Ir∴ Walter dos Santos Filho - Or.·. de Cruz das Almas (BA)
A Maçonaria atual, especulativa, tem suas origens na Maçonaria de Ofício ou Operativa, que congregava pedreiros, talhadores de pedra, escultores, pintores,carpinteiros, entalhadores, decoradores e demais artífices relacionados à Arte da Edificação. Reportando-se à Maçonaria Operativa, apesar de ser esta uma instituição que surgiu na Idade Média, as raízes de sua origem estendem-se a períodos remotos, da antiguidade, levando-nos, segundo uma visão de ancestralidade, a nos deparar com instituições cujas características se aproximam daquelas observadas na Maçonaria Operativa, quais sejam: foco principal notrabalho da construção; reconhecimento de seus membros como irmãos, os quaisdeviam se assistir mutuamente; admissão de seus integrantes mediante processos de iniciação; suas reuniões compreendiam práticas ritualistas. Segundo uma visão cronológica, tais instituições “ancestrais” podem ser assim identificadas:
1. Associações de construtores dos primórdios da antiguidade.
2. Colégios Romanos.
3. Associações monásticas de construtores, dentre as quais seencontram os Beneditinos, Cistercienses e Templários.
Sob a égide destas associações monásticas e sob a forma de confrarias laicas ou de Guildas, ocorre o nascimento e a formação da Maçonaria Operativa.
Com base neste intróito, vejamos:
1. Associações de construtores dos primórdios da antiguidade
Entre os povos da antiguidade, em razão do caráter sagrado do trabalho e da ciência, as associações profissionais sempre foram sacerdotais. No Egito, os sacerdotes formavam classes separadas e consagravam-se ao ensino de algum ramo especial do conhecimento humano. Em todos os casos, os alunos passavam por um noviciado e por provas de iniciação para se assegurar de sua vocação. Como as demais ciências, a Arquitetura também era ensinada em sigilo. A função sagrada de arquiteto construtor era exercida pelos sacerdotes, a exemplo Imhotep, sacerdote do Deus Amon e conselheiro do faraó Sozer (3.800 a.C.), que se notabilizou por construir a primeira pirâmide em Sakkarah.
O caráter sacerdotal e místico das associações de construtores é igualmente encontrado entre os persas, caldeus, sírios e gregos. Referindo-se à Grécia, as associações profissionais eram conhecidas por Hetarias. Uma lei de Sólon de 593 a.C. e cujo texto consta da obra de Gaius (sobre os Colégios e as Corporações) permite às Hetarias, ou Colégios, ter seus próprios regulamentos, desde que não fossem contrários às leis do Estado. Estrabão, em sua obra Theos, afirma que osreis de Pérgamo (300 a.C.) tinham uma iniciação particular que incluía palavras e sinais de reconhecimento. O mais antigo código até hoje descoberto, o código babilônico de Hamurabi (2.000 a.C.), encontrado em Susa, já menciona as associações dos carpinteiros e dos talhadores da pedra.
2. Colégios Romanos
Registros de Plutarco indicam que os Colégios de Artesãos foram fundados em Roma pelo rei Numa Pompílio, no ano 715 a.C. Sob Sérvio Túlio (578 a 534 a.C.) os Colégios Romanos mostram-se com o caráter definitivo de corporação.Cícero, em sua obra De Oficies (sobre as profissões), coloca os integrantes dos Colégios entre os cidadãos de primeira classe do Império Romano.
No reinado de Alexandre Severo, apesar de reprimidos pela Lei Lulia, já existiam 32 Colégios em atividade no Império. Como em todos os povos daantiguidade, o Direito e as Instituições Romanas tinham base essencialmente religiosa. O caráter sagrado do trabalho tinha por objetivo a divinização do homem. Para os membros dos Colégios de Construtores o mundo era um imenso canteiro de obras. O uso de sinais de reconhecimento garantia e protegia os segredos de sua profissão, herdados dos egípcios, dos gregos, dos judeus, dospersas e dos sírios.
Os artesãos dos Colégios eram os construtores dos palácios e das famosas Vilas dos Senadores e nobres romanos, além dos monumentos nas cidades próximas a Roma, como Pompéia e Herculano. Na cidade de Roma, destacam-se o Coliseu, o Circo Máximo, as Termas de Caracala, os edifícios do Fórum Romano, os Templos dos Deuses, as muralhas para a defesa da cidade, como as do Capitólio. Em Bolonha, capital da Reggio Emilia, ainda se pode apreciar a arte construtiva dos artesãos dos Colégios Romanos nos subterrâneos do metrô dacidade, a Via Lulia, que levava de Roma a Milão. Estes artesãos seguiam com as legiões romanas, com a finalidade de construir estradas, pontes, templos, termas epalácios nas regiões conquistadas pelo Império. Ainda hoje essas construçõespodem ser vistas em toda a Europa. Muitas delas, principalmente as pontes, estão ainda em uso. Em Portugal, construíram, entre outras obras, a cidade Conímbriga, próxima de Coimbra e o templo dedicado a Diana, na cidade Évora.
Os Colégios Romanos foram implantados na Gália, após sua conquista por Caio Júlio César. No século IV d.C. eles já existiam em Marselha, Valência, Nimes, Aix-la-Chapelle, Lion, Narbona e Lutécia (Paris), onde assumiram grande prestígio com a construção de importantes edifícios.
Em 43 d.C. o imperador Cláudio enviou à atual Inglaterra algumas brigadas dos Colégios de Construtores, com o objetivo de construir defesas contra ataques de celtas do norte, região hoje conhecida como Escócia. Na época ainda não existiam cidades nem castelos na Grã-Bretanha. Os Colégios foram encarregados de construir campos fortificados para as legiões, que se transformaram em cidades dotadas de termas, templos e palácios. Uma dessas cidades é York, então chamada de Eboracum, célebre na história da Maçonaria.
3. Associações monásticas de construtores
Ao final da antiguidade, com a queda do Império Romano, surgiram os pequenos Estados suseranos e as antigas instituições foram gradualmente desaparecendo, substituídas pelas classes de homens livres, aldeãos e servos. Para garantir sua sobrevivência, os Mestres Construtores se refugiaram nas igrejas, nos mosteiros e nos conventos que haviam construído na alta Idade Média. A história das Associações Monásticas está ligada à das Ordens Religiosas, em particular à Ordem dos Beneditinos e à Ordem do Templo. O papel dos Templários está intimamente ligado ao advento da Maçonaria Moderna. Para conhecer a extensão da influência dos Templários seria necessário analisar a formação das Associações Monásticas nas regiões góticas, assim como sua atuação na transição da arte romana para a arte gótica.
Fundada por São Bento, em 529 d.C., a Ordem Beneditina teve por berço o afamado mosteiro de Monte Cassino, na Itália. Foram os beneditinos que transcreveram, traduziram e interpretaram as obras gregas e romanas, bem como escritos e documentos do Oriente. Disseminaram a cultura medieval européia e serviram de exemplo a outras ordens religiosas que surgiram posteriormente. Na arte da construção, os beneditinos passaram a monopolizar e a dirigir a Maçonaria Operativa. Começaram pelo estilo românico. Depois implantaram na arquitetura suas próprias características e, mais tarde, também se dedicaram à Arquitetura Gótica. Associados aos pedreiros e canteiros fundaram autênticas organizações fraternais, as quais, por seus ordenamentos, costumes e certas cerimônias, seriam uma espécie primitiva de loja maçônica. Em 597 d.C. os beneditinos dirigiram-se à Inglaterra, à época também conhecida por Ilha dos Santos, e fundaram a Abadia (não catedral) de Cantuária (Canterbury). No século VII, espalhando-se pela Alemanha, fundaram as abadias de Ettenheim, Lauresheim, Prüm, Monse, Hirschfeld, Fulda e outras. Da Alemanha foram à Dinamarca e depois à França, pátria do estilo gótico, e enfim a quase toda a Europa. Em 910d.C. fundaram a Abadia de Cluny, pertencente à Ordem dos Cluniacenses, verdadeira alavanca da renascença medieval.
A Ordem de Cister foi instituída em 1098 pelo abade De Molésme, no retiro de Citeaux, próximo a Dijon, França. À semelhança dos beneditinos, seus mestres e fundadores, os cistercienses, dedicaram-se ao ensino gratuito e à agricultura. Posteriormente, seus mestres e arquitetos passaram a erigir grandes catedrais e grandes construções, seguindo o exemplo dos beneditinos.
Os beneditinos, seguidos dos cistercienses, podem ser considerados como os ancestrais da maçonaria atual, hábeis projetistas e geômetras e bons oficiais na arte de construir.
A transição da Maçonaria Operativa para Especulativa consolidou- se no século XVIII, com a admissão em seu seio estendida a cidadãos livres e de bons costumes, notadamente estudiosos do pensamento humano, dentre os quais filósofos, hermetistas, rosa-cruzes e alquimistas. Posiciona-se assim a Sublime Instituição na vanguarda do renascimento cultural e científico, bem como das lutas pelas grandes reformas sociais, mediante efetiva participação em movimentos de libertação humana, atuando no sentido de assegurar a Paz, a Justiça e a Fraternidade entre todos os homens, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade. Passa o maçom da condição de construtor de edificações materiais para a de construtor de uma sociedade igualitária, justa e perfeita, distinguindo-se como buscador da Verdade, do autoconhecimento, de sua origem real, de sua Essência, que é Deus.
Bibliografia consultada:
Fadista, Antônio Rocha. Origens religiosas e corporativas da Maçonaria. Pesquisa Google, em17/10/2009.
Varoli Filho, Theobaldo. Curso de maçonaria simbólica: Aprendiz. São Paulo: Editora A Gazeta Maçônica S.A., s.d. 319 p.
Fonte: JBNews - Informativo nº 239 - 24.04.2011
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