Autor: Bruno Calil Fonseca
Decapitação de São João Batista – Caravaggio (1607-08)
São João, o Evangelista – Valentin de Boulogne (1622-23)
Quando os trabalhos são declarados abertos, há referência a São João, dito nosso patrono. Porém, qual o São João? São muitos, na Igreja Cristã, os santos com o nome de São João “disso e daquilo, etc.” Os regulamentos maçônicos recomendam se festejar a dois: a São João, “o Batista”, e a São João, “o Evangelista”.
O Batista
São João Batista, também dito “o Precursor”, era filho de Isabel, prima da Virgem Maria e, por conseguinte, também parente de Jesus. Ele ganhou o epíteto de “batista” porque, no rio Jordão, “batizava” as pessoas, derramando -lhes água sobre as cabeças, assim limpando-os espiritualmente (batismo significa banho ). Era também conhecido por viver no deserto, alimentando-se de mel e gafanhotos, vestindo apenas com uma pele de carneiro, andando assim meio nu, meio vestido. Seguramente, pertencia, entre os judeus, ao grupo dos essênios, que vivia em Quram, perto do mar Morto. Local onde, em 1947, foram encontrados alguns documentos de sua época. Tinha vários seguidores, mas se dizia Precursor de Alguém Maior que ele, e de quem não era digno sequer de Lhe desatar as sandálias. Vituperava a Herodes Antipas ¾o rei imposto pelos romanos aos judeus ¾ , porque Antipas mandara matar a seu meio-irmão para ficar com a sua esposa. Antipas mandou decapitar a João Batista, atendendo o pedido de Salomé, sua enteada, filha de seu meio-irmão, acima referido.
O dia 24 de junho foi estipulado pela Igreja Católica como o de sua comemoração.
O Evangelista
O outro São João, o Evangelista, era apóstolo de Jesus. Chamam-no de Evangelista porque, além de pregar os ensinamentos do Mestre, foi o autor do 4º Evangelho, de três epístolas e do famoso Apocalipse. Essa palavra quer dizer “revelação”. Nele, João relata as revelações que teria tido sobre o fim dos tempos e dos caminhos para a salvação. Por falar nos fins dos tempos, catástrofes, guerras, pestes, castigos, a palavra “apocalipse” ganhou a conotação de “algo ruim, apavorante, cataclismático, terrificante”. A linguagem é extremamente simbólica, de difícil compreensão.
Seu dia é comemorado em 27 de dezembro.
Maçonaria Operativa
Na verdade, porém, como vem registrado no item XXII, dos Regulamentos Gerais das Constituições de Anderson, de 1723, e com elas publicados, o dia que os maçons operativos do passado tinham escolhido para a reunião anual era o de São João Batista, em 24 de junho, ou, opcionalmente, no dia de São João Evangelista, em 27 de dezembro. Mas, com ênfase ao primeiro. Aliás, notar que a fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, ocorreu precisamente nesse dia, 24 de junho. Veja-se como vem redigido esse cânone dos Regulamentos Gerais, aprovados, pela segunda vez, no dia de São João, 24 de junho de 1721, por ocasião da eleição do Príncipe João, duque de Montagu, para Grão-Mestre:
“XXII. Os Irmãos de todas as Lojas de Londres e Westminster e das imediações se reunirão em uma COMUNICAÇÃO ANUAL e Festa, em algum Lugar apropriado, no Dia de São João Batista, ou então no Dia de São João Evangelista, como a Grande Loja pensa fixar por um novo Regulamento, pois essa reunião ocorreu nos Anos passados no Dia de São João Batista: Provido(…)”
Razões Esotéricas
Só por uma segunda opção a reunião e festa ocorreria, portanto, no dia 27 de dezembro, na festa do outro São João. Mas, por quê? O porque dessa alternativa tem uma explicação esotérica, que remonta às prováveis origens da Maçonaria, aos Collegia Fabrorum dos romanos. A esses colégios de artesãos, de diferentes ofícios, pertenciam também os da construção. Eles acompanhavam as tropas romanas, para o trabalho de reconstrução e instalação da administração imperial, nas terras conquistadas e colonizadas. E com eles ia a sua religião ou religiões, para ser mais exato, ainda que entre os romanos a predominante fosse a da adoração à Mitra, que era representado por uma figura humana. No lugar da cabeça, um Sol.
Havia muitos outros deuses, notadamente, o de Janus, uma figura de duas cabeças coladas e opostas, cada uma olhando em sentido contrário a da outra, e que simbolizavam: uma, o solstício da entrada do verão (21 de junho, hemisfério norte); a outra, o solstício da entrada do inverno (21 de dezembro, hemisfério norte). Esses solstícios estão sempre presentes nas festas pagãs, vinculadas à Natureza. É aí que encontramos uma provável explicação histórica para os festejos juninos e os natalinos, a que a nova religião romano-cristã, não podendo desenraizar dos costumes populares, o mínimo que conseguiu foi a substituição. Todavia, no seio da maçonaria operativa, mesmo sob tal disfarce, ambas as datas sobreviveram, em face do conteúdo esotérico de seus significados. Não esquecer que os colégios, principalmente, os dos construtores, seriam depositários dos conhecimentos e mistérios de antiquíssimas sociedades iniciáticas, todas praticantes de ritos solares.
Fonte: https://opontodentrodocirculo.com
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