(Desconheço o autor0
Este trabalho é baseado em questões, cujas respostas se fundamentam nas pesquisas realizadas.
Por que D Pedro foi eleito maçom e em tão pouco tempo grão mestre, e de que forma isso se fazia necessário para a independência?
Dom Pedro era um jovem de temperamento irrequieto, temperamental, e às vezes irascível. Era, sobretudo, inexperiente nas lides políticas e suas malícias. Estas facetas do caráter do príncipe foram muito bem exploradas por J.Bonifácio, que deste modo pôde usar com tamanha habilidade a sua persuasão, que conseguiu que ele, já em 17.02.1822, proibisse o desembarque, no Rio, das tropas portuguesas comandadas pelo general Jorge Avilez.
Tudo era válido para influenciar e pressionar o Príncipe, para induzi-lo a fazer a independência do país. Foi isto que levou Bonifácio a convidá-lo para ingressar no Apostolado e na Maçonaria.
Para isso, José Bonifácio teve, primeiro, de entrar na Maçonaria, valendo-se do prestígio do seu cargo de Ministro do Interior.
Na realidade, J.Bonifácio foi um inimigo da Maçonaria, que nunca foi iniciado, e só aceitou o convite sugerido para nela ingressar visando a trazer a Ordem para a sua área de influência e para fazer dela um instrumento de prestígio junto ao príncipe, a quem convidou para nela ingressar.
Em 10.04.1822 J.Bonifácio colocou a sua assinatura em uma Ordem ao Intendente de Polícia “mandando cercar por força armada os ajuntamentos da Maçonaria, prender todas as pessoas encontradas e fazer a apreensão de todos os papéis”
Pouco depois de chegar de Portugal, em 1819, J. Bonifácio foi convidado para ingressar na Maçonaria carioca pelo Capitão-Mor, Irmão José Joaquim da Rocha, em cuja residência, à rua da Ajuda, 64, os maçons se reuniam. Ao convite, J. Bonifácio respondeu textualmente “O entusiasmo da Maçonaria no Brasil não passa de fogo de palha”. E não entrou.
“Organizada como estava a Maçonaria no Rio de Janeiro em 1822, foi NOMEADO para GRÃO-MESTRE da Ordem José Bonifácio, que se improvisou maçom, sem o ser”. Isto é afirmado num manuscrito de Mello Mattos, contido na obra “Documentos para a História da Independência” de autoria do Cônego Geraldo Leite Bastos, falecido em 1863.
Foi o Irmão Mello Mattos, iniciado antes de 1812, que recebeu o Príncipe Dom Pedro à porta do templo, quando foi iniciado maçom em 2.08.1822.
Muitas vezes a Maçonaria européia aclamou Profanos para o cargo de Grão-Mestre, especialmente em situações políticas difíceis, o que era o caso do Brasil na ocasião.
Mesmo aclamado Grão-Mestre do GOB, José Bonifácio não morria de amores por Gonçalves Ledo, seu Primeiro Grande Vigilante, pois o sabia o chefe reconhecido e de fato do partido liberal do Rio de Janeiro, e na realidade o verdadeiro mentor e guia espiritual da Maçonaria no Brasil da época. Na ausência de José Bonifácio, foi Ledo que, dirigindo os trabalhos do GOB, propôs e a assembléia aprovou por unanimidade, que Dom Pedro assumisse o cargo de Grão Mestre do GOB.
Isto aconteceu na sessão especial de 04.10.1822, esclarecendo Ledo ao inicio dos trabalhos, que a convocação fora feita para “receber o Juramento do nosso amável e muito amado Irmão Guatimosim, eleito Grão Mestre da Maçonaria Brasileira, por aclamação, em plena reunião do Povo Maçônico....” como diz textualmente a Ata.
São várias as provas de que José Bonifácio usou a Maçonaria para aumentar a sua influência sobre Dom Pedro, visando concretizar os seus projetos pessoais e familiares.
Em 05.10.1822, quando o Príncipe D. Pedro dirigia os trabalhos do GOB, na qualidade de seu Grão Mestre, José Bonifácio transmitiu ao Desembargador João Ignácio da Cunha “denúncias contra a Maçonaria, mandando aumentar o número de espiões e secretas, e ordenando a lei marcial”.
Mas foi o próprio Imperador Dom Pedro I que documentou para a história como agia José Bonifácio em relação à Maçonaria. Em artigo que publicou no Diário Fluminense em 1829, sob o pseudônimo de P. Patriota, Dom Pedro escreveu:
“Quem poupa os inimigos nas mãos lhes morre. Aí estão os ANDRADAS, com o velho sábio à frente. Cuidado com este, Fluminenses! Ele não fez a Independência, como vivem a basofiar os seus amigos. Foi o Imperador, com o Ledo e o Clemente Pereira, foi o Grande Oriente, do qual J. Bonifácio foi inimigo depois de ter sido seu Grão-Mestre. O velho Andrada apenas acompanhou a onda. Dom Pedro perdoou-lhe. Ele voltou, a agitação começou, o mar está bravo, mas se ele fizer conspiração como em 1823, a lei e o imperador serão inexoráveis, sem piedade para ninguém”. (Revelações Históricas para o Centenário – Assis Cintra).
Na 6ª reunião do Grande Oriente, em 19.06.1822, José Bonifácio tomou posse como Grão-Mestre, mesmo sem ter sido iniciado, nem nos graus simbólicos, nem no grau de Rosa Cruz, exigência básica da época para se tornar Grão Mestre.
Sabia bem J. Bonifácio que Ledo lhe dera o cargo de Grão-Mestre com o objetivo de fortalecer a Maçonaria e aproximá-la da Casa Real e, se aceitou a nomeação, fê-lo com a intenção de “poder fiscalizar a atividade maçônica no Brasil e dirigi-la de acordo com os seus projetos”.
Na sessão de 02.08.1822, José Bonifácio propôs o Príncipe Dom Pedro para ser iniciado, proposta que foi aprovada por unânime aplauso.
Sob o comando da Loja Comércio e Artes, foi Dom Pedro iniciado no mesmo dia, e em 05.08.1822 a mesma Loja faria a Exaltação do Irmão Guatimosim, que assim ficou pertencendo ao seu Quadro de Obreiros.
Por que Dom Pedro determinou a prisão dos irmãos e o fim dos trabalhos no GOB?
Em sessão realizada no dia seguinte ao de sua posse, a 0510.1822, o novo Grão Mestre foi saudado pelo Brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto que, de modo inflamado, o previne “contra os coléricos, os furiosos” e “os embusteiros” que “para seus sinistros fins particulares, buscam minar o edifício constitucional”.
Esta já era uma previsão do golpe que estava sendo preparado e iria ser desfechado por José Bonifácio e seus simpatizantes. Seria a sessão seguinte, de 11.010.1822, a 19ª e última sessão do GOB em sua primeira fase. E foi esta também a última sessão presidida por Dom Pedro, isto um dia antes de sua aclamação como Imperador, realizada em 12.10.1822.
Três dias depois da aclamação, a 15.10.1822, um grupo a serviço do ministro rancoroso e vingativo, “colérico e furioso”, passou a espalhar o boato de que Ledo e seus simpatizantes pretendiam provocar uma completa reforma no Ministério, com o afastamento dos Andradas.
Isto foi suficiente para que fossem expedidas ordens ao Intendente de Polícia para exercer severa vigilância sobre os “perversos carbonários e anarquistas”
E, apenas 18 dias depois de ter sido empossado no cargo de Grão-Mestre, o agora Imperador, envolvido pelas intrigas de José Bonifácio, dirigiu a Gonçalves Ledo o seguinte bilhete, em 21.10.1822:
Meu Ledo
Convindo fazer certas averiguações, tanto Públicas como Particulares na Maçonaria, Mando, primo como Imperador, segundo como Grão Mestre, que os trabalhos Maçônicos se suspendam até segunda ordem Minha. É o que tenho a participar-vos. Agora, resta-me reiterar os meus protestos como Irmão.
PEDRO GUATIMOSIM G∴M∴
P.S. – Hoje mesmo deve ter execução e espero que dure pouco tempo a suspensão porque em breve conseguiremos o fim que deve resultar das averiguações. (Documento encontrado no arquivo do Castelo D’Eu.
Mas Gonçalves Ledo não cumpriu a ordem. Preferiu entender-se com o Imperador e Grão Mestre, que reconheceu ter sido vítima dos ódios do seu próprio ministro, aumentado pelos zelos de haver a Maçonaria conferido a ele, chefe de Estado, o grão malhete. Assim, resolveu o Imperador mudar de rumo, ordenando que o Grande Oriente prosseguisse nos seus trabalhos e cessassem as perseguições.
E no dia 25.10.1822 (quatro dias depois da interdição) mandou entregar a Gonçalves Ledo um bilhete que por ser um precioso documento para a História da Maçonaria brasileira, transcrevemos abaixo:
Meu Irmão – Tendo sido outro dia suspendidos nossos augustos trabalhos pelos motivos que vos participei, e achando-se hoje concluídas as averiguações, vos faço saber que segunda-feira que vem os nossos trabalhos devem recobrar o seu antigo vigor, começando a abertura pela Grande Loja em Assembléia Geral. É o que por ora tenho a participar-vos para que, passando as ordens necessárias, assim o executeis. Queira o S.’.A.’.do U.’. dar-vos fortunas imensas, como vos deseja o vosso I∴ P∴M∴R∴ (Irmão Pedro Maçom Rosacruz).
Deste modo, por ordem de Dom Pedro a atividade do GOB ficou suspensa apenas por sete dias. Se depois disso nunca mais se reuniu, não foi por causa do seu Grão-Mestre e sim devido à ausência de seu verdadeiro líder, o Irmão Gonçalves Ledo que, para não ser preso pelos esbirros de José Bonifácio, fugiu para Buenos Aires.
Vendo-se desprestigiado com o apoio dado pelo Imperador a Ledo, José Bonifácio pediu demissão do cargo de ministro, no mesmo dia do bilhete de Dom Pedro a Gonçalves Ledo, autorizando o reinicio dos trabalhos do GOB, a 25.10.1822. Acompanhou-o na demissão o irmão Martim Francisco.
No dia 29.10.1822 apareceu uma PROCLAMAÇÃO elaborada pelos membros do APOSTOLADO, exigindo a volta dos Andradas. O Imperador, (sempre indeciso e volúvel), devidamente “trabalhado” pelo grupo de J. Bonifácio, interessado em seu retorno, conseguiu recolocar os Andradas no poder, de acordo com o Decreto de 30.10.1822. (Nabuco – Legislação Brasileira – Tomo III, pág. 347).
O ciúme entre o Grande Oriente e o “Apostolado” entrou em sua fase mais crítica e delicada. Ambas as Sociedades procuravam monopolizar as simpatias de D. Pedro, sem que este resolvesse pronunciar-se por uma delas.
Fervilhavam as intrigas políticas e insinuavam-se conspirações ora de uma, ora de outra parte, o que devia causar em D. Pedro grande sensação de mal-estar.
Se era a independência do país que todos almejavam, e sobre isso ele não tinha dúvida, por quê então se envolviam em lutas estéreis ao invés de o ajudarem a realizar a obra que tinham em mente?
Diziam os do Apostolado: “Nós queremos a independência sob a forma de regime monárquico, enquanto que o Grande Oriente conspira para implantar a República”.
Esta insinuação, que era quase uma denúncia, iria ser o calvário do GOB. que, devido a essas intrigas, teve suspensos os seus trabalhos pelo seu próprio Grão Mestre.
Esta foi a primeira e a última vitória do “Apostolado” Isto porque, embora cerrados os trabalhos do GOB, muita coisa ainda seria capaz de influir no ânimo de D. Pedro.
Certo dia, chegou ao Palácio uma carta anônima, escrita em Alemão, trazendo a nota de urgente no envelope. D. Pedro pediu à Imperatriz que a traduzisse, o que mostrou uma grave denúncia! O Apostolado tramava contra a vida do seu Arconte Rei, o próprio Imperador.
Nesse mesmo dia, D. Pedro mandou chamar o seu ministro José Bonifácio ao Palácio, por volta das 18:00 horas. Sem nada mencionar a J. Bonifácio, D. Pedro ordenou-lhe que o esperasse, pois estava de saída que não seria demorada.
Coberto por espesso capote, montou um cavalo sem ferraduras e dirigiu-se ao quartel de artilharia montada de São Cristóvão de onde, juntamente com o seu Comandante Pardal, de oficiais de confiança e de cinqüenta soldados, todos encapotados e bem armados partiram para a rua da Guarda Velha, no centro na cidade do Rio de Janeiro.
O Imperador bateu à porta, com a senha da ordem, O porteiro, embora conhecendo D. Pedro, vacilou em abrir-lhe a porta, sendo rapidamente seguro, o mesmo acontecendo ao segundo porteiro.
Era costume, na chegada de um membro da Sociedade, como sinal de ordem, levantarem-se todos os presentes e puxarem do punhal. Ordenando que os que o acompanhavam permanecessem no vestíbulo, o Arconte Rei caminhou em direção ao trono, de onde Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado presidia os trabalhos.
De imediato, este lhe ofereceu a cadeira, e se preparou para juntar e guardar os papéis referentes aos trabalhos da Sessão, que nada mais tratavam senão do plano de conjuração e das propostas dos membros da Sociedade a este respeito, no que foi impedido pelo próprio Imperador, que lhe tomou estes papéis.
Em seguida, D. Pedro dirigiu-se aos presentes, dizendo: “Podem retirar-se, ficando cientes de que não haverá mais reuniões no “Apostolado” sem minha ordem. E não se realizaram mais reuniões, nem tampouco prisões. Assim acabou a “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa-Cruz”, ou seja, o Apostolado. E, de novo, José Bonifácio foi demitido de seu cargo de Ministro.
Esta era a represália do Grande Oriente, que conseguiu assim acabar com o “Apostolado”.
Ressentido, pela Exaltação de D. Pedro e por sua destituição sumária do Grão-Mestrado, em favor de D. Pedro, tudo obra do Ledo, José Bonifácio, juntamente com seu irmão, Martim Francisco e mais alguns maçons, saiu do GOB e fundou uma nova sociedade secreta, meio maçônica e meio carbonária – O Apostolado.
José Bonifácio, que viajara por todos os países onde a “Carbonária” lançara os seus tentáculos, deixara-se empolgar pelo sistema de organização da poderosa sociedade, mas simplificara-o de acordo com as possibilidades do momento. Suprimiu, por exemplo, o “Triunvirato”, que era nas organizações européias o centro nervoso de onde provinham as ordens mais importantes.
As pequenas assembléias locais (Decúrias), embora se pretendesse corresponderem às “Lojas Maçônicas”, é melhor compreende-las na categoria de “Choças”, já que os seus altos dignitários não eram eleitos e sim designados de entre as “Colunas do Trono”, nome dado aos membros da original sociedade.
O primeiro passo de J. Bonifácio foi ordenar a prisão de todos os que considerava seus inimigos – Ledo e os seus partidários. (Portaria de 11.11.1822).
A esse respeito, o Irmão Kant (Cônego Januário da Cunha Barbosa) escreveu a Ledo no dia 30.10.1822:
“Ledo – Escrevo, na contingência de ser preso pelos agentes dos Andradas. J. Bonifácio nos intrigou com o Imperador, convencendo-o de que somos republicanos e queremos a sua morte e expulsão. Sei, pelo Clemente, que a ordem de prisão já está lavrada. Esse homem que se tem revelado um tigre, QUE NÃO FEZ A INDEPENDÊNCIA, QUE A IMPEDIU ATÉ O ÚLTIMO INSTANTE, e que somente a aceitou quando a viu feita, agora procura devorar aqueles que tudo fizeram pela Independência da Pátria, que a conseguiram com os maiores sacrifícios. O Drummond disse que o déspota faz questão de prender você para enforcá-lo.
Lembre-se do que ele disse na Igreja de São Francisco. Não se exponha, não apareça na Corte, pois o grande ódio dele recai sobre você, que foi, como DIRIGENTE DA MAÇONARIA, o principal obreiro, o verdadeiro construtor de nossa Independência..
Por quê a proibição das sociedades secretas e qual o fim do apostolado?
Em Pernambuco, o movimento nativista ia crescendo, e já em 1816 existia uma Grande Loja Provincial, à qual eram filiadas as Lojas existentes e nas quais estavam sendo feitos os preparativos para uma Revolução Republicana que tinha como objetivo a proclamação da Confederação do Equador, uma república federativa. (História da República de Pernambuco de 1817 – Mons. Muniz Tavares)
Foi tão drástica a reação do Governo Português que a história chamou de monstro o Conde dos Arcos que, pela sua crueldade, debelou o movimento em 74 dias. Este movimento se transformou num banho de sangue, pois os que escaparam das lutas sangrentas, morreram fuzilados ou na forca.
A primeira vítima foi o Padre Roma, fuzilado a 29.03.1817. Aliás, os padres nativos eram maçons de coração e lutavam pela liberdade de sua terra. Dezenas deles morreram na revolução e em outras escaramuças. Porém, em Portugal, os padres viviam delatando os maçons.
Para solidificar a vitória, conseguida com o sacrifício de tantas vidas preciosas, e extinguir a maçonaria de uma vez por todas, o rei D. João VI, convenientemente industriado pelo Conde dos Arcos e por outros inimigos dos filhos da viúva, resolve baixar o Alvará de 30.03.1818, publicado na íntegra no Boletim do GOB de 1898 proibindo todas e quaisquer sociedades secretas em Portugal e em todos os seus domínios (inclusive o Brasil) sob as mais severas penas, inclusive o de lesa-majestade, conforme Ordenação, que estabelece Pena de Morte e Confisco dos Bens para a Coroa, ainda que haja filhos ou descendentes dos condenados.
Talvez para proteger o patrimônio do GOL – Grande Oriente Lusitano – este Alvará não menciona expressamente a Maçonaria nem os Pedreiros Livres. O objetivo era atingir diretamente o movimento subversivo que no Brasil se utilizava da forma secreta porque trabalhavam as Lojas Maçônicas, para conspirar contra a Monarquia.
Diz o Alvará textualmente: “Sou servido Declarar por Criminosas e Proibidas todas e quaisquer Sociedades Secretas, de qualquer denominação que elas sejam, ou com os nomes e formas já conhecidas, ou debaixo de qualquer nome ou forma que de novo se disponha ou imagine
Isto significa que a Lei não queria saber o que havia antes, devendo ser punidos os que, de agora em diante, se reunissem em “Lojas, Clubes, Comitês, ou qualquer outro ajuntamento de Sociedade Secreta”.
Entretanto, este mesmo Alvará levou, em Portugal, à condenação e fuzilamento, por conspiração contra a monarquia, do Marechal Gomes Freire de Andrade, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, em 1818. O bravo executor deste assassinato foi o General Beresford, maçom inglês que comandava as tropas inglesas que vieram defender Portugal durante as invasões de Napoleão.
Em casa de amigos ingleses no Algarve, em 1996, estive com o Avental e o Colar de Grão Mestre do Marechal Gomes Freire nas mãos. Tenho inclusive o filme que fiz na ocasião mostrando estas alfaias, que têm quase duzentos anos, e que se encontram em muito bom estado de conservação.
No Rio de Janeiro, acobertados pelo Clube Recreativo e Cultural da Velha Guarda, fundado por Gonçalves Ledo e mais 42 companheiros, continuava-se a conspirar pela independência do Brasil. Em 1821, descobertos, foram presos numerosos maçons “por serem perigosos alteradores da ordem” como se lia no Aviso expedido pelo Ministro Villa Nova Portugal. Mas muitos mais deixaram de ser presos.
A informação do Intendente de Polícia, dada em 04.12.1821 ao Ministro, foi:
“Permita V. Excia. que diga ser impossível agir sem tropas fiéis, pois a que temos está na maioria filiada aos conspiradores, sendo conveniente mandar vir outra do Reino de Portugal, pois o movimento da independência é por demasia generalizado pela obra maldita dos maçons astuciosos, com a chefia de Gonçalves Ledo.
José Bonifácio era do apostolado e era maçom, e foi iniciado perto da independência. Como todos sabem era ligado a D Pedro, logo deve ter participado da proibição dos trabalhos da GOB. A pergunta é: por que em 1831 foi, de novo, eleito grão mestre do então adormecido GOB?
Como já dito acima, José Bonifácio nunca foi Iniciado. Entrou para a Maçonaria sem nunca passar pela cerimônia da Iniciação.
Depois de sua fuga para Buenos Aires em 1822, Gonçalves Ledo retornou ao Brasil em 21.11.1823. Nesse meio tempo, tinham sido deportados os três Andradas e vários outros seus correligionários.
A Loja Seis de Março de 1817, fundada em Recife em 1821, foi a única Loja no Brasil a permanecer ativa depois de 1822. Também ela adormeceu em setembro de 1824, ao ser abortada a revolução republicana fomentada pela Maçonaria pernambucana, para instalar a Confederação do Equador.
Esta revolução foi afogada em sangue. No Rio e em Pernambuco, foram 17 os enforcados. A principal vítima da maçonaria foi o Irmão Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, fuzilado em 13.01.1825..
Entre 1825 e 1929 foram escassas as atividades Maçônicas, devido à Lei sobre as Sociedades Secretas. Noticia-se apenas que em 1829 Gonçalves Ledo começou a reunir os maçons dispersos, em uma nova Loja Educação e Moral, cuja instalação foi feita pelo Irmão, então Ten. General, João Paulo do Santos Barreto, já no Rito Escocês.
Finalmente, a Carta de Lei de 15.12.1830, com o novo Código Criminal, aliviou a pressão sobre as Sociedades Secretas:
Ainda em 1829 é também fundada a Loja Amor da Ordem, que trabalhava no Rito Escocês. Finalmente, em princípio de 1830, é reerguida pelo Cônego Januário da Cunha Barbosa, o Irmão Kant, cujo bilhete de 30.10.1822 tinha salvo Gonçalves Ledo da forca, a Loja Comércio e Artes, que voltou a trabalhar no Rio Francês ou Moderno.
Assim, Ledo preparou o terreno para futuramente reinstalar o GOB, antes de terminar o ano de 1830, com estas três Lojas: Educação e Moral, Amor da Ordem e Comércio e Artes.
Entretanto, estas Lojas só mais tarde iriam se incorporar ao Grande Oriente, e não foram elas as que reconstituíram o GOB em 1830, e sim as Lojas Vigilância da Pátria, União e Sete de Abril. Estas lojas, que trabalhavam no rito Francês ou Moderno, não pertenciam ao grupo de Gonçalves Ledo.
A reinstalação oficial do GOB só viria a ser feita em 24.06.1831, depois da saída de Pedro I - o Grão-Mestre nunca substituído - do Brasil. De direito, o novo Grão Mestre só poderia ser o seu antigo Grão Mestre Adjunto, o Irmão Turrene, Brigadeiro Luiz Pereira da Nóbrega Coutinho, nomeado em 17.08.1822. Na ausência deste, o Primeiro Malhete do GOB deveria pertencer a Gonçalves Ledo, seu Grande Primeiro Vigilante, que estava ainda muito vivo.
J. Bonifácio havia deixado de ser Grão Mestre desde 1822, quando entregara o malhete ao seu sucessor, D. Pedro; se os trabalhos recomeçavam depois de suspensos, segundo aparece na prancha convite, por que aparece o seu nome e não o do verdadeiro Grão Mestre ou o daquele a quem a lei autorizava a substituí-lo em suas faltas?
O fato de ter sido escrito por Gonçalves Ledo e assinado por J. Bonifácio o Manifesto Maçônico de 05.12.1831, da reinstalação do GOB, significa apenas a trégua, passageira como veremos, feita entre os dois próceres, acertada que estava a incorporação ao GOB das Lojas lideradas pelo Ledo.
Aliás, grande foi o escândalo nos meios maçônicos onde “os cultivadores das virtudes, os patriotas honrados, os amigos da liberdade e da independência da Pátria, os genuínos Maçons brasileiros”, nunca se ligariam a um corpo maçônico à cuja frente se acatava o maior perseguidor da maçonaria brasileira”...
Em princípios de 1833 a loja Educação e Moral, da qual era Venerável Joaquim Gonçalves Ledo, filiou-se ao Grande Oriente do Passeio, fundado em 1829, por não “suportar o jugo andradino por longos....4 meses”. Esta Loja tinha sido declarada irregular pelo GOB, por se ter recusado a elevar ao Grau 18 diversos obreiros do GOB, alegando, com firmeza, que não poderia conceder aquele grau a Irmãos não iniciados no REAA.
Bibliografia
- Achegas para a História da Maçonaria no Brasil – Maçonaria Heróica – Isa Ch’an
- The English Craft in Brazil – James Martin Harvey
- Nos Bastidores do Mistério – Adelino de Figueiredo Lima
- A Maçonaria e a Grandeza do Brasil – A. Tenório D’Albuquerque
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