Rui Bandeira
Na parede (ou junto ou perto desta) do lado oposto à entrada do espaço de reunião de uma Loja maçónica são visíveis representações do Sol e da Lua, aquele do lado direito de quem entra, esta do lado oposto.
O Sol, estrela sem a qual não seria possível a existência de vida no nosso planeta, desde a mais remota Antiguidade que foi associada pela Humanidade à Vida, à Criação. As religiões primitivas divinizavam o Sol. O mesmo se verificou no Egito, na Suméria e noutras regiões das civilizações da Idade do Cobre e subsequentes, prévias às mais elaboradas crenças greco-romanas e ao Monoteísmo.
O Sol sempre foi associado ao princípio ativo, ao masculino, ao poder criador.
Por outro lado, a Lua é associada ao princípio passivo, ao feminino, à fecundidade.
A colocação destes símbolos no espaço das reuniões maçónicas não tem nada a ver com crenças pagãs ou religiosidades primitivas, mas insere-se na mesma linha da simbologia do pavimento mosaico: a chamada da atenção para a dualidade, especificamente, no caso, para a polaridade.
O Sol e a Lua simbolizam o dia e a noite, a luz direta e a luz reflexa, a ação e a reflexão, o trabalho ou atividade e o descanso, o dinâmico e o estático, a crueza da forte luz solar e a placidez da suave luz lunar, a ação e a reação. São símbolos que nos recordam que nada é tão simples e direto como possa parecer á primeira vista, que a aparência exterior que brilha como a luz solar encobre a natureza interior que se vislumbra como a pálida luz da Lua.
Os dois símbolos recordam-nos que há tempo de agir e tempo de refletir. Há tempo de fazer e tempo de descansar. Há tempo de aprender e tempo de ensinar. Há ação e contemplação. Há dia e há noite. Há verso e há reverso. Todas estas dualidades integram a Realidade, afinal constituem a Realidade.
O Sol e a Lua dão-nos a noção do dinamismo da Vida, da Criação, do Real, da interação entre duas polaridades que se atraem e que se repelem, que mutuamente se influenciam. Dois princípios, duas forças, dois elementos, dois fatores, que ambos existem, ambos são reais, mas ambos são incompletos, completando-se apenas mediante a sua mútua influência. Tal como já o Pavimento Mosaico perspetivara, a Criação, a Vida, o Real, não são estáticos, não são simples, não são básicos. São dinâmicos, são complexos, são evolutivos.
Ao meditar sobre a relação entre estes dois símbolos, o maçom deve adquirir a noção de que se não deve limitar a um único aspeto da realidade, a um único tema de estudos. A espiritualidade é importante, mas não menos importante é a materialidade. Espírito e matéria não se opõem - completam-se. Tal como o Sol e a Lua não se digladiam, repartem entre si o dia e a noite. E um dia completo, um ciclo de vinte e quatro horas, compõe-se de dia e de noite, do reino do Sol e do tempo da Lua. Assim também o Homem completo não dedica apenas a sua atenção aos assuntos do espírito, também se dedica aos negócios da vida real e quotidiana, material. Tão incompleto é aquele que apenas se importa com o material, o dinheiro, o poder social, o ter, ignorando a vida espiritual, o aperfeiçoamento moral, o interior de si mesmo, o ser, como aqueloutro que navega nas regiões etéreas do esoterismo, ignorando, ou fazendo por ignorar, que a Vida é esforço e trabalho e pó e carne e esforço e ação e construção.
O Sol e a Lua simbolizam opostos, mas opostos que mutuamente se influenciam e se completam. Assim deve o maçom gerir a sua vida: estudar mas também aplicar, contemplar sem deixar de trabalhar, imaginar mas também executar, fazer e descansar, ter o que necessita para Ser, mas Ser sempre acima do mero Ter.
Fonte: A Partir a Pedra
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