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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

sábado, 17 de junho de 2023

O NÚMERO E A MARCHA

(republicação)
Questão que faz o Respeitável Irmão José Arthur, Loja Ortodoxa da Barra de São João, GOB, Oriente da Barra de São João, sem declinar o nome do Estado (presumivelmente Espírito Santo). Essa questão me foi repassada através do Respeitável Irmão Matheus Casado Martins, ex-Secretário Geral de Orientação Ritualística do GOB.
lojaortodoxa@terra.com.br
mcmartins07@globo.com 

A dúvida é a seguinte: para o Aprendiz temos o número três, três luzes e marcha com três passos. Para o Companheiro, temos o número cinco, cinco luzes e marcha com cinco passos (três do Aprendiz mais dois passos do Companheiro). No entanto para o Mestre temos número nove, nove luzes e para os passos fala-se em marcha de nove passos porem temos os cinco de Companheiro mais o passo passando por cima do caixão, um voltando por cima do caixão e um para frente que perfazem um total de oito e não nove como deveriam ser. Gostaríamos da ajuda do Irmão para saber onde estamos errando. 

CONSIDERAÇÕES:

A questão do número de passos e as luzes acesas sobre o Altar ocupado pelo Venerável e as mesas dos vigilantes normalmente esbarra na dúvida quando complementada na etapa final, ou a Marcha do Grau de Mestre. 

Antes das considerações propriamente ditas, vale a pena citar que o primeiro ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito datado de 1.804 - Grande Oriente da França previa desde o Primeiro Grau não uma marcha, porém oito passos normais para frente. 

Ao longo do Século XIX esse ritual sofreria modificações para adaptações concernentes à sua vertente e o arcabouço doutrinário francês respeitando a sua origem "antigo" trazida pelos maçons norte-americanos, cuja prática do rito dito americano (York) organizado na época por Thomas Smith Web baseia-se nos Antigos do Craft inglês. 

Obviamente essa é uma longa história, cabendo aqui apenas uma ilustração para ajudar a compreensão da dúvida em si. 

Retomando a questão: a relação oito com nove no tocante a Marcha do Mestre viria aparecer quando os oito passos normais para frente ficariam divididos por graus simbólicos assumindo a definição de Marcha com o formato de passos e sinais atualmente conhecidos – os três primeiros para o Aprendiz que somados a dois outros para o Companheiro e por fim acrescentados dos outros três para o Mestre. 

Nesse sentido ficaria fechada a conta. Ocorre, entretanto que existe a mensagem doutrinária do Rito em questão que, por ser de origem francesa, adota a feição "Deísta" e, por extensão, com a base e investigação das Leis da Natureza associando a matéria prima especulativa (Homem) como elemento partícipe dessas Leis tomado a alegoria dos ciclos naturais produzidos pelas estações do ano com os seus solstícios e equinócios. 

Com base nessa assertiva é que existe a relação das nove luzes acesas e não os passos, porém os pontos que demarcam a sequência natural. 

Nesse aspecto a trajetória final dos passos (Marcha de Mestre) delineia esses pontos, sendo que não necessariamente exista a necessidade de que todos eles sejam representados por uma estação marcada pelos passos. 

Assim a Marcha do Mestre representa exatamente esses ciclos naturais (estações do ano) da seguinte forma: do último passo do Companheiro localizado sobre o eixo (equador) do Templo que é figuradamente um equinócio (os dias são iguais às noites na sua duração) o movimento parte daí para um solstício em direção ao Sul. 

Deste ponto o Sol se desloca para o Norte para o outro solstício, todavia não sem antes concretizar outro equinócio na sua passagem do Sul para o Norte, entretanto nessa oportunidade o ponto não é demarcado por um passo literalmente, já que o protagonista não pisa no esquife. 

Há que se notar que do Sul para o Norte a trajetória é de seis meses (tempo entre os solstícios de inverno e de verão), todavia entre essas duas estações existe antes a primavera. 

Por fim do Norte o protagonista se posiciona novamente sobre o eixo (outro equinócio) de frente para o Oriente. 

Sob esse prisma dão-se três passos por uma trajetória de quatro pontos, dada à consideração de que em um deles faz-se apenas a passagem e nele não se estaciona. Dessa alegoria então aparece o número nove que é aqui representado pelos quatro últimos pontos, ou estações estando diretamente relacionado ao número de luzes acesas. 

Embora a evolução anual do Sol seja representada pelo número de doze meses, exista na alegoria a ausência de três meses que representam o inverno onde há a prevalência das trevas sobre a Luz (dias curtos e noites longas – a Natureza morre e a Terra fica viúva do Sol – cultos solares da antiguidade, geralmente base das religiões). 

Note na representação teatral da morte de H∴, uma viagem composta por nove elementos que procuram a da Luz (o Mestre assassinado). 

Em resumo, a trajetória simbólica desde a Iniciação é composta por oito passos que, nos três finais representam os dois solstícios e os dois equinócios que completam a revolução anual do Sol. 

Se existe uma contradição nessa trajetória entre oito e nove é que oito são os passos e nove são os pontos, dada à assertiva de que de três em três eles representam a Primavera, o Verão e o Outono (Infância, Juventude e Maturidade – observadas as três viagens da Iniciação). 

Já o Inverno representa a morte da Natureza simbolizada pela morte de H∴, daí a representação alegórica do espaço da Câmara do Meio como uma câmara mortuária. 

Nesse sentido é que na vertente maçônica francesa a idade do Mestre não especifica um número afirmativo, todavia s∴ ou m∴). 

Apenas como subsídio para estudo remeto o Irmão aos seguintes temas para melhor compreensão dessa mensagem doutrinária. 

O círculo e as paralelas tangenciais; as Colunas Solsticiais B∴ e J∴ que marcam os trópicos e a relação dos solstícios; as doze Colunas Zodiacais (de três em três representam o alinhamento das constelações e as estações do ano); das Doze Colunas, seis ao Norte (Primavera e Verão) e seis ao Sul (Outono e Inverno); o ponto de vista astronômico que deve ser sempre levado em consideração o Hemisfério Norte (onde nasceu a Maçonaria); a coincidência das datas solsticiais com a figura dos santos padroeiros – João, o Batista e João, o Evangelista; ainda, sob o ponto de vista do Hemisfério Norte o Sul é conhecido também como Meio-Dia; a ressureição da Natureza em 21 de março (Primavera na meia esfera Norte do planeta Terra); "Natalis Invicti Solis" – a Volta do Sol Invicto; "Igne Natura Renovatur Integra" - o Fogo Renova Toda a Natureza. Finalizando. Espero ter contribuído para essa compreensão, embora saiba que esse escrito seja até mesmo prolixo, todavia em Maçonaria os símbolos e alegorias falam de forma velada, carecendo assim a montagem desse quebra-cabeça que, despido de qualquer superstição, ocultismo e licenciosidade interpretativa, mostra exatamente o aperfeiçoamento possível do material humano como parte integrante da perfeição das Leis Naturais – mensagem doutrinária do Rito na vertente francesa.

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 0926 Florianópolis (SC) 17 de Março de 2013

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