A QUINTESSÊNCIA
Ir ∴ Luis Reinaldo Sciena*
As idéias originais atribuídas aos grandes filósofos gregos (Sócrates, Platão, Aristóteles e principalmente Pitágoras), de que todos os corpos, vivos ou não, são compostos por terra, fogo ar e água (os quatro átomos), parece aos olhos do Sec. XXI algo muito primitivo e desprovido de caráter científico. Por sinal, é muito fácil associar idéias místicas a essa concepção e justificá-la por meio de argumentos pouco prováveis e de impossível verificação.
Porém não podemos desconsiderar a racionalidade científica dos gregos que, para dizer pouco, moldou o pensamento ocidental moderno. E num exercício de raciocínio, vamos voltar para época de Pitágoras (570/71 – 496/97 AC), e fazer uma pesquisa científica imaginária: do que é feito um ser humano?
Durante a vida, precisamos de alimentos. Esses alimentos, de alguma forma, se transformam em corpo humano e nos sustentam. Considerando a cadeia alimentar, tudo o que consumimos é de origem vegetal, o que conduz à pergunta: vegetais são feitos do que? A mais óbvia resposta é terra.
Sem a água os vegetais não se desenvolvem. Além disso, nosso consumo de água é notável. A água é muito diferente da terra e juntos formam lama que, grosso modo, é comparável em viscosidade e densidade a certos fluidos corporais.
O ar é essencial para as plantas e para nós. O consumo direto de ar pela respiração também o coloca na condição de elemento constituinte.
O Sol é essencial para a vida. Ele é a força transformadora de terra, água e ar em plantas. As plantas com água e ar em seres do reino animal, incluindo nós. O melhor representante terreno desse poder transformador é o fogo.
Logo, não é difícil concluir que nós somos feitos de terra, água, ar e fogo, assim como todos os demais corpos animados e inanimados, em diferentes concentrações dos quatro elementos.
Parece uma hipótese razoável considerando que o principal instrumento de investigação dos gregos era a lógica.
Mas nós, diferentemente de corpos inanimados, temos consciência de nossa própria existência, somos movidos por idéias e empreendemos ações transformadoras. Isso conduziu à idéia da existência de um quinto elemento superior aos quatro primeiros, a quintessência, que nos fez passar do mundo quaternário (da matéria inanimada) ao mundo quinário. Do mundo da matéria para o mundo da vida e da inteligência.
Para representar o ser humano e a inteligência, a escola Pitagórica apropriou-se do pentagrama como seu símbolo e estudou suas propriedades matemáticas. Interpreta-se sua forma como a de um ser humano com 5 prolongamentos (braços, pernas e cabeça), e a inteligência é representada pelo centro do pentagrama.
Uma vez inserido no mundo da inteligência, animado pela quintessência, o ser humano inicia seu aprendizado e a construção de sua representação do universo. Temos ferramentas para esse aprendizado e construção: nossos sentidos e nossa inteligência.
Atualmente, sabemos que obtemos informações do meio ambiente por meio dos 5 sentidos que exploram o meio ambiente (visão, audição, gustação, olfato e tato), o sentido do equilíbrio que é capaz de avaliar a posição de nosso corpo em relação ao campo gravitacional (o labirinto), o fluxo contínuo do tempo e o estado de nosso organismo (informações processadas, em sua maioria, inconscientemente).
Interessa-me nessa abordagem os 5 sentidos que nos dão acesso a exploração do meio ambiente e às informações veiculadas pelas linguagens humanas (verbal, escrita, gestual etc).
Os 5 sentidos são janelas abertas para o universo que permitem, ao longo da existência humana, acumular informações que, uma vez processadas, criam um modelo mental da Natureza. Enquanto os sentidos do tato, olfato e gustação permite-nos absorver informações físicas num raio de abrangência muito limitado, a visão e a audição expandem esse raio ao infinito graças às linguagens de codificação de informações. Boa parte do conhecimento humano está disponível para quem dele quiser se apropriar, por meio de livros, filmes, softwares etc.
Os conhecimentos memorizados e processados, com a devida reflexão que cada tema merece (isso é de caráter pessoal) criará, em nossa mente, um modelo representativo do universo que enxergamos que não é intrinsecamente igual para todos.
Sabe-se hoje que o córtex visual e o córtex auditivo do cérebro reagem da mesma forma quando vivemos uma experiência ou nos lembramos dela. De fato, aparentemente não há diferença para o cérebro entre viver uma experiência ou recordar uma experiência.
Como temos a linguagem que permite compartilhar essas recordações e experiências com outros seres humanos, podemos conversar longamente sobre elas, portanto revive-las, relatando nosso ponto de vista. Talvez ocorra a convergência de idéias para um consenso comum em torno de uma idéia que denominei realidade média.
O microcosmo (o Homem) tem dentro de si a representação do macrocosmo (A Natureza). No meu entendimento, o que convencionamos chamar de macrocosmo é a realidade média, que versa parcialmente sobre o comportamento do macrocosmo e não exatamente o que ele é.
Concluindo esse raciocínio, a quintessência parece ser o universo conspirando para ter consciência de si próprio, portanto da realidade. Desconcertante...
Nos últimos 15 minutos apresentei conceitos que agora estão na memória dos leitores. Esses 15 minutos tornaram-se uma experiência que agora faz parte de um mundo virtual que poderemos compartilhar pela linguagem. A realidade se virtualizou e virou informação. Muito desconcertante.
Bibliografia:
- Curso de Maçonaria Simbólica - Autor: Theobaldo Varoli Filho - Editora: A Gazeta Maçonica
- Grau de Companheiro e seus Mistérios - Autor: Dr. Jorge Adoum - Editora: Editora Pensamento
- Peródico: Scientific American Brasil - Edição Especial 04 - Segredos da Mente
- Artigo: Como o Cérebro Cria a Mente, autoria de Antonio R. Damasio
- Artigo: O Problema da Consciência, autoria de Francis Crick e Christof Koch
- Artigo: O Enigma da Cosciência, autoria de David J. Chalmers EditoraCampus
- Periódico: Scientific American Brasil - Edição 31 - dezembro 2004.
- Artigo: Computador Buraco Negro - autoria de Seth Lloyd e Y. Jack Ng Editora: Duetto
- Filósofos gregos na Internet:www.wikipedia.org
Londrina, abril de 2008.
Comp∴ Luis Reinaldo Sciena. Regeneração 3a. no. 14 Grande Oriente do Paraná -lsciena@sercomtel.Com.br
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