Divaldo Pereira Franco*
Um mestre segura as mãos do discípulo imberbe e lhe diz, numa noite estrelada, diante das montanhas do mar Morto: vem comigo, deixe-me conduzi-lo pelo labirinto da vida, afim de que possas adquirir a sabedoria e penetrar nos segredos.
Diante de nós, diz o mestre, está um caminho que vai além pelas escarpas das montanhas e à medida que olhamos para baixo vemos o inferno das paixões. Lá estão os nossos defeitos, as tentações e os pecados, a indignidade e os valores negativos.
Vem comigo, eu sou o teu mestre e devo-te guiar. Não te preocupes com as escarpas, não tenhas receio das dificuldades. Eu te conduzirei com segurança, porque o caminho de quem busca a perfeição é estreito e a jornada é áspera.
Empurremos a primeira porta e abramo-la agora, é o acesso a alguma coisa que nos chega aos ouvidos: É um suave marulhar de águas. Escute as águas constantes, deixa que elas lavem as imperfeições de teu corpo, as imperfeições morais de que te deves libertar, afim de que te tornes um cidadão perfeito e um candidato ideal. Veja e sinta as águas que passam pela tua organização, purificando-te.
E agora, que já tens a alma e o corpo lavado, vem, veja nesta estrada as labaredas que crepitam de cima para baixo, debaixo para cima e nas laterais. Não as tema; vem comigo e atravessa-as. Elas estão encarregadas de purificá-lo, ainda queimando aquele resíduo que permanece na tua inferioridade, pois é necessário adquirir a pureza para conhecer melhor o Supremo Arquiteto do Universo.
Agora que as labaredas te purificaram, atravessa esta outra porta. Vem com entusiasmo e rastejas. Permita que teu corpo sinta o contato da terra. Fazei-o rastejar, para que as belezas do barro de onde viestes, dêm-te a dignidade de viver.
Agora levanta-te, ouse, abre a porta que está diante dos teus olhos e escuta. Sopra um vento suave que vem do oriente; sinta este vento.
Já acabastes de passar pelos quatro elementos essenciais da vida. Agora vem, vem um pouco mais, abre a porta do imenso salão; adentra-o e aparecerá diante de ti o touro vermelho das tuas paixões inferiores; elas podem ser chamadas de egoísmo, cobiça, sensualidade, vulgaridade, ambição, ódio. Veja o touro das paixões, pois se não comandares a ti mesmo, não serás digno de comandares ninguém.
Pois quem não se conhece não identifica a sua inferioridade e jamais compreenderá os problemas alheios. Vem, vença o touro, atira-te sobre ele, arrebenta seus cornos poderosos, esmaga-o. E agora, deixa-te embalar pela melodia que te chega, ela sai do salão de onde jaz o touro bravio.
Abre a próxima porta, adentra-te, escuta a ninfa; ela tem nas mãos uma harpa e tange as cordas deste instrumento; é a música sublime que invade-te a alma, é a harmonia. É impossível viver sem trazer na alma a presença da harmonia.
Agora que já te purificastes, que já vencestes o touro das paixões, avança, vem ainda comigo. Faltam muitos caminhos a percorrer. Abre outra porta e verás à frente duas crianças que brincam; uma delas tem nas mãos um globo terrestre, que tenta segurar, e a outra, que tem mãos travessas, tenta arrematá-lo com os pés; essas duas crianças são Éros e Anteros. Éros e o amor santificado, é o amor fraterno, é o amor que sabe repartir. E Anteros é o amor mediato, é a paixão insensata, é o desejo corruptível. É necessário que te alies a Éros ao invés de Anteros, o qual significa as tuas paixões inferiores.
Agora que já tens a harmonia e o amor na tua alma prossegue comigo; o corredor é menos estreito e está iluminado; abra a porta de um novo salão; adentra-o e verás novamente duas ninfas; uma delas tem uma balança nas mãos e tem os olhos vendados. Esta ninfa representa a vida, as ambições terrenas, a justiça terrena, a fragilidade da conduta humana, porque em um prato da balança são colocados a corrupção e a graça e vê-se, o homem torna-se indigno, é a vida.
Mas a outra ninfa, a qual sustenta outra balança, não tem vendas nos olhos. O fiel da balança está perfeito. De um lado estão as causas e do outro lado estão os efeitos. É o carma. Cada um vive conforme seus próprios atos e cada um realiza a sua jornada de evolução, conforme as suas próprias possibilidades. Observa o fiel da balança. É o cinzel que trabalha as imperfeições humanas.
Agora tu já tens a harmonia, já tens o amor, a justiça, mas ainda te falta percorrer alguns espaços. Dai-me a tua mão, estás quase preparado para o encontro; avança comigo, abre, abre comigo a grande porta e defronta a esfinge, no centro do salão; observa-lhe a cabeça e os flancos, as garras e as asas, e então compreenderás que, a cabeça da esfinge significa o saber, os flancos taurinos, o querer e o poder, as garras leoninas acima de tudo, o desejo de dominar, e as asas de águia têm o símbolo extraordinário de tranquilizar e calar, pois, somente quem sabe pode, somente quem pode consegue, e aquele que consegue é quem logra governar, se souber calar. É necessário acima de tudo silêncio para bem governar. Veja bem, a esfinge está domada.
A Trena de seu corpo dominou o carro de sua vida. Deixe que ela saia disparada pelo último caminho; vá na direção daquele templo soberbo de colunas de ouro, de mármore trabalhado, deixa-te arrastar, vamos, a esfinge já partiu e, no carro da vida, chegamos à porta do templo da libertação; vislumbramos dois lances de escadas; um deles é constituído de quatro degraus que simbolizam a fortaleza, prudência, temperança e a perseverança.
Porém, do outro lado, a escada tem apenas três degraus: a esperança, a caridade e a fé. Nota bem que a caridade está no degrau intermediário, mas a fé está diante da porta. Bate que se te abre, empurra que se te dá acesso. Pede que se te darão. Entra agora e se deslumbras. Lá dentro do santuário está Ísis,a deusa despida e velada. É necessário olhar esta mulher com olhos de irmãos. Senta-te ao seu lado e dá-lhe a mão. Ísis é a sabedoria. Deixa-te conduzir por essa sabedoria que te penetra e verás que ela tem nas mãos o símbolo de Osiris, o falo divino, como se fosse um bastão para te dar a perfeição e a sabedoria.
Agora que tu és detentor da harmonia, do amor e da justiça, que decifrastes a esfinge, que são os enigmas da vida, que podes sentar-te ao lado de Ísis, sem cobiça sexual, tu já não és mais um discípulo, tu és um mestre, tens diante de teus olhos a proteção do Arquiteto do Universo, o qual, a partir de agora és como Coluna Sagrada de apoio que vem do oriente para apoiar a humanidade aturdida.
Assim rezam as velhas tradições das iniciações simbólicas da essênia e que, segundo historiadores, teriam passado para a posteridade de boca a ouvido, pelos sete sacerdotes que sobreviveram ao desaparecimento da essênia.
O ritual de iniciação essênica narra exatamente a história de um aprendiz que adentra pelo santuário da iniciação para encontrar o aperfeiçoamento.
*Transcrição de fita cassete, da palestra proferida por Divaldo Pereira Franco, no interior de um Templo Maçônico, no Estado da Bahia, em 15/7/97 e publicado na revista Consciência, n. 35, editado pela Grande Loja Maçônica do Mato Grosso do Sul.
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