Luis Genaro Ladereche Figoli
O Mistério da 2ª Instrução do Aprendiz
Diz nosso Ritual:
Em toda Loja Regular, Justa e Perfeita , existe um ponto dentro de um círculo pelo qual um Maçom não pode transpor. Este círculo é limitado entre o norte e o sul por duas grandes linhas paralelas, uma representando Moisés, a outra representando o Rei Salomão. Na parte superior do círculo fica o L∴da L∴, que suporta a Escada de Jacó, cujo cimo toca os Céus. Caminhando dentro deste circ∴, sem nunca o transpormos, limitar-nos-emos às duas linhas Paralelas e ao L∴ da L∴ e enquanto assim procedermos, não podemos errar.
Atrás desta explicação escondem-se alguns mistérios e simbologias, que tentaremos humildemente decifrar a partir desta peça de arquitetura.
Se o Temp∴ é a representação do Universo, e está orientado de Leste a Oeste e de Norte a Sul, podemos dizer que o eixo que vai do Ocidente (representado pelas colunas J e B) ao Oriente (representado pelo Delta), corresponde ao equador terrestre. Sua profundidade é da superfície ao centro da terra e sua altura é da Terra ao Céu.
Quando verificamos que o círculo é limitado entre norte e sul, podemos observar no Globo Terráqueo, que de fato, entre o equador e o norte e o sul, existe os trópicos de câncer (no Norte) e de Capricórnio (no sul). Assim, simbolicamente, estamos desvendando este mistério pela luz da Astronomia.
Algumas explicações astronômicas se fazem necessárias para entender melhor esta simbologia oculta.
Além de girar em torno de seu eixo, a Terra desloca-se no espaço, com um movimento de translação em torno do Sol, quando descreve uma elipse, de acordo com as leis de Kepler. Para o observador situado na Terra, todavia, é como se esta fosse fixa e o Sol se movesse em torno dela, seguindo um caminho, que, como já foi visto, é chamado de eclíptica.
Em sua marcha em torno do Sol, a Terra, descrevendo uma elipse, ficará mais próxima, ou mais afastada do astro da luz. O ponto mais próximo --- 147 milhões de quilômetros --- é o periélio; o mais afastado --- 152 milhões de quilômetros --- é o afélio. Se a Terra, no movimento de translação, girasse sobre um eixo vertical em relação ao plano da órbita, as suas diferentes regiões receberiam iluminação sempre sob o mesmo ângulo e a temperatura seria sempre constante, em cada uma delas. Mas, como o eixo é inclinado, em relação à órbita, essa inclinação faz com que os raios solares incidam sobre a Terra segundo um ângulo diferente, a cada dia que passa. E, assim, vão se sucedendo as estações: verão, outono, inverno e primavera.
Como os planos do equador terrestre e da eclíptica não coincidem, tendo uma inclinação, um em relação ao outro, de 23 graus e 27 minutos, eles se cortam ao longo de uma linha, que toca a eclíptica em dois pontos: são os equinócios. O Sol, em sua órbita aparente, cruza esses pontos, ao passar de um hemisfério celeste para outro; a passagem de Sul a Norte, marca o início da primavera no hemisfério Norte e do outono no hemisfério Sul; a passagem do Norte para o Sul, marca o início do outono no hemisfério Norte e da primavera no hemisfério Sul. Esses são os equinócios de primavera e de outono.
Por outro lado, nos momentos em que o Sol atinge sua maior distância angular do equador terrestre, ou seja, quando é máximo o valor de sua declinação, ocorrem os solstícios. Os dois solstícios ocorrem a 21 de junho e a 21 de dezembro; a primeira data marca a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Câncer, enquanto que a segunda é a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Capricórnio. No primeiro caso, o Sol está em afélio e é solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul; no segundo, o Sol está em periélio e é solstício de inverno no hemisfério Norte e de verão no hemisfério Sul. Portanto, o solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul, ocorre quando o Sol está em sua posição mais boreal (Norte), enquanto que o solstício de verão no hemisfério Sul e de inverno no hemisfério Norte, ocorre quando o Sol está em sua posição mais austral (Sul).
Por herança recebida dos membros das organizações de ofício, que, tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja sobre as corporações operativas. Como as datas dos solstícios são 21 de junho e 21 de dezembro, muito próximas das datas comemorativas de São João Batista --- 24 de junho --- e de São João Evangelista --- 27 de dezembro --- elas acabaram por se confundir com estas, entre os operativos, chegando à atualidade. Hoje, a posse dos Grão-Mestres das Obediências e dos Veneráveis Mestres das Lojas realiza-se a 24 de junho, ou em data bem próxima; e não se pode esquecer que a primeira Obediência maçônica do mundo, como já foi visto, foi fundada em 1717, no dia de São João Batista.
Graças a isso, muitas corporações, embora houvesse um santo protetor para cada um desses grupos profissionais, acabaram adotando os dois São João como padroeiros, fazendo chegar esse hábito à moderna Maçonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de São João, que abrem os seus trabalhos “à glória do Grande Arquiteto do Universo (Deus) e em honra a S. João, nosso padroeiro”, englobando, aí, os dois santos.
No templo maçônico, essas datas solsticiais estão representadas num símbolo, que é o Círculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol não transpõe os trópicos, o que sugere, ao maçom, que a consciência religiosa do Homem é inviolável; as paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio e os dois S. João.
Tradicionalmente, por meio da noção de porta estreita, como dificuldade de ingresso, o maçom evoca as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento, simbolizados no círculo cósmico, no círculo da vida, no zodíaco, pelo eixo Capricórnio-Câncer, já que Capricórnio corresponde, ao solstício de inverno e Câncer ao de verão (no hemisfério Norte, com inversão para o Sul). A porta corresponde ao início, ou ao ponto ideal de partida, na elíptica do nosso planeta, nos calendários gregorianos e também em alguns pré-colombianos, dentro do itinerário sideral.
O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado --- como fonte de calor e de luz --- o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.
Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios, o solstício de Câncer (Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anúbis; os antigos gregos o consagravam ao deus Hermes. Anúbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno.
Continua, aí, a dualidade, princípio da vida: diante de Câncer, Capricórnio; diante dos dias mais longos, do verão, os dias mais curtos, do inverno; diante de São João “do inverno”, com as trevas, Capricórnio e a Porta de Deus, o São João “do verão”, com a luz, Câncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, para os maçons, simbolicamente, as condições geográficas são, sempre, as do hemisférios Norte).
Ainda para os cabalistas que influenciaram no início da Maçonaria especulativa, as linhas paralelas simbolizam Moisés e o Rei Salomão. O Rei Salomão conforme descrição cabalística representa além da sabedoria, o arguto espírito científico, a observação minuciosa das coisas da natureza, a comparação inteligente entre a natureza e o ser humano, que dever guiar todo Iniciado. Moisés é, segundo o Zoar, um portador da Verdadeira Luz, um ser espiritualizado, pois Moisés viu a Deus, isto é, era detentor da verdadeira Gnose, do auto-conhecimento, depois de uma vida sofrida e cheia de atribulações.
O círculo, também pode ser representado por uma serpente mordendo a própria cauda, é um dos símbolos mais antigos, é um símbolo de eternidade – o universo sem começo ou fim, completo em si e totalmente sábio. O ponto no centro do círculo representa a unidade absoluta, o Centro da Criação, o princípio gerador universal, o G A D U.
Podemos ainda interpretar este símbolo da seguinte maneira: as paralelas representam as colunas B e J que dão entrada aos nossos Templos, o círculo representa a própria Loja, ou seja, o universo que ela encerra, e o ponto central é o próprio Grande Arquiteto do Universo, presidindo nossos trabalhos, distribuindo o Verdadeiro Amor a todos os Obreiros.
Fonte de Consulta:
Prancha “São João” de Jose Castellani
Ritual do Grau do Apr:. M:.
Prancha do Irm:. Altivo Tavares de Souza Filho;
Outros artigos da Internet
Fonte: http://espacodomacom.blogspot.com
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