(republicação)
O Respeitável Irmão Charles E. N. Oliveira, Secretário Estadual de Orientação Ritualística do GOB-MT, Oriente de Cuiabá, Estado do Mato Grosso, formula as questões que seguem:
charles.eno@hotmail.com
Recebi o convite para falar aos AApr∴, recém iniciados, da ARLS Luz e Liberdade (Oriente de Cuiabá), especificamente sobre o REAA. A Sessão ocorrerá em 15/10/2013. Como sempre, recorro ao vosso conhecimento e sabedoria. Gostaria, se possível, que o Irmão me orientasse sobre os temas, relacionados abaixo (tomei a liberdade de perguntar sobre alguns procedimentos que costumam gerar duvidas e questionamentos durante as Sessões):
1. O REAA é considerado um Rito Deísta ou Teísta?
2. Existiria diferença entre os Graus 1, 2 e 3 em relação aos Graus 4 a 33 sob o enfoque Deísta ou Teísta?
3. Como explicar o conceito utilizado pelo Irmão Castellani na mudança da posição do Altar dos Juramentos do centro do Ocidente para o sua posição atual, no Oriente do Templo? Considerando a prática utilizada pelos Modernos. Considerando a prática utilizada pelos Antigos. Considerando a Influência de outros Ritos (praticados no GOB). Considerando a Influência do procedimento utilizados pelas Grandes Lojas após 1927.
4. Como explicar o conceito utilizado pelos Rituais, do GOB, na inversão da posição dos Vigilantes, sob o aspecto da condução e instrução dos Aprendizes e Companheiros? Considerando a prática utilizada pelos Modernos; Considerando a prática utilizada pelos Antigos; Considerando a Influência de outros Ritos (praticados no GOB); Considerando a Influência do procedimento utilizados pelas Grandes Lojas após 1927; Considerando a prática das Guildas de Pedreiros; Considerando a posição das Pedras Bruta e Cúbica.
5. Os Templos (REAA), utilizados pelas Lojas do exterior (USA e Europa), utilizam o mesmo Layout dos Templos Brasileiros? Considerando Oriente Elevado; Considerando as Lojas Capitulares; CCol∴ (B∴ e J∴) situadas fora do Templo (no átrio).
6. Existem Lojas que utilizam o REAA, no exterior (USA e Europa), que trabalham nos Graus 1, 2 e 3?
7. A cor Azul, de nossos Templos (REAA), teria influência dos Templos do Rito Moderno? Considerando que o Rito Moderno já foi o Rito Oficial do GOB (?).
8. O Grau 33 é dispensado da utilização do Avental, qual o conceito que ampara esta dispensa?
9. A prática de conceder acesso, ao Oriente do Templo, aos Aprendizes e Companheiros é correta? Considerando as práticas dos Antigos e Modernos; Considerando as práticas das Guildas de Pedreiros.
10. Como explicar a dispensa do uso, pelos Diáconos de portarem bastões e de formarem o Pálio? Considerando a prática dos Antigos; Considerando a prática dos Modernos; Considerando a prática das Guildas de Pedreiros.
11. O Esquadro, joia do Venerável Mestre possui suas hastes iguais? Considerando os Rituais antigos.
12. A Cadeia de União, segundo o Ritual atual, não prescreve a união das pontas dos pés. Esta prática é correta?
13. Durante o Tempo de Estudos, em sessões ordinárias, é correto o Venerável Mestre dispensar a ritualística visando facilitar a instrução? É permitida a utilização de recursos audiovisuais (Data Show, projetores, etc.)? É facultado, ao Venerável Mestre exceder os 15 minutos prescritos para este momento?
14. O Ritual atual indica que o momento para se transformar a Loja para funcionar em Grau Superior é durante a Ordem do Dia. É permitido realizar esta transformação em outro momento da Sessão? A quem é permitido solicitar esta transformação? Como proceder para efetuar a solicitação?
15. O procedimento para solicitar a palavra após a mesma ter passado ou saído da sua Coluna permite a condução do Irmão que a solicitou até o Oriente? Considerando que Aprendizes e Companheiros não teriam acesso ao Oriente.
Sei que abusei da quantidade, mas desde já conto com sua grande paciência em me ouvir e atender nas consultas.
CONSIDERAÇÕES:
1. No simbolismo do Rito considerando a vertente francesa e o seu arcabouço doutrinário relacionado à investigação da Natureza ele é Deísta, entretanto pelas suas raízes simbólicas hauridas das Lojas Azuis em 1.804 e a própria influência hebraica, nesse particular anglo-saxônico ele possui também um apelo Teísta. Tenho dito que o Rito Escocês é um sistema diferenciado como parte integrante da Sublime Instituição.
2. Os Graus simbólicos estão muito distantes de qualquer conceito que possa identificar essas particularidades dos ditos Graus superiores. Na essência o Rito fora criado a partir do Grau 04. Nele originalmente nem mesmo existiam Graus simbólicos. A prática do Franco-Maçônico básico era (e ainda é) nos Estados Unidos da América do Norte baseada no Craft norte-americano.
Assim no simbolismo após a criação dos Graus simbólicos para o Rito na França a partir da fundação do Segundo Supremo Conselho em 1.802, o próprio Grande Oriente da França que desconhecia a prática antiga, senão a dos Modernos de 1.717 faria com que o Rito Escocês assumisse as características já expostas no item 1 acima. Nesse período apareceriam então as Lojas Capitulares do Grau 01 até o Grau 18 sob a tutela do Grande Oriente da França. Assim se tomássemos esse ciclo como exemplo o Rito seria Deísta e Teísta. Em relação aos Graus do 4 até o Grau 30, geralmente neles existe um forte apelo Teísta se considerarmos os graus israelitas-bíblicos e os graus templários.
3. Como já comentado o Rito Escocês Antigo e Aceito no que concerne o seu simbolismo teve a sua raiz no primeiro ritual – o de 1.804. Nessa prática o modo era dos antigos e não havia um altar de juramentos propriamente dito, senão uma extensão da mesa ocupada pelo Venerável.
Assim essa prática perdura tradicionalmente até os dias atuais. Ocorre que no Craft inglês não existe o altar separado senão o banco de se ajoelhar. Todavia no Craft americano organizado no século XVIII por Thomas Smith Web este se baseara nos antigos de 1.751 (Laurence Dermott), até por questões políticas. Nessa vertente as Lojas Azuis possuem o Altar no centro do Ocidente. Quando Mario Marinho Behring criou as Grandes Lojas Estaduais brasileiras na dissidência de 1.927 ele buscou reconhecimento nos Estados Unidos da América do Norte, oportunidade que ele copiou e enxertou (dentre outros) o Altar dos Juramentos localizado no centro do ocidente, comum àquelas Lojas Azuis. O Rito Escocês Antigo e Aceito no seu simbolismo o Altar dos Juramentos é apenas uma extensão do Altar ocupado pelo Venerável se localizando imediatamente à sua frente. Embora as Lojas Azuis tenham influenciado consideravelmente o primeiro ritual simbólico do Rito Escocês, o Altar nesse Rito, genuinamente está na frente e próximo ao lugar do Venerável Mestre.
4. Pelo caráter “antigo” do Rito. No Craft inglês é perfeitamente visível essa concepção quando a Pedra Bruta está situada na frente do Segundo Vigilante, todavia isso não denota que os Aprendizes tomem assento no Sul, senão nesse costume no lado nordeste da Loja. Assim o Rito Escocês na sua vertente francesa utiliza na sua doutrina o “topo da Coluna do Norte” para posicionar os Aprendizes cumprindo a escalada iniciática representada pela alegoria das Colunas Zodiacais – concepção Deísta.
Revivendo o caráter antigo, nos canteiros do passado o Aprendiz Iniciado (Aprendiz Júnior) era recebido no Canteiro pelo Segundo Vigilante que o preparava e o conduzia até o Primeiro para as orações de praxe. Em seguida o Iniciando no centro do espaço era instruído pelo Segundo Vigilante, prestava o seu juramento e recebia as luvas e avental operativos. É bom que se diga que não existia Templo nem rituais, porém os procedimentos eram feitos de modo coberto em um espaço previamente preparado. Geralmente os acontecimentos coincidiam com os solstícios e, em algumas vezes, com os equinócios. Com o advento da Maçonaria Especulativa e a posterior Moderna Maçonaria em conjunto com a profusão de ritos no Século XVIII, conforme os costumes, muitos ainda revivem esses procedimentos hauridos dos nossos antepassados. É o caso do Rito Escocês que revive os fatos de modo simbólico nesse particular.
É bom que se diga que é equivocado o pensamento de que pelo Aprendiz tomar assento no topo do Norte, obrigatoriamente o Primeiro Vigilante tenha que ser o seu Instrutor. Os Vigilantes em Loja são os auxiliares imediatos do Venerável e nunca os “donos” das Colunas.
Ainda sobre a Pedra Bruta e o conceito doutrinário francês (deísta) a mesma fora colocada junto ao Primeiro Vigilante em consonância à senda iniciática que parte do Ocidente em direção á Luz do Oriente – as Colunas Zodiacais mostram perfeitamente esse elemento alegórico (Homem – Natureza).
No Craft de conotação mais teísta, o aperfeiçoamento se consolida nas instruções que percorrem literalmente o canteiro de obras especulativo. Embora o objetivo da Moderna Maçonaria seja sempre o mesmo, para melhor compreensão, o estudante de Maçonaria deve observar atentamente esses dois principais conceitos doutrinários – o inglês e o francês.
5. Se a relação for com templos brasileiros do GOB e alguns da COMAB, eu diria que sim. Já em relação às nossas Grandes Lojas eu diria que não.
Em relação aos resquícios das extintas Lojas Capitulares em alguns países existe ainda um pequeno desnível (um degrau) para o Oriente e muitos não adotam mais a balaustrada. No tocante às Colunas Solsticiais não existe unanimidade de colocação – algumas no átrio, outras interiorizadas. A questão é que elas são “vestibulares”, ou no vestíbulo do Templo. Cabe aqui uma ponderação. Não é por outros Templos estarem situados em países europeus que as coisas estejam cristalinamente corretas. É sempre bom lembrar que o Rito Escocês é praticado principalmente em países latinos. Nesse particular, nem tudo que reluz é ouro.
6. Nos Estados Unidos da América do Norte existe apenas uma pequena parcela. A grande maioria das Grandes Lojas norte-americanas pratica o Craft (Lojas Azuis). Na Europa o Rito é mais conhecido como Rito Antigo e Aceito e é praticado principalmente nos países de origem latina. Em geral o que predomina mesmo é o Craft.
7. Com certeza é influência de outros ritos que têm a cor predominante azul. No Brasil os templos escoceses eram encarnados (vermelhos). Provavelmente existiu sim a influência de outros ritos predominantemente de cor azul no escocesismo brasileiro, não pelos ritos em si, porém por aqueles que “acham mais bonito”. Uma das influências a que viria azular os templos escoceses no Brasil ocorreria a partir da cisão de 1.927 quando as Grandes Lojas adotariam muitas particularidades do Craft americano (azul por excelência).
8. Pela sua tradição. O Primeiro Supremo Conselho Mãe do Mundo fundado em 31 de maio de 1.801 adotaria essa postura principalmente após o Conselho de Lausanne na Suíça quando da reunião dos Supremos Conselhos de 06 a 22 de setembro de 1.876.
9. Na Moderna Maçonaria o Rito Escocês pela sua escalada iniciática, Aprendizes e Companheiros não têm acesso ao Oriente pela simples razão de que esse é o final do ciclo de acordo com a alegoria das Leis Naturais. No Rito o Oriente elevado e dividido acabou permanecendo mesmo após a extinção das Lojas Capitulares. Essa atitude acabou inclusive trazendo algumas contradições em relação à Iniciação e Elevação.
Originalmente não existia essa separação, relegando-se o Oriente à parede oriental, ao Venerável e a disposição dos que estivessem abaixo do sólio imediatamente à sua direita e esquerda como ocorre no Craft, onde o Aprendiz presta o seu juramento junto ao pedestal ocupado pelo Mestre da Loja.
No Rito Escocês o procedimento doutrinário deve cumprir os ciclos naturais – a Primavera e o Verão no Topo do Norte (Aprendizes), o Outono e o Inverno no Topo do Sul (Companheiros) e o Oriente privativo dos Mestres. Note-se que é através do cumprimento desses ciclos naturais que se sugere às etapas da vida humana. Qualquer inversão nesse sentido desqualificaria a alegoria (Deísta), comum ao arcabouço doutrinário do Rito em questão – essa é a razão da existência das Colunas Zodiacais nos templos simbólicos do Rito Escocês. Essas Colunas indicam no hemisfério norte da Terra as estações do ano que são comparados à infância, adolescência, juventude e maturidade do elemento primário do Canteiro (o Homem).
10. Não é uma questão de dispensa, porém de tradição. Diáconos no Rito Escocês Antigo e Aceito não portam bastões nem varas e não formam pálio.
Diáconos que têm como objeto de trabalho as “varas” fazem parte do Craft e as suas funções são distintas como auxiliares imediato e não mensageiros como no Rito Escocês. Nesse Rito, em alusão aos antigos costumes eles transmitiam ordens aos Vigilantes para a aprumada e nivelamento da obra, tanto no seu início como no final de cada etapa. Esses antigos oficiais de chão percorriam o imenso canteiro operativo e informavam ao Mestre da Obra que os trabalhos estavam de acordo, ou “justos e perfeitos”. Como a Maçonaria não mais é Operativa, senão Especulativa, a regra passou a ser simbolicamente praticada pela transmissão de uma palavra. Estando essa correta, os trabalhos são iniciados. Ao final da jornada estando à mesma nos conformes, os trabalhos são encerrados. Assim o Rito Escocês, pelo seu caráter titular de “antigo” revive essa alegoria de modo simbólico, porém não menos importante pelo seu alto teor de lição, moral e ética. Já no Craft, pela inexistência de Expertos (vertente francesa) os Diáconos cumprem essa função, inclusive em algumas situações perambulando em esquadro. São comuns também esses Oficiais nesse costume portarem varas, cruzarem as mesmas em algumas situações ritualísticas. Provavelmente foi com base nesse cruzamento que “inventaram” o pálio com bastões no Rito Escocês que, verdadeiramente não possui essa prática, até porque nesse Rito, os Diáconos, além de não portarem bastão, são apenas mensageiros e o seu ofício único é o de transmitir a Palavra. Ainda em relação ao pálio essa prática é tradicionalíssima no Rito Adonhiramita que o faz sobre o Altar dos Juramentos situado no centro do Ocidente com espadas. A doutrina desse Rito assim exige pela sua própria concepção de ministério. Essa foi à razão pela qual alguns “ritualistas” que só “achavam bonito”, mas nunca souberam explicar, viessem enxertar essa arte no Rito Escocês. O GOB já corrigiu esse equívoco.
11. Não deveria. A joia distintiva do Venerável possui o simbolismo operativo do Mestre da Obra. Esse Esquadro deveria ser de ramos desiguais – o lado menor seria o cabo do instrumento de trabalho. Com ramos iguais seria aquele colocado sobre o Livro da Lei com parte integrante das Três Grandes Luzes Emblemáticas, ou as Três Luzes Maiores.
12. No Rito Escocês Antigo e Aceito a prática da transmissão da Palavra Semestral é realizada através da Cadeia de União. Essa Cadeia só existe no Rito em questão para essa transmissão que deve acontecer com a presença apenas dos Obreiros do Quadro. Daí a razão dela ser realizada após o encerramento dos trabalhos da Loja.
União da ponta dos pés, pronunciamentos e orações, tríades com “saúde, força e união” não são costumes integrantes da Cadeia de União realizada no Rito Escocês Antigo e Aceito. Essas práticas pertencem para outro Rito.
13. Primeiro que seja cumprido o que exara o ritual em vigência. Tempo de Estudos que demandem os procedimentos citados na questão, poderão ser previstos em Sessão de Instrução conforme preceitua o Regulamento Geral da Federação em seu Art. 108, § 1º, Inciso II.
14. Quem determina a necessidade dessa transformação é o Venerável Mestre com assuntos pré-agendados para a Ordem do Dia. Um procedimento muito comum nesse caso é a apresentação da Peça de Arquitetura para aumento de salário o qual é merecedor de aprovação, cobertura e transformação da Loja após a apresentação – a aprovação é pela votação (Ordem do Dia). Transformação de uma Loja, independente do assunto, será sempre realizada na Ordem do Dia.
15. Essa prática é irregular. Se houver necessidade do retorno da palavra essa fica a critério do Venerável Mestre. Se ele achar necessário, a palavra terá o seu retorno pelo giro completo – partindo novamente da Coluna do Sul, independente de onde estiver posicionado o Obreiro suplicante pelo retorno.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.158 – Florianópolis(SC) – domingo, 03 de novembro de 2013
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