A PALAVRA
Ir∴ Ítalo José Bocchino
IIr∴, eis aqui, muito pequeno diante desta magnânima assembléia, despido das vestiduras profanas, venho traçar por alheias mãos algumas linhas no grande livro de suas consciências lúcidas, através de um subsídio modesto de instrução maçônica, intitulada: A PALAVRA.
A Palavra, esse dom celeste que o G∴A∴ deu ao HOMEM e recusou ao animal, é a mais sublime expressão da natureza; ela revela o poder do Criador e reflete toda a grandeza de sua obra divina.
Incorpórea como o espírito que anima, rápida como a eletricidade, brilhante como a luz, colorida como o prisma solar, comunica-se ao nosso pensamento, apodera-se dele instantaneamente, e o esclarece com os raios da inteligência que leva no seu seio.
Mensageira indivisível da idéia, íris celeste do nosso espírito, ela agita as suas asas douradas, murmura ao nosso ouvido docemente, brinca ligeira e travessa na imaginação, embala-nos em sonhos fagueiros, ou nas suaves recordações do passado.
Reveste todas as formas, reproduz todas as variações e NUANCES do pensamento, percorre todas as notas dessa gama sublime do coração humano, desde o sorriso até à lágrima, desde o suspiro até o soluço, desde o gemido até o grito rouco e agonizante.
As vezes é o buril do estatuário, que recorta as formas graciosas de uma criação poética, ou de uma cópia fiel da natureza: aos retoques desse cinzel delicado a idéia se anima, toma um corpo e modela-se como o bronze ou como a cera.
Outras vezes é o pincel inspirado do pintor, que faz surgir de repente, do nosso espírito, como de uma tela branca e intacta, um quadro magnífico, desenhado com essa correção de linhas e esse brilho de colorido, que caracterizam OS MESTRES.
Muitas vezes também é a nota de um hino, que ressoa docemente, que vibra no ar, e vai perder-se além no espaço, ou vem afagar-nos brandamente o ouvido, como o eco de uma música em distância de um violino.
A ciência tem nela um escalpelo com que faz a autopsia do erro, descarna-o dos sofismas que o ocultam e mostra-o claramente àqueles que, iludidos por falsas APARÊNCIAS, julgam ver nele A VERDADE.
O sentimento faz dela a chave dourada que abre o coração às suaves emoções do prazer como o raio do sol, que desata o botão de uma rosa cheia de viço e fragrância.
A JUSTIÇA deu-a a inocência como a sua arma de defesa, arma poderosa e irresistível, que tantas vezes tem suspendido o cutelo do algoz e quebrado as pesadas cadeias de ferro de uma masmorra.
Para o tribuno é uma alavanca gigantesca, com que desloca as imensas moles do povo a atira-as de encontro às colunas do edifício social, que estremece, vacila e se abate ao peso dessas massas impelidas por um poder quase sobre-humano.
EIS O QUE É A PALAVRA, MEUS IIr∴, simples e delicada flor do sentimento, nota palpitante do coração, ela pode elevar-se até o fastígio da grandeza humana, e impor leis ao mundo do alto desse trono, que tem por degrau o coração e por cúpula a inteligência.
Assim, pois, todo homem, orador, escritor, ou poeta, todo homem que USA DA PALAVRA, não como um meio de comunicação às suas idéias, mas como um instrumento de trabalho; todo aquele que fala ou escreve, não por uma necessidade da vida, mas sim para cumprir uma alta missão social; todo aquele que faz da linguagem, não um prazer, mas uma bela e nobre profissão deve estudar e conhecer a fundo a força e os recursos desse elemento de sua atividade.
A PALAVRA tem uma arte e uma ciência: como ciência, ela exprime o pensamento com toda a sua fidelidade e singeleza; como arte, reveste a idéia de todos os relevos, de todas as graças, e de todas as formas necessárias para fascinar o espírito.
O mestre, o magistrado, o padre, o historiador, no exercício do seu respeitável sacerdócio da inteligência, da justiça, da religião e da humanidade, devem fazer da palavra uma ciência; mas o poeta e o ORADOR devem ser artistas, e estudar no vocabulário humano todos os seus segredos mais íntimos, como o músico violinista que estuda as mais ligeiras vibrações das cordas de seu instrumento, como o pintor que estuda todos os efeitos da luz nos claros e escuros.
Assim, meus IIr∴, aqui fica o pouco que nada sei.
Fraternalmente,
Ítalo José Bocchino, M∴M∴, 31/05/2006
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