Em 01/10/2018 o Respeitável Irmão João Guilherme de Castro, Loja Sá Carvalho, REAA, GOP (COMAB), Oriente de Apucarana, Estado do Paraná, apresenta a seguinte questão:
RÉGUA NO PAINEL DE APRENDIZ
Gostaria de saber do Irmão por que no Painel Simbólico do grau de Aprendiz, não consta a régua de 24 polegadas, sendo esta uma das ferramentas do Aprendiz, e constam tantos outros símbolos?
No Rito Escocês Antigo e Aceito, rito de origem francesa, a Régua de 24 Polegadas é um dos instrumentos de trabalho inerente ao Grau de Companheiro. Já no Craft (Ofício) inglês, no Brasil comumente conhecido como Rito de York da Inglaterra, a régua é um dos objetos pertences ao Grau de Aprendiz. Do mesmo modo, no Rito Schröder, rito de origem alemã, mas depurado da Maçonaria inglesa, a Régua Graduada também é um dos instrumentos de trabalho do Primeiro Grau, o que pode ser comprovado no catecismo de Aprendiz do rito.
No Brasil, devida à equivocada mistura de procedimentos de uns em outros ritos, a régua aparece em alguns rituais do REAA∴ também no Grau de Aprendiz, o que é um erro crasso, tanto pelo aspecto doutrinário como pelo histórico.
Aqui no Brasil o pormenor que envolve a régua se dá porque alguns rituais do escocesismo estão enxertados com práticas do Craft. Essa indevida inserção se deu quando o Irmão Mário Marinho Béhring, criador das Grandes Lojas Estaduais brasileiras (1927) foi buscar reconhecimento para estas nas Grandes Lojas Norte-americanas. Para o caso, é sabido que as Lojas Azuis (simbolismo) das Grandes Lojas dos Estados Unidos da América do Norte tiveram a sua ritualística fundamentada no Craft inglês que é oriundo da Grande Loja dos Antigos de 1751. Assim, em se tratando do Craft e da Régua como instrumento de trabalho, a mesma nele pertence ao grau de Aprendiz, entretanto não no REAA.
Com o reconhecimento adquirido, as Grandes Lojas brasileiras, provavelmente para angariar simpatia dos seus reconhecedores, acabaram enxertando nos rituais escoceses no Brasil inúmeras práticas oriundas das Lojas Azuis do Craft norte-americano, dentre as quais a régua para o Grau de Aprendiz no REAA∴ quando nele, genuinamente a régua pertence ao Grau de Companheiro.
Até certo ponto poder-se-ia dizer que isso não faz diferença nenhuma, mas em se tratando da doutrina e das instruções do verdadeiro escocesismo simbólico que é natural da França, não existe nele nenhuma menção da régua no Primeiro Grau. Isso pode ser comprovado nas respectivas e clássicas alegorias da Maçonaria francesa onde o Aprendiz aparece ajoelhado tendo às mãos apenas o Maço e o Cinzel, enquanto na alegoria do Companheiro ele aparece trazendo, apoiada no seu ombro esquerdo, uma Régua graduada – em síntese, no REAA∴ a régua só aparece como instrumento de ofício do Segundo Grau.
É bom que se diga que toda a liturgia e a distribuição simbólica de um rito compõem a sua grade doutrinária. As instruções de cada rito devem estar respectivamente de acordo com os símbolos que se apresentam nos Painéis para o REAA∴, nas Tábuas de Delinear para o Craft, ou ainda no Tapete para o Rito Schröder.
Aliás, a não observação desse conceito elementar tem sido a razão pelas quais muitas instruções inseridas nos rituais, às vezes acabem por não fazer nenhum sentido se comparadas com a verdadeira liturgia e ritualística do próprio rito. No simbolismo maçônico de um rito, nada existe por acaso. Sem nenhuma licenciosidade, na Maçonaria os símbolos embasam a doutrina especulativa de aperfeiçoamento humano.
Ainda outro aspecto nesse sentido é o de que muitos rituais de outros ritos de origem latina, que não o REAA∴, também sofreram influências por conta dessas concepções equivocadas, pois não raras vezes encontramos célebres diferenças entre rituais de um mesmo rito, principalmente no Brasil. Também contribuindo para essa coleção de anacronismos, existem os rituais de Instalação que, não raras vezes, trazem na liturgia de posse do Venerável, referências a instrumentos de ofício de modo generalizado, quando um bom conhecedor de Maçonaria sabe que dependendo da origem de cada rito, muitos costumes pode se diferenciar. Nesse caso, a Régua de 24 Polegadas é um bom exemplo para esse comentário.
Concluindo, remeto o Irmão a consultar no meu Blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br em Peças de Arquitetura um escrito (do qual aproveitei parte do texto acima) que se intitula “A Régua de 24 Polegadas ou a Régua Graduada e a Régua Lisa”.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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