativa, evitando a multiplicidade de morais. Não há uma ética para o Templo e outra para o mercado.

O processo formativo maçônico nos encaminha, desde o primeiro grau, rumo a uma coerência entre pensamento, palavra e ação. Guia-nos para alcançar afirmativamente a unidade da vida do homem em todos os campos. Uma única vida, uma única resposta, uma única responsabilidade, um único compromisso, uma única ética.

Sempre há no recôndito do homem uma voz interior que o chama. que pergunta, que indaga, que reclama. Às vezes a chamamos de consciência. Perante ela, alguns fogem, se calam. Outros respondem. Alguns se ocultam entre palavras, entre idéias, entre ações. Outros revelam, se manifestam tal como são. Alguns argumentam tranqüilizando-a, se justificando. Outros se realizam se ajustam. Lutam contra a fragmentação, a divisão da vida em categorias distintas e em recintos temáticos, qual compartimentos estanques, que nenhuma relação estabelecem entre si. O ético o estético, o religioso, o metafísico, o sociológico, o econômico, o psicológico etc. que em definitivo refletem aspecto do homem, nunca do homem total.

Karl Jasper disse: "O modo como vejo a grandeza e como me comporto perante ela, me faz chegar ao meu próprio ser".

Ante um ideal de perfeição alguns expressam: são utopias; negam-no e reduzem tal ideal ao comodismo do nível em que se encontram. Outros, pelo contrário, e entre eles estão os maçons, tentam se elevar, se realizar nesta meta de perfeição. Essa meta de perfeição logicamente leva implícita a efetivação dos nossos princípios básicos.

Liberdade, igualdade, Fraternidade. Amor à Justiça; procura da verdade. Respeito à sabedoria; reconhecimento da harmonia e da justiça. Tolerância no seu legítimo limite.

Rejeição, superação ou controle da hipocrisia, ambição, inveja, egoísmo etc. Mas, acima de tudo, a pedra básica, o fundamento da nossa Instituição: a Fraternidade. E ela depende da compreensão.

Ambas, fraternidade e compreensão, determinam e descansam na responsabilidade, forjada, no nosso caso, como maçons, na real interiorização do que os nossos símbolos dinamizam.

Nossa formação maçônica implica ao menos estarmos a coberto de intenções e idéias espúrias, vigilantes de que a sabedoria, harmonizada pela beleza e pelo amor seja a potência das nossas ações, e por onde a nossa conduta esteja nas vinte e quatro horas do dia, a prumo, no transcurso do reto caminho a transitar pela vida.

Fonte: Samaúma
Ir∴ Leon Grinbery
Argentina
Traduzido da Revista Símbolo, órgão da Grande Loja da Argentina, pelo Ir∴Eduardo Escalante. Verdade mai/jun 1996

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