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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

ÁGAPE "CEIA MÍSTICA"

ÁGAPE "CEIA MÍSTICA"
Vladimir Duarte Dias

O Ágape(1) maçônico é a designação, geralmente aceita, para identificar uma cerimônia em que os maçons se reúnem para dividir e comer pão ázimo e beber vinho. Esses dois ingredientes possuem simbolismo próprio. A conjugação de dois símbolos, num ritual, aumenta o significado da mensagem central, que está velada na cerimônia. Em época não identificada foram adicionados, no ágape, para estarem em cima da mesa e serem ingeridos, junto com o pão e o vinho, mais dois elementos com forte simbolismo e mensagens ligadas a maçonaria: o “sal” e o “azeite”.

O ato de repartir – dividir – o pão e o vinho remonta, com base em dados históricos à época dos patriarcas bíblicos, cerca de 2.000 a.C (4.000 anos da data atual) onde consta o encontro de Melquisedeque (na realidade “Melki -Tsedek = Rei e Sacerdote, na linguagem hebraica). A expressão que utilizo de dados históricos significa entender que foram registrados através da escrita. O simbolismo do pão e do vinho é anterior a invenção da escrita. Desde povos e culturas primitivas, ou contida nos mitos grego-romanos como, também, em cerimônias do Egito e da Pérsia.

No Egito o mito de Osíris tem por raiz o mito do “Grão de Trigo”. O grão que é colocado na terra “morre”, para dali nascer uma nova planta, que no momento da germinação é designada de “neófito”. O grão de trigo é, por óbvio, a base da farinha com que é feito o PÃO. Esse processo sugere a necessária transformação que o ser humanos precisa efetivar para se elevar espiritualmente. Mas antes de se transformar em farinha e depois em pão, o mito do grão de trigo é uma maneira alegórica de sugerir a morte e a ressurreição. Esse simbolismo está presente no mito de Osíris, é uma pré-configuração da Lenda de Hiran Abif na maçonaria, ou, de maneira mais enfática, na essência do cristianismo através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. 

Uma sessão ritualística, no REAA, contém toda essa simbologia da morte e ressurreição. O Irmão que abre a Loja, na frente do Altar(2) está, naquele momento, cometendo um ato de auto-imolação, “matando” simbolicamente o homem de ontem, e ressuscitando um novo Ser, que ali ocupa o mesmo corpo, mas que adquiriu, pelo estudo, pela vivência, maior grau de conhecimento e de espiritualidade.

Retornando a história do ágape, registro que nesse trabalho sobre o pão e o vinho não avanço alem do mínimo necessário na era anterior à escrita. 

O simbolismo do pão e do vinho após a invenção da escrita está presente em dois momentos importantes da humanidade. No Antigo Testamento, onde estão os cinco primeiros livros da Bíblia, que são designados de Pentateuco na cultura cristã, ou de “Torah” na tradição judaica está o já mencionado encontro de Melquisedque com Abrão. Cerca de 2.000 a.C. Nesse momento, oportuno lembrarmos, o significado do nome de Abrão que é de “pai de uma multidão” (interpretação do nome) ainda não tinha sido alterado para Abrahão. Nem o de Sarai, sua mulher, tinha sido mudado para Sarah.

Esse encontro narrado na Bíblia se refere ao momento em que Abrão retorna vitorioso de batalhas e trazia os despojos. O “Rei e Sacerdote” (Melki-Tsedek) mandou trazer “pão e vinho” para celebrar o encontro. E Abrão, reconhecendo sua hierarquia lhe entrega o dízimo, ou melhor, tudo o que havia trazido como despojos da guerra. 

Cerca de dois mil anos depois de Melki-Tsedk, também na Bíblia, mas já no Novo Testamento, está o registro do momento da reunião de Jesus Cristo com os doze Apóstolos. Ocasião em que ele apresenta o Pão como símbolo do seu Corpo, e o Vinho como símbolo do Seu Sangue. E, em ato contínuo, convida aos discípulos a comerem e beberem dizendo: “Este é o meu corpo”, “Este é o Meu Sangue”.

Oportuno esclarecer que o significado teológico mais aceito e recomendado, do ato de repartir o pão e beber o vinho, signifique entender que não se está comendo Deus. Mas, isto sim, efetivando uma comunhão, onde Ele está em mim, como eu estou Nele.

Em outros termos, o ato simbólico de repartir e comer o pão no ágape maçônico significa que Tu e Eu somos UM.

Outras interpretações poderão ser adicionadas. Como por exemplo, o entendimento de que o ato de repartir e comer o pão, na sentido da expressão latina “cum pannis”, pode ser entendida, ou que simboliza o “Companheiro” Maçom como aquele que, pelo amor, origem do latim de “caritas” assiste, auxilia, nos limites adequados das suas posses e conhecimento, seus Irmãos e a humanidade.

De maneira resumida está apresentada a versão mais aceita do significado do ágape maçônico, que também é designado de “Ceia Mística”. 

Cumpre esclarecer as origens e razões da designação de ágape dessa confraternização, desse encontro onde nos identificamos e nos tornamos um só corpo, uno no Amor de Deus.

A língua portuguesa, e outras, são pobres para designar os diversos tipos de amor. Usamos amor até para nossa identificação e apreço por coisas materiais.

O grego conta com três palavras para identificar, pelo menos, três tipos de amor.

“Eros” que designa aquele amor que tem por base a união dos opostos. No binômio homem/mulher que visa a constituição da família que é a unidade social no segmento da doutrina religiosa. Mas também pode ser da união, aproximação dos opostos, de pessoas que possam ter idéias diferentes, que usam o diálogo como instrumento de obtenção dos mesmos objetivos. Diálogo aqui usado de maneira diferente de discussão, onde cada um, cada vez mais, se agarra nas suas idéias e que determinam o sério risco de ser a geração do fanatismo.

“Filiae” que designa o amor entre consanguineos. Entre pais e filhos, entre irmãos. O que pode se ampliar para “irmãos” no sentido espiritual, de que somos parte do mesmo Ser.

“Ágape” uma palavra que designa um amor mais amplo, sem necessidade de reciprocidade. Amo meus irmãos – ou qualquer ser humano - independentemente deles me amarem, ou não.

O sal e o azeite, introduzidos no ágape, adicionam simbolismo especial. O sal como símbolo da incorruptibilidade. Da lisura, da retidão de caráter e de atuação de um maçom. O azeite como símbolo da riqueza.

Não da riqueza material, mas isto sim, da riqueza espiritual. Oportuno lembrar que as bênçãos, ou poderes outorgados nas narrações bíblicas são celebradas derramando óleo – azeite – na cabeça dos ungidos.

Aqui está, em poucas palavras, uma aproximação do sentido, das origens e do significado do Ágape Maçônico, também designado. Por uso mais recente, de “Ceia Mística”.

Nota:

1: A palavra ágape, se traduzida do grego por “refeição”, poder ser usada no feminino. Nesse caso seria A ÁGAPE. (no sentido de “a refeição”). Usamos ágape, no masculino, no sentido de AMOR, acrescido do duplo sentido.

2: O entendimento histórico de ALTAR é de ser o local onde os antigos imolavam suas vítimas. O local dos holocaustos. Em cima do altar eram colocadas as vítimas para o “hierofante” ( na nossa Ordem o Irmão Esperto que deveria ser o que abre a Loja) , realizar o “fazer sagrado” (sacro facere) usualmente designado de sa

Fonte: JBNews - Informativo nº 111 - 20/12/2010

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