Ir Ambrósio Peters. * 12.05.1927 + 08.07.2003
De toda e qualquer deficiência de um candidato talvez a pior delas seja a mediocridade. O homem medíocre jamais assumirá o seu papel de Maçom no pleno sentido deste termo, pois o medíocre já é por sua própria natureza um acomodado. Do homem medíocre dizia Jesus; "por não ser nem frio nem quente o cuspirei de minha boca". Não se pode contar com ele seriamente para nenhuma atividade que exija um rompimento com a rotina. Ele nada começa e quando o começa nada termina. Nada faz além de suas estritas obrigações. Somente acompanha e critica, ou quando muito dá seu apoio fictício com meros e superficiais aplausos. No seu inconsciente ele se condena a si próprio pela na sua inércia, e toma como uma censura velada tudo o que os outros realizam. Por isso o medíocre é um crítico contumaz.
Na maioria das ocasiões será preferível lidar com inimigos, porque pelo menos esses se definem e pode-se saber onde estão.. O medíocre é um omisso e contagia tudo ao seu redor com sua omissão. Certa vez, sendo eu Venerável de uma Loja, um Irmão se aproximou de mim com críticas por não promovermos com mais freqüência jantares para aproximar os Irmãos e suas famílias. Informou-me que perto de sua residência havia uma senhora que promovia festas e jantares a preços acessíveis e que seria fácil contratá-la. Pedi-lhe então, já que o restaurante estava próximo a sua casa, que organizasse um jantar com as nossas esposas. Não posso, disse-me secamente, não tenho tempo. A indicação do restaurante era simplesmente uma maneira discreta de criticar e dizer que a Administração da Loja era ineficiente em suas atividades sociais.
Esse é um exemplo típico de mediocridade. Mas eles nunca aceitam a pecha de mediocridade, porque sempre se julgam cidadãos perfeitos, cumpridores de seus deveres, que não prejudicam aos seus semelhantes, que respeitam a todos, que não fazem mal a ninguém. Na realidade sob o ponto de vista das religiões é até uma pessoa exemplar e digna, pois as religiões habitualmente só exigem obediência e não atos positivos, que são às vezes até condenadas. Ele é livre por não ser escravo, e é de bons costumes porque cumpre mandamentos negativos que a sua fé lhe impõe.
O medíocre diz amar o próximo mas nunca fará nada por ele, diz não fazer mal a ninguém mas também não faz o bem a ninguém. O medíocre é entre os homens como um dos moveis de minha sala de estar, que também não faz mal a ninguém, mas tão pouco faz algo por alguém. Eles são o flagelo de qualquer sociedade, pois não são sensíveis a apelos e incentivos e ao contrário, com sua apatia, põe-se contra qualquer ação que ameace tira-los de sua inércia.
Então porque os admitimos em nosso meio se são tão prejudiciais? Fazemo-lo porque relaxamos os nossos critérios de avaliação quando os convidamos. Depois de admitidos é quase impossível demiti-los porque não fazem nada que possa constituir motivo de censura, e que Irmão aceitaria puni-los já que todos os julgam homens exemplares e cumpridores de seus deveres? Os medíocres se auto-protegem.
Os critérios de admissão perdem o seu poder de seleção quando passamos a procurar candidatos entre nossos parentes, entre os nossos amigos, entre nossos colegas de trabalho, entre as pessoas de destaque social, em suma, entre aqueles homens que pela sua posição no mundo profano pressupostamente podem trazer benefícios à Loja e à Ordem, ou que simplesmente nos podem agradar com sua presença. Relaxamos os critérios quando deixamos de alicerçar nossa escolha no conceito medianamente puro de "homens livres e de bons costumes”. Não no sentido comum e negativo dessas qualidades, mas homens de ideal, dispostos a lutar positivamente por suas idéias, homens de comprovada iniciativa, principalmente participantes na luta pelo livre pensamento, homens socialmente ativos, conscientes de sua cidadania
Quando foi promulgada a Constituição de 1723, livre significava não ser escravo ou servo, mas este termo não tem hoje certamente mais o mesmo sentido. Agora devemos entender livre aquele que não tem sua mente servilmente amarradas aos condicionamentos doutrinários e que é religioso porque assim o decidiu livremente diante de sua própria consciência, um homem que tem livre seu pensamento. De bons costumes aquele que procede de acordo com princípios morais rígidos não por temor de ser castigado por algum poder superior com um hipotético inferno, e que não norteia o seu comportamento por seu egoísmo e sim por sua consciência de ser membro da raça humana, cujos componentes são todos seus irmãos e semelhantes. Todos os elementos do Universo, quer seres vivos quer matéria inerte, obedecem sem decisão própria às leis naturais, somente ao homem cabe a regalia de poder decidir muitos dos seus atos.
Isto por si só confere ao homem a nobreza particular de poder obedecer a sua própria consciência intuída da auto-legislação do Universo, não podendo impunemente fugir as determinações dessas mesmas leis de cooperação universal. O homem que não cumpre seu papel nesse contexto está traindo a própria confiança que nele foi depositada como elemento máximo desse mesmo Cosmo. Esse é o verdadeiro homem de bons costumes de que fala a Maçonaria.
Quando começamos por admitir parentes, amigos, colegas, ou quando procuramos pessoas destacadas no concerto das pessoas profanas, estamos abrindo mão de critérios sérios de escolha de maneira irresponsável. Como conseqüência desse acúmulo de falhas pode-se chegar a iniciar amigos ou pessoas importantes, ou simplesmente porque são nossos amigos ou então porque são pessoas importantes, omitindo o julgamento de suas qualidades intrínsecas. Aí se instala a mediocridade com todas as suas seqüelas danosas.
Quando buscamos pessoas proeminentes na nossa sociedade em geral somos levados por um íntimo sentimento de bajulação e interesse próprio, que são péssimos e egoísticos critérios de avaliação. Sempre pensamos que essas pessoas de projeção social poderão ajudar a realçar o nome de nossa Instituição, ou ajudar-nos a sair da mediocridade e até de dificuldades financeiras. Certamente então estaremos nos desviando pelo caminho inverso ao desejado. Pessoas que aceitam ser bajuladas sempre são medíocres, e eles contribuirão com sua mediocridade apenas para uma estagnação ainda maior. E isso não vale somente para nós, vale também para todas as instituições políticas, religiosas ou outras associações.
Para elevar a nossa Ordem, seria necessário buscar novos Irmãos no restrito campo do livre pensamento, no âmbito das pessoas cultas de consciência bem formada. Esses candidatos sim poderão contribuir realmente para o soerguimento do nível cultural de toda a comunidade pois somente estes terão algo positivo a nos transmitir. Caso contrario estaremos criando um irremediável estado de perda de nobreza. Os Irmãos admitidos fora desses critérios somente nos prejudicarão por sua inércia, pois apenas aparentemente não serão de maus costumes e apenas aparentemente serão livres. Só aparências!!!!!
BINGO
ResponderExcluirBem resumidamente: Seria o mesmo que comparar meus modo de agir, pensar , estilo de vida etc…,com a de meus pais.
ResponderExcluirE também querer de um aglomerado de pessoas de personalidade, culturas e estirpes diferentes se comungasse iguais, não diria impossível, mas difícil. 🤷♂️