SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE EM MAÇONARIA
José Maurício Guimarães
Prosseguindo nas reflexões anteriores (“A Pergunta do Maçom”, e “Símbolos Maçônicos, Pão e Brioche”), voltemos nossa atenção para SIGNIFICADO e SIGNIFICANTE em Maçonaria.
SIGNIFICADO é aquilo que um signo quer dizer quando um objeto ou ação são usados como referência a alguém ou algo. Por exemplo: na iconografia cristã a figura de um cordeiro se refere à pessoa de Jesus Cristo (o “Cordeiro de Deus” ou “Cordeiro Pascal”); a figura de uma pomba remete ao Espírito Santo. Mas essas representações simbólicas não significam que as religiões cristãs prestem culto às figuras de animais. São formas de expressão simbólicas ou alegóricas, como queiram. No Direito, a Justiça é representada pela figura de uma mulher de olhos vendados, portando uma balança e uma espada. Mas ninguém imaginaria encontrar, andando pelos corredores do fórum, uma mulher vestida à moda greco-romana e trazendo consigo esses objetos.
O SIGNIFICANTE é de maior alcance e abrangência. Consiste na impressão psíquica deixada por um signo, por alguém ou por alguma coisa (1).
O conjunto de procedimentos ligados à ritualística e ao simbolismo ‒ seja na Maçonaria ou em outras Ordens iniciáticas ‒ está alicerçado no SIGNIFICANTE ‒ isto é: quando o iniciado faz “contato” com um objeto ou ação, uma impressão permanece firmada em sua psique, despertando questionamentos, interrogação e REFLEXÃO. Essa impressão motivará, no decorrer do tempo, uma série de relações lógicas ou causais assim como nexos de coerência transcendental (2) além dos limites do significado. Quando o Aprendiz contempla o compasso identificará, de imediato, um instrumento composto de duas hastes unidas por um eixo e articuladas na parte superior, usado para tomar medidas e traçar circunferências. Trata-se do conceito comum acessível a quaisquer níveis de escolaridade. Mas o Aprendiz sabe, desde o início, que aquele objeto não está no Templo, ou faz parte da liturgia, para que os maçons fiquem, o tempo todo e o resto de suas vidas, literalmente traçando circunferências e tomando medidas. No decorrer das instruções, alguém lhe dirá que:
“... o compasso representa a medida justa que preside nossas ações, assim como as relações de cada maçom com todos os seus Irmãos e demais seres”...
... contudo, as instruções param por aí, no significado; alcançar o SIGNIFICANTE depende da esfera espiritual ou psíquica do iniciado. O compasso (assim como qualquer outro símbolo, palavra e gesto do ritual) só tem valor quando o iniciado elabora, POR SI MESMO, o signo e a relação lógica ou analógica que ocorre entre o SIGNIFICADO e o SIGNIFICANTE. Basta uma pergunta, como desafio, para testemunharmos a carência a que estamos expostos:
‒ Sendo a Maçonaria um sistema de Moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos, em que repercute, ensina, educa ou edifica, o fato de o Compasso ser aberto em 60º com as pontas voltadas para o Ocidente?
Nosso Século se caracteriza pela prostração e ociosidade. A internet e os aplicativos de celular viciaram a inteligência a se contentar com informações rápidas e superficiais. Nas Ordens iniciáticas ‒ em especial na Maçonaria ‒ predominam “zonas de conforto”, onde é mais fácil o iniciado receber respostas prontas para tudo do que raciocinar por si mesmo ou transcender os significados. Não há incentivo nesse sentido, pois, na maioria das vezes, quem cuida de instruir tem como objetivo e fim a exaltação da própria vaidade. Os resultados estão aí, bem visíveis: Lojas vazias, falta de motivação, o desinteresse e a ausência de projetos que justifiquem nossa permanência junto à sociedade.
(1) As palavras “psíquico”, “psíquica” e “psique” referem-se à parte imaterial do indivíduo, sua esfera comportamental, alma, mente ou espírito.
(2) Conceitos capazes de identificar objetos ou realidades, ultrapassando outras categorizações possíveis.
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