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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

PALAVRA DE PASSE DO COMPANHEIRO MAÇOM

(reprodução)
Em 01/06/2018 o Irmão Alexissandro Marques Moreira, Companheiro Maçom da Loja Caratinga Livre, GOB-MG, REAA, Oriente de Caratinga, Estado de Minas Gerais, apresenta a seguinte questão:

PALAVRA DE PASSE DO SEGUNDO GRAU

Sobre a palavra de passe do Grau de Companheiro, quem a introduziu em nosso ritual e em que ano?

CONSIDERAÇÕES:

Despido de todas as roupagens doutrinárias, o Grau de Companheiro é sem dúvida o grau mais genuíno da Maçonaria, já que à época da Maçonaria de Ofício (Operativa), apenas existiam duas classes de trabalhadores, a dos Aprendizes Admitidos e a dos Companheiros da Arte.

Com o advento da Maçonaria dos Aceitos (Especulativa) a partir do início do século XVII, os primeiros catecismos começariam a se organizar em detrimento dos dois graus especulativos que começavam a tomar forma na estrutura ritualística da Maçonaria. Cite-se que o primeiro maçom especulativo que a história autêntica tem registrada é o Irmão John Boswel, iniciado no ano de 1600 na Loja Capela de Maria em Edimburgo na Escócia.

Em relação à ritualística especulativa do segundo Grau, a mesma começou a ser implantada na Inglaterra no final do século XVII e consolidada no primeiro quartel do século seguinte, sobretudo pelo aparecimento da Moderna Maçonaria como resultante da Primeira Grande Loja em Londres em junho de 1717.

Cabe comentar que no período de transição, entre o período operativo e especulativo, a liturgia maçônica paulatinamente seria desenvolvida em dois graus, enquanto que um terceiro grau, o de Mestre Maçom, somente apareceria em 1725 e oficialmente seria integrado ao franco maçônico básico apenas da segunda constituição inglesa, aquela datada de 1738.

Anteriormente à organização dos dois primeiros graus especulativos (aceitos) o Companheiro era tratado como aquele que pertencia ao Grêmio (Craft) e que já tinha passado pelo aprendizado da Arte. 
No tocante as palavras, elas existiam em número de três, sendo B∴ e J∴ como as sagradas dos Aprendizes e Companheiros e uma de P∴P∴ que era comum às duas classes e conhecida por Tub∴.
Com a organização na Inglaterra do grau especulativo de Companheiro por alguns maçons aceitos entre os anos 1670 a 1680, urgia então a necessidade de se criar outros procedimentos que se adequassem a nova realidade ritualística. Com isso é bastante provável que foi a partir daí que apareceu a palavra Sch∴ como P∴ P∴ exclusiva para o agora Grau de Companheiro Maçom, enquanto que a antiga palavra, Tub∴, somente retornaria depois de 1725, mas então já como P∴ P∴ do Grau de Mestre Maçom que tivera a sua certidão de nascimento em maio daquele ano. Nessa evolução ritualística o Grau de Aprendiz Maçom, por questão iniciática, não mais se utilizaria de uma P∴ P∴.

Na Maçonaria, a palavra Sch∴ foi retirada das Sagradas Escrituras, mais precisamente do Velho Testamento, Livro dos Juízes – Cap. 12, 1-7. 

Além do sentido literal de uma palavra que serve como uma senha na Maçonaria, Sch\ é na realidade uma profunda alegoria iniciática para o Segundo Grau. 

Segue o relato contextualizado na história bíblica que os introdutores maçônicos especulativos deram à alegoria da P∴P∴:

O fato se deu na época em que um exército dos Efrainitas atravessou o Rio Jordão para combater Jefté, famoso general Gleadita. 

O pretexto dessa desavença foi por não terem os Efrainitas sido convidados para participar honrosamente da guerra Amonita. Entretanto, a verdadeira causa dessa desavença teria sido a captura dos ricos despojos que, em consequência dessa guerra, Jefté e seu exército tinham se apoderado.

Os Efrainitas, muito embora tidos como um povo turbulento e sedicioso, só romperam as hostilidades em virtude de pesados insultos que lhe dirigiam os Gleaditas. Contudo, Jefté tentou por todos os meios apaziguá-los; vendo, porém que isso era impossível avançou com seu exército e, dando-lhes combate, derrotou-os, colocando-os em fuga.

Para tornar decisiva a vitória, precavendo-se contra futuras agressões, Jefté enviou destacamentos para guardar as passagens do Jordão, por onde deveria forçosamente os insurretos fugir para o seu país. Deu ordens severas para que fosse executado qualquer fugitivo que por ali passasse e se confessasse Efrainita. Aqueles que negassem ou usassem de subterfúgios seriam obrigados a pronunciar a palavra Sch∴.

Os Efrainitas, por defeito vocal, próprio do seu dialeto, não pronunciavam Sch∴, mas Si∴. Desse modo, a ligeira diferença de pronúncia descobriria a sua nacionalidade e custar-lhe-ia a vida. Dizem as Escrituras que morreram, no campo de batalha e nas margens do Jordão, 42000 Efrainitas.

Como Sch∴ foi então a palavra que servira para distinguir amigos de inimigos, Salomão resolveu adotá-la como P∴ P∴ dos Companheiros.

Por isso, depois dos nossos antigos Irmãos darem a P∴ P∴ ao Vigilante, ele dizia-lhes “Passe Sch∴”.

Sob o ponto de vista doutrinário essa palavra, se pronunciada incorretamente denuncia que o obreiro ainda não está suficientemente preparado para passar pela porta ao Sul. Nessa condição o Vigilante obsta a sua passagem. Em síntese a pronúncia correta implica na certificação de que o maçom preparado a contento no Segundo Grau está apto para se deslocar em direção à última etapa da sua senda iniciática, a Câmara do Meio.

Sob o aspecto prático Sch∴ é um meio utilizado no telhamento como certificação de qualidade para participar dos trabalhos em Loja de Companheiro Maçom.

Sob o ponto de vista iniciático o termo alude a uma espiga de trigo (numerosos grãos de trigo) e está relacionado aos cultos agrários da antiguidade – Ceres ou Deméter – os bens produzidos pelas estações e a revolução anual do Sol. 

Esses comentários por óbvio não esgotam o assunto já que doutrinariamente existem aspectos pertinentes a cada rito maçônico praticado que utiliza essa P∴ P∴. O que fora aqui comentando é só uma pequena síntese que aborda mais a origem maçônica da P∴ P∴ do Companheiro do que a sua aplicação propriamente dita. Seu profundo significado o seu simbolismo merecem uma judiciosa atenção na arte especulativa. Certamente esse não é o mote dessas considerações.

Assim, concluindo esses comentários e atendendo ao questionamento, a P∴ P∴ Sch∴ é oriunda da fase de organização especulativa do grau de Companheiro Maçom, isto é, no final do século XVII, se consolidando durante a profusão dos ritos que se deram a partir da Moderna Maçonaria, especulativa por excelência e que tem como marco a fundação da Primeira Grande Loja no primeiro quartel do século XVIII. 

P.S. (1) – Sugiro ao Irmão a leitura do livro O Companheiro Maçom do Irmão Francisco de Assis Carvalho – Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 1992. Nessa obra, além do seu excelente conteúdo, há ainda um extenso roteiro bibliográfico que dará ao pesquisador uma ótima referência para estudo sobre o Segundo Grau maçônico.

P.S. (2) – Alguns autores inadvertidamente atribuem ao antiquário Elias Ashmole a composição dos rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre entre os anos de 1646 e 1649. Essa hipótese, aventada pelo superado Ragon, já foi desmentida há muitos anos. Embora existam referências de que ele foi iniciado em uma Loja em Warrington, em 1646, sabe-se que ele só retornou à Maçonaria quatro anos depois, portanto nunca seria dele a autoria dos rituais.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

4 comentários:

  1. Obrigado pelo estudo, e de grande valia para construção de trabalhos

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  2. Parabéns pelo excelente trabalho, meu irmão!

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  3. Parabéns ficou muito bom!
    Simples, objetivo e rico.
    Dilmar - falecom@dilmarfranchini.com.br

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